BBB Reforçando a Janela de JOHARI
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Publius Terentius foi um sábio que viveu entre 195 a.C. e 159 a.C e é o autor da seguinte fala "Sou um homem: nada do que é humano me é estranho", e esta verdade prevalece há mais de 2175 anos, pois podemos esperar de tudo quando se trata de uma pessoa.
Peguemos como exemplo o Big Brother Brasil, ou BBB, que já está em sua 21 edição. Trata-se de um reality show em que pessoas ficam confinadas em uma casa (com toda infraestrutura) fazendo de tudo para ganhar o prêmio máximo, inclusive até a perda da própria dignidade, em nome da fama e do dinheiro.
Não precisamos ser psicólogos para levantar certos questionamentos como: O BBB ressalta um desvio de personalidade ou a própria personalidade das pessoas? Será que elas estão ali representando apenas um roteiro que as está despersonalizando?
Acredito ser humilhante a condição destas pessoas, ora coloca-se a máscara da hipocrisia, e, ora realça a sua insignificância como persona roteirizada, já que segundo colunista Stycer assevera em entrevista com o diplomata Rômulo Neves, e participante do 17 edição, que "BBB não é realidade, é programa de roteiro e edição"[1].
Para as pessoas que assistem e que têm ( conhecimento da Janela de JOHARI), pode-se perceber que realmente Joseph Luft e Harry Ingran tinham razão quando apresentaram a teoria que ficou conhecida como Janela de JOHARI em 1961. Como ressalto no livro intitulado "Escola não é Depósito de Crianças: A importância da família na educação dos filhos", publicado pela WAK em 2012, ( ressalto elucido) esta janela trabalha com os quatro eus. O eu aberto, o eu cego, o eu secreto e o eu desconhecido.
Pode-se perceber que o eu aberto é conhecido por todos, tanto por nós mesmos quanto pelos outros, e nele estão as nossas características como maneira de falar, vestir, andar, agir, habilidades, etc. Trata-se de um eu totalmente exposto.
O segundo eu é ignorado completamente por nós, é apenas as pessoas que o observam, e isso causa certa ansiedade que é manifestada podendo implicar em tensões e reações agressivas. Uma forma de conhecermos este eu é perceber que as características que mais criticamos nos outros são as mais destacadas em nós.
O terceiro eu, é aquele escondido por nós para que os outros não percebam. Este eu nos leva a conflitos de personalidade, e é neste que colocamos mais a nossa máscara da falsidade.
Por último temos um eu totalmente desconhecido por nós mesmos e pelos outros. Algumas características deste eu podem nunca se manifestar por não ter recebido o gatilho certo.
Com base na Janela de JOHARI pode-se constatar que a roteirização ressalta tanto o eu secreto quanto o desconhecido, já que muitos são os familiares que desconhecem o comportamento do participante.
O BBB não é uma forma de corromper o ser humano, ela apenas tira o véu da pessoa, mostrando a sua pequenez moral e ética, salvo raras exceções.
Este reality show que está mais para uma novelinha com improvisos causa uma nulidade da própria dignidade do participante, banalizando assédio moral, assédio sexual, racismo, machismo, dentre outros adjetivos que destacam o quanto são torpes as pessoas que lá estão.
Não se trata de um programa com um viés educativo ou social. São pessoas fazendo de tudo, literalmente, para conseguir o maior prêmio e dando voz à máxima de que "os fins justificam os meios".
Interessante perceber as falas de Millan, em seu artigo intitulado Reality shows: uma abordagem psicossocial e publicado em 2006 . Segundo a pesquisadora, o fútil, a curiosidade ávida de sensacionalismo e a excitação banal nos atraem e nos fazem abdicar de nossa potência de pensar e agir, isto é, nos aliena.
Para a pesquisadora, os "reality shows" adormecem nossa capacidade crítica, que já encontra-se abalada pela alienação da nossa consciência.
Reflita no seguinte: nossos jovens, que estão expostos a uma educação pública totalmente fragilizada, terão discernimento para perceberem que o que está sendo feito nestes reality shows não corresponde ao que se procura ensinar?
Lakatos e Marconi em seu livro Sociologia Geral, publicado pela Atlas em 1999, são enfáticas ao elucidarem que educar é uma ação intencional e seu cerne está em suscitar e desenvolver certo número de estados físicos, intelectuais e morais, assim sendo, como trabalharemos a "moral" se estes realitys ressaltam justamente a sua nulidade?
Que nós educadores, possamos usar estes realitys como contraexemplo e salientar todas as qualidades necessárias para formarem homens de bem.
[1] https://www.uol.com.br/splash/colunas/mauricio-stycer/2020/01/28/bbb-nao-e-realidade-e-programa-de-roteiro-e-edicao-diz-romulo-neves.htm