28/09/2021

Curiosidade na Educação

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente– www.wolmer.pro.br

 

Em tempos remotos a educação era mais instigadora, pois o aluno era movido pela curiosidade e era o momento que ele saia da passividade ao protagonismo, fomentado por projetos outrora férteis para o conhecimento.

As Feiras de Ciências era o momento em que os educandos se imaginavam futuros cientistas e podem acreditar, estes eventos instigavam cada vez mais a paixão pela ciência hoje tão desprezada pela atual política.

Outros projetos como Gincanas Culturais faziam alunos buscarem informações e/ou curiosidades, também de maneira lúdica fazendo uma interação e/ou socialização mais abrangente.

Hodiernamente a educação encontra-se desvencilhada da curiosidade e da pesquisa, que são duas formas eficientes de se trabalhar a autonomia do educando na busca de seu próprio conhecimento.

Foi-se o tempo em que o protagonismo era a palavra da vez e quanto a isso, tivemos verdadeiros educadores como Anísio Teixeira, Darci Ribeiro, Paulo Freire dentre outros que corroboraram com uma educação libertadora, mesmo em um ambiente hostil como fora o representado pela ditadura militar com o AI5.

Assim sendo, Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996, enfatiza o papel do educador transformador, pois como pode-se perceber nas falas de Tavares em seu livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019, a educação é uma ação transformadora.

Desta forma, dando continuidade as falas de Freire, o educador libertador e/ou emancipador é o profissional da educação que trabalha as condições em seus alunos para que estes superem a curiosidade ingênua fazendo uso da curiosidade epistemológica, ou seja, substituindo a consciência intransitiva mágica” pela “consciência transitiva crítica”.

A criticidade passa a ser o marco para uma educação de qualidade, já que esta mesma educação permitirá o educando pronunciar o mundo e agir sobre ele de forma a modificá-lo

A curiosidade e a pesquisa faz tanto o educador quanto o educando desbravar novas searas além de propiciar novas perspectivas.

Não podemos fazer de nossos educandos um rebanho de medrosas ovelhinhas. Harari em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, faz uma analogia com a história de nossos antepassados ao salientar que os “carneiros mais agressivos, aqueles que mostravam mais resistência ao controle humano, eram abatidos primeiro, como também as fêmeas mais curiosas e magras. (os pastores não gostam de ovelhas cuja curiosidade as leva para longe do rebanho.) A cada geração, as ovelhas se tornam mais gordas, mais submissas e menos curiosas.

Somos educadores e não pastores e há uma necessidade de não limitar a curiosidade e senso de pesquisa de nossos educandos. Faz-se necessário que eles afastem-se por um tempo do rebanho e pensem por si mesmos.

Ainda Harari no livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, enfatiza que a sociedade sempre desestimulou o homem de ousar um pensar crítico, e uma forma de se trabalhar isso foi metaforicamente com o mito do Jardim do Éden.

Neste mito é narrado que os humanos são punidos por sua curiosidade e por seu desejo de adquirir conhecimento. Deus os expulsa do paraíso.

Todavia, no mito do Jardim de Woolsthorpe, ninguém pune Newton – acontece exatamente ao contrário. Graças à curiosidade, o gênero humano adquire uma compreensão melhor do universo, fica mais poderoso e dá um passo adiante em direção ao paraíso tecnológico.

Demo em seu livro Saber Pensar, publicado pela Cortez: Instituto Paulo Freire em 2000, enfatiza que quando o professor trabalha a curiosidade e instiga a pesquisa, ele está ciente de que a melhor maneira do educando aprender não é escutando a aula, mas pesquisando e elaborando com mão própria, sob orientação do professor.

É um momento em que o educando constrói o próprio conhecimento, abolindo assim o instrucionismo ao qual ele é condenado a um processo flagrante de domesticação subalterna.

É um momento também em que o educando vira um protagonista cognoscente a mudar a si mesmo e consequentemente o seu mundo.

Assim sendo, que nós educadores possamos trabalhar a curiosidade e o senso de pesquisa em nossos educandos para que estes possam mudar a triste realidade em que se encontra nosso país.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×