18/03/2021

Demofobia

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

A educação pública precisa urgentemente ensinar cidadania crítica e ativa a seus educandos e não o que é aduzido por mim no livro Educação um Ato político, publicado pela Autografia em 2019, uma domesticação subalterna alicerçada pela manipulação das informações e de um conhecimento estéril, o que é corroborado por Baudelot em seu livro A Sociologia da educação: Para quê? escrito na Teoria e Educação, n.3, p. 29-42 em 1991, quando elucida que a democratização do ensino não fazer as escolas públicas receberem sub-produtos das instruções reservadas aos futuros intelectuais.

As falas acima dá um melhor entendimento de que, quando o povo desenvolver sua cidadania crítica e protagonismo cognoscente, este compreenderá as falas de Azambuja no livro Introdução a Ciência Política, publicado pela Globo em 2003, esclarecendo que todo poder emana do povo e em seu nome será exercido.

Importante salientar que as falas acima representam ecos da Constituição Federal de 1998 em seu Art. 1 parágrafo único que reza que "Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição".

Interessante salientar o discurso de Gettysburg em que o presidente Abraham Lincoln declara um "governo do povo, pelo povo e para o povo" dando assim força a democracia além de enaltecer o poder emanado do povo. Observe que é um governo que amou o seu povo e fez o seu melhor, registrando seu legado na história não só americana como também no cenário mundial.

Em contrapartida, em nosso país, tivemos governos com pensamentos e ações em que o povo, o que seria fonte de poder, passou a ser seres desprezíveis, como ressaltado primeiro por João Figueiredo quando disse a seguinte frase: " Prefiro cheiro de cavalo do que cheiro de povo", .e o atual governo ao declarar diante de uma pandemia que dizima vidas a seguinte frase: "Que o isolamento social acaba, a vida volte ao normal e morram quantos tiverem que morrer".

O descaso com o povo é a pior forma de demonstrar a demofobia,que segundo Aguiar em seu artigo intitulado A demofobia na democracia moderna, publicado em 2011[1], a demofobia designa medo ou desprezo pelo demos (povo, massa, multidão).

Interessante observar as falas de Aguiar ao "resumir que a demofobia obstaculizou o pensamento que investigava a conversão do povo governado em povo governante, engendrando essa espécie de nó górdio da modernidade política", dito isso, pode-se perceber que um governo deixa de ser democrático quando obstaculiza tal pensamento em que o poder emana do povo.

A democracia perde voz e em concomitância perde a vez, já que o povo não tem mais discernimento para perceber o quão deplorável está em sua volta.

Este povo está em estado cataléptico, fruto das imbecilidades coletivas oriundas da não politização do ser, fazendo com que este se torne manipulável, alienável e um verdadeiro néscio.

A educação pública encontra-se tão sofrível e estéril quanto as suas propostas de transformação que segundo Bercovici, no artigo intitulado O Poder Constituinte do povo no Brasil: um roteiro de pesquisa sobre a crise constituinte, publicado em 2013[2] é enfático ao aduzir que não há poder constituinte onde o povo é alienado do poder, e desta forma, o povo perde a sua vez e passa na atual conjuntura a aumentar as estatísticas das mortes causadas pela pandemia tendo como alavanca o desprezo e toda uma nação.

 

[1] Para mais informações vide AGUIAR, Thais Florencio de. A demofobia na democracia moderna. Dados,  Rio de Janeiro ,  v. 54, n. 4, p. 609-650,    2011 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0011-52582011000400004&lng=en&nrm=iso>. access on  17  Mar.  2021.  http://dx.doi.org/10.1590/S0011-52582011000400004.

[2] BERCOVICI, Gilberto. O Poder Constituinte do povo no Brasil: um roteiro de pesquisa sobre a crise constituinte. Lua Nova,  São Paulo ,  n. 88, p. 305-325,    2013 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64452013000100010&lng=en&nrm=iso>. access on  17  Mar.  2021.  https://doi.org/10.1590/S0102-64452013000100010.

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