04/06/2020

Capitão do Mato

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente– www.wolmer.pro.br

 

            Vamos entender um pouco de nossa história e tentar perceber o que está acontecendo com nosso país no quesito racismo.

            Primeiramente precisamos entender o conceito de preto e negro segundo o contexto escravista. Segundo orientações curriculares - Expectativas de Aprendizagem para a Educação Étnico-Racial - Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, Publicado pela Prefeitura da Cidade de São Paulo em 2008, houve uma luta para dar positividade ao termo negro, e nesta luta, ressaltava o preto era bonzinho e dócil mediante ao olhar escravista e o negro era o rebelde, pois tinha a consciência de sua história da escravidão e não esquecia suas origens e passado.

            O negro resistia e por isso ficava nas senzalas e o preto, por ser o bonzinho, ficava nas casas grandes, próximos aos seus donos, esquecendo suas origens e se integrando ao mundo do branco totalmente preconceituoso.

            Veja que triste situação, se não fosse uma fala infeliz, seria até engraçada, ver um preto (o bonzinho acima) falar mal de sua raça, o que podemos fazer uma analogia com o presidente da Fundação Cultural Palmares, já que vociferando que o movimento negro é "escória maldita" e desprezando a agenda da "Consciência Negra", além de demonstrar sua intolerância religiosa chamando uma mãe de santo de "macumbeira", bem como uma intolerância ideológica, como se suas ideologias fossem a única certa, pois prometeu caçar e botar na rua diretores de autarquia que não tiverem como meta a demissão de um esquerdista.

            Ou seja, além do ódio por negros, este negro quer punir pessoas que não pensam como ele, isso mostra o quão imbecil e bajulador é este indivíduo.

            A situação nos permite outra analogia, e desta vez com aquela pessoa que caçava os escravos que se rebelavam. Eram mestiços e libertos que não eram aceitos pela sociedade branca por não serem brancos e não aceitavam os negros porque, mesmo tendo descendência negra ou sendo negro, era um bajulador de seu senhor.

            Em algumas situações, temos no capitão do mato um negro que trabalha para o seu senhor, este trabalho consiste na perseguição de escravos fugitivos bem como castigos a estes escravos e também aos negros desobedientes

            Andrade corrobora as falas acima ao afirmar que os capitães-do-mato eram representados na maioria das vezes por homens livre e pobres e com um status sustentado pelo regime escravocrata. Estes libertos eram estratégicos, visto que conheciam a região e suas táticas de fuga[1].

            Enfim, a Fundação Cultural Palmares foi criada ha 31 anos e foi oriunda do resultado da luta pelo movimento negro, e a mesma tem como objetivo "promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira" e tem como um presidente, uma pessoa preconceituosa, intolerante e com pensamentos racistas.

            Infelizmente, com a atual gestão, esta instituição está fadada a perder todo o seu foco e abrir mão das poucas conquistas que estas pessoas conseguiram com o sangue e muita humilhação por uma nação que deve no mínimo o respeito e a obrigação social de proporcionar mais equidade.

 

 

[1]Para mais informações vide https://www.infoescola.com/historia/capitao-do-mato/

 

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