De Hipácia a Paulo Freire
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br
O que mudou da época de Hipácia de Alexandria aos dias atuais em nosso país?
Para quem não sabe, Hipácia[1] foi uma das mentes mais brilhantes da Antiguidade. De acordo com Nunes, entre os séculos IV e V, o Cristianismo tinha a sua ascensão mediante violência e intolerância, e no meio de todo este alvoroço, em março de 415, a então filósofa, matemática e diretora do museu de Alexandria, foi arrancada de sua carruagem e despida à força, sendo por sua vez acusada de bruxaria. Isso a fez ser "descarnada viva por uma turba de monges cristãos, enfurecidos e munidos de conchas de ostras. Esquartejada, pedaços de seu corpo são queimados em uma pira, como um ritual de purificação".
O mal cometido a sociedade da época? Nenhum, pois Hipácia era uma celibatária, mas a maledicência de terceiros a fez se transformar em uma bruxa, por uma questão de misoginia e também através de "feitiços" impedir seu ex-aluno amigo do prefeito de Alexandria, se entendesse com o bispo.
Ao analisarmos esta história, perceberemos que a intolerância, mentiras e desinformações continuam até hoje.
Hoje os políticos fazem uso das Fake News que nada mais são que notícias falsas que contam com os meios de comunicação para a sua divulgação como se fosse uma verdade e informações reais. Assim se deu nas eleições e pós eleições, tudo para desconstruir imagens e também, passar uma imagem falsa para pessoas desavisadas e fanáticas como os monges cristãos que descarnaram Hipácia.
Nos dias atuais, Hipácia seria vista como uma esquerdista e até mesmo fascista, pelo simples fato de ser uma mulher além de seu tempo e por talvez, divergir das idéias políticas atuais, pois, ninguém em sua sã consciência pode corroborar com tantas imbecilidades.
Cabe aqui uma ressalva, nem precisaria ser uma mulher, pois a caça as bruxas está também sendo caça aos bruxos esquerdistas, fascistas, comunistas, isto é, qualquer pessoa que discorde.
Os bruxos hoje não fazem bruxarias e sim filosofia, sociologia, antropologia, história ou qualquer área ligada a humanas. Eles estão sendo vítimas do preconceito, pois são saberes que incomodam a elite dominante, e são saberes que fazem com que estes bruxos, não por suas bruxarias, mas por seus conhecimentos, auxiliem os demais a pensarem por si mesmo, com um pensar crítico e protagônico.
Bruxos assim são considerados pontos fora da curva de manipulação, ou seja, muitos destes não se encaixam nos domesticados subalternos e passam a ser exemplos para os demais e a sua bruxaria pode ser danosa para a formação de uma sociedade de alienado e imbecis.
Quando se estigmatiza pessoas formadas nas áreas de humanas, reforça-se então sempre o preconceito, seguido de uma hostilização as divergências que acarreta em morte.
Neste preconceito nos tornamos monges com nossas conchas de ostras prontas para purificar pessoas fascistas, comunistas, esquerdistas. Purificar sempre para pensamentos que convirjam com a política atual.
Preconceito é fruto também de falta de conhecimento, desinformação e até mesmo estupidez. Podemos afirmar que uma pessoa preconceituosa é uma pessoa estúpida e ignorante, e assim tem sido todos os monges que querem banir pensamentos que diferem dos seus.
Como o educador e o terceiro teórico mais citado do mundo e ainda nosso patrono da educação Paulo Freire: "a educação é um ato de amor, por isso um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir a discussão criadora, sob pena de ser uma farsa".
Cabe percebermos que farsa temos aos montes no Brasil e graças a estes bruxos que conseguimos o discernimento para trabalhar com ela.