Consciência de Classe
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
No auge dos anos 80 e 90, o rock nacional ganhou ainda mais força com um cantor e poeta conhecido por Cazuza. Em uma das músicas denominada Burguesia que foi composta por ele e George Israel, é feito uma referência sobre a burguesia. Segundo a letra da música "A burguesia não repara na dor da vendedora de chicletes. A burguesia só olha pra si. A burguesia só olha pra si. A burguesia é a direita, é a guerra".
Obviamente esta vendedora de chicletes representava a classe dominada, ou seja, o proletariado, o que hoje seria questionado, já que gastou-se R$ 2 milhões com chicletes, então, esta vendedora de chiclete faria parte da própria burguesia.
O fato é que falta nas pessoas a consciência de classe, ou seja, elas perceberem que as mesmas fazem parte desta engrenagem que move o Brasil, este gigante adormecido e acovardado.
Por isso o lema "Proletários de todo o mundo, uni-vos!" é uma fala forte que fomenta a união de uma classe reprimida que não tem consciência de sua classe, e sendo assim, não há possibilidade de mudança da sociedade.
Na teoria Marxista existem apenas duas classes, a do dominante conhecida como burguesia e a do dominado, conhecida como proletariado que apesar de não ter os meios de produção, é a principal peça para fazer com que o sistema produtivo seja efetivado, o que é corroborado por Almeida, Abreu e Rossler no artigo Contribuições de Vigotski para a análise da consciência de classe, publicado pela Psicol. estud., Maringá em 2011[1], quando elucidam que a consciência de classe é vista como uma expressão do ser social da classe, a mesma que corresponde a determinado lugar nas relações sociais de produção.
Interessante perceber nas falas de Euzebios Filho e Guzzo no artigo Psicologia e consciência de classe "para-si": ações e desafios na direção da mudança social, publicado pela Rev. psicol. polít., em 2015[2], que toda consciência política tende a se tornar uma consciência de classe, pelo fato, de independente da direção que a consciência política caminhar, ela estará imersa em uma realidade de classes. uma vez que política envolve disputa assimétricas pelo poder e tais disputas tem o seu cerne nos interesses de classe, o que envolve disposição econômica (e antagônica) das classes sociais no sistema capitalista.
Observe que falta consciência de classe no povo brasileiro e de forma concomitante, falta também consciência política. Somos criadores de monstros, monstros vistos como câncer de uma sociedade perdida em ideologias alienantes e demagogias nefastas oriundas de um narcisismo fascista que aniquila a vida do povo brasileiro, tendo hoje um genocídio que corresponde a mais de 225 mil vidas e milhares de outras destruídas.
Nas falas de Van Der Linden no artigo intitulado O Conceito Marxiano de Proletariado: Uma Crítica, publicado pela Sociol. Antropol em 2016[3], torna claro que a consciência de classe lida com duas classes apenas, a burguesia e o proletariado, este que Karl Marx chegou à conclusão de que era a única força social capaz de transcender o capitalismo, assim sendo, ele enxergava o proletariado como uma classe na sociedade civil que não é visto como uma classe, mas que é detentora de um caráter universal causado pelo seu sofrimento universal, tão subjugada que não reivindica direito particular já que existe uma injustiça de modo geral lhe é perpetrada.
Para o autor, o proletariado representa a antítese pura da nossa conjuntura, o que torna uma completa perda do homem, sendo assim, esta situação só poderá ser revertida caso haja uma reconquista do homem, reconquista esta que podemos atribuir com o auxílio de uma educação de qualidade, educação esta que faz deste ser ignóbil um protagônico de sua própria vida.
Alguns néscios dirão imbecilidades acreditando que esta luta de classe é conversa de comunista/socialista, mas o intuito aqui não é fomentar um ideário político e sim esclarecer este povo que com nossa atual necropolítica, a nossa classe de proletariado está sendo dizimada, perdendo direitos que foram conquistados com sangue, suor e lágrimas e colocando-nos as margens do poder decisório, apesar da força de produção estar em nossa classe.
Dito isso, antes que néscios façam uso de suas verborréias, é preciso perceber que proletário era usado na Roma antiga e representava cidadãos pobres que tinham a única função de fornecer a prole que significa filhos para servir a República, entretanto hoje são as pessoas que dependem do seu salário, assim sendo, não interessa se o salário é baixo ou alto. Todos que dependem do salário para sobreviver é um proletariado.
Que possamos através de uma educação de qualidade, fazer de nossos alunos seres pensantes para poderem transformar seu entorno e consequentemente sua história.
[1] Para mais informações vide ALMEIDA, Melissa Rodrigues de; ABREU, Claudia Barcelos de Moura; ROSSLER, João Henrique. Contribuições de Vigotski para a análise da consciência de classe. Psicol. estud., Maringá , v. 16, n. 4, p. 551-560, Dec. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722011000400006&lng=en&nrm=iso>. access on 31 Jan. 2021. https://doi.org/10.1590/S1413-73722011000400006.
[2] Para mais informações vide EUZEBIOS FILHO, Antonio; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Psicologia e consciência de classe "para-si": ações e desafios na direção da mudança social. Rev. psicol. polít., São Paulo , v. 15, n. 33, p. 255-268, ago. 2015 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-549X2015000200002&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 31 jan. 2021
[3] Para mais informações vide VAN DER LINDEN, Marcel. O Conceito Marxiano De Proletariado: Uma Crítica. Sociol. Antropol., Rio de Janeiro , v. 6, n. 1, p. 87-110, Apr. 2016 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2238-38752016000100087&lng=en&nrm=iso>. access on 31 Jan. 2021. https://doi.org/10.1590/2238-38752016v614