07/08/2018

Cinema Na Educação Como Dispositivo de Formação E Ação Pedagógica

Ana Iara Silva de Deus

Fernanda Cegelka

Carmem Silvia Rodrigues Pereira

Fernanda Monteiro Rigue

RESUMO

Este texto enfatiza o desenvolvimento de um projeto de pesquisas e extensão, que envolveu a linguagem cinematográfica, com elaboração de materiais fílmicos desenvolvido com alunos da rede público que apresentam baixos resultados no IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Assim, as ações delineadas no projeto visaram articular ensino, pesquisa e extensão de forma a proporcionar aos estudantes universitários do curso de Pedagogia, oportunidade de construírem saberes e práticas coletivas e em redes que visassem fortalecer a Educação Básica e também as ações curriculares da Instituição de Ensino- IESA, por meio do cinema na educação. Para tanto, objetivou-se mobilizar o futuro docente a realizar propostas pedagógicas que incluíssem a linguagem do cinema na educação. Assim, utilizou-se das novas tecnologias para levar o cinema até a escola e inundar o ambiente escolar de imagens e sons.

Palavras-chave: Formação. Cinema. Educação. Arte.

 

  1. Introdução

Esse texto parte de um projeto de pesquisa e extensão do Instituto Cenecista de Ensino Superior (IESA), da cidade de Santo Ângelo, intitulado “Cinema na educação como dispositivo de formação e ação pedagógica”. O intuito do projeto foi inserir o acadêmico ao campo docente, unindo o ensino superior à escola básica, o que vem sendo desenvolvido desde 2015 na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Sparta de Souza, com conclusão prevista para julho de 2016.

O principal objetivo deste projeto foi incentivar o futuro docente a realizar propostas pedagógicas que incluam a linguagem do cinema na educação. Assim, utilizaram-se as novas tecnologias para levar o cinema até a escola e inundar de imagens e sons o ambiente escolar. Esse projeto levou em consideração a Lei 13006/14 de 26 de junho de 2014, que torna o cinema componente curricular obrigatório no espaço escolar, conforme é postulado na lei, “ a exibição de filmes de produção nacional constituirá componente curricular complementar integrado à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.” Isso, evidentemente, torna ainda mais forte nosso compromisso em ter contato com essa arte por meio de um projeto de pesquisa estendido tanto para alunos de ensino superior como para estudante da escola básica.

Com o subsídio desta lei, almejou-se mobilizar os participantes em ações que levassem os alunos a produzirem curtas e minutos Lumière com base na linguagem cinematográfica, por meio de oficinas de criação e edições de filmagens produzidas no decorrer do trabalho, visando sensibilizar os alunos para a construção de aprendizagens significativas, bem como a valorização do conhecimento artístico, por meio da linguagem do cinema na educação. Esse projeto de extensão articulou em sua metodologia de trabalho ações a serem desenvolvidas na integra com a participação dos alunos bolsistas, o qual conta com a supervisão dos professores coordenadores.

Com o desenvolvimento das ações propostas no projeto, almejou-se possibilitar a ampliação do exercício da docência pelos alunos bolsistas, privilegiando a integração entre os atores do processo educativo, ou seja, os alunos da Educação Básica e da Educação Superior, bem como os docentes coordenadores do projeto de extensão e professores regentes da escola parceira. Objetivou-se igualmente privilegiar a construção do conhecimento mais apurado e mais próximo do contexto da comunidade na qual ambos se inserissem, alunos da graduação e da educação básica, para fomentar a inserção dos licenciados em Pedagogia nos diversos momentos do cotidiano da Educação Básica, visando consolidar seu processo formativo, para que, desse modo, pudessem ampliar suas percepções de mundo e consolidassem a forma de atuar nos processos educativos, sobre os quais se tornarão responsáveis.

  1. Bases Metodológicas

Para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa e extensão, as ações básicas foram e estão sendo desenvolvidas na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Sparta de Souza, a qual apresenta baixos resultados no último IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Assim, as ações delineadas procuraram articular ensino, pesquisa e extensão de forma a proporcionar aos estudantes universitários, futuros docentes, oportunidade de construírem saberes e práticas coletivas e em redes que visam fortalecer a educação básica e também as ações curriculares do IESA.

Para tanto, todas as segundas-feiras os bolsistas encarregados do desenvolvendo das ações do projeto deslocam-se até à escola parceira para realizarem as atividades propostas no projeto de extensão. São duas horas semanais para o trabalho com o cinema na escola, e duas horas semanais para reorganização e documentação dos dados coletados no projeto.

Diante do exposto, para o desenvolvimento do projeto de extensão foram organizadas algumas ações, as quais incluíram primeiramente o levantamento inicial da realidade local mediante entrevistas na comunidade escolar, visando ao fortalecimento das relações escola/aluno/comunidade para compreender as concepções dos alunos e da comunidade escolar, acerca do cinema na educação.

Igualmente foram planejadas algumas ações educativas envolvendo o cinema nacional na educação em atividades didático-pedagógicas articuladas em situações do cotidiano escolar, de modo a compreendê-lo como arte na escola. Para tanto, foi criado o espaço Cineclube na escola parceira para que os alunos (as) pudessem mergulhar nos filmes trabalhados, possibilitando o desenvolvimento de um olhar, que ultrapasse o simples acompanhamento do fluxo narrativo.

Assim, com este projeto de extensão, pretendeu-se envolver os alunos da educação básica em análises e significações estéticas de vários filmes nacionais, bem como fragmentos de documentários, para ser explorados nas oficinas de cinema.

Desse modo, foram selecionados os materiais audiovisuais para serem trabalhados com os alunos com antecedência, bem como foi feita a catalogação dos filmes de acordo com a faixa etária dos estudantes participante do projeto.

Com o projeto, buscou-se mobilizar os participantes em ações que levem os alunos a produzir curtas e minutos Lumière com base na linguagem cinematográfica, por meio de oficinas de criações e edições de filmagens produzidas no decorrer do trabalho, visando sensibilizar os alunos para a construção de aprendizagens significativas, bem como a valorização do conhecimento artístico.

O projeto visou também promover no espaço escolar a educação inclusiva que valorize e respeite não apenas os alunos com deficiência e com dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso no processo educativo. Assim, buscou-se implicar mudança de perspectiva em relação aos processos inclusivos, visando melhorar a qualidade do ensino das escolas, possibilitando a inclusão de todos, por meio do cinema na educação como processo de alteridade, pois os filmes, além de apontar caminhos, nos remetem as diferenças e semelhanças, ou seja, permite a identificação com os personagens que vão desfilar na tela do Cineclube.

Dessa maneira, o projeto de pesquisa e extensão articulou sua metodologia para que as ações estipuladas pudessem ser desenvolvidas na integra com a participação dos alunos bolsistas, e com a supervisão dos professores coordenadores.

3. Ações voltadas à comunidade escolar

O projeto de pesquisa e extensão teve início na escola parceira em 23 de outubro de 2015, quando a coordenadora do Projeto Cinema na educação como dispositivo de formação e ação pedagógica e bolsistas foram até a Escola Estadual de Ensino Fundamental, Dr. Sparta de Souza, para o primeiro contato com o grupo de alunos que iriam participar do projeto.

As integrantes do projeto foram recebidas pela coordenadora da escola, a qual as encaminhou para a sala de aula disponibilizada para o primeiro encontro. Ao chegar à sala de aula, a aluna bolsista e a coordenadora do projeto apresentaram-se e expuseram o desenvolvimento do projeto. Em seguida, os alunos expuseram seu depoimento sobre as expectativas da participação no projeto de cinema. Esse depoimento realizado pelos alunos foi gravado e estruturado em documentário sobre as primeiras impressões dos alunos com o projeto que seria desenvolvido com eles.

Nessa ocasião, foi realizado o Contrato Didático, o qual contou com a participação de todos. Esse documento estruturou-se da seguinte forma. Os alunos falaram as seguintes várias palavras-chave que deveriam integrar o contrato: Participação; Assiduidade; Respeito; Diálogo; Interesse; Responsabilidade; Dar o melhor de si; Solidariedade; Confiança e União.

Estabelecido os acordos do contrato, foi marcado o próximo encontro com os alunos, os quais demonstraram grande interesse. Conforme Bergala (2007) salienta, é pensar o cinema como ato de criação, pelo qual o aluno possa se expressar e criar. Esse primeiro encontro contou com a gravação de depoimentos para colocar os alunos em cena, usando a expressão deles. Segundo Fresquet:

O cinema pode ser pensado também como um sistema de formas. Diversos cineastas consideraram o cinema como o herdeiro de todas as artes. Essa ideia do cinema como superioridade, como síntese das artes (que, podemos considerar, representa o pensamento desde Einsestein até Godard) foi justificada em razão de que o cinema solicita todos os sentidos e todas as emoções e é, por isso, considerado uma arte múltipla, plural. Concebe-se como uma arte do espaço e arte do tempo, arte da narrativa e da descrição, arte do diálogo e da arte musical, arte de dança e da postura escultural, arte do desenho e da cor. O cinema absorve nele as principais questões estéticas das artes tradicionais até a sua parição (2010, p. 13).

Com base nessa visão do cinema como sétima arte, que engloba todas as artes articuladas na linguagem cinematográfica, especifica-se sua importância no campo educacional, uma vez que reúne todos os componentes da arte concomitantemente, ou seja, a expressão artística, estética, a música, a cor e a dança estarão inter-relacionados por meio das ações dos processos criativos com o cinema na educação.

No segundo encontro, realizado no dia 26 de outubro de 2015, contou com o estudo do Projeto político-pedagógico da escola, a fim de analisar a proposta da escola na formação do aluno, como estava estruturada a escola, quanto a equipe de trabalho. Então, bolsista e coordenadora do projeto de cinema debruçaram-se sobre a realidade da escola para realizarem um projeto significativo aos alunos de acordo e levasse em consideração sua realidade e contexto local.

No encontro seguinte, que ocorreu no dia 5 de novembro de 2015, foi apresentado o documentário produzido no primeiro encontro com a turma. Depois dessa apresentação, foi exibido o filme brasileiro Floresta Vermelha, com direção, roteiro e montagem de Flavio Soares. Esse filme é digital com software livre em hardware aberto, disponível para download em várias versões. Em seguida, foi realizado um debate sobre alguns aspectos do filme assistido: roteiro, personagens, planos e ângulos e gênero do filme. Os alunos opinaram sobre os gêneros. Uma aluna disse que se tratava de suspense, e os demais o enquadraram como ficção, terror e drama.

Quando realizamos análise de filmes é importante termos noção dos pontos de vista. Sobre essa questão, argumenta Gardies:

O cinema pode abranger cinco campos epistemológicos diferentes de acepções: o ponto de vista real, do espectador, a partir do qual o corpo trata os estímulos visuais e auditivos transmitidos pelo filme; O ponto de vista óptico induzido pela câmera, bem como o ponto de escuta formado pelos sons e pela sua mistura; O ponto de vista a partir do qual, se trata de imagens narrativas, aonde a história é contada; O ponto de vista que o filme mostra sobre o mundo; O ponto de vista crítica do espectador uma vez terminado o filme, ou seja, o juízo de gosto (2007, p. 59).

Desse modo, o ponto de vista, tanto do espectador como de quem dirige o filme, é fundamental, pois trata especificamente da apresentação da obra e, no contraponto, o que essa estética visual representa para o espectador. Então, esse processo de analisar criticamente vários filmes é extremamente importante, pois estará desenvolvendo primeiramente o olhar atento para as imagens estabelecidas no filme e, depois, o gosto pela arte em sentido geral.

Por isso, depois da análise, escuta e debates sobre o filme visto com os (as) alunos (as), analisamos também o roteiro técnico do filme, junto com a turma. Igualmente assistimos ao making of de Floresta Vermelha, para que os alunos tivessem noção do que está por trás de uma produção fílmica. Assim, o grupo pôde ter uma ideia de quantas pessoas estão envolvidas na produção de um filme. E, para provocar os participantes do projeto de cinema, foi lançado um desafio de trazerem pronto para o próximo encontro um roteiro que contemplasse apenas dois planos: aberto e fechado.

Para tanto, foi dividido o grupo de acordo com consenso dos participantes, o que resultou em dois grupos de 6 componentes e outro de 7, os quais assumiram a tarefa de escrever o roteiro, e pensar nos planos, cenário e figurino. Sobre o trabalho da escrita de roteiros, Fresquet enfatiza:

A escrita é um processo que supõe fundamentalmente dois processos: lembrar e inventar. Precisamos da memória para escrever. Do que já temos lido e escrito, ao mesmo tempo, precisamos “repetir diferente”, parafraseando Manoel de Barros. No cinema também existe esta possibilidade de ativar lembranças da memória e da imaginação, de inventar o passado e recordar futuros. O cinema como modo de pensamento (2010, p.3).

Dessa maneira, quando os jovens e crianças escrevem seus roteiros, e inventam cenários e figurinos estão colocando sua imaginação a funcionar, ou seja, pensamento, ração e emoção entram em cena para que os processos criativos por meio do cinema possam surgir. Daí sua importância no campo educacional para que os jovens possam exercer essa capacidade fundamental à todo ser humano e que na maioria das vezes fica de fora do espaço escolar.

Então, no outro encontro que ocorreu no dia 13 de novembro de 2015, realizou-se a escrita dos roteiros dos dois grupos divididos no dia cinco de novembro. Depois da escrita, a coordenadora e a bolsista acompanharam o processo das gravações dando suporte aos alunos em todas as cenas, analisando o enquadramento, cenário, etc. Quando terminaram as gravações os dois grupos, voltaram à sala de referência e analisaram as gravações feitas por eles. Durante a amostra, foram feitos debates para que pudessem olhar criticamente as imagens produzidas por eles e ampliar suas percepções sobre a linguagem do cinema na ação prática.

Para Bergala (2007), o processo de criação cinematográfica envolve três operações mentais: a eleição (escolher), a disposição (posicionar) e o ataque (decidir), que devem ser encaradas antes de suas operações técnicas. Essas três operações mentais não podem ser visualizadas cronologicamente, pois se combinam a cada momento, dialeticamente, durante as etapas do trabalho. A qualidade da experiência de realização reside numa única questão para o autor, a de colocar em dúvida se realmente essa criação em sala de aula está se confrontando efetivamente com o cinema.

Desse modo, ao propormos as três ações delimitadas por Bergala, possibilitamos que os processos criativos e estéticos pudessem acontecer, por meio do uso da linguagem do cinema com alunos de baixa renda, que estão aprendendo a olhar as imagens e seus contextos com outros olhos, com olhos da criação, da invenção e reinvenção através do visor da câmera fotográfica.

Outros encontros ocorreram no dia 20 de novembro e 3 de dezembro de 2015. Nesses dias, a aluna bolsista dirigiu-se com os alunos participantes do projeto ao IESA- Instituição de Ensino Superior que promove o projeto. Os (as) alunos (as) ocuparam o laboratório de informática da instituição para realizarem as primeiras edições das gravações no programa Movie Maker. Em relação ao processo de montagem e edição, Jean Claude Carrière salienta:

Não surgiu uma linguagem autenticamente nova até que os cineastas começassem a cortar o time em cenas, nascimento da montagem, da edição. Foi aí na reação invisível que uma cena realmente gerou uma nova linguagem. No ardor de sua implementação, essa técnica aparentemente simples criou um vocabulário e uma gramática de incríveis variedades visível para comunicar seu desejo pelo projeto (CARRIÈRE, 1931, p.14).

Desse modo, para que os alunos (as) participantes do projeto pudessem se apropriar dessa linguagem autêntica do cinema, foi proporcionado um espaço para a experiência de edição, cortes, montagem e inserção de músicas nas produções fílmicas realizadas pelos participantes do projeto.

No dia 11 de dezembro, ocorreu o último encontro de 2015, no qual as coordenadoras Ana Iara e Roseléia dirigiram-se à Escola E.E.F. Dr. Sparta de Souza para mais um dia de projeto. Naquela ocasião, as coordenadoras exibiram o filme Tudo nasce de um sonho. No final, apresentaram o ponto de vista de cada uma sobre o filme. Alain Bergala enfatiza que:

[...] talvez fosse preciso começar a pensar – mas não é fácil do ponto de vista pedagógico – o filme não como objeto, mas como marca final de um processo criativo como arte. Pensar o filme como a marca de um gesto de criação. Não como um objeto de leitura, descodificável, mas, cada plano, como a pincelada do pintor pela qual se pode compreender um pouco seu processo de criação. Trata-se de duas perspectivas bastante diferentes (2007, p. 33-34).

Esse foi o intuito do desenvolvimento do projeto, ou seja, pensar a estética dos filmes como arte no espaço escolar, para que os alunos pudessem expor seus pontos de vista estabelecendo relações com suas vivências pessoais através do fluxo narrativo criado pelo diretor do filme. Desse modo, encerraram-se as atividades do projeto em 2015, oportunizando aos alunos tornarem-se espectadores que vivenciam as emoções do processo criativo para no ano seguinte aventurarem-se nos processos criativos, por meio das filmagens, montagens, edições e roteiros.

  1.  Retomada do projeto em 2016

Em março de 2016 foi retomado o projeto de pesquisa e extensão. No dia 8, as duas coordenadoras e a bolsista realizaram o primeiro encontro deste ano nas dependências do IESA. Nessa data, foi apresentado o documentário brasileiro Pro dia nascer feliz, de João Jardim, que retrata diferentes realidades escolares. Depois assistir o documentário, foi realizado um debate sobre as realidades apresentadas no e sugerido que os alunos (as) trouxessem no próximo encontro uma fotografia que tivesse marcado suas vidas, para produzirem uma filmagem contando a história da foto.

Esse momento aconteceu em 29 de março, nas dependências da Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Sparta de Souza. Nessa ocasião, os alunos observaram suas fotos, descreveram a história que retratava a fotografia e escolheram uma câmera para realizarem as filmagens. Também escolher um local da escola para filmar a narrativa da foto, nos fundos da escola, especificamente sob um cinamomo. Essa atividade foi gratificante e permitiu conhecer um pouco mais sobre a vida dos educandos que, ao apresentarem as fotos, falaram de suas lembranças, emoções e acontecimentos marcantes que ocorreram na vida deles. Bergala salienta que:

Quando acompanhado de um adulto que respeita a emoção da criança, o ato aparentemente minúsculo de rodar um plano envolve não só a maravilhosa humildade que foi a dos irmãos Lumière, mas também a sacralidade que uma criança ou adolescente empresta a uma “primeira vez” levada a sério, tomada como uma experiência inaugural decisiva (2008, p. 210).

Dessa maneira, com esse projeto de cinema na escola está sendo possível levar essa experiência que envolve emoção, sentimentos e afetos, tudo inundado de imagens e sons em movimento, além de toda magia que o processo criativo demanda por meio da linguagem do cinema na educação.

O terceiro encontro aconteceu dia 5 de abril, e as coordenadoras do Projeto realizaram as atividades nas dependências da Faculdade CNEC/IESA. Nessa ocasião, os alunos assistiram a uma breve apresentação das noções básicas da linguagem cinematográfica, ou seja, os enquadramentos, ângulos, planos e como eles ser apresentados nos filmes. Em seguida, foram provocados a realizar exercícios de minuto Lumiére (um minuto de filmagem com câmera fixa) e deveriam filmar-se em grupos, ocupando algum espaço da instituição de ensino.

No encontro posterior, dia 19 de abril, ocorreu nas dependências do CNEC/IESA, quando as coordenadoras e a bolsista utilizaram a sala de informática para que os alunos pudessem trabalhar na edição, criação montagem e escolha de músicas para seus curtas-metragens, no programa movie maker. Vários filmes foram produzidos pelos alunos, enfatizando suas imagens com as fotografias, depoimentos das lembranças das fotos, bem como filmes aonde eles apareciam ocupando vários espaços da Faculdade, como o bar, os brinquedos, a quadra de esportes.

O referido projeto não está concluído, pois será trabalhado até o final do primeiro semestre de 2016. Por isso, muitas possibilidades serão construídas com os alunos, colocados como protagonistas dos seus processos criativos, e atores principais. Na condição de coordenadoras, apenas os encorajamos a aventurarem-se nessa linguagem fascinante das imagens e sons em movimento.

5. Considerações finais

O desenvolvimento do projeto de pesquisa e extensão Cinema na educação como dispositivo de formação e ação pedagógica vem atingindo seu objetivo, o qual era inserir as alunas bolsistas do curso de Pedagogia na escola básica, para que pudessem introduzir a linguagem do cinema na educação. A elaboração desse projeto, em certa medida, atende a lei do cinema brasileiro na escola, bem como possibilita a construção de aprendizagens significativas, por meio da linguagem cinematográfica na educação, vista como arte no espaço escolar.

Fresquet (2013, p. 19) argumenta sobre o cinema na educação:

Os possíveis vínculos entre o cinema e a educação se multiplicam a cada momento, a cada nova iniciativa ou projeto que os coloca em diálogo. Fundamentalmente, trata-se de um gesto de criação que promove novas relações entre as coisas, pessoas, lugares e épocas. De fato, o cinema nos oferece uma janela pela qual podemos nos assomar ao mundo para ver o que está lá fora, distante do espaço ou no tempo, para ver o que não conseguimos ver com nossos próprios olhos de modo direto.

Dessa maneira, com o projeto de pesquisa e extensão desenvolvido na escola de Educação Básica, é possível proporcionar espaços de criação, de percepção de sons, imagens, luzes, planos, montagens, composições, bem como impressões e sentimentos que afloram a cada filme assistido com os (as) alunos (as).

Portanto, com o desenvolvimento desse trabalho tanto as acadêmicas bolsistas do curso de Pedagogia que trabalham no projeto, quanto os (as) alunos (as) participantes fizeram um mergulho na linguagem cinematográfica como ato criativo, inventivo e estético.

 

REFERÊNCIAS

BERGALA, Alain. A hipótese-cinema. Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da escola. Tradução: Mônica Costa Netto, Silvia Pimenta. Rio de Janeiro: Brooklink - CINEADLISE- FE/UFRJ, 2008.

CARRIÈRE, Jean-Claude. A linguagem secreta do cinema. Trad. Fernando Albagli e Benjamim Albagli. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.

FRESQUET, Adriana. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

__________. Cinema, infância e educação. Anped. GE: Educação e Arte nº 1. Artigo disponível em: ://www.anped.org.br/reunioes/30ra/grupo_estudos/GE01-3495--Int.pdf >.   Data de acesso: 20 de março 2016.

___________ Dossiê Cinema e Educação # 1: uma relação sob a hipótese de alteridade de Alain Bergala Rio de Janeiro: Booklink; CENEAD – LISE – FE/UFRJ: 2011.

GARDIES, René. Compreender o cinema e as imagens. Trad. Pedro Elói Duarte. Ed. textos & grafia, Lisboa, 2007.

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