19/05/2017

Aspectos da Ovinocaprinocultura no Semiárido Nordestino

ASPECTOS DA OVINOCAPRINOCULTURA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO

Marta Maria Oliveira de Santana, Doutora em Ciência Animal nos Trópicos, Professora da Universidade do Estado da Bahia

 

RESUMO

A criação de caprinos e ovinos foi durante parte da história do semiárido do nordeste brasileiro uma prática relacionada restrita à subsistência de comunidades rurais. O nordeste apresenta o maior rebanho de ovinos do Brasil, contudo, por muitas décadas foi considerada uma atividade de baixa produtividade, com pouco potencial de manejo, escassez de investimento financeiro, tecnológico e governamental. Na atualidade a ovinocaprinocultura vem desempenhando papel importante no desenvolvimento do Nordeste, fato que impulsiona, do ponto de vista das políticas públicas, a necessidade de qualificar produtores, oferecer assistência técnica necessária à elevação das taxas de produtividade dos rebanhos e elevar, com isso, a melhoria na qualidade de vida das comunidades rurais do semiárido nordestino. Nesse sentido, este artigo objetiva abordar aspectos relacionados a pratica, dificuldades e perspectivas da ovinocaprinocultura no semiárido nordestino.

Palavras-chave: caprinos, ovinos, nordeste, práticas de manejo, poder público.

 

ABSTRACT

The breeding of goats and sheep was during part of the history of the semiarid of the Brazilian northeast a related practice restricted to the subsistence of rural communities. The northeast presents the largest sheep herd in Brazil, however, for many decades was considered a low productivity activity, with little management potential, scarce financial, technological and governmental investment. Nowadays, sheep and goat farming has played an important role in the development of the Northeast, a fact that, from the point of view of public policies, promotes the need to qualify producers, provide technical assistance necessary to raise herd productivity rates, and thereby raise Improvement in the quality of life of the rural communities of the northeastern semi-arid region. In this sense, this article aims to address aspects related to practices, difficulties and perspectives of ovinocaprinocultura in the northeastern semi - arid region.

Keywords: Goats, sheep, northeastern, management practices, public power.

 

INTRODUÇÃO

Este artigo constitui parte de minha dissertação de Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos, onde desenvolvi estudos com caprinos no semiárido baiano. O texto aqui apresentado se refere à parte da revisão de literatura realizada para a pesquisa.

De acordo com Filho; Alves (2002) a ovinocaprinocultura é uma atividade econômica explorada mundialmente. No Brasil esta atividade vem demonstrando um importante papel no contexto do agronegócio, especialmente porque vem gerando oportunidades de emprego, renda e fixação do homem no campo. No entanto, é ainda precário o nível de produtividade, de gerenciamento, e de articulação entre os diversos elos da cadeia produtiva da carne e pele, dificultando a sustentabilidade, a competitividade e a remuneração dos produtores (ROSANOVA, 2004; CORDÃO, 2011).

A ovinocultura amplia gradativamente a sua importância por adaptar-se a uma grande variedade de climas. Possui alto valor social, pois geralmente é uma atividade de subsistência de pequenos produtores sendo muitas vezes única fonte de renda da família, tem potencial de expansão, principalmente entre os produtores que adotarem práticas de manejo que resultem em produtos de qualidade, pois a quantidade produzida de carne ovina de qualidade não atende a demanda atual dos consumidores (CORDÃO, 2011).

A má distribuição das chuvas na região semiárida do Nordeste torna os rebanhos bastante vulneráveis à estacionalidade da produção e disponibilidade de alimentação, deixando os produtores locais sem muitas alternativas alimentares, tornando a produção de alimentos um dos maiores problemas para a exploração da ovinocaprinocultura durante os meses de estiagem que são característicos da região. Sendo assim, faz-se importante discutir as possíveis alternativas de manejo para a exploração da ovinocaprinocultura, observando as plantas existentes na região Nordeste, bem como o uso de subprodutos da indústria e do processamento de frutas, como fonte alimentar alternativa para suprir as necessidades do rebanho, melhorando assim a eficiência do manejo e a melhoria da qualidade fisiológica dos animais (NOGUEIRA et al., 2010).

Como a expansão do agronegócio de caprinos e ovinos em várias regiões do Brasil vem transformando o cenário dos sistemas produtivos e os mercados internos e externos estão em crescimento contínuo e rápido, se faz necessária uma produção com melhor qualidade e segurança. Esse controle requer medidas imunoprofiláticas e de manejos em vários aspectos com o controle alimentar, medidas sanitárias e estratégias zootécnicas. Para isto, todos os esforços devem ser organizados no sentido de eliminar ou reduzir as fontes de infecção, de risco de contaminação do ambiente e a propagação de muitas enfermidades específicas de muitas espécies animais (ALVES, 2004; NOGUEIRA et al., 2010).

Este artigo tem por objetivo realizar uma breve revisão sobre a pratica das culturas de ovinos e caprinos no nordeste brasileiro, enfocando suas características gerais, as dificuldades e perspectivas dessa prática secular no semiárido nordestino.

 

OVINOCAPRINOCULTURA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO

Durante muito tempo a caprinovinocultura foi considerada no nordeste brasileiro uma atividade com a finalidade de prover alimentação para a subsistência da população rural. Atualmente, no entanto, mudou-se essa forma de pensar, devido à crise de proteína animal que atinge principalmente as populações dos centros urbanos e também pela demanda crescente de peles que atingiu o mercado externo e dos curtumes da região (KASPRZYKOWSKI, 1982).

De acordo com o censo agropecuário do IBGE (2009), o rebanho de ovinos no Brasil apresentava 14.167.504 cabeças no ano de 2006, sendo que deste total, a região Nordeste deteve 7.790.624 cabeças. No ano de 2009 esse número no nordeste se elevou para 9.566.968 cabeças, conforme dados da Pesquisa Pecuária Municipal (PPM).

Apesar de o nordeste brasileiro ser a região com o maior rebanho de ovinos no Brasil, ao longo de décadas, a caprinovinocultura foi considerada uma atividade marginal ou de subsistência, normalmente com baixa produtividade e realizada por produtores desprovidos de capital financeiro e de recursos tecnológicos. Entretanto, atualmente, a produção destes pequenos ruminantes vem se caracterizando como uma atividade de grande importância cultural, social e econômica para a região, desempenhando um papel crucial no desenvolvimento do Nordeste (COSTA et al., 2008).

É importante salientar que para a ovinocaprinocultura no Nordeste brasileiro se transformar num negócio economicamente sustentável, gerando excedentes para os subsistemas de produção, processamento e distribuição são indispensáveis que sejam implementados, em cada estado da região Nordeste, programas voltados para adoção de tecnologias economicamente viáveis à região, com vistas à superação dos principais entraves ao desenvolvimento e sustentabilidade da cadeia produtiva da atividade (FILHO; ALVES, 2002).

 

DIFICULDADES E PERSPECTIVAS DA OVINOCAPRINOCULTURA NO SEMIÁRIDO NORDESTINO

São inúmeros os problemas enfrentados pelos produtores no nordeste brasileiro e muitos dos problemas diagnosticados são principalmente decorrentes de práticas de manejo inadequadas, ocasionadas por negligência pessoal e governamental. É fundamental qualificar os produtores e proporcionar assistência técnica, por meio de Instituições de Ensino, Pesquisa e Extensão, para que se consiga, desta forma, elevar as taxas de produtividade do rebanho (COELHO et al., 2011).

Filho; Alves (2002) relatam que na região Nordeste a maioria dos rebanhos de caprinos e ovinos é explorada em sistema extensivo, não sendo adotadas práticas adequadas de manejo alimentar e sanitário, aspectos que têm contribuído para a estagnação desses rebanhos ao longo dos anos, a despeito da rusticidade e da adaptabilidade dessas espécies à região nordeste. Aliados ao que foi mencionado existe também problemas relacionados ao baixo padrão racial dos animais, a difusão tecnológica incipiente, à inadequada assistência técnica e gerencial, a desarticulação total dos atores da cadeia produtiva, a inexistência de estudos de mercados e ao baixo nível de capacitação dos produtores são entraves que precisam ser solucionados, sob pena de a atividade não apresentar rentabilidade e não demonstrar competitividade, considerando as necessidades do mercado globalizado e cada vez mais exigente.

MARTINEZ (2008) relatou que o semiárido nordestino apresenta manejo sanitário precário e muitas doenças são observadas pelos criadores dentre essas é comum encontrar animais acometidos com miíase, diarréia, ceratoconjuntivite, linfadenite caseosa, ectima contagioso e a presença de muitos ectoparasitas.

Filho; Alves (2002), Rosanova (2004) discutem que para ocorrer um avanço crescente e contínuo da ovinocaprinocultura é indispensável à participação e o comprometimento de todos os agentes envolvidos no processo (governo, pesquisadores, técnicos, produtores, associações, sindicatos e federações de classe, indústrias processadoras, comerciantes e estruturas de apoio) gerando o estabelecimento de diretrizes, cumprimento de metas e articulação entre todos os elos da cadeia produtiva.

O desenvolvimento de projetos cooperativos deverá ser a tônica gerencial que prevalecerá neste mercado globalizado e cada vez mais exigente quanto à qualidade dos produtos. A interação entre os órgãos governamentais e a iniciativa privada terá que ser permanente e crescente. Investimentos deverão ser realizados pelas instituições oficiais e pelos empresários do setor, seguindo planos de trabalho que propiciem um retorno alentador no mais breve espaço de tempo possível. O mercado acena com grandes oportunidades, mas somente com a organização da cadeia produtiva, a região Nordeste poderá inserir-se de forma sustentável e competitiva neste emergente segmento da economia regional (FILHO; ALVES, 2002).

Evidencia-se, que não existirá sustentabilidade sem que ocorra o equilíbrio das ações e respostas no tocante a alguns aspectos importantes, como o agroecológico, o econômico e o social. Entretanto, o desenvolvimento econômico, além de determinantes políticos, é fortemente favorecido pelo mercado e pelas estratégias de comercialização. Neste sentido, a inovação, a qualidade de produtos e serviços, a constância da oferta, a logística e a competitividade tornaram-se primordiais para o crescimento e o desenvolvimento da atividade pecuária (SIMPLICIO et al., 2004).

Nesse sentido o Fundo de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico-Fundeci apresenta um papel historicamente importante em investimentos, que foram alocados na área de agricultura e pecuária sendo, destes, 28,95 % apenas para a pecuária (NASCIMENTO; COSTA; XIMENES, 2010).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante desse cenário considero como um dos pontos mais importantes o desenvolvimento de ações governamentais que possam dar suporte e auxiliar os produtores rurais através de Projetos que forneçam tecnologias e profissionais das áreas de zootecnia e veterinária.

Vale salientar que quando os produtores são bem instruídos pelos setores técnicos, por meio de palestras e treinamentos com veterinários e zootecnistas, ou por outras modalidades de transferências de conhecimentos e técnicas, recebendo informações corretas sobre as práticas adequadas de manejo, os mesmos têm o potencial e o aporte necessários para desenvolver as atividades de criação e manejo de caprinos e ovinos de forma eficiente e produtiva.

Assim, as práticas de manejo adequadas advindas da relação mais próxima entre produtores e técnicos disponibilizados pelo governo podem, por fim, favorecer a produção de rebanhos sadios, com qualidade nutricional e com maior potencial competitivo no mercado.

 

REFERÊNCIAS

ALVES, F. S. F; PINHEIRO, R. Z.; OLIVEIRA, A. A. F. Implicações do uso de solução formol em abscessos, para o controle da Linfadenite caseosa. Embrapa Caprinos. Sobral. 20 p, ISNN 1676-7659, v.52, 2004.

COELHO, M. C. S. C.; SOUZA, V. C.; COELHO, CUNHA, M. P.; MEDINA, F. T. Aspectos sanitários de rebanhos caprinos e ovinos criados em assentamentos no município de Petrolina-PE.*Revista Semi-árido De Visu. v.1, n.1, p. 32-40, 2011.

CORDÃO, M. A. Inclusão de ramos e frutos de jurema preta (Mimosa tenuiflora) e farelo de palma forrageira (Opuntia fícus indica Mill) e na dieta de cordeiros 2011. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Centro de Saúde e Tecnologia Rural. Universidade de Campina Grande, Paraíba.

COSTA, R. G; ALMEIDA, C. C.; PIMENTA FILHO, E. C.; HOLANDA JÚNIOR, E. V.; SANTOS, N. M. Caracterização do sistema de produção caprino e ovino na região semi-árida do estado da Paraíba-Brasil. Archivos de Zootecnia v. 57, n. 218, p 195-205, 2008.

FILHO, A. N.; ALVES, M. O. Potencialidades da Cadeia Produtiva da Caprinocultura na Região Nordeste do Brasil. Banco do Nordeste do Brasil. Escritório de Estudos Econômicos do Nordeste-ETENE, Abril, 2002.

IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal, Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA, www.sidra.ibge.gov.br, 2009.

KASPRZYKOWSKI, J. W. A. Possibilidades da Caprinocultura e Ovinocultura no Nordeste. p.12-15,1982.

MARTINEZ, P. M. Características dos sistemas de produção de ovinos e prevalência sorológica da MaediI-Visna na microrregião de Juazeiro – Bahia.2008. Dissertação (Mestrado em Ciência Animal nos Trópicos) – Escola de Medicina Veterinária. Universidade Federal da Bahia.

NASCIMENTO, J. L. S.; COSTA, L. S. A.; XIMENES, F. J. Atuação do Banco do Nordeste do Brasil em Ciência e Tecnologia na produção de caprinos e ovinos no nordeste do Brasil. Acta Veterinária Brasileira. v.4, p. S1-S7, 2010.

NOGUEIRA, N. W; FREITAS, R. M. O. SARMENTO, J. D. A.; LEAL, C. P.; CASTRO, M. P Alternativas alimentares para ovinos e caprinos no semi-árido brasileiro. Revista Verde. v.5, n. 2 p.5-12, Abril/Junho, 2010.

ROSANOVA, C. Fatores favoráveis e limitantes ao desenvolvimento da cadeia produtiva da Ovinocaprinocultra de corte no Brasil. 2004. Monografia (Especilização em estão Agroindutrial) – Departamento de administração e Economia da Universidade Federal de Larvas, Minas Gerais.

SIMPLÍCIO, A. A.; WANDER, A. E.; LEITE, E. R; LOPES, E. A.. A caprinoovinocultura de corte como alternativa para a geração de emprego e renda. Embrapa Caprinos. Documentos, n. 48, v.4, p.44, 2004.

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