06/04/2021

Contos de Farda

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

        Precisamos ter discernimento das histórias contadas por fardas; sempre é a versão mais romântica, porém, que faz parte de um mundo paralelo, como aconteceu em um campo de concentração na cidade de Terezin a 60 quilômetros da capital da então Tchecoslováquia, Praga e que deixou de existir a cidade dando lugar ao campo de Theresienstadt.

        De acordo com a historiadora Lerner, em seu texto Gueto Cultural, publicado na Revista Aventuras na História, março de 2021, este campo ficou conhecido como Gueto Cultural por conter neste vários artistas.

        Interessante perceber nesta história são as fakenews, pois quando os alemães permitiram as visitas de representantes de uma delegação da Cruz Vermelha Internacional e uma delegação da Cruz Vermelha Dinamarquesa, os judeus tiveram que mentir, dizendo ser uma cidade normal com atividades normais. 

       Este campo de concentração passou a ser chamada de área de assentamento, tudo para salvar as aparências e manipular os acontecimentos em relação aos tratamentos dados aos judeus.

       Estes nazistas foram tão perversos que criaram bancos, escolas, lojas, cafés.. e até mesmo local para apresentações de peças teatrais e orquestras, e para complicar, depois da visita, a grande maioria que participou deste teatro todo, foi transferida para outros campos de concentração e morreram nas câmaras de gás ou de exaustão nos trabalhos forçados.

       Observe, houve uma manipulação de uma realidade que sequer existiu, todavia, serviu para maquiar uma realidade paralela e assim também aconteceu em nosso país.

       O golpe militar, é um exemplo de nossa realidade paralela. É comum pessoas dizerem que na ditadura militar não houve corrupção, entretanto, como constatado por pessoas com um mínimo de esclarecimento e corroborado por Horta no texto publicado pela Super Interessante, em 2018, intitulado Mito: “na época da Ditadura Militar, não tinha corrupção” , é fácil perceber que "A verdade: Os militares prometeram limpar o País. O que conseguiram fazer foi censurar notícias sobre a roubalheira", e acredite, a censura era severa.

     Segundo o autor, apesar dos comportamentos isolados das figuras do primeiro escalão como Geisel, Médice e Castelo Branco mantendo uma conduta ilibada, a corrupção nunca deixou de acontecer.

       Estes personagens foram exemplos de uma aura de probidade, como Castelo Branco, que teve como patrimônio uma Aero Willis preto e um imóvel em Ipanema, Médice teve que desviar uma estrada para não ter suas terras valorizadas e Geisel ao assumir a presidência da Petrobras, negou-se a comprar um novo apartamento para evitar acusações de corrupção.

     O combate a corrupção foi uma bandeira levantada na ditadura, todavia os corruptos se adaptaram ao contexto. 

       Com a criação do CGI - Comissão Geral de Investigações, ficou mais fácil a investigação de subversão e corrupção, todavia em relação a primeira, os subversivos perderam os direitos políticos e/ou foram caçados, e quanto aos corruptos, a falta de eficiência e a seletividade comprometeram o seu combate, e assim ficou, aos amigos o silêncio e aos inimigos, os rigores da lei, o que prevalece até hoje.

      Falta um pouco de história a nossos cidadãos, pois muitos ao fazerem apologia a ditadura, desconhecem ou até mesmo banalizam os acontecimentos como o relatório "Brasil Nunca Mais" quando esclarece que 1918 prisioneiros políticos foram torturados e que existia 283 diferentes tipos de torturas aplicadas na época pelos órgãos de segurança.

      Os contos de fardas omitem a realidade, já que "Mais de mil ossadas de vala aberta na ditadura ainda aguardam identificação", isso representa a vítimas ocultadas pelo regime militar.

       Enfim, que a educação pública seja esclarecedora e não deixe que nossos educandos fiquem alienados como estas pessoas que representam uma geração que não vivenciou o sofrimento dos familiares que foram vítimas deste golpe, mas que apesar disso, ecoam idiotices defendendo algo sem conhecimento de causa.

       Finalizando com um duro golpe na educação, os contos de farda condenou segundo Romão em seu livro intitulado Pedagogia Dialógica, publicado pela  Cortez em 2002, campanhas de alfabetização, porque seu “método de alfabetização” representava uma verdadeira ameaça aos interesses da elites.

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