Deontologia da Educação

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Educar com qualidade mediante aos escassos recursos disponibilizados pelo sistema político e até mesmo pelo sucateamento da sofrível educação pública, exige um certo hedonismo ético, o que é ressaltado por Vázques em seu livro Ética publicado pela Civilização Brasileira em 2002 ao definir que hedonismo é originário do grego hedoné, que é o mesmo que prazer.

O autor cita Epicuro de Samos, filósofo Ateniense que nasceu em 341 a.C e faleceu em 271 a. C. Ele sustentava que cada um devia procurar o máximo prazer, mas este prazer não corresponde a algo volátil e deletério para a saúde do corpo e/ou alma, como prazeres sensíveis, imediatos, fugazes relacionados a gula, alcoolismo, drogas e até mesmo sexo, mas a prazeres mais duradouros e superiores como intelectuais e estéticos.

Apesar da labuta de um educador, nada mais prazeroso que ver seu aluno de séries iniciais ser um vencedor, não por ter juntado bens materiais devido suas conquistas, mas pelas conquistas morais e éticas que o mesmo alcançou, livrando-se das áreas de riscos e aliciamentos ao crime organizado, prostituição dentre outros males sociais que dizimam vidas e sonhos.

É prazeroso para o educador um reconhecimento pela diferença que fez na vida do educando, por saber que contribuiu para que a tênue linha da criminalidade fosse rejeitada por uma vida de bem a si mesmo e ao seu próximo, imperando cada vez mais o seu humanismo, que segundo Harari em seu livro intitulado Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, busca a liberdade para os indivíduos através dos humanistas liberais e a igualdade entre todos os humanos defendido pelos humanistas socialistas.

Para Harari, a desigualdade é a pior blasfêmia contra a santidade da humanidade, pelo simples fato de privilegiar qualidades periféricas dos humanos em detrimento a sua essência universal.

O autor faz uma advertência ao elucidar que para os nazistas, a humanidade não era algo eterno e universal, porém uma espécie mutável que pode evoluir ou se degenerar se tornando um sub-humano.

Para estes nazistas, a superioridade estava representada na raça ariana que possuía os melhores adjetivos como beleza, integridade, racionalismo, diligência dentre outras que inexistiam nos sub-humanos como judeus, negros, ciganos, etc.

O verdadeiro humanismo tem que estar intrínseco na educação, dito isso, Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983, ressalta que educar "é alcançar a pessoa naquilo que lhe é mais específico, no seu ser - humano, isto é, na sua intelectualidade, na sua afetividade, nos seus hábitos, para levá-la à realização de um ideal".

Cabe aqui esclarecer que a deontologia se faz necessária para que a educação de qualidade seja alcançada, desta forma, Vázques salienta que é o mesmo que uma teoria da obrigação moral, já que origina do grego déon, que significa dever, e é utilizada quando "não se faz depender a obrigatoriedade de uma ação exclusivamente das conseqüências da própria ação ou da norma com a qual se conforma".

Vale observar que ética se faz necessária em qualquer relação, seja profissional ou até mesmo pessoal, mas partindo pelo viés profissional, o professor trabalha embasado na ética, pois a ética referida que está relacionada a promoção do máximo, tendo o seu tempo verbal o modo imperativo, isto é, "seja o melhor que puder". A ética nos cobra excelência mesmo diante de um sistema falho que tem como cerne a desvalorização do educador para que este seja medíocre a sofrível, aumentando de forma concomitante o seu gado de manobra.

O verdadeiro educador tem o seu corpo, sua alma e sua vida, nos saberes, nos valores e na autonomia, ressaltando desta forma a deontologia, e interessante desta função de educar é que somos professores, não estamos professores, pois o ser, implica em ciência, consciência e excelência, ou seja, ofereceremos sempre o nosso melhor com a certeza que mudaremos vidas.