22/02/2019

CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DA ÁREA

CONTRIBUIÇÕES DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA DOS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA: PERCEPÇÕES DE PROFESSORES DA ÁREA

 

Hugo Norberto Krug[1]

 

RESUMO

Este estudo objetivou analisar as percepções de professores de Educação Física (EF) dos Anos Finais do Ensino Fundamental (AFEF) da Educação Básica (EB), da rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil), sobre as contribuições ou não de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos. Caracterizamos a pesquisa como qualitativa descritiva do tipo estudo de caso. O instrumento foi uma entrevista, tendo as respostas interpretadas por meio da análise de conteúdo. Participaram vinte e cinco professores de EF atuantes nos AFEF da EB da referida rede de ensino e cidade. Concluímos que, as percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, estão fundamentadas em dois pólos de visão da EF na escola e de papel/função dos professores frente ao ensino: um, tendo a EF como reprodutora do status quo da sociedade vigente e, outro, tendo a EF como transformadora do status quo da sociedade vigente.

Palavras-chave: Educação Física. Educação Física Escolar. Cidadania.

 

1- AS CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

Segundo Souza (2012, p.241), “[...] os novos tempos impõem importantes desafios à sociedade, desafios estes que demandam a revitalização dos laços de cidadania no que tange à participação mais ativa do indivíduo na vida social e política da comunidade, tanto local quanto global” (grifo nosso a partir desse momento).

Nesse contexto, entre tantos desafios na sociedade contemporânea aparece a escola, que, para Moreira e Tadeu (2011), é um espaço social com funções que vão muito além do ensino e da aprendizagem de conhecimentos escolares desenvolvidos pelas disciplinas ao longo da Educação Básica (EB). Já, Souza (2012, p.242) destaca que, “[...] a escola não é a única instância de formação da cidadania, mas o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade depende, cada vez mais, da qualidade e da igualdade de oportunidades educativas”.

Conforme os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN’s (BRASIL, 1998, p.7), um dos objetivos a ser desenvolvido pela educação é “[a] compreensão da cidadania como participação social e política, assim como o exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia, atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro e exigindo para si o mesmo respeito”.

Nesse sentido, consideramos importante colocarmos que, para Luft (2000) cidadania significa a qualidade ou condição de cidadão (grifo nosso a partir desse momento). Condição de pessoa que, como membro de um Estado, se acha no gozo de direitos que lhe permite participar da vida política. Já, Gadotti (1999) diz que, a cidadania pressupõe igualdade entre todos perante a lei e do reconhecimento de que a pessoa humana e a sociedade são detentores inalienáveis de direitos e deveres, majoritariamente reconhecidos. No lado dos direitos, reportam os direitos humanos, cuja conquista demorou milênios e traduzem a síntese de todos os direitos imagináveis que o homem possa ter. Juntamente com os deveres aparece, sobretudo, o compromisso comunitário de cooperação e co-responsabilidade.

Nesse contexto, segundo Gallon et al. (2017, p.34), “a formação cidadã enquanto prática educativa deve estar presente atravessando as disciplinas, em todos os anos escolares” (grifo nosso a partir desse momento).

Dessa forma, no cenário da EB, “[a] Educação Física é uma disciplina que faz parte do currículo escolar e, portanto, está inserida na escola com a intenção de educar o aluno, isto é, auxiliar no desenvolvimento de suas potencialidades motoras, cognitivas, afetivas, sociais, etc.” (KRUG, 2002, p.1). Esse direcionamento de afirmativa é reforçado por Souza (2012, p.240) que coloca que, a Educação Física (EF),

 

[...] tem um papel da mais alta significância, não somente em nível profissional, mas também social, pois a prática de atividades físicas, jogos e exercícios físicos visam promover uma melhor relação sociocultural e de autoconhecimento do indivíduo. A consecução de tal objetivo traz impacto sobre o comportamento social dos praticantes de Educação Física, o que certamente contribui para a formação de uma sociedade melhor.

 

Assim, fundamentando-nos nas premissas descritas anteriormente, elaboramos a seguinte questão problemática norteadora do estudo: quais são as percepções de professores de EF dos Anos Finais do Ensino Fundamental (AFEF) da EB, da rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do Rio Grande do Sul-RS (Brasil), sobre as contribuições ou não de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos?

Então, a partir dessa indagação, o objetivo geral foi analisar as percepções de professores de EF dos AFEF da EB, da rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil), sobre as contribuições ou não de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos.

Para facilitar o atingimento desse objetivo geral, o mesmo foi desmembrado nos seguintes objetivos específicos: 1) analisar as percepções de professores de EF dos AFEF da EB, da rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil), sobre a existência ou não de contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos; e, 2) analisar as percepções de professores de EF dos AFEF da EB, da rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil), sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos.

Convém lembrarmos que, segundo Luft (2000), contribuição é o ato ou efeito de contribuir. Contribuir é concorrer com outrem para determinado fim. Assim, neste estudo, consideramos contribuições às ações dos docentes para a formação da cidadania nos alunos.

Justificamos a realização deste estudo, ao citarmos Souza (2012, p.254) que afirma que, existe uma carência de pesquisas “[...] em tratar o tema cidadania, dentro do contexto escolar”.

 

2- OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterizamos os procedimentos metodológicos empregados neste estudo como uma pesquisa qualitativa descritiva do tipo estudo de caso.

Para Minayo (2008, p.57), o “[...] método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e de opiniões, produtos de interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam”.

Minayo (2008, p.42) também ressalta que, a pesquisa qualitativa coloca o pesquisador no papel de investigador, de intérprete na construção do conhecimento, que é processual, dialético e histórico, inserido em uma realidade social onde, “o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a riqueza de significado que transborda dela”.

Já, Triviños (1987) coloca que, o principal objetivo da pesquisa qualitativa é a descrição e que, de acordo com Godoy (1995), essa descrição procura compreender os fenômenos segundo a perspectiva dos participantes da situação de estudo.

Segundo Yin (2005, p.20), “[...] utiliza-se o estudo de caso em muitas situações, para contribuir com o conhecimento que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais, políticos e de grupos, além de outros fenômenos relacionados”.

Assim, neste estudo, o caso investigado referiu-se aos professores de EF dos AFEF da EB, de uma rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil).

O instrumento de pesquisa para coletar as informações foi uma entrevista, que, conforme Gaskell (2007), na pesquisa qualitativa, fornece dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das reações entre os atores sociais e sua situação.

Quanto à interpretação das informações coletadas pelo instrumento de pesquisa, esta foi realizada mediante os procedimentos básicos da análise de conteúdo, que, segundo Turato (2003), são os seguintes: a leitura flutuante, o agrupamento de respostas e a categorização.

Participaram do estudo vinte e cinco professores de EF dos AFEF da EB, de uma rede pública de ensino, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil). A escolha dos participantes aconteceu de forma intencional e espontânea, em que a disponibilidade dos mesmos foi o fator determinante para ser considerado colaborador da pesquisa. Esse fato está em consonância com o dito por Santos e Moretti-Pires (2012, p.165) de que, “[a] amostragem intencional é uma das estratégias de amostragem mais utilizadas nas pesquisas qualitativas. De acordo com essa estratégia, os participantes são pré-selecionados conforme critérios relevantes para o objeto de investigação”.

Relativamente aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas, destacamos que, todos os envolvidos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas.

A respeito das características pessoais e profissionais dos envolvidos constatamos que: a) quanto ao sexo – a maioria (dezoito) foi do sexo feminino e a minoria (sete) do sexo masculino; b) quanto à idade – o conjunto (vinte e cinco) variou de 20 a 57 anos; c) quanto à formação inicial – todos (vinte e cinco) eram formados em EF; d) quanto à formação continuada – a maioria (vinte e dois) possuía curso de Especialização na área da EF e a minoria (três) curso de Mestrado na área da Educação; e) quanto ao tempo de serviço – o conjunto (vinte e cinco) variou de 1 a mais de 30 anos de exercício profissional; e, f) quanto à rede de ensino a que pertencem – todos (vinte e cinco) foram lotados em uma rede de ensino municipal, de uma cidade do interior do Estado do RS (Brasil).

 

3- OS RESULTADOS E AS DISCUSSÕES

Os resultados e as discussões deste estudo foram orientados e explicitados pelos objetivos específicos do mesmo.

 

3.1- As percepções de professores de Educação Física dos Anos Finais do Ensino Fundamental da Educação Básica sobre a existência ou não de contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos

Das percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, a respeito da existência ou não de contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, emergiram ‘dois diferentes posicionamentos’.

O primeiro e principal posicionamento declarado foi ‘sim, isto é, existem contribuições da EF para a construção da cidadania dos alunos’ (vinte e quatro citações). Esse fato está em consonância com Ilha; Ivo e Krug (2007) que colocam que, a EF, como disciplina obrigatória do currículo escolar, deve participar do processo de construção do cidadão, visto que tem potencial efetivo para influenciar significativamente a vida dos jovens. Já, Souza (2012, p.241) afirma que, “[a] Educação Física é um componente essencial na construção da cidadania, na medida em que seu objeto de estudo é a produção cultural da sociedade através do movimento humano”.

O outro posicionamento, o segundo e último, foi ‘não, ou seja, a EF não contribui para a construção da cidadania dos alunos’ (uma citação). Esse fato contraria os achados de Krug et al. (2018a) que, ao estudarem as representações sociais de educação escolar e Educação Física Escolar (EFE) de professores de EF da EB, constataram que, uma das palavras representativas da EFE foi a cidadania.

Assim, essas foram as percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre a existência ou não de contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos.

Ao fazermos uma ‘análise geral’ a respeito das percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre a existência ou não de contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, notamos que, essas mostraram a existência de professores (ainda que somente um neste estudo) que afirmam que, a EF não contribui na formação da cidadania. Nesse sentido, podemos inferir que, esse tipo de percepção reforça o dito por Krug et al. (2018b, p.47) de que há professores que acreditam na “[...] existência de uma marginalização da EFE na EB”.

 

3.2- As percepções de professores de Educação Física dos Anos Finais do Ensino Fundamental da Educação Básica sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos

Das percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, a respeito das contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, emergiram ‘quatro diferentes contribuições’.

Convém lembrarmos que, a partir desse momento em diante, somente vinte e quatro colaboradores do estudo informaram suas percepções sobre as contribuições, isto por que um declarou que não existia contribuição da EF para a construção da cidadania dos alunos.

Nesse sentido, a primeira e principal contribuição declarada foi ‘para a formação de um cidadão ativo e mais sadio’* (nove citações). No direcionamento dessa contribuição apontamos Betti e Zuliani (2002, p.75) dizem que, a EF na escola assume a função de “[...] introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão, que vai produzí-la, reproduzí-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir do jogo, do esporte, das atividades rítmicas, da dança, das ginásticas e práticas de aptidão física, em benefício da qualidade de vida”. Já, Souza (2012, p.240-241) destaca que, a EF “[...] é parte importante da sociedade atual, auxiliando na formação de uma juventude mais sadia (mental e fisicamente), mais consciente, plena, portadora de ideais e de um significado para uma existência individual e social”.

A segunda contribuição declarada foi ‘para a formação de um cidadão crítico’** (sete citações). Sobre essa contribuição citamos Luft (2000) que afirma que, crítica significa arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; juízo crítico. Nesse sentido, mencionamos Freire (2007) que diz que, não há dialogo verdadeiro sem um pensar crítico, tendo em vista que, no momento em que se instaura a percepção crítica na ação, se desenvolve a esperança, a qual leva os homens a empenhar-se na superação dos limites. Já, Kunz (1994), na EF, defende o ensino crítico, pois é a partir dele que os alunos passam a compreender a estrutura autoritária dos processos institucionalizador da sociedade e que formam as falsas convicções, interesses e desejos. Assim, a tarefa da educação crítica é promover condições para que estas estruturas autoritárias sejam suspensas e o ensino caminhe no sentido de uma emancipação, possibilitada pelo uso da linguagem.

Outra contribuição declarada, a terceira, foi ‘para a formação de um cidadão crítico e transformador’** (cinco citações). Essa contribuição está em consonância com Krug (2002, p.8) que coloca que, “uma [e]ducação voltada para a construção da cidadania, diz respeito a uma proposta educacional inserida em um projeto de mudança, voltado para a organização e radicalização de movimentos populares contra qualquer tipo de subordinação e exploração”. Para isto, de acordo com Santos (1994), a escola deverá organizar-se como um espaço democrático onde através do diálogo, do questionamento crítico, baseado na concepção de homem como sujeito, a educação escolar fortaleça e dê voz as pessoas e aos grupos sociais, pois com este tipo de educação o estudante se forma um agente ativo capaz de participar em todas as esferas da vida pública. Salienta que, a EF enquanto uma parcela do todo chamado educação, deve caminhar neste mesmo sentido, desenvolvendo em suas aulas, a participação, a cooperação, o diálogo, o questionamento, etc., que são os componentes de uma cidadania transformadora. Nesse sentido, citamos Gadotti (1999) que diz que, a educação tem um papel importante no processo de transformação social.

Ainda outra contribuição declarada, a quarta e última, foi ‘para o desenvolvimento das potencialidades motoras, cognitivas, afetivas, sociais e na formação de bons cidadãos’* (três citações). Relativamente a essa contribuição podemos nos reportar a Marques et al. (2009, p.1) que afirmam que,

 

[a] Educação Física é uma disciplina de extrema importância no currículo escolar, sendo que, está inserida no âmbito da escola com a intenção de educar o aluno, através da construção de valores, auxiliando no desenvolvimento de suas potencialidades motoras, cognitivas, afetivas, sociais, bem como na formação de bons cidadãos.

 

Já, Krüger e Krug (2007, p.79) colocam que, a disciplina de EF “[...] precisa ser o locus onde o aluno possa sentir-se protagonista no processo de construção do conhecimento e da cidadania”. Nesse sentido, Krug (2002, p.1) diz que, a “[...] intencionalidade do ato pedagógico está diretamente ligada com a construção da cidadania [...]” do aluno.

Assim, essas foram as percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos.

Ao efetuarmos uma ‘análise geral’ relativamente às percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, observamos que, essas mostraram significados que apontaram dois pólos de visão da EF na escola e de papel/função dos professores frente ao ensino. Foram eles: 1) um que coincidiu com uma EFE e o papel/função do professor de EF em uma educação reprodutora da sociedade* (a primeira, com nove citações e a quarta contribuição, com três citações). Para Luckesi (1994), a tendência filosófica-política de educação denominada de ‘reprodutora’ é aquela que concebe a educação como um elemento da sociedade, determinada por seus condicionantes econômicos, sociais e políticos, portanto, a serviço dessa mesma sociedade e de seus condicionantes. Em relação à EF Reprodutora, citamos Castro (2010, p.1) que diz que, essa “é aquela em que o professor trabalha apenas com movimentos corporais nas suas aulas, sem qualquer relação com o modo de vida dos estudantes, sem nenhuma reflexão e significação sobre esses mesmos movimentos, ministrando aulas que valorizam a competição, a concorrência e o rendimento em sua prática [...]”; e, 2) outro que coincidiu com uma EFE e o papel/função do professor de EF em uma educação transformadora da sociedade (a segunda, com sete citações e a terceira contribuição, com cinco citações). Segundo Luckesi (1994), a tendência filosófica-política da educação denominada de ‘transformadora’ é aquela que pretende demonstrar ser possível a educação dentro da sociedade, com seus determinantes e condicionantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democratização. Relativamente à EF Transformadora, conforme Medina (1983), essa tendência critica a concepção orgânica e biológica do movimento humano e considera-o como um fato cultural. Nessa concepção, a EF torna-se uma área de conhecimento responsável pelo estudo a cerca dos aspectos sócio-antropológicos do movimento humano, procurando despertar a consciência corporal não apenas em seus aspectos biológicos e psicológicos, mas a respeito do significado simbólico do movimento corporal humano.

Assim, podemos inferir que, as percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, estão fundamentadas em dois pólos opostos de visão da EF na escola e de papel/função dos professores frente ao ensino. Um, tendo a EF como reprodutora do status quo da sociedade vigente e, outro, tendo a EF como transformadora do status quo da sociedade vigente.

 

4- AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após a análise das informações obtidas, destacamos as considerações a seguir: a) quanto à existência ou não de contribuições da disciplina de EF para a construção da cidadania dos alunos, constatamos que ‘sim’ para a ‘maioria’ (vinte e quatro) e ‘não’ para a ‘minoria’ (um) dos professores estudados; e, b) quanto às contribuições da disciplina de EF para a construção da cidadania dos alunos, constatamos que, ‘identificamos quatro diferentes contribuições’. Foram elas: 1) ‘para a formação de um cidadão ativo e mais sadio’* (nove citações); 2) ‘para a formação de um cidadão crítico’** (sete citações); 3) ‘para a formação de um cidadão crítico e transformador’** (cinco citações); e, 4) ‘para o desenvolvimento das potencialidades motoras, cognitivas, afetivas, sociais e na formação de bons cidadãos’* (três citações). Essas contribuições mostraram uma visão de EFE e o papel/função do professor de EF frente ao ensino dividida em dois pólos, um, numa educação considerada como reprodutora do status quo da sociedade vigente* e, outro, numa educação considerada como transformadora do status quo da sociedade vigente**.

Assim, concluímos que, as percepções dos professores de EF dos AFEF da EB estudados, sobre as contribuições de sua disciplina para a construção da cidadania dos alunos, estão fundamentadas em dois pólos de visão da EF na escola e de papel/função dos professores frente ao ensino: um, tendo a EF como reprodutora do status quo da sociedade vigente e, outro, tendo a EF como transformadora do status quo da sociedade vigente. Dessa forma, podemos inferir que, o papel/função do professor de EF nos AFEF da EB precisa ser mais debatido para que possamos ter uma compreensão mais efetiva das contribuições da EFE na construção da cidadania dos alunos.

Para finalizar, destacamos que, é preciso considerar que este estudo fundamentou-se nas especificidades e nos contextos de uma rede pública de ensino e de uma cidade, em particular de professores de EF dos AFEF da EB e que, por isso, os seus achados não podem ser generalizados e sim, encarados como uma possibilidade de ocorrência.

 

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[1] Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM); Professor Aposentado do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

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