Ciências Humanas, história Oral e Linguagem: Relações/implicações
RESUMO: Neste breve trabalho, pretendemos mostrar as relações que se tecem e são tecidas entre Linguagem, História Oral e Ciências Humanas.
PALAVRAS – CHAVE: Linguagem. História Oral. Ciências Humanas.
ABSTRACT: In this brief work, we intend to show the relations that are woven and are woven between Language, Oral History and Human Sciences.
KEY WORDS: Language. Oral History. Human Sciences.
- INTRODUÇÃO
Nesse breve ensaio, pretendemos mostrar a origem das Ciências Humanas, suas relações e implicações com a Linguagem e com a História Oral.
2.0 CIÊNCIAS HUMANAS: CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
Para tratarmos das Ciências Humanas, antes recorreremos a Japiassu e depois a Kramer. Segundo Japiassu (1982, p. 23): “Entendemos por ‘ciência moderna’ a ciência que surgiu no século XVII com a Revolução Galileana. Não nasceu perfeita e completa das cabeças de Galileu e de Descartes. Pelo contrário, foi preparada por um longo esforço de pensamento”.
Dessa citação, notamos que as Ciências Modernas não surgem do acaso, há uma longa História por trás da História da origem das Ciências Modernas. Se fizermos uma análise da História da humanidade, perceberemos que a afirmativa feita acima é verdadeira. Para comprovarmos essa afirmativa, precisaremos retroceder um pouco na História da Humanidade, mais precisamente, no período da Santa Inquisição.
Nesse período, de acordo com Japiassu (1982), tivemos uma fase estéril para as Ciências Humanas, porque todo conhecimento científico, toda filosofia provinham da igreja.
Nesse sentido, ainda em conformidade com Japiassu (1982), até Galileu foi condenado pelo tribunal da Santa Inquisição, porque discordou, principalmente, da teoria do Geocentrismo – movimento que considerava a terra como o centro do Universo.
Não obstante, Galileu com a invenção do telescópio prova o oposto: a terra não era o centro do Universo como acreditava a igreja, e sim o sol, ainda que essa teoria tenha sido concebida por Copérnico, ele não a formulou embasada nas Ciências, mas formulou-a por razões meramente religiosas, porque como algumas pessoas de sua época, segundo Japiassu (1982), Copérnico também adorava o sol, nutrindo certa paixão pela estrela de quinta grandeza, chegando a reverenciá-la como se fosse um Deus. Sendo assim, Copérnico não pôde ser considerado o “pai” das Ciências Modernas.
Dessa forma, Galileu constitui-se o precursor das Ciências Modernas e concordamos com Japiassu (1982, p. 28), ao afirmar que:
O primeiro sábio moderno, o fundador da ciência moderna, foi incontestavelmente Galileu. Neste ponto, a Inquisição não se enganou: condenou o homem certo. E a convicção profunda desse homem é a de que as formas matemáticas estão realizadas no mundo. Para ele, a natureza só pode ser conhecida através da experiência, vale dizer, mediante questões que lhe são colocadas. Essas questões possuem uma linguagem toda especial: linguagem geométrica e matemática.
Logo, Galileu deve ser considerado o “pai” das Ciências Modernas, mas, em se tratando das Ciências Humanas, Japiassu (1994, p. 9) nos mostra que “1. As Ciências Humanas nasceram da deposição do sujeito pensante no século XIX. Não constituem um anexo da filosofia. Tampouco são seus porta-vozes modernistas. E porque desapropriaram os filósofos de seu objeto que lhes interessam.”
Desse modo, surgem as Ciências do homem, porque, a partir do momento que o homem torna-se ao mesmo tempo sujeito e objeto do conhecimento é mister haver uma ciência que se dedique exclusivamente ao estudo do ser humano: as Ciências Humanas.
No entanto, tratar desse assunto é engajar-se num espaço polêmico, conforme nos assegura Japiassu (1994, p. 9):
[...] 2. Falar das Ciências Humanas já é engajar-se num espaço polêmico. Porque, sob essa denominação, apresentam-se trabalhos que, frequentemente, pouco ou nada possuem em comum. Não se trata, pois, de conciliar ou de reconciliar, mais de ordenar e de justificar seu acesso à positividade. Porque um discurso sobre as Ciências Humanas constitui um discurso em que a teoria se converte facilmente em estratégia.
Dessa forma, observemos como Japiassu (1994, p. 21) trata do caráter positivista aplicado às Ciências Humanas:
As Ciências Humanas vinculam-se, desde sua origem, ao espírito de positividade das Ciências naturais. Uma das principais razões para esse fato: é evidente que há fenômenos e processos humanos; há manifestações da realidade de “homem” acessíveis à observação, tais fenômenos e processos podem ser analisados empiricamente.
Concordamos com o autor de que há fenômenos e processos observáveis, dados que podem ser manipulados, todavia, nem todos os fenômenos humanos podem ser facilmente observados e empiricamente dedutíveis, porque é quase impossível compreender e depreender em seu todo a realidade humana.
Desse modo, torna-se difícil aplicar o método positivista às Ciências Humanas.
Outra questão complexa que se insere no bojo das Ciências Humanas é o seu caráter objetivo. Por isso, para tratar desse assunto nos embasaremos em Lajolo e Kramer.
Segundo Kramer (1994, p. 20), as Ciências Humanas se instauram no século XVIII, outorgando a si mesmas o status de cientificidade:
[...] Bem, as ciências humanas instauram-se no século XVIII, com pretensão de cientificidade. Buscam ter reconhecida sua legitimidade como ciências – especialmente a partir do século XIX – tentando definir suas leis com base em paradigmas então consagrados nas ciências naturais. Objetividade e neutralidade são almejadas em direção a um conhecimento positivo da realidade humana. O homem torna-se objeto. Os fatos sociais são vistos como coisas.
Como vimos as Ciências Humanas tentam definir seus modelos com base nos paradigmas que permeiam as Ciências Naturais, cujo estatuto se alicerça em duas leis: Objetividade e Neutralidade desejadas, almejadas e direcionadas a um conhecimento positivo da realidade humana.
Sabemos que esta pretensa objetividade e neutralidade são quase impossíveis de serem alcançadas. Quando se trata da realidade humana não há como considerarmos o homem mero objeto, uma coisa, ou melhor, não há como considerar os fatos sociais isolados e nem como coisificar a História Humana e a sociedade em que está inserida. É impossível dissociarmos o homem de sua História Social, porque mesmo os cientistas apesar de muitas vezes perseguirem objetivos distintos dos perseguidos pelo homem comum, estão também sujeitos a toda sorte de fatores que interferem na existência humana. Conforme nos mostra Lajolo (1996, p. 19):
[...] Não parece, em síntese, que os trabalhos se fazem sozinhos que os objetivos são formulados pelos projetos.
[...] Enfim, que por dentro das luvas, por detrás dos óculos e do outro lado do microscópio não há nervos nem sangue, dúvidas a resolver nem dívidas a pagar
Do exposto, mostraremos alguns modelos explicativos inseridos no bojo das Ciências Humanas.
Esses modelos são as bases sob as quais as Ciências Humanas se desenvolveram, libertando-se, pouco a pouco, dos domínios provenientes da filosofia e da teologia. Tais modelos causaram o nascimento das Ciências Humanas, garantindo-lhes objetividade e cientificidade, determinando-lhes sua epistemologia.
Nesse sentido, o método utilizado pelas Ciências Humanas é o mesmo utilizado pelas Ciências Naturais: consiste numa explicação objetiva e positivista do conhecimento humano e da realidade.
De acordo com Japiassu (1994), são três os principais eixos ou modelos epistemológicos:
a) O eixo ou o modelo da ciência rigorosa: embasado nas leis de Newton, nas leis da Mecânica, ciência que se dedica ao estudo das leis do movimento e do equilíbrio.
b) O eixo ou modelo da biologia: postula que todo conhecimento, todas as ações humanas são definidas em função de fatores físico-químicos, por isso, todo fato humano possui uma base biológica e toda história um pano de fundo naturalista. Dessa forma, todos os atos conscientes, culturais e históricos são determinados pelos exercícios das funções vitais, que, indubitavelmente, impregnam o conhecimento que é considerado científico em detrimento da ação fisiológica, química e biológica que o cerca, determinando-o.
c) O modelo histórico-cultural: estabelece que o passado deve ser priorizado em detrimento do presente e do futuro, desse modo, o passado tem primazia sobre a história, a cultura, enfim, sobre a existência humana. Sendo assim, todo conhecimento dessa época (século XVIII) para ser considerado científico deveria, “a priori”, possuir um caráter histórico.
Nesse sentido, as disciplinas que não utilizassem um desses modelos, estariam condenadas a jamais se ingressarem no terreno “sacralizado” do saber objetivo, sendo excluídas das “verdadeiras ciências”.
Dessa forma, em cada período histórico pertencente ao século XVIII, predominou um dos modelos ou eixo anteriormente mencionados como fator epistemológico inserido ao campo de investigação das Ciências Humanas, apesar dessa predominância, acreditamos que cada um desses modelos epistemológicos não é em si mesmo excludente, ao contrário, devem se integrar para fornecerem uma base epistemológica adequada às Ciências Humanas. Ainda assim, é imprescindível que haja um rompimento com dos paradigmas das Ciências Naturais impostos às Humanas.
Por isso, deve-se romper, principalmente, com o modelo positivista explicativo e o interpretativo legado pelas Ciências Naturais às Ciências Humanas, ou seja, romper com o paradigma que sustenta o assujeitamento do sujeito, seja pela ideologia, seja pelo discurso cientificista positivista, cuja crença se fundamenta numa suposta neutralidade e objetividade perseguidas, entretanto, difíceis de serem alcançadas. Pois, mesmo num discurso supostamente neutro e objetivo há presença do sujeito que marca certa posição. Isso fica claro quando percebemos que o fato de defender a neutralidade, por si só, já é um modo específico de marcar posição: a saber, uma atitude ética.
Assim, o rompimento deve dar-se na tentativa de construir subsídios para compreender, no campo social, a presença de um sujeito ativo e criativo.
Em vista disso, o rompimento e a construção dos novos subsídios dos quais tratamos anteriormente, dar-se-iam na e pela linguagem, uma vez que através dela podemos romper com a crença de que o homem é objeto ou coisa.
Dessa forma, somente pela linguagem é que poderemos restaurar o espaço do sentido, furtado do sujeito.
Desse modo, não há como dissociar o homem do seu contexto social, ou melhor, uma Ciência que não leve em conta a situação social por que passa o homem, seus anseios, suas lutas, suas vitórias, fracassos e sucessos, enfim, o próprio homem, não pode se intitular ciência do homem, ciências para o homem ou Ciência Humana.
2.1 A LINGUAGEM HUMANA
Segundo Koch (1997), foram construídas no decorrer da história humana três concepções distintas de linguagem, a saber: como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento; como instrumento (“ferramenta”) de comunicação; como forma (“lugar”) de ação ou interação.
Dentre as três concepções acima mencionadas, a que mais interessa para este trabalho é a terceira, apesar de a primeira e a segunda serem muito defendidas, atualmente.
Assim, a primeira afirma que a linguagem serviria para representar o mundo e a realidade que nos cerca e ainda aquilo que pensamos sobre ela, dessa forma, a linguagem seria uma espécie de “espelho” por que perpassam nossos pensamentos e os seres vivos ou não os quais nos rodeiam.
Já a segunda mostra-nos que a linguagem seria centrada apenas na comunicação. A linguagem funcionaria somente para transmitir mensagens, pressupondo, assim, um emissor e um receptor ideal. Apesar de o processo de comunicação e a linguagem não serem tão simples assim como mostra a Teoria da Comunicação, porque as pessoas ao falarem não só comunicam o que estão falando, como também agem e reagem através da linguagem, desse modo, podem interromper quem fala e muitas vezes também são interrompidas, além de poderem produzir pausas, hesitações e ironias.
Além disso, há de se considerar o lugar de onde as pessoas falam, a imagem que elas têm umas das outras, a posição social dessas pessoas e ainda o que dizem e até o que não dizem dizendo, ou melhor, a questão dos não-ditos. Observando, ainda, principalmente; o contexto sócio-histórico e ideológico no qual esses interlocutores estão inseridos.
Na terceira concepção, percebemos que a linguagem seria fruto da interação entre enunciador/enunciatário, falante/ouvinte, autor/leitor, prestando-se não só como representação do pensamento, mas também como processo de comunicação, isto é, uma peça fundamental para a interação entre os seres humanos e, neste caso, a linguagem sofreria o que Travaglia (1996) chama de “exterioridade” sócio-histórica e ideológica, ou melhor, a linguagem seria influenciada pelo contexto linguístico e extralinguístico, pela ideologia e pela História, não só a oficial, mas também a história de cada indivíduo.
Por isso, esta concepção se torna muito mais relevante para a construção desse trabalho, porque, além de contemplar muitos aspectos importantes negados pela primeira e segunda concepção de linguagem, também está inserida na teoria da Interação Verbal idealizada por Bakhtin.
Embora diferentes, as três concepções de linguagem acima citadas, não são totalmente excludentes, complementam-se, inter-relacionam-se, posto que os falantes de certa língua, ao utilizá-la, estarão, concomitantemente, comunicando-se, pensando sobre o quê e como devem falar e ainda integrando-se no meio social do qual participam.
3.0 A HISTÓRIA ORAL NO CONTEXTO DA LINGUAGEM
Apesar de o nosso trabalho priorizar a teoria da Interação Verbal proposta por Bakhtin (1997), também adotaremos, ao longo desse trabalho, os procedimentos metodológicos oriundos da História oral.
Dessa forma, Segundo Grudzinski (2001) o uso da História Oral remonta aos anos 50 do século XX, vista como meio, modo de deixar o sujeito excluído falar sobre os seus anseios, suas emoções, suas lembranças, enfim, sobre o seu passado, baseando-se para isso em suas memórias, dessa maneira, a História Oral garante ao sujeito o direito de contar uma outra História diferente da Oficial, uma vez que ele é quase sempre excluído pela história oficial, pelas fontes oficiais.
A História Oral trabalha exclusivamente com gravações de entrevistas cedidas pelos seus colaboradores, mas também com testemunhos de vida, cedidos por estas mesmas pessoas. Além de considerar também as conjunturas, as instituições e, sobretudo os movimentos coletivos.
Percebendo na Narrativa de seus colaboradores, o seu principal instrumento de trabalho, dando preferência à história de vida contada pelas pessoas entrevistadas, dessa forma, as histórias de vida se tornam um dos principais objetos de estudo da História Oral.
Sendo assim, Grudzinski (2001) nos mostra ainda que o pesquisador que trabalha com fontes orais, não pode confiar totalmente no passado, nas lembranças de seu colaborador, porque essas lembranças podem carecer de certa fidelidade em relação aos fatos realmente acontecidos, por isso, não devem ser consideradas como única fonte de verdade, já que os relatos e as narrativas ocorridos não constituem literalmente o passado; são apenas algumas pistas dele, nem muito menos constituem a realidade. São representações mentais da realidade e do passado, por isso, o relato verdade não é a verdade, mas parte dela, representação dela, revelando, assim; pistas que somadas a outras, poderão, depois de avaliadas; servirem como uma interpretação aproximada do passado.
Diante do exposto, veremos como se emprega adequadamente a metodologia proposta pela História Oral e sua importância para a construção dessa pesquisa no que tange à sua aplicação.
Nesse aspecto, Paiva (1978) apud Caldas (2001, p. 32) nos revela os principais procedimentos empregados na coleta e no tratamento das informações provenientes da História Oral:
a) é preciso deixar o “depoente” falar livremente da vida e da sua vida, contar o que fez o que deixou de fazer e deixar que ele dê sua interpretação de tudo;
b) manter um tom coloquial, deixando a impressão de estar ouvindo o depoente, criando uma pontuação que mantenha a exata entonação da conversa;
c) deixar, no resultado final, o constante vaivém cronológico;
d) suprimir as perguntas proporcionando ao leitor um texto corrido e fácil de ser lido;
e) juntar os assuntos que se separem no vaivém das perguntas e das respostas.
Percebemos concomitantemente com Caldas (2001) que estes procedimentos se aproximam daqueles utilizados por alguns dos mais importantes oralistas, como por exemplo: Viezzer (1984), Burgos (1987) e Meihy (1990 e 1991).
Além dos procedimentos acima citados, Caldas (2001) ainda nos mostra que o processo inteiro: preparação dos questionários e gravação das entrevistas é de diálogo e de transcriação.
Transcriar não seria, apenas, modificar o texto gravado com os colaboradores, porém, seria dialogar com o texto gravado, recriar o texto, rompendo com o tradicional respeito, distância entre sujeito e objeto, porque, todo objeto, como sabemos, é criação do ser social, logo, como tal não há como dissociá-los.
Desse modo, a Transcriação seria vista por Caldas (2001, p.35) como: “[...] uma ação criativa e uma relação viva entre as clássicas dicotomias (sujeito-objeto, eu – tu, oral – escrito, documento – pesquisador) superando-as sem fazer-lhes concessões”.
3.1 A INTERAÇÃO VERBAL
De acordo com que asseveramos em 2.1, a concepção de linguagem que norteará esse trabalho, será a terceira dentre as explanadas por Koch (1997, p.9): isto é, “[...] a linguagem como (forma) lugar de interação,” por isso, acreditamos que a expressão verbal é que regula, estrutura a atividade mental ou a consciência.
Para comprovar a afirmativa anteriormente feita nos embasaremos primeiro em Marina Yaguelo e “a posteriori” em Bakhtin.
Dessa forma, Yaguelo in Bakhtin (1997: 16), mostra-nos que “[...] Se a língua é determinada pela ideologia, a consciência, portanto o pensamento, a ‘atividade mental’, que são condicionados pela linguagem, são modelados pela ideologia.”
Ora se a linguagem condiciona o pensamento e este é afetado, atravessado pela ideologia. Logo é a linguagem que estrutura o pensamento, uma vez que ele (o pensamento) é condicionado, subordinado à linguagem e esta à ideologia, ou seja, ambos: pensamento e linguagem são determinados pela ideologia.
Para ratificar o que foi dito no parágrafo anterior, citaremos ainda os seguintes autores: Sonia Kramer (1994), Maria Tereza de Assunção (1996) e Carlos Aberto Faraco (2001) os quais certamente confirmarão o que dissemos anteriormente acerca da linguagem e da consciência.
Sendo assim, segundo Kramer (1994, p. 73):
[...] Nesse sentido, para Bakhtin não é a atividade mental que organiza a expressão, mas a expressão que organiza a atividade mental. Dessa forma, ele se opõe a uma concepção mecanicista que aparta a língua da história e se opõe também, ao racionalismo que não capta a língua nos seus fatos vivos. Supera, então, de um lado, o subjetivismo idealista que só leva em consideração a fala e que tenta explicá-la a partir da vida psíquica individual do falante, mas ultrapassa, de outro lado, o objetivismo abstrato que rejeita a enunciação por ser individual. Para Bakhtin, o ato de fala – e seu produto, a enunciação – não pode ser explicada a partir das condições do sujeito falante, mas também não pode dele prescindir. A enunciação é de natureza social, sendo, pois determinada pela situação e pelo meio mais amplo. Assim, a atividade mental só existe a partir de uma orientação social de caráter apreciativo. O pensamento não existe, portanto, fora de sua expressão potencial, nem fora da orientação social dessa expressão.
Nesse sentido, Kramer (1994) é enfatizada por Freitas (1996, p. 138), quando afirma que “O centro organizador e formador da atividade mental não está no interior do sujeito, mas fora dele, na própria interação verbal. Não é atividade que organiza a expressão, mas é a expressão que organiza a atividade mental, modelando e determinando a sua orientação”.
Assim, Confirmamos com Faraco (2001, p. 118) o já afirmado:
A esse propósito e diante das considerações feitas acima, gostaríamos de dizer que não nos incluímos ente aqueles que entendem o dialogismo como uma weltanschauung, como um olhar compreensivo e abrangente do ser do homem e de seu fazer cultural. Um olhar que não está mirando apenas aspectos desse real, mas pretende captá-lo numa perspectiva de globalidade; que pensa a cultura como um vasto e complexo universo semiótico de interações axiologicamente orientadas, e entende o homem como um ser de linguagem (e, portanto, impensável sob a égide do divórcio homem/linguagem), cuja consciência, ativa e responsiva (e não mero reflexo do exterior, nem origem absoluta da expressão, mas lócus dinâmico do encontro dialógico do externo e do interno), se constrói e se desenvolve alimentando-se dos signos sociais, em meio às inúmeras relações sociointeracionais, e opera internamente com a própria lógica da interação sociossemiótica, donde emergem seus gestos singulares.
Percebemos que Faraco (2001) reafirma o que vimos dizendo até o momento e única ressalva que faz é de que: não se pode deixar de considerar a linguagem, a consciência e o sujeito destituídos do meio social do qual são participantes, no entanto, ainda assim muito antes de Faraco, Bakhtin (1997) já estabelecia a primazia do social, do diálogo e do outro em toda a sua obra.
Das afirmações anteriores, faz-se necessário, neste momento, tratarmos dos elementos que, conforme Bakhtin (1997), constituem uma autêntica Teoria da Interação Verbal,
Desse modo, é com Bakhtin (1997, p. 112-113), que veremos como se dá a Teoria da Interação Verbal e quais elementos estão contidos no bojo dessa teoria, portanto, observemos:
Qualquer que seja o aspecto da expressão-enunciação considerado, ele será determinado pelas condições reais em questão, isto é, antes de tudo pela situação social mais imediata. Com efeito, a enunciação é o produto da interação de dois indivíduos socialmente organizados e, mesmo que não haja um interlocutor real, este pode ser substituído pelo representante médio do grupo social ao qual pertence o locutor. A palavra dirige-se a um interlocutor: variará se se tratar de uma pessoa do mesmo grupo social ou não, se esta for inferior ou superior na hierarquia social, se estiver ligada ao locutor por laços sociais mais ou menos estreitos (pai, mãe, marido, etc.). [...] Essa orientação da palavra em função do interlocutor tem uma importância muito grande. Na realidade toda palavra comporta duas faces. Ela é determinada tanto pelo fato de que procede de alguém, como pelo fato de que se dirige para alguém. Ela constitui justamente o produto da interação do locutor e do ouvinte. Toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à coletividade.
Dessa citação, percebemos que Bakhtin (1997) nos mostra que os elementos participantes da Teoria da Interação Verbal são: a enunciação, a situação social, os participantes imediatos, o signo ideológico manifestado através da palavra (esta orientada em função do locutor) e o diálogo.
A enunciação seria o ato ou efeito de enunciar, ou melhor, apropriação da língua por dois interlocutores, estes inseridos em um determinado contexto social, ou seja, não há enunciação sem dois interlocutores e ainda sem que estes estejam inseridos num meio social do qual são participantes, dessa maneira, a enunciação depende, “a priori”, de dois fatores: dois interlocutores e do meio social, sem os quais não haveria enunciação, porque, como nos mostra Benveniste (1989): o sujeito deixa pegadas, rastros, marcas de si mesmo nos enunciados por ele produzidos.
A situação imediata ainda, segundo Bakhtin (1997) seria a característica de que todo enunciado para ser plenamente realizável estaria imanentemente relacionado com a realidade social. E ainda, conforme Bakhtin (1997) Os participantes imediatos pressupõem os interlocutores envolvidos no processo da Interação Verbal. E a palavra, ideologicamente, marcada é orientada em função do locutor. Por conseguinte, toda palavra comporta em seu bojo duas faces, a saber, toda palavra por si só apresenta uma dicotomia: ela se determina pelo fato de proceder de alguém e de se dirigir a alguém.
Já o diálogo constitui uma das formas mais importantes da Interação Verbal. Aliás, sem ele não haveria Interação Verbal.
Portanto, é a Interação Verbal que, realmente, fundamenta a linguagem.
Nesse aspecto, é relevante enfatizar ainda que a linguagem só se realiza, plenamente, por meio de sua expressão verbal, visto que a expressão verbal determina a consciência e a atividade mental e não o oposto.
Sendo assim, a atividade mental estaria, intrinsecamente, relacionada com a tomada de consciência, ou melhor, a tomada de consciência seria a ação de duas atividades distintas: a atividade mental do eu e a do nós, as quais serão retomadas “a posteriori”, uma vez que, neste momento, interessa-nos mais descrever como se daria a interação pela expressão verbal.
Por isso, em sua filosofia sobre a expressão, Bakhtin (1997, p.12) nos mostra que:
A teoria da expressão que serve de fundamento à primeira orientação do pensamento filosófico-linguístico é radicalmente falsa. O conteúdo a exprimir e sua objetivação externa são criados, como vimos, a partir de um único e mesmo material, pois não existe atividade mental sem expressão semiótica.
Desse modo, a primeira orientação do pensamento filosófico-linguístico surge com Ferdinand Saussure (1916), um dos mais importantes estudiosos da linguagem, que confere à Linguística o status de Ciência da Linguagem humana. Sua doutrina influenciou sobremaneira todo o pensamento científico no século XIX. A influência foi marcante, tanto no campo das Ciências Humanas, quanto no das Ciências Naturais.
No entanto, talvez um dos maiores equívocos de Saussure (1916) tenha sido o de desvincular a língua do mundo. Apesar de priorizar a fala, manifestação individual da língua, Saussure dá mais relevância, ênfase ao sistema, isto é, à língua em si, tomada como um sistema abstrato herdado pelos falantes, porque a língua, mesmo sendo um fator social, não poderia ser mudada, criada; no máximo, a língua seria apreendida vagarosamente pelas crianças, pelas pessoas que se dedicassem, exaustivamente, ao aprendizado de línguas.
Apesar da importância da teoria de Saussure (1916) para a compreensão da linguagem humana, Bakhtin (1997) discorda radicalmente dele, denominando a teoria saussuriana de Objetivismo Abstrato, já que Saussure (1916) (estruturalista convicto) defendia uma visão de linguagem como elemento abstrato e objetivo, herdado pelas gerações, sem qualquer possibilidade de influência do sujeito sobre esse sistema.
Por isso, esse sistema teria um caráter monológico, no que tange à enunciação, e adia a ideia de que a expressão seria determinada, estruturada pela atividade mental o que para Saussure (1916) não fazia sentido algum.
Mas, Bakhtin (1997), ao contrário de Saussure (1916), mostra-nos o oposto: é a expressão que regula, estrutura a consciência, visto que não há atividade mental sem expressão semiótica, significativa, previamente, estabelecida. A expressão semântica-semiótica é que influencia a consciência e esta a atividade mental. A atividade mental está, portanto, diretamente, relacionada com a sua orientação social que engendra os possíveis tipos de enunciação: súplica, pedido, ordem, solicitação, desejo, etc. Além disso, a partir da relação estabelecida entre a atividade mental com um ouvinte real ou em potencial (suposto ou pressuposto) é que se distinguem dois polos para a tomada de consciência e a elaboração ideológica intimamente inter-relacionadas com os dois polos acima mencionados, que são os seguintes: a atividade mental do eu e atividade mental do nós.
Para o autor de Marxismo e Filosofia da Linguagem (1997), a atividade mental do eu é reducionista, dado que a enunciação, neste caso, não sofre influência do caráter social sobre o qual a expressão está inserida; seria comparado a um grito qualquer de qualquer animal, que descontextualizado socialmente, não teria valor de expressão, por isso, considerado puramente fisiológico.
Não obstante, a atividade mental do nós, pode ser considerada a autêntica expressão, posto que é influenciada pela situação social da qual participa, sem esquecer que é a expressão que influencia, estrutura a consciência e toda atividade mental, principalmente, a realizada por nós.
No que concerne à segunda orientação filosófico-linguística, Bakhtin (1997) trata da teoria da linguagem proposta por Wilhelm Von Humboldt apud Ramanzini (1990), enfatizava que a linguagem deveria ser concebida como uma dinâmica e constante criação humana, por isso, talvez um dos maiores preceitos formulados por Humboldt (e depois mais tarde retomado por Chomsky), teria sido o seguinte: o falante faz uso infinito da língua, utilizando um conjunto finito de regras, ou melhor, o falante com um conjunto de regras finitas, produz um conjunto infinito de enunciados.
Afirmava ainda que não existe linguagem sem pensamento, isto é, não há linguagem sem a participação efetiva do sujeito, pois, de acordo com Kramer (tinha como expoente (apesar das diferenças) Wundt, Vossler, Spitzer, Lorek e Lerck, por isso, Bakhtin classifica o tipo de linguística praticado por estes linguistas de subjetivismo idealista.
Desse modo, mostraremos como este movimento é visto pela Psicologia e depois como é abordado na linguagem.
Sendo assim, Freitas (1996, p. 61-62) nos revela que:
[...] A Psicologia Subjetivista, partindo da concepção de homem como ser autônomo e livre, não determinado pelo ambiente social, vê como função do processo educativo a facilitação de situações favoráveis ao desenvolvimento pleno do educando, baseado em suas tendências e predisposições naturais.
Apesar de Freitas (1996) desvelar a relação do subjetivismo abstrato com a educação na Psicologia, importa mais para este trabalho apenas o que diz sobre a teoria acima mencionada, ou melhor; o subjetivismo idealista considera tão somente a relação do sujeito com a linguagem, a saber, o mais importante nesta relação é que o sujeito age e reage através da linguagem, há uma ilusão do sujeito, que nesse caso, seria totalmente livre para pensar e agir.
Porém, Japiassu (1982, p. 182-183), revela-nos, justamente, o oposto:
Marx viu nesta doutrina do sujeito pensante, simbolizada no Cogito de Descartes, mas que também foi retomada pela filosofia de Hegel, a manifestação da ideologia burguesa clássica. Ao criticar a filosofia idealista clássica inaugurada pelo Cogito, Marx quer conduzir o espírito a uma atitude de convicção relativa à realidade do sensível, mas depois da experiência de uma despossessão ilusória da convicção elementar. Ele não é nem pré-cartesiano nem pré-idealista, mas pós-hegeliano e, consequentemente, pós-idealista. Sua convicção realista não é mais ingênua. Para ele, é o idealismo que constitui uma aberração e uma ingenuidade. Daí passar a criticá-lo. E o resultado da crítica do ‘eu pensante’ filosofia idealista, apresenta-se de dois modos: como resultado dogmático e como resultado crítico:
a) Em primeiro lugar, o ‘eu’ do Cogito não pode ser reduzido ao simples ‘eu’ abstrato de um ato puro de pensamento, ao qual corresponderiam às realidades exteriores. Sem dúvida, ele é o eu pensante, consciente de si, embora solidário a um corpo individual e a um universo natural e social. A determinação da consciência não é apenas a atualização da vida mental. Tampouco se reduz à atualização do “pensamento”, como afirma Descartes, cortado do enraizamento efetivo no universo e no corpo vivo do ser consciente. Pelo contrário, a “determinabilidade” da consciência é a totalidade dessa atualidade condicionada, de fato, e determinada pela vida, e numa conexão com o universo natural-histórico de que podemos separar-nos sem tornar-nos filósofos abstratos. Não há autarquia do sujeito pensante, a não ser que a filosofia faça comédia. Eis o resultado dogmático da operação crítica do sujeito pensante;
b. Ao mesmo tempo, porém este sujeito pensante também é um sujeito vulnerável a essa ilusão de autarquia, ilusão que se produz naturalmente em virtude de suas pertenças afetivas e de sua educação prévia. Essa ilusão é tanto maior quanto mais se torna inconsciente e se incorpora à consciência de si do filósofo. O resultado consiste em convencer o “eu pensante” de ilusão, mais ou menos imbuído de autarquia idealista, e em demonstrar publicamente o mecanismo de sua ilusão. Eis o resultado crítico da mesma operação.
De acordo com esta citação, percebemos que o sujeito está condicionado ao universo natural, histórico e social do qual participa e Kramer (1994p. 72) reafirma o que fora dito por Japiassu (1982) anteriormente:
[...] Para o subjetivismo idealista, o fenômeno linguístico é ato significativo da criação individual: a língua é atividade ininterrupta, as leis da linguística são as leis da psicologia individual e a criação lingüística é análoga à artística. A linguística seria, assim, no entender de Humboldt, Wundt, Vossler, Croce (em que pesem as diferenças entre eles) uma ciência da expressão. Dicotomizadas vida interior – vida exterior, a primazia é do interior do polo subjetivo.
Por conseguinte, das duas correntes, anteriormente mencionadas, podemos inferir que o objetivismo abstrato nega, totalmente, o sujeito, isto é, nega a participação do sujeito na linguagem, porém, o subjetivismo idealista afirma a participação desse mesmo sujeito na linguagem, dando-lhe lugar de destaque, deiviticando-o, ou seja, a linguagem se dá, exclusivamente, pelo e no sujeito, já que para esta tendência a linguagem seria considerada uma superestrutura, completamente diferente da visão bakhtiniana, porque, para Bakhtin (1997), o discurso estaria ligado à palavra e a palavra à enunciação.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do exposto, percebemos que o autor de Marxismo e Filosofia da linguagem busca um meio termo para tratar da questão anteriormente mencionada, ou melhor, revela-nos que a linguagem não é desvinculada do mundo (como quer o objetivismo abstrato) e nem o sujeito é desvinculado do meio social – onde está inserido – (como quer o subjetivismo idealista), a saber; o sujeito age, mas age em função da linguagem e do meio social sobre o qual está inserido, por isso, o sujeito não é assim tão independente como propalava Descartes apud Japiassu (1982) em sua teoria do Cogito.
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MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO[1]
[1] Mestre em Linguística e Professor da Cadeira de Língua Portuguesa no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ariquemes. Emeio: marinho.filho@ifro.edu.br