24/09/2018

BNCC e o Sistema de Ensino

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

Como consta no próprio site: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/a educação é a base, isso é uma frase conhecida por todos, assim sendo, pode-se afirmar que ela é o alicerce para a cidadania e o humanismo.

É através da educação que nos diferenciamos dos outros animais, porque se não fosse por esta educação, seríamos verdadeiros bárbaros, o que é corroborado por Santos em seu livro Por uma outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal, publicado pela Record em 2003, quando aduz que voltaríamos à condição primitiva de cada um por si. O autor compara ainda que voltaríamos a ser como animais da selva, reduzindo-se assim as noções da moralidade pública e particular a um quase nada.

Não adentrando na BNCC voltada ao ensino médio, apenas a educação infantil e o ensino fundamental, sendo que estas duas modalidades serão os percussores que darão sustentação para que os alunos desenvolvam em si, a paixão pela aprendizagem e o senso crítico, e a partir daí, trilharão pelas veredas do Ensino Médio e Superior. Pode-se perceber que a base da educação está justamente nestas duas etapas, por isso cabe aos governos e educadores uma maior ênfase nestas fases.

Pode-se observar assim, por alguns professores que participaram de encontros voltados para a discussão desta Base Nacional Comum Curricular que o currículo realmente é bom em termos de conteúdo, porém, de nada adiantará se não reverem de forma concomitante o sistema de ensino, o método de aprovação, valorização dos professores, estruturas das escolas, políticas públicas, realidade da família, gestão escolar, dentre outras variáveis que são totalmente desvinculadas do currículo.

Cada série/ano tem a sua exigência e em contrapartida, o próprio sistema educacional não trabalha com pré-requisitos, ou seja, o aluno simplesmente vai para o ano seguinte sem sequer cumprir o mínimo exigido pelo currículo, isso porque não existe retenção. Não existem pré-requisitos.

Trabalhamos mediante uma hipocrisia, ou como dito no texto "Negligência Benigna[1]" ou seja, para o governo não ser mal visto pela sociedade e tampouco pelos investidores internacionais, este cria de estratagemas para iludir toda uma multidão, isto é, uma negligência benigna, isto é, para cumprir metas mínimas de reprovações, o sistema coage a aprovação da maioria.

Outro problema que hoje passou a fazer parte de uma verdadeira inversão de valor é a participação da família na educação dos filhos. Pais omissos cobram das escolas o que deveria ser obrigação da família.

Cabe a escola ensinar e a família educar. Família trabalha caráter, honestidade, respeito, dentre outras coisas, conforme esclarece Delors em seu livro Educação: um Tesouro a Descobrir, publicado pela Cortez em 2001 que a família constitui “o primeiro lugar de toda e qualquer educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o cognitivo, assim como a transmissão dos valores e normas”.

Como costumam dizer os mais antigos, não se usa remendo de pano novo em roupa velha pois o remendo forçará a roupa, tornando pior o rasgo, e assim tem sido nossa educação. Querem colocar remendos novos em um processo de educação já ancião.

Concomitante a BNCC deve-se trabalhar o conceito de família para que as mesmas se coloquem em seus devidos lugares e obrigações, ou seja, não façam das escolas um depósito de crianças.

A criança da educação infantil é a que mais precisa da presença da família no seu dia a dia. A afetividade primeiro deverá vir do lar, desta forma, essa criança aprenderá a ser mais segura de si além da certeza de que é amada por seus pais, o que é ressaltado por Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983 que o educar é alcançar a pessoal naquilo que lhe é mais específico, como no seu ser humano, o que engloba sua intelectualidade, afetividade e hábitos, sendo que esta afetividade já estará assegurada no educando pela família.

Com a realidade da educação pública hoje, a BNCC passa a ser algo surreal, fazendo com que os professores percebam o quão esta educação não passa de verdadeiras quimeras, visto que a realidade ressalta cada vez mais o contraste em que esta educação se encontra, mostrando o abismo entre o planejado e as vias de fato.

Como exigir que se cumpra um currículo assim se grande parte das escolas públicas são vítimas da corrupção como os desvios de verbas de merendas e falta de materiais, deixando com que as mesmas fiquem sucateadas e sem estruturas para trabalharem com seus alunos?

Como trabalhar um currículo deste se os profissionais são desvalorizados pelo próprio sistema. Muitos lugares sequer comentam sobre planos de carreiras e planos de incentivo à docência. A única coisa que estes heróis da educação fazem é aguentar o descaso do sistema e a violência de seus alunos, inclusive dos familiares destes que se acham no direito de agressões tanto verbais quanto físicas, sendo estas encobertas pela má gestão institucional.

Observe que a implementação deste currículo não será a redenção desta educação pública sofrível, faz-se mister perceber que paralelamente outra ações devem ser tomadas.

A BNCC é apenas a ponta deste iceberg chamada educação pública que tem afundado sonhos e esvaído as perspectivas de grande parte da população brasileira.

 


[1] Para mais informações vide http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/negligencia-benigna

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