10/02/2020

Conhecimento e Opinião

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Não sou historiador, sou mestre em Educação e Sociedade com graduação em matemática e pedagogia, entretanto a parte da história sempre me interessou, principalmente porque ela tem que ser interpretada com fatos e dados e não manipulada, conforme entenderemos no decorrer do texto.

            No ensino fundamental a história é uma disciplina que para muitos alunos não é levado em consideração e tampouco com mesma preocupação que as disciplinas de matemática e/ou português, mas isso pode acontecer devido ao fato do professor não cativar seus discentes a um discernimento de como era antes explicitando o seu contexto para a época.

            Interessante perceber na Revista Aventuras na História, edição 200, Janeiro de 2020, uma entrevista realizada por Marcus Lopes. Nela o entrevistador faz uma série de perguntas a professora Lilia Moritz Schwarcz que é doutora em antropologia social, sobre História e Memória, e simplesmente esta doutora em sua maestria desvenda o véu da ignorância explicitando a realidade sobre nossa história.

            De acordo com a historiadora, nestes 130 anos de República, tivemos alguns momentos de democracia e muitos períodos pouco republicanos.

            Interessante perceber que com a constituição de 1988, o povo brasileiro teve garantido muitos direitos, entretanto com a atual gestão, o governo se olvidou das preocupações republicanas e "usurpou" os direitos conquistados.

            A professora Lilia Moritz Schwarcz cita dois inimigos de uma república que são patrimonialismo e a corrupção. O patrimonialismo de acordo com alguns dicionários é quando o "Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado" e isso é uma prática comum em governos absolutistas.

            Quanto ao segundo inimigo, ele está tão enraizado na política que se tornou um câncer na sociedade, e isso teve seu marco com a exploração dos portugueses.

            A corrupção é o mal que assola o país, pois é o momento em que o egoísmo e a ganância sobrepõe a dignidade do povo e o humanismo.

            Ela ceifa vidas e sonhos. Segundo reportagem de Mariana Pinhoni[1], “Estudo recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostra que cada  R$ 1 desviado pela corrupção representa um dano para a economia e para a sociedade de R$ 3”, afirma o diretor do ETCO.

            A professora Lilia Moritz Schwarcz deixa claro que temos passado por um revisionismo na história e isso trará duras consequências à sociedade, pois este ato não passa de um crime de lesa-humanidade por tratar questões traumáticas como algo natural e até mesmo neutro para a história.

            Como exemplo, podemos citar o caso de Ricardo Vélez Rodríguez, hoje ex-ministro da educação que em sua gestão como ministro tentou fazer o revisionismo dos livros didáticos esclarecendo que "o que aconteceu no dia 31 de março de 1964 no Brasil foi uma decisão soberana da sociedade brasileira (...), não houve ditadura, mas um regime democrático de força”. Ou seja, golpe nada mais é que um regime democrático de força.

            Infelizmente alguns acreditam que não houve tal golpe, e é interessante perceber, que muitos formadores de opinião pregam aos quatro ventos que caso tenha mesmo ocorrido o "tal golpe", o mesmo foi tão brando que sequer pode-se perceber e/ou foi um mal necessário.

            Estes néscios e pseudohistoriadores se esqueceram que foram 17 Atos Institucionais que roubaram a dignidade, os direitos e vidas de muitos brasileiros que tinham pensamentos contrários ao sistema ditatorial.

            A história não pode ser reinventada e tampouco inventada, isso porque ela é uma ciência com respaldo nos fatos e embasada em acontecimentos reais, caso contrário a mesma seria denominada de estória cujo cerne está nas narrativas populares e/ou tradicionais não verdadeiras.

            No livro Maquiavel vida e obra, publicado pela Editora Nova Cultural em 1999 é esclarecido que quando se vê a história como ciência nos é permitido observar os fatos do passado podendo prever o futuro em qualquer governo, além de imaginar novas soluções baseadas nas semelhanças de circunstâncias entre passado e futuro.

            Como visto na entrevista, não se instrumentaliza a história, pois ela não pode ser vista como uma bula de remédio que através da mesma você decide se tomará ou não.

            História é uma disciplina e cabe ao professor desta área não se acorvardar. Cabe ao historiador explicar os fatos sem fugir ao contexto, pois será através da história que teremos aparatos para "reconhecermos os problemas de nosso passado e estão inscritos no presente".

            Faz-se mister observarmos que hoje, com este revisionismo, qualquer explicação que faça o aluno entender os fatos ocorridos e suas consequências no presente e/ou suas projeções futuras leva o sistema taxá-lo de doutrinador ideológico.

            Hoje é visto como doutrinação fazer o aluno pensar, por isso a área de humanas não tem sido tão valorizada atualmente. A filosofia é uma disciplina usurpadora da domesticação e da subalternidade, e isso passa ser visto como um perigo para a conjuntura política atual.

            Sendo assim, no momento impera a imbecilidade ao estigmatizar de comunistas as pessoas que buscam desenvolver a criticidade protagônica em seus alunos.

            As redes sociais que poderiam ajudar a fomentar um conhecimento mais corrosivo (aquele que te faz pensar e questionar a atual realidade) se esbarram nas opiniões preconcebidas, então confundem-se conhecimento com opinião, e nesta, muitos que dão suas opiniões alicerçadas nas próprias imbecilidades e fake news, se tornam doutores na área com seguidores totalmente alienados.

            Imbecilidades assim formam-se filósofos a propagar a teoria do terraplanismo dentre outras estultice, encontrando uma seara fértil de idiotas a propagar tais absurdos e até mesmo a difamar verdadeiros filósofos e pensadores.

            A educação pública está tentando mudanças em sua qualidade com a Base Nacional Comum Curricular - BNCC, mas de nada adiantará enquanto tivermos professores historiadores preocupados em banalizar a violência com os negros, as mulheres, os índios, os homossexuais dentre outros ignorados por esta política nada republicana que  só falta rasgar a nossa constituição.

 

[1] Para mais informações vide https://exame.abril.com.br/brasil/5-efeitos-danosos-da-corrupcao-que-voce-nao-ve/

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