28/06/2016

Atenciosamente, Bem Feito.

Dênio Mágno da Cunha*

Duas expressões, entre tantas, têm me acompanhado ultimamente: “bem feito” e “atenção plena”.

A primeira diz respeito a fazer tudo com um estado de perfeição próximo à perfeição. Me cobro isto diariamente, em tudo que faço. Claro e óbvio, essa medida é dada pela minha incompetência, pelo tempo, pelas condições físicas, materiais e espirituais. O bem feito é relativo. Mas faço sempre o melhor que posso, nem sempre atingindo a perfeição que quero. O importante é saber qual a distância separando o “melhor que posso” do “perfeito que quero”, pois assim posso aperfeiçoar, melhorar, saber o caminho a ser percorrido, na direção correta.

Ter essa consciência é fundamental. Os japoneses na busca pela Qualidade Total (QT) aprimoraram o conhecido ciclo PDCA (Planejar, Desenvolver, Controlar, Ativar) com esse objetivo: conhecer as fraquezas do processo e buscar permanentemente, ciclicamente, continuamente, a melhoria, a perfeição. “Fazer o melhor que posso” e saber disso, é o primeiro passo para a evolução, para a autoaprendizagem continua.

Já citei algumas vezes o texto de autoria de Richard Senett: “Fazer algo bem feito só por fazê-lo, é uma capacidade ao alcance da maioria dos humanos, mas na sociedade moderna essa habilidade não é honrada como deveria ser”. E o autor da frase termina dizendo que “precisamos liberar o artificie em cada um de nós”. Acho um bom lema, libertar a nossa capacidade de fazer bem feito e utilizá-la a todo instante, em todos os campos da vida.

“Em todos os campos da vida”, significa isso mesmo: no trabalho, nos relacionamentos sociais, nos relacionamentos de afeto, em casa, na rua, na fazenda, numa casinha de sapé, numa sala de aula. Se nos envolvermos com a libertação do artificie que vivem em nós, em todos os campos da vida, estaremos dando um passo enorme rumo a transformação da Humanidade** – não é exagero.

A pergunta que não quer calar é sempre a mesma: Como fazer? Utilizando a outra expressão escrita no início do texto: a atenção plena.

Atenção Plena é título de um livro que me chegou às mãos por conta dessa procura insana por uma forma de reduzir as minhas imperfeições e potencializar os meus dons, como postei no Facebook.***. Mark Williams e Dany Penman defendem a ideia de como é possível aprender a ter uma atenção plena ao momento presente se executarmos um programa evolutivo da prática meditativa. Isto nos daria a concentração necessária para viver um dos pensamentos mais conhecidos da filosofia Budista: “Se está lavando os pratos, lave os pratos”.

A princípio é muito simples, mas não é. Quando estamos “lavando pratos”, estamos pensando em outras diversas coisas, se não, fazendo outras coisas também com a atenção difusa.  Esse é só um exemplo. Se observarmos durante nosso dia não existe um momento sequer em que exercitamos ou vivemos a atenção plena, como deveria ser.

A consequência é que ao invés de fazermos tudo “bem feito”, fazemos a maioria das coisas de forma desleixada, malfeita. Ao invés de prestarmos atenção ao ciclo PDCA, vamos direto no desenvolver e abandonamos o resto.

Transformando num caminho bem prático é assim que funciona, caso deseje transformar sua (nossa) vida e a Humanidade:

  1. Conheça seus Dons (veja o texto no pé de página);
  2. Liberte o artesão que vive em você;
  3. Aplique a Atenção Plena;
  4. Revise
  5. Execute os aperfeiçoamentos;
  6. Internalize o aprendizado;
  7. Execute o ciclo sempre.

 

Finalizando, quero dizer que não era a intenção transformar este texto em algo semelhante a um texto de autoajuda destes produzidos por escritores milionários. O acróstico surgiu espontaneamente até a metade e achei interessante completa-lo formando a palavra CLAREIE. Pois de fato, espera-se que a sua vida clareie a partir dessa prática.

Mas ainda falta um link ou uma sinapse para ser construída.

Qual a relação existente entre o tema destas “impressões do professor” com a educação e a sala de aula, plano de fundo de todos os textos até então publicados? Bem, foi pensando na sala de aula e no malfeito de cada dia que comecei a refletir sobre.

Quando vejo alunos procurando o conhecimento dos colegas durante os testes de conhecimento (cola); quando vejo alunos colocando respostas diferentes do tema das perguntas feitas; quando vejo o quanto alunos são difusos e dispersos em sala de aula; quando vejo dizerem que a atenção do aluno é proporcional à habilidade do professor de mantê-los atentos, percebo que precisamos chamar a atenção para algo mais profundo e básico. Neste caso, para o “fazer bem feito” e a “atenção plena” em cada um. Imagine uma sala de aula formada por alunos e professores que desejam “libertar o artificie que vive dentro”? Gente concentrada, buscando o aprendizado, o aperfeiçoamento, imbuída de um propósito de abrangência Humanitária. Seria o Céu!!

Se todos aqueles envolvidos com a educação não tiverem o propósito de fazerem bem feito e se não tiverem a atenção voltada para alcançar este resultado, diariamente, vamos continuar patinando. Cada aluno que iniciar seus estudos com a consciência da importância da educação, dos dons que possui, da vontade de fazer bem feito os seus estudos e de ter uma atenção plena nisto, é um potencial transformador da Humanidade que surge. Acredito.

** A Terra é um Ser vivo (hipótese GAIA) e nós somos o seu sistema nervoso. O que fazemos aqui, afeta os mais diferentes pontos do planeta, numa corrente de efeitos sem fim. Hipótese Gaia:

 http://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/a-hipotese-gaia-de-james-lovelock-volta-a-cena

*** Post no Facebook: Está escrito na Bíblia (não me perguntem o local?) a parábola sobre utilizar os dons que Deus lhe deu (já que a vida vem Dele).

Partindo deste princípio todo nós temos dons. Mas muitos de nós, nem sequer pensam sobre isso, não procuram qual foi o dom recebido e muito menos se perguntam como desenvolver esse dom. Passam a vida utilizando-se dele, sem saber sequer qual seja.

Saber o dom que você recebeu de Deus é autoconhecimento;

Usar o dom que Deus lhe deu é valorizar a vida;

Aperfeiçoar o dom recebido é sinal de que recebeu também o dom da inteligência (o toque da mão de Deus sobre você).

* Professor em Carta Consulta e Una/Unatec. Doutorando Universidade de Sorocaba. Na busca por fazer bem feito, procurando libertar o artificie que vive dentro.

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