26/03/2014

Brasil Sem Miséria qualifica público do projeto Vira Vida

Parceria entre MDS e Sesi garante acesso de adolescentes e jovens vítimas de violência sexual à qualificação profissional   

 

"Nunca imaginei que um dia pudesse vestir uma roupa assim", disse a jovem Celeste*, emocionada, durante a formatura da sexta turma do projeto Vira Vida, na unidade do Serviço Social da Indústria (Sesi), em Taguatinga (DF). Os depoimentos dos 25 formandos foram marcados por histórias de superação e sonhos. Esses jovens têm idade entre 16 e 21 anos e foram vítimas de violência sexual. O projeto conta com apoio do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Participaram também da solenidade, promovida na terça-feira (25), 50 estudantes que acabaram de ingressar no projeto e outros que já estão na metade dos cursos de qualificação profissional.

O Vira Vida começou no Ceará, em 2008. Hoje, o projeto está presente em 20 estados e, até o final do ano, deve chegar aos demais. Os jovens recebem atendimento psicossocial, educação regular e profissional e encaminhamento ao mercado de trabalho. A permanência dos jovens no projeto varia entre um ano e um ano e meio, período no qual recebem uma bolsa de R$ 500.

Por meio de uma parceria entre o MDS e o Conselho Nacional do Sesi, os jovens são incentivados a ingressar em cursos de qualificação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, voltados ao público do Brasil Sem Miséria (Pronatec/BSM).

Vitória 

Celeste tem 20 anos e acaba de receber o diploma do ensino fundamental e os certificados de auxiliar administrativo, recepcionista e informática. O sonho dela é ingressar no Corpo de Bombeiros. Para isso, a jovem vai continuar com os estudos e pretende concluir o quanto antes o ensino médio. "Saí de casa muito cedo. Hoje me sinto uma pessoa vitoriosa", comemorou.

Além de sofrer abusos, a jovem trabalhou como catadora em um lixão na Estrutural, localidade a 20 minutos do centro de Brasília. Conheceu o Vira Vida por meio de um pastor da igreja que frequenta. Foi ele quem encaminhou Celeste, a irmã dela e uma amiga para o projeto. "Hoje sei que posso fazer o que eu quiser. Depois que nasceu meu filho, tive mais razões para viver. Mas ainda faltava alguma coisa. Aqui encontrei carinho, apoio e amor. Essas pessoas são minha família", disse ela, referindo-se aos professores do projeto e aos colegas de classe.

Recomeço

Há quatro anos, Maria*, vítima de violência sexual dentro de sua própria casa, saiu do interior do Maranhão e foi trabalhar na casa de uma família em Brasília. Na capital federal, a jovem, hoje com 17 anos, foi obrigada a trabalhar sem receber um salário e sofreu abusos cometidos pelo dono da casa onde trabalhava. Após denúncias, o caso chegou ao Conselho Tutelar, que encaminhou Maria para o Vira Vida.

Além de todo o trabalho desenvolvido pelo projeto, a menina teve a chance de recomeçar. Uma colega de turma, também vítima de abuso, convenceu a própria mãe a adotar Maria. "No começo, fiquei resistente. Como eu iria levar mais uma menina para dentro de casa? Infelizmente, mesmo trabalhando, às vezes falta comida", contou Joana*. Após receber apoio do Conselho Tutelar, Joana decidiu que não poderia fechar os olhos diante da situação da jovem. Hoje, ela tem a guarda provisória de Maria.

Durante a formatura, a jovem reencontrou a mãe biológica, que veio do Maranhão para participar desse dia especial. "Estou muito feliz de ver minha filha assim. E aliviada por ela estar sendo bem cuidada”, disse.

Projeto 

O Vira Vida surgiu após o presidente do Conselho Nacional do Sesi, Jair Meneguelli, se deparar com a exploração sexual de crianças e adolescentes na praia do Futuro, em Fortaleza. A cidade foi a primeira a receber o projeto. "A única diferença desses jovens para nós é que eles não nasceram onde nascemos", avalia. Para encontrar essas crianças e adolescentes, o Sesi solicitou o apoio da rede socioassistencial, coordenada pelo MDS, além de estados, municípios, Ministério Público, igrejas e diversos órgãos e entidades como Unicef, Organização Internacional do Trabalho (OIT), Advocacia Geral da União (AGU), Infraero, Caixa Econômica Federal, Correios e o Sistema S.

A diretora adjunta de Inclusão Produtiva Urbana do MDS, Margarida Munguba Cardoso, explica que o Pronatec/Brasil Sem Miséria se articula com outras iniciativas de inclusão produtiva para as pessoas em situação de vulnerabilidade. “O inovador foi elaborar cursos mais adequados aos jovens e adolescentes. Com o Pronatec, possibilitamos a perspectiva de mudança de vida deles”, avalia.

Durante o projeto, três cursos profissionalizantes são oferecidos. A sugestão do MDS é que o primeiro seja o curso de operador de computador e que os demais sejam de acordo com o perfil dos jovens. De preferência, em turmas exclusivas com alunos do Vira Vida. 

*A reportagem utilizou nomes fictícios.

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

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