13/06/2018

Aula de campo em ambiente simulado: uma experiência positiva no processo de ensino-aprendizagem em Ciências Biológicas

Aula de campo em ambiente simulado: uma experiência positiva no processo de ensino-aprendizagem em Ciências Biológicas

Marta Maria Oliveira de Santana. Doutora em Ciência Animal nos Trópicos. Docente da Universidade do Estado da Bahia. E-mail: mmosantana@uneb.br

Introdução

A discussão sobre a prática pedagógica referente à aula de campo a que se refere este artigo foi realizada dentro do curso de licenciatura em Ciências Biológicas, integrante do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR), realizado na Universidade do Estado da Bahia, Campus I, durante o ano de 2012.

O PARFOR é um plano desenvolvido pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB), dentre outras IES públicas, em convênio com o MEC e Secretarias estaduais e municipais. O programa representa uma ação educativa voltada à formação de professores, com articulação e atendimento às demandas das comunidades, principalmente daquelas que apresentam baixos indicadores sociais e que historicamente demandam ações de caráter socioeducativo (UNEB, 2018). Ainda segundo a Universidade do Estado da Bahia:

O PARFOR é destinado aos professores em exercício das escolas públicas estaduais e municipais sem formação adequada à LDB, oferecendo cursos superiores públicos, gratuitos e de qualidade, com a oferta cobrindo os municípios de 21 estados da Federação, por meio de 76 Instituições Públicas de Educação Superior, das quais 48 Federais e 28 Estaduais, com a colaboração de 14 universidades comunitárias (UNEB, 2018).

A disciplina Biologia dos Cordados ministrada no PARFOR teve por objetivo contribuir na formação profissional do estudante de Biologia, instrumentalizando-o acerca do conteúdo programático referente às características dos cordados e das diferentes práticas do ensino das ciências, possibilitando uma visão crítica quanto às filiações epistemológicas nas diversas práticas em sala de aula. Esse componente curricular teve ainda o intuito de promover fundamentação teórico-prática quanto aos principais tópicos relacionados ao ensino de ciências.

O variado grupo dos cordados apresenta algumas características comuns aos membros do filo como: presença de notocorda, uma estrutura flexível semelhante a um bastonete, que representa o esqueleto axial primitivo, alongando-se da região anterior à região posterior do corpo, dorsalmente ao intestino; um tubo nervoso dorsal oco, acima da notocorda e fendas branquiais na laringe, pelo menos, durante o período embrionário. Os vertebrados pertencem ao filo Chordata e representam apenas um dos quatro subfilos. Os outros são: Hemichordata, Urochordata e Cephalochordata (ORR, 1986).

No desenvolvimento da disciplina foram utilizadas variadas modalidades didáticas como estratégias de explorar os conteúdos programáticos do grupo dos cordados e favorecer uma melhor homeostasia no processo de ensino-aprendizagem. Contudo, algumas das modalidades didáticas ainda apresentam entraves e, segundo Lima e Vasconcelos (2016), esses obstáculos são fruto das limitações metodológicas e conceituais de formação desses professores, em sua rotina de ensino e aprendizagem.

Muitos estudos relatam que as aulas de campo constituem metodologias que beneficiam o processo de ensino-aprendizagem, por ampliar o conhecimento dos discentes e estimular o exercício do espírito crítico sobre os ambientes estudados (OLIVEIRA e CORREIA, 2013). Para Borges e Lima (2007), há uma tendência contemporânea de realização dessas práticas dentro do ensino da biologia no Brasil (BORGES e LIMA, 2007). Diante disso, como complementação do conteúdo programático teórico da disciplina Biologia dos Cordados da PARFOR, foi realizada uma aula de campo no Parque Zoobotânico de Salvador. Essa atividade teve por objetivo fazer com que o aluno interagisse com a prática pedagógica de aula de campo, como complementação do conteúdo teórico tratado em sala, mas, também, como possibilidade deste professor/aluno utilizar tal prática em sua rotina docente.

A aula de campo foi realizada no Parque Zoobotânico de Salvador permitindo aos discentes conhecer a diversidade de espécies existentes em um habitat simulado e informações sobre a alimentação de cada grupo animal de acordo com as necessidades nutricionais.

A aula de campo

O componente curricular foi iniciado objetivando desenvolver no aluno habilidades reflexivas e práticas, cujo intuito foi oportunizar a compreensão e identificação dos organismos pertencentes ao grupo dos cordados. Objetivou ainda promover a observação das relações morfofuncionais dos Cordados, além de compreender o processo embriológico e o evolutivo das classes às quais pertencem essas espécies. Outro ponto observado foi quanto à importância desses animais para a ecologia e o meio ambiente.

Para alcançar os objetivos mencionados acima, os conteúdos programáticos foram abordados através de modalidades didáticas distintas. Inicialmente o tema foi trabalhado por meio de aula expositiva, sendo esta considerada a mais comum, econômica e largamente escolhida pela maioria dos discentes, em suas mais variadas justificativas. Outra estratégia didática utilizada foi a aula prática laboratorial, onde foi mostrada aos alunos a importância da elaboração de um roteiro-prático para acompanhamento dessa atividade. Na aula de laboratório se observou grande envolvimento dos discentes, o que pode ser observado pelo nível dos questionamentos e das discussões.

Como complementação de conteúdo teórico e da prática de laboratório, foi utilizada a modalidade didática de aula de campo no Parque Zoobotânico com a finalidade de conhecer a diversidade de espécies existentes em um habitat simulado e informações sobre a alimentação de cada grupo animal de acordo com as necessidades nutricionais.

Em plena área urbana, o Zoológico de Salvador é considerado um centro de referência na preservação dos animais silvestres ameaçados de extinção e pertencentes à fauna brasileira. Hoje, o Zoo mantêm sob seus cuidados 1629 animais, divididos em 158 espécies (84 espécies de aves, 40 espécies de mamíferos e 34 de répteis) e dessas, 92,4% são brasileiras. Dentre as 158 espécies, 34 delas estão ameaçadas de extinção em seu ambiente natural. Desde 2007, o Zoo prioriza a conservação e promove pesquisas científicas com espécies silvestres da fauna e flora nacional,  com ações em cativeiro, além de programas de educação ambiental associados ao lazer e ao entretenimento. O Zoo conta com uma clinica veterinária, museu, setores de nutrição, botânica, educação ambiental, pesquisas e conservação (ZOO, 2018).

Para isso foi realizada uma solicitação de agendamento prévio de visita guiada por um profissional do parque que, além de condução e apresentação dos habitats dos animais e diversos espaços do parque, também realizou uma palestra educativa enfocando as necessidades nutricionais dos animais e dietas específicas fornecidas para as diferentes espécies.

Foi disponibilizado para os discentes um roteiro prático como orientação precedente de vestimentas, material didático a ser levado e os principais elementos a serem observados durante a visitação. Eles também foram orientados a registrarem os dados fornecidos como subsídio para confecção de um relatório como retorno avaliativo posterior à discussão em sala de aula dos principais aspectos observados, tais como: as características ambientais visualizadas, a diversidade animal existente no parque e a simulação ambiental por influência humana, discutindo entre os grupos sobre a estratégia de explorar ecossistemas naturais como complementação de conteúdo programático no processo de ensino aprendizagem.

DiscussãoAs modalidades didáticas utilizadas pelos profissionais da educação são fonte de questionamentos diversos e requerem que os docentes sejam criativos e explorem os conteúdos de forma interessantes no sentido de envolver os discentes, tornando suas aulas atraentes e que facilitem o processo de ensino-aprendizagem. Há alguns anos temas relacionados aos processos de ensino é fonte de muitos estudos e os desafios enfrentados pela comunidade educacional são grandes e complexos, mas fica evidente que os profissionais da educação necessitam ter perceptibilidade e objetividade através das estratégias pedagógicas, nesse sentido fica claro que o desenvolvimento profissional é constante e requer permanente estudo, atualizações, discussões e intercâmbio de conhecimentos (BIZZO, 2007).

Nesse estudo a modalidade didática de complementação de conteúdo programático utilizada como estratégia no processo de ensino-aprendizagem foi a atividade de campo, através de uma excursão ao Parque Zoobotânico de Salvador, oportunizando o contato com o ambiente extraclasse e diagnóstico de ecossistemas e simulações de alguns habitats necessários para a reprodução natural da vida animal. As aulas práticas em campo são fontes de recursos didáticos de grande valor estratégico na educação em ciências (DOURADO, 2006) favorecendo aos alunos a construção de conceitos estéticos sobre os mais variados ecossistemas terrestres naturais (SENICIATO et al., 2006).

 

No que se refere à aprendizagem conceitual, vários trabalhos vêm sendo desenvolvidos para estudar o efeito cognitivo das atividades extra classe. Algumas dessas investigações foram realizadas em ambientes de museus de Ciências, em zoológicos e parques botânicos, tanto com público escolar como com grupos familiares. Por um lado, há certo consenso em caracterizar as visitas a esses locais como momentos importantes de aprendizagem, perspectiva essa valorizada especialmente pelo próprio visitante, seja ele o professor ou os pais (...) (MANDARINO, 2009).

Vale salientar que a estratégia de visitação não seria apenas um momento de recreação e interação entre os discentes, mas também que esses alunos enquanto profissionais de ensino percebessem o Parque Zoobotânico como um espaço de ensino de ciências a ser explorado, além de agregar informações sobre funções fisiológicas, habitats, comportamento e particularidades específicas das espécies presentes, ressaltando, todavia que a diversidade de atividades existentes podem ser adequadas às mais diversas séries e faixas etárias.

Para que uma modalidade didática constitua uma estratégia de sucesso requer planejamento para a sua perfeita realização, muitas são as dificuldades enfrentadas pelos professores para a execução de uma atividade fora do ambiente interno escolar, entre essas se salienta que o deslocamento e a exposição dos alunos a alguns riscos, então o temor do insucesso pode dificultar a realização dessas excursões (KRASILCHIK, 1994).

As relações entre os professores e alunos no processo de ensino aprendizagem tendem a ser reforçadas em situações fora do ambiente de sala de aula necessitando então ser planejadas de forma organizada e estruturada para que possam aproveitar ao máximo as descobertas e explorações dos mais diversos ecossistemas naturais.

Considerações Finais

A modalidade de aula de campo como estratégia favorável no processo ensino-aprendizagem é um importante mecanismo de complementação de conteúdo teórico.

Embora a escola e o laboratório sejam ainda os ambientes onde transcorre a maior parte das atividades de um curso de Biologia, este não atingirá todos os seus objetivos se não forem também incluídas atividades fora da escola, em contato direto com a realidade e os mais variados ecossistemas; quanto mais as experiências educativas assemelham-se às futuras situações em que os alunos deverão aplicar seus conhecimentos, mais fácil se tornará a transferência do aprendizado através de simulações da natureza.

As relações entre os professores e alunos no processo de ensino aprendizagem tendem a ser reforçadas em situações fora do ambiente de sala de aula necessitando então ser planejadas de forma organizada e estruturada para que possam aproveitar ao máximo as descobertas e explorações dos mais diversos ecossistemas naturais. A modalidade de aula de campo como estratégia favorável no processo ensino-aprendizagem é um importante mecanismo de complementação de conteúdo teórico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BIZZO, N. Ciências: fácil ou difícil. Editora Ática. 2ª edição, 9ª impressão p. 7, 2007.

BORGES, R.M.R.; LIMA, V.M.R. Tendências contemporâneas do ensino de Biologia no Brasil. Revista Eletrónica de Enseñanza de las Ciencias. v.6, n.1, 2007.

DOURADO, L. Concepções e práticas dos professores de Ciências Naturais relativos à implementação integrada do trabalho laboratorial e do trabalho de campo. Revista Eletrónica de Enseñanza de las Ciencias. v.5, n.1, p. 397-412, 2006.

KRASILCHIK, M. Prática de Ensino da Biologia. Editora HARBRA ltda. 2ª edição, p. 68-69, 1994.

LIMA, K.E.C.; VASCONCELOS, S.D. Análise da metodologia de ensino de ciências nas escolas da rede municipal de Recife. Ensaio: aval. pol. públ. Educ.; Rio de Janeiro, v.14, n.52, p. 397-412, jul/set. 2006.

OLIVEIRA, A.P.L.; CORREIA, M.D. Aula de Campo como Mecanismo Facilitador do Ensino-Aprendizagem sobre os Ecossistemas Recifais em Alagoas. Alexandria. Revista de Educação em Ciência e Tecnologia. v.6, n.2, p. 163-190, 2013. ISSN 1982-5153.

ORR, R. T. Biologia dos Vertebrados. 5ª ed. Roca, 1986.

SENICIATO, T.; SILVA, P.G.P.; CAVASSAN, O. Construindo valores estéticos nas aulas de ciências desenvolvidas em ambientes naturais. Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências. v.8, n.2, dez. 2006.

UNEB. O PARFOR. Universidade do Estado da Bahia. Disponível em: < http://www.uneb.br/parfor/o-parfor/> Acesso em: 11 de abr. de 2018.

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