28/08/2012

Ascensão e queda de um país que vai (ou ia) ser o celeiro do mundo

No ápice do século XX era corrente a ideia de que o Brasil ia ser o celeiro do mundo e uma das primeiras potências econômicas mundiais, mas os acontecimentos apontam para uma realidade que se distancia desse ideal.

Em 1964, o sonho de se construir um país social democrático foi enterrado pela ditadura militar que se colocou no poder. Esse período de nossa história marcou profundamente o panorama nacional. Perdemos a liberdade de expressão política, cultural, artística e filosófica. A filosofia, como disciplina, foi retirada dos currículos das escolas de nível médio e nas poucas universidades onde o curso era oferecido, professores enfrentaram a bizarra situação de ministrar aulas sob a vigilância de soldados do exército armados. Políticos, artistas, pensadores e cientistas passaram a ser alvo de vigilância e censura. Muitos foram presos, cassados e torturados, sem falar naqueles que tiveram que procurar asilo político em outros países. Iniciou-se, assim, o processo de mutilação intelectual brasileira.

Os militares aterrorizavam a população com um fantasma chamado comunismo, pintado de modo a fazer com que todos acreditassem que, uma vez vitorioso, transformaria todos os brasileiros em escravos que, dentre vários suplícios, teriam que enfrentar filas quilométricas para comprar alimento racionado de má qualidade ou, uma vez por ano, para adquirir um par de sapatos, sem falar que seriam obrigados a entregar todos os seus bens ao tal fantasma, desde a casa onde moravam até o cachorro e o papagaio.

Durante esse período grandes empresas multinacionais vieram se instalar no país, trazendo com elas os “cérebros” que as comandariam. Para a população nativa restou o trabalho maquinal e operário. Os militares proclamavam pelos quatro cantos do país que estávamos vivendo um soberbo milagre econômico. Enquanto isso, a capacidade de pensar, refletir, analisar, discernir e aprender do brasileiro começou a atrofiar-se. ?

Em 1985, após vinte e um anos de ditadura, um país esmagado por uma hiperinflação e dono de uma dívida externa assombrosa foi, finalmente, entregue a um governo civil, o de Tancredo Neves. O Brasil teve recorrer ao Fundo Monetário Internacional, o FMI, cujas exigências contribuíram para afetar ainda mais o desenvolvimento econômico e social do país. Até “milagres”, quando mal administrados, viram pesadelos.

Hoje, decorridos, vinte e sete anos de regime democrático civil, que país é o Brasil? Quem somos nós, brasileiros?

Apesar de uma significativa melhora na economia, somos um país que tenta mascarar a miséria social com medidas paliativas. Não temos educação, nem saúde. Não sabemos mais pensar, não sabemos refletir, não temos a instrução que seria uma das ferramentas básicas para compreendermos o que está acontecendo. Estamos em completo estado de inanição mental. O Brasil cresceu em corrupção, imoralidade, violência, acidentes de trânsito, consumo de drogas e outros processos alienantes. Somos o país onde as pessoas terminam cursos de nível superior sem entender o que leem, onde jornalistas não sabem quem foi Karl Marx e, levados a acreditar que foi monstro que inventou o comunismo (o que hoje não sabemos ao certo o que é ou do que se trata), convencem os leitores intelectualmente anêmicos de que ele foi apenas um “velho barbudo cheio de furúnculos”. Não sabemos resolver problemas matemáticos, não sabemos falar e nem precisamos nos preocupar com isso porque existe a aprovação automática nas escolas públicas (e em certas faculdades particulares, também). Vivemos num país onde filosofia é doença mental; onde os escândalos políticos e financeiros são rotineiros e ninguém se importa porque, afinal de contas, somos pentacampeões do futebol e o “fim do mundo” vai resolver tudo para nós. Enquanto o mundo não acaba, a gente se liga na novela, toma caipirinha e samba.

- Ciente de que este é o povo que habita estas terras, o ministro da educação afirmou que vai resolver o problema do cada vez pior ensino médio, mudando o nome das disciplinas. Quem tiver solução melhor telefona para ele.

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