17/11/2017

CONTEXTOS E CENÁRIOS DA AVALIAÇÃO ESCOLAR: UMA ANÁLISE EM BUSCA DA EFICÁCIA ESCOLARIZADA

Resumo

 Este trabalho tem como objetivo comunicar as primeiras impressões de uma investigação cientifica intitulada “As concepções sobre avaliação dos professores que atuam no Ensino Médio no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Mato Grosso IFMT”. Assumindo os estudos quantitativos e qualitativos e compreendendo as concepções de avaliação, iniciamos por reunir dados de aprovação, reprovação e abandono dos estudantes do Ensino Médio em âmbito nacional do ano de 2014, comparando-os aos resultados da escola, universo de estudo desta investigação, para as análises que serão apresentadas. As reflexões teóricas sobre a avaliação mediadora e classificatória nortearão as perspectivas desta proposta, e subsidiarão de debates e análises sobre a eficiência do processo avaliativo no campus, podendo contribuir para uma prática mais significativa e exitosa para a comunidade escolar.

Palavras Chaves: avaliação, aprovação, reprovação, abandono.

Abstract

This article aims to communicate the first impressions of a scientific research entitled "The conceptions about evaluation of teachers who work in High School at the Federal Institute of Education, Science and Technology of Mato Grosso IFMT". Focusing on quantitative and qualitative studies in order to understand the conceptions of evaluation, we began by collecting data on the approval, disapproval and abandonment of high school students nationwide in the year 2014, comparing them with the results of the school, which constitutes the context of study of this investigation for the analyzes that will be presented. Theoretical reflections on mediatory evaluation and classificatory evaluation will guide the perspectives of this proposal, and will subsidize moments of debate and analysis about the efficiency of the evaluation process within the institution, which may contribute to a more meaningful and successful practice for the school community.

Keywords: evaluation, approval, disapproval, abandonment.

 

1.Introdução

           O cenário da educação brasileira atual comprova que a escolarização avançou muito no atendimento quantitativo da Educação Básica e do Ensino Superior. O aumento da demanda de estudantes atendidos no Ensino Médio, considerando os jovens de 15 a 17 anos já atinge patamares de 82,6%, segundo o Ministério da Educação - MEC. O Estado, enquanto mantenedor das políticas de escolarização, estabeleceu a avaliação externa para mensurar a proficiência dos estudantes em várias áreas de conhecimento a partir da Prova Brasil, no Ensino Fundamental e do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) no Ensino Médio, sendo este especificamente a porta de entrada para as principais universidades brasileiras. Várias críticas são externadas a este modelo, pois estas avaliações externas acabam por ditar às escolas os currículos a serem trabalhados nos Componentes Curriculares.

           Diante desta massificação das avaliações externas, alguns aspectos fundamentais que interferem sobre o rendimento escolar não conseguem ser contemplados. Contudo, no interior da escola, onde a finalidade da avaliação escolar seria a de promover a aprendizagem, prevalece o caráter classificatório e excludente, como afirma Villas Boas (2014 p.28): “A avaliação é um meio de incluir ou excluir o aluno da escola e dos estudos”. Este caráter classificatório e excludente se reflete nos dados numéricos sobre a reprovação e altos índices de abandono da escola pelos estudantes do Ensino Médio em todo o país.

          Propor um   olhar investigativo sobre a avaliação é compreender que não há praticas pedagógicas desprovidas de concepção de aprendizagem, e que nenhuma ação pedagógica detém neutralidade, ainda que os professores possam negar que são de alguma corrente epistemológica. As práticas pedagógicas, chamadas de ecléticas, envolvem as várias correntes epistemológicas da pedagogia, e as vezes, se baseando em crenças sobre avaliação que se resumem em reproduzir as práticas vivenciadas em sua formação inicial. A partir deste pressuposto, compreende-se que investigar as formas de avaliação adotadas no processo educativo é manifestar as formas de pensar sobre o processo de ensino aprendizagem.

            Este estudo tem como objetivo compreender o cenário educacional da Educação Básica, especificamente no Ensino Médio no Brasil, tendo como recorte os dados sobre: aprovação, reprovação e abandono dos estudantes divulgados pelo INEP ( Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa  Educacionais) no ano de 2014, buscando dialogar sobre as concepções da avaliação nas práticas pedagógicas dos docentes que atuam nos 1ºs anos do curso de Ensino Médio Técnico em Agropecuária do IFMT, campus São Vicente, onde constata-se altos índices de reprovação e abandono dos estudantes.

            A partir das ações metodológicas assumidas, busca-se comparar os dados dos resultados do ano letivo de 2014 da escola, universo desta pesquisa, com os dados de âmbito nacional e, através de uma análise criteriosa e extremamente isenta de subjetividade, espera-se identificar um diagnóstico inicial e norteador de contribuições para uma reflexão sobre os aspectos que influenciam o fracasso escolar, ou seja a reprovação e a evasão escolar dos jovens estudantes do Ensino Médio.

2.Panorama Atual do Cenário Avaliativo do Ensino Médio no Brasil

            Embora a avaliação seja parte do processo de ensino aprendizagem e responsável pela comprovação da prática docente, de forma a contribuir para o avanço intelectual do discente, a realidade da instituição, objeto de pesquisa desta investigação, demonstra que a forma como a avaliação tem sido compreendida e aplicada pouco tem contribuído à sua função social inicial.

        Como podemos observar na tabela 1, no ano de 2014 os índices de reprovação, abandono e aprovação do Ensino Médio, considerando todas os três anos de todas as turmas de escolas públicas do país, vemos que:

Tabela 1

Nível de Ensino

Reprovação

Abandono

Aprovação

Ensino Médio

00000000000011,9%

 

0000000000008,1%

 

000000000000080,0%

 

Fontes: Censo Escolar 2014, Inep. Organizado por Meritt.

            Os dados acima demonstram altos índices de reprovação e abandono, considerando que a cada 100 alunos somente 80 conseguem êxito. Conforme já mencionado, embora os números demonstram que já conquistamos a efetivação de 82,6% de matriculados no Ensino Médio, percebemos que a reprovação e o abandono escolar constituem-se grande entrave ao êxito do processo de escolarização, sendo necessária uma busca no sentido de conhecer os fatores determinantes deste fracasso, como ponto de partida para políticas públicas que garantam não só a matrícula do aluno, como também a permanência e a garantia de aprendizagem deste.

         Nesta perspectiva o Relatório de Monitoramento da Educação para Todos, lançado no ano de 2010 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), nota-se que a taxa de reprovação no Ensino Médio era de 6%, em 1998, e chegou a 12,7%, em 2007, mais que o dobro. Da mesma forma, os índices de reprovação aumentaram na proporção do aumento das matrículas. Embora os estudantes do Ensino Médio tenham garantido o ingresso à escola, percebe-se que não há êxito da aprendizagem mínima necessária à formação plena do aluno.

            O foco desta investigação científica são as turmas do primeiro ano do Ensino Médio, portanto torna-se interessante analisar a tabela 2, que trata dos dados de reprovação, abandono e aprovação de todas as  escolas públicas brasileiras, ainda considerando o ano de 2014:

Tabela 2

Nível de Ensino

Reprovação

Abandono

Aprovação

1º ano

Ensino Médio

000000000017,0%

 

000000000009,5%

 

000000000073,5%

 

 

Fontes: Censo Escolar 2014, Inep. Organizado por Meritt. 

            Os índices são alarmantes, bem como suas consequências negativas a todos esses alunos, famílias e à sociedade em geral. Para as instituições de ensino a reprovação traz prejuízos e um sentimento de fracasso coletivo: além dos gastos, aumenta o número de estudantes por sala, sendo que os alunos novatos são obrigados a conviverem com colegas mais velhos, repetentes, e estes, na maioria das vezes perdem a motivação.

2.1. Cenário Avaliativo do Campus São Vicente

              Para subsidiar melhor o objeto desta investigação científica, focalizamos nos índices do ano de 2014 do IFMT, campus São Vicente, localizado a 90 Km de Cuiabá MT, e que oferta 180 vagas anualmente para o Ensino Médio Integrado do curso Técnico em Agropecuária. Este curso é ofertado desde 1978 nesta Instituição que foi fundada há mais de 78 anos, está implantada na zona rural e possui uma área de 5.000 ha de plantio e criação de animais, formando uma escola fazenda, com estrutura física que contém:  biblioteca, refeitório, auditório, ambulatório, alojamentos, laboratórios, ginásio e infraestrutura que atende à demanda pedagógica do curso.

         O ingresso ao curso se dá por um processo seletivo, onde são aplicadas provas de Português e Matemática, sendo realizado anualmente e tem como pré-requisito estudantes que terminaram o Ensino Fundamental e querem ingressar em um curso de Ensino Médio Integrado ao Técnico. Diante deste contexto, torna-se necessário analisar os resultados de aprovação, reprovação e abandono escolar das turmas matriculadas no 1º anos do Ensino Médio do campus São Vicente, conforme descritos na tabela 3:

Tabela 3

Nível de Ensino

Reprovação

Abandono

Aprovação

1º ano

Ensino Médio

Campus SVC

000000020,0%

 

00000000009,5%

 

000000000070,43%

 

 

Fonte: Ata de Encerramento ano Letivo 2014 IFMT campus São Vicente Campo Verde -MT

            Os índices de reprovação, especificamente no 1º ano do Ensino Médio deste campus, são alarmantes e perpetuam uma cultura da reprovação, uma forma de seleção extremamente excludente, apresentando números acima dos índices nacionais, conforme dados das tabelas 1 e 2 já apresentadas anteriormente.

        Sabe-se que há vários fatores internos e externos que podem serem abordados sobre o fracasso escolar, sendo necessário o conhecimento destes, a fim de fundamentar as práticas pedagógicas e políticas públicas que efetivamente possam contribuir para mudança deste cenário desfavorável da educação brasileira. Assim, apresentam-se alguns deste fatores.

            São muitos fatores externos que contribuem para o cenário da educação brasileira ser   excludente e desfavorável, isto se comprova nos altos índices de reprovação dos estudantes, mas aqui analisaremos o sistema capitalista neoliberal e a influência deste modelo para os paradigmas da educação. A concorrência mercadológica, marca deste movimento, replica para o contexto escolar as práticas de competição de mercado, justificando o modelo de educação classificatória e de meritocracia, o que contribui para a exclusão social que denominaremos aqui como avaliação darwinista, devido ao caráter seletivo que se efetiva nas avaliações escolares, onde a nota tem a função de classificar e de separar os estudantes com bom desempenho dos que apresentam dificuldades.

            Para entendermos melhor esta influência Neoliberalista na educação, citamos Bianchetti, que defende:  

(...) o desaparecimento de um poder centralizador permitiria que a maioria das atividades de serviço do governo poderia ser delegada vantajosamente a autoridades regionais ou locais, totalmente limitadas em seus poderes coercitivos pelas regras ditadas por uma autoridade legislativa superior. (BIANCHETTI, 2005, p. 101).

         Com a descentralização da educação marcada pela LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,  Lei 9394/96 os estados atendem a Educação Básica, prioritariamente o Ensino Médio, e os municípios a Educação Básica,  priorizando a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, cabendo a responsabilidade e definição das políticas públicas pela União, conforme art. 9º da LDBEN, que sustenta: “assegurar processo nacional de avaliação do rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior, em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;” Este controle é realizado através do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Brasileira) que utiliza as avaliações externas: Prova Brasil , Provinha Brasil e o ENEM.

           Neste cenário macro de políticas de descentralização do poder, justifica-se a necessidade de gerenciamento e controle da escola através das avaliações externas, e traz para o interior desta este clima de regulação da União que estabelece, a partir destas avaliações, um currículo para o ensino de habilidades e competências para o aprendizado dos estudantes de todos os níveis. O padrão da reprovação realiza no interior da escola uma seleção social que justifica esta avaliação punitiva e excludente, já vista através dos índices elevados de estudantes reprovados no Ensino Médio.

          Os altos níveis de reprovação e abandono dos adolescentes demonstrados nas tabelas 1, 2 e 3 anteriormente apontam para o pressuposto das dificuldades dos alunos advindos do Ensino Fundamental em adaptar-se e obter êxito no Ensino Médio. Através da exposição dos   dados sobre reprovação, abandono e aprovação desta instituição, torna-se necessário conhecer o cenário educacional desta imersão no ano de 2014, visto que o IFMT campus São Vicente tem 78 anos de história na educação de jovens, e atravessou muitas mudanças políticas, de finalidades e paradigmas da educação técnica. Esta realidade do fracasso escolar dos jovens e adolescentes reflete a necessidade de debatermos as práticas pedagógicas e compreendermos as crenças e concepções de avaliação escolar dos docentes que atuam na Educação Básica e especificamente no Ensino Médio Técnico como parte deste contexto.

          É importante entendermos a finalidade da avaliação escolar pois isso possibilitará avançar na promoção de um processo ensino aprendizagem mais eficaz, ultrapassando a crença de que avaliação é o processo realizado ao final de um período letivo e que  define somente se  o estudante  será aprovado ou reprovado.  Sobre isto, Luckesi afirma:

A avaliação da aprendizagem necessita, para cumprir o seu verdadeiro significado, assumir a função de subsidiar a construção da aprendizagem bem-sucedida. A condição necessária para que isto aconteça é que a avaliação deixe de ser utilizada como um recurso de autoridade, que decide os destinos do educando, e assuma o papel de auxiliar o crescimento (LUCKESI, 2005, p.166).

           Certamente alguns docentes nem se dão conta deste meio de reprodução social tão excludente, e ainda justificam o rigor dos critérios de avaliação, pois a lógica se justifica em que o mercado busca bons resultados. Todavia, necessário se faz observar mais especificamente como este percurso educacional ocorre no interior da escola. Estes estudantes reprovados ou que abandonam o curso precisam ter o direito e a garantia de aprender. Infelizmente o mecanismo da repetição não consegue garantir o aprendizado dos estudantes que apresentam dificuldades. Normalmente estes estudantes reprovados são matriculados e cursam novamente o ano, sem nenhum tipo de ação planejada ou de atendimento específico ou individualizado.

3. Avaliação para Promoção

          Ademais do papel de beneficiar o processo de aprendizagem, a avaliação é um valioso instrumento reflexivo do trabalho docente, dando sentido e demonstrando avanços, fracassos e estagnações desta dinâmica de ensino-aprendizagem, norteando assim possíveis intervenções de cunho pedagógico no sentido de contribuir para um aprendizado real e significativo ao aluno.

       Podemos observar nas práticas avaliativas várias posturas ou concepções, uma delas, talvez a mais praticada, é a avaliação classificatória, baseada em números, índices ou conceitos que têm como finalidade separar os “ditos” bons de maus alunos, reprovados de aprovados. Dentro desta dinâmica de mensuração o docente sai do papel do professor que ensina, e se investe de autoridade de juiz para julgar e dar uma nota ou conceito. Segundo Villas Boas (2013, p.28) “ (...) quando se pretende simplesmente  classificar, a nota ocupa lugar de destaque”. Dentro desta perspectiva classificatória a avaliação ganha um enfoque punitivo à medida que marginaliza os estudantes com desempenho abaixo dos padrões estabelecidos, utilizando-se dos resultados de avaliação como reguladores do comportamento dos estudantes.  

         Quando a avaliação não cumpre seu papel de reguladora das práticas de ensino , há uma inércia pós avaliação, ou seja, se o aluno não aprendeu, a culpa é exclusivamente dele, isentando o professor deste fracasso, a avaliação perde o sentido de instrumento do processo de aprendizagem. Sobre isto Hoffman afirma:

Em relação à aprendizagem, uma avaliação a serviço da ação não tem por objetivo a verificação e o registro de dados de desempenho escolar, mas a observação permanente das manifestações de aprendizagem para proceder uma ação educativa que otimize os percursos individuais. (HOFFMAN, 2014 p. 19)

          A partir desta perspectiva a Avaliação Mediadora ou Formativa tem por finalidade promover o estudante para as conquistas da aprendizagem, seu caráter é participativo e caracteriza-se pela utilização de resultados prévios de avaliação para reelaborar e redimensionar as intervenções junto aos discentes.

          Avaliação Mediadora redireciona o fazer pedagógico com a finalidade de atender a necessidade do aluno, desmistificando o erro como problema para colocá-lo como um caminho de construção ao estudante, cada passo se constitui numa conquista. Os alunos deixam de ter uma nota classificatória para possuir uma histórico de seus avanços.

          Desmistificar a figura do docente como um aferidor de aprendizagens é um desafio para reafirmar o papel do educador como um mediador do conhecimento, contribuindo para reflexão de uma prática pedagógica, onde o professor “se torne corresponsável pelo processo” afirma Villas Boas (2013). As contribuições do pensamento de Allal (1986) para a concretização da avaliação formativa, se dá através do reconhecimento das etapas na prática pedagógica e pressupõe a identificação do que vai ser observado, e como vai ser observado. As avaliações segundo a autora servem para a coleta de informações que são importantes  fontes de dados para tomada de decisão dos docentes no processo de ensino aprendizagem. Uma vez que identificou as dificuldades no processo de construção do conhecimento, através da avaliação processual, as informações prestam-se a redimensionar o planejamento de aulas pelo docente a fim de que as intervenções pedagógicas sejam producentes.

          Vários autores apontam para o caminho da Avaliação Processual, para alguns chamada de Contínua ou Avaliação Mediadora, como uma forma de compreender o processo de ensino aprendizagem fixando-se nas conquistas dos alunos ao invés de valorizar seus fracassos. Coadunamos com os posicionamentos de Hoffman, Perrenoud, Luckesi, Allal, Villas Boas, Vasconcellos, Demo que defendem a ideia de uma avaliação escolar processual, mediadora, formativa e diagnóstica, valorizando o processo e não somente os resultados numéricos. Avaliação centrada na reflexão e na possibilidade de rever e redirecionar o ensino para o estudante e não para o sistema.

          Neste contexto das práticas de avaliação da aprendizagem, apresentamos vários pensadores que refletem as implicações sociais e conceituais desta práxis, sendo essas mais abrangentes do que uma nota ou conceito. É necessário que os estudantes deixem de ser números na chamada e taxas de desempenho, e que outras dimensões da aprendizagem possam ser consideradas, como afetivas, éticas, estéticas, epistêmicas que, segundo Hoffman (2014, p. 26), “o olhar avaliativo é por natureza complexo e multidimensional”, proporcionando uma visão mais holística e amorosa do docente em relação ao estudante.

4. Considerações Finais

          Verifica-se através dos dados exploratórios parciais desta pesquisa que existe uma práxis por trás destes altos índices de reprovação e abandono que sustentam esta cultura de reprovação como forma de garantir “qualidade no ensino” e esta prática é  preocupante.   O aumento dos índices de reprovação e abandono no Ensino Médio, conforme os dados do INEP já mencionados, constatam uma realidade que comprova que o ingresso destes jovens estudantes não são garantia de educação e formação, ou seja, de efetivo aprendizado.  Há um cenário muito alarmante o que torna relevante focar os estudos no processo educativo das instituições escolares em busca de reflexões e intervenções a respeito da avaliação escolar, suas práticas, bem como suas finalidades e contribuições efetivas ao avanço intelectual dos alunos.

           Para elucidar este cenário avaliativo desfavorável é importante compreender as concepções sobre avaliação escolar dos docentes como importante salto no rompimento de paradigmas da avaliação excludente, e que enrijecem os critérios mantendo um contingente enorme de estudantes que reprovam ou abandonam os estudos. Não estamos aqui afirmando que a reprovação é culpada pelo desempenho da qualidade da educação, ao contrário, dizendo que avaliar é refletir em políticas de garantia de aprendizagem aos estudantes.  É preciso utilizar a avaliação como um antidoto contra o fracasso, o processo avaliativo deve beneficiar e retroalimentar as práticas de aprendizagem.

           Desta forma, entende-se que é relevante utilizar os resultados de avaliação não para transformá-las em números e fórmulas de mensuração, mas para ajustar as práticas pedagógicas.  Ao invés de ensinar para avaliar, como se a finalidade de aprender fosse ser avaliado ao final de um período letivo, avalia-se para compreender os percursos e ajustar os processos de ensino aprendizagem.

           Mapeando dentro do contraponto das duas concepções de Avaliação Classificatória e Mediadora aqui esplanadas, é importante avançar em conhecer as práticas avaliativas e os sujeitos envolvidos nesta investigação cientifica.

A intenção não é rotular, mas identificar nos sujeitos participantes da pesquisa as nuances das práticas avaliativas, sua finalidade, instrumentos e uso destas informações para a qualidade da educação.

           Ultrapassar o modelo de avaliação já posto historicamente e reproduzido sem crítica, é um dos fatores de melhoria para a educação. Alguns chamam de críticas, as lamurias que se ouve no interior das salas de professores, a exemplo: “os estudantes são desinteressados e imaturos”, “o sistema cobra resultados”, e em meios a falas precisamos refletir sobre os motivos do desinteresse dos estudantes e das intenções do sistema educacional. Apontar o problema da falta de estrutura física ou na formação de professores torna-se trivial à medida que esta crítica não apresenta uma possibilidade de intervenção positiva como forma de contribuir à mudança.

           Desta forma, se faz necessário conhecer os entraves do processo de avaliação escolar, pois nos documentos oficiais a afirmação é que avaliação deve ser:  contínua, processual, diagnóstica e mediadora. Mas será que o cenário educacional descrito neste breve relato apresenta uma prática pedagógica voltada para a aprendizagem dos estudantes e a serviço da melhoria das práticas docentes?

            Para Vasconcellos é preciso romper com o paradigma e sobre isto afirma:

 A partir de uma análise mais profunda, faz-se, pois esta descoberta: a avaliação escolar não é só avaliação! De instrumento de análise do processo educacional, a avaliação tornou-se instrumento de dominação, de controle, de seleção social, de discriminação, de repressão, adquirindo até o caráter passional de vingança e acerto de contas. (VASCONCELLOS,2007 p.37)

          Nestes 400 anos de escolarização influenciados pelos Jesuítas ou pelos protestantes com Comênios, segundo Luckesi, nunca questionamos os métodos de exames e provas e, de forma automatizada, reproduzimos os modelos na prática pedagógica. Nesta perspectiva o “erro” sempre foi um defeito e não um caminho a ser reorientado, o papel do docente fica restrito em corrigir os erros ao invés media-los numa ação pedagógica interacionista.

           Favorecer a qualidade de ensino não é somente aumentar quantitativamente os dados de êxito dos estudantes do Ensino Médio, mas aperfeiçoar métodos de trabalho pedagógico, efetivando o aprendizado dos estudantes, e parar de mascarar índices com intuito de melhorar o quadro da educação nacional com fins políticos ou para dar satisfação aos organismos mundiais.

            Compreender os fatores internos das instituições escolares que estão fragilizados pelos altos índices de fracasso escolar, é enfrentar e traduzir os números de reprovação e abandono nos reais motivos do baixo desempenho da educação brasileira. A contribuição desta investigação, a qual busca apresentar um diagnóstico genuíno, é justamente nortear caminhos em busca da compreensão destes fatores e potencializar professores, gestores e alunos para uma educação que efetivamente desenvolva sua função social e transformadora, contribuindo para uma ensino mais eficiente, minimizando ou, quiçá, resolvendo o problema aqui apresentado, ou seja, potencializando a avaliação como um instrumento de mensuração do, no e para processo de ensino e não somente do aluno.

5. Referências Bibliográficas

ALLAL, Linda (1986). Estratégias de Avaliação Formativa. Concepções Psicopedagógicas e Modalidades de Aplicação. In Linda Allal; Jean Cardinet; Philippe Perrenoud. A Avaliação Formativa Num Ensino Diferenciado (pp.175-209). Coimbra: Livraria Almedina.

BIANCHETTI, Roberto G. Modelo Neoliberal e Políticas Educacionais. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2005.

BRASIL, Congresso Nacional. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. 9394/96, 20 de dezembro de 1996.

ECO, Humberto. Como se faz uma tese em ciências humanas. Lisboa: Editorial Presença, 1977

FAZENDA, Ivani. Metodologia de Pesquisa Educacional. São Paulo, Ed. Cortez, 1997.

HOFFMANN, Jussara. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre, Ed. Mediação, 2001.

___________. Avaliação Mediadora. Porto Alegre, Ed. Mediação,2014.

___________. O Jogo ao Contrário em Avaliação. Porto Alegre, Ed. Mediação, 2014.

LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da aprendizagem escolar. 17 ed São Paulo: Cortez, 2005.

PERRENOUD, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens, entre duas lógicas. Porto Alegre: Artmed, 1999.

VASCONCELLOS, Celso dos Santos, Avaliação: Concepção Dialética-Libertadora do Processo de Avaliação Escolar 17ª ed./ São Paulo: Libertad, 2007

VILLAS BOAS, Benigna. Avaliação Formativa E Formação De Professores:  Ainda Um Desafio. Disponível em: <http://avaliacaoelinguisticaaplicada.blogspot.com.br/2012/12/postagem-aula-5.html>. Acesso em 11 de Jul. 2016.

_____________. Virando a Escola do Avesso por Meio da Avaliação.  Campinas –SP, 2ª ed. Papirus, 2013. –Coleção Magistério: Formação e Trabalho Pedagógico.

Sites consultados

http://www.qedu.org.br/brasil/taxas-rendimento/rede-estadual/urbana?year=2014 acessado em 20/08/2016

http://noticias.terra.com.br/educacao/brasil-lidera-ranking-de-repetencia-escolar-na-america-latina,5018ec8d7cbea310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html acessado em 15/06/2017

https://novaescola.org.br/conteudo/1889/repetencia-um-erro-que-se-repete-a-cada-ano acessado em 18/06/2017.

https://novaescola.org.br/conteudo/1411/avaliacao-processual-o-raio-x-do-ensino-e-da-aprendizagem-na-sala-de-aula acessado em 21/06/2017.

 

* Formada em Pedagogia pela UFMS 2001, aluna do Mestrado em Ensino IFMT

Vinculada a linha de Pesquisa: Formação de Professores e Saberes para Docência.

silvia.lima@svc.ifmt.edu.br

**Professora Doutora do Mestrado em Ensino IFMT PPGEN

Vinculada à linha de Pesquisa: Formação de Professores e Saberes para Docência. Formada em Geografia pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iporá-GO – Doutora em Ciências Pedagógicas pela Universidad Central de Las Villas – Cuba

edione.teixeira@svc.ifmt.edu.br

 

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