16/03/2020

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO BOM E MAU ALUNO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE PROFESSORES DA ÁREA

AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO BOM E MAU ALUNO DE EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA DE PROFESSORES DA ÁREA

 

Hugo Norberto Krug[1]

 

RESUMO                                                                                              

O objetivo do estudo foi analisar as Representações Sociais (RS) do ‘bom’ e ‘mau aluno’ de Educação Física (EF) na Educação Básica (EB) e seus motivos, de professores da área, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). Caracterizamos a pesquisa como qualitativa do tipo estudo de caso. O instrumento de coleta de informações foi o Teste de Associação Livre de Palavras. A interpretação das informações foi feita por meio da análise de conteúdo. Participaram vinte professores de EF da EB da referida rede de ensino e cidade. Concluímos que, as RS dos professores estudados, se ancoraram, tanto do ‘bom aluno’, quanto do ‘mau aluno’, fortemente, em uma educação reprodutora. Dessa forma, fica notória uma certa estagnação da compreensão destes professores sobre os alunos da EF da EB.

Palavras-chave: Educação Física. Educação Básica. Representações Sociais. Bom Aluno.    

 

1- CONSIDERAÇÕES INICIAIS

De acordo com Conceição et al. (2007, p.15), o professor, como um dos personagens da escola, dos processos que nela acontecem, “está sujeito a inúmeras questões que podem interferir na sua atuação profissional e, portanto, na construção de sua prática educativa”. Além disso, Bessa (2009) coloca que, o professor é um sujeito que formula sentidos sobre a sua realidade, desenvolvendo um processo de análise, compreensão e construção dessa realidade que condiciona a sua forma de estar e ser. Salienta que, a imagem que o professor constrói de sua profissão é o reflexo do seu pensamento sobre a docência relacionado com as suas percepções da realidade e das referências que o influenciam.

Neste contexto, mencionamos Ribeiro et al. (2006, p.6) que afirmam que, “[o]s professores como actores sociais constroem as suas representações (significados) a partir do conjunto de ideias, opiniões, informações e crenças presentes no seu contexto sociocultural” (inserção nossa).

Diante deste cenário, este estudo tem como embasamento teórico a Teoria das Representações Sociais (TRS) que, segundo Oliveira (2016, p.412), “busca apreender o senso para compreender como um grupo de indivíduos, [...], constrói um conjunto de saberes que orienta suas condutas”.

Portanto, a partir destas premissas supracitadas, originou-se a seguinte questão problemática, norteadora da investigação: quais são as Representações Sociais (RS) do ‘bom’ e ‘mau aluno’ de Educação Física (EF) da Educação Básica (EB) e seus motivos (justificativas), de professores da área, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do Rio Grande do Sul-RS (Brasil)?

Neste sentido, consideramos importante abordarmos a respeito do ‘bom’ e do ‘mau aluno’, isto para antevermos o que está, mais ou menos, inserido nas representações de professores de EF da EB.

Segundo Lima e Machado (2012a, p.150), “[o] termo ‘bom aluno’ é comumente utilizado pelos sujeitos nas instituições escolares, nos meios de comunicação de massa, nos canais informais de interação e em uma série infindável de lugares sociais”.

Lima e Machado (2012a, p.150) esclarecem que, o termo ‘bom aluno’,

 

[n]o âmbito pedagógico, essa expressão esteve vinculada, até os anos de 1970, sobretudo, à concepções de aprendizagem que reduzem o aluno a um sujeito passivo diante do objeto de conhecimento. Não obstante, o contexto de redemocratização do país, no início da década de 1980, propiciou condições favoráveis às discussões educacionais que questionaram o reducionismo a partir do qual era concebido o aluno, favorecendo a desconstrução das velhas crenças do ser ‘bom aluno’ no processo de aprendizagem. A partir desse período, registrou-se a difusão das pedagogias de Paulo Freire, Demerval Saviani e José Carlos Libâneo, das abordagens construtivista e socioconstrutivista da aprendizagem, bem como de políticas educacionais para o Ensino Fundamental, como os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) e as políticas de ciclos que, para além das suas particularidade, defendem que o processo de aprender nada tem de mecânico do ponto de vista da criança que aprende.

 

Para Kloster (2012), o ‘mau aluno’ é aquele que, vai mau nas provas, não estuda, não participa das aulas ou eventos, não gosta de trabalhar em grupo, é mal educado, relaxado com o seu material e uniformes, etc.

Frente a este cenário de ‘bom’ e ‘mau aluno’, Krug; Krug e Telles (2018) destacam que, “os bons alunos” (p.295) é um dos motivos do encanto com a profissão docente e, “os maus alunos” (p.298) é um dos motivos do desencanto com a profissão docente de professores de EF da EB.

Mas, será mesmo?

Assim, o objetivo geral da investigação foi analisar as RS do ‘bom’ e ‘mau aluno’ de EF da EB e seus motivos, de professores da área, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil).

Para facilitar o atingimento do objetivo geral esse foi dividido em objetivos específicos: 1) analisar as RS do ‘bom aluno’ de EF da EB e seus motivos de (justificativas) professores da área, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil); e, 2) analisar as RS do ‘mau aluno’ de EF da EB e seus motivos (justificativas) de professores da área, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil).

Justificamos a realização desta investigação, destacando que, estudos desta natureza podem oferecer subsídios para uma melhor compreensão do fenômeno do significado [representações] do ‘bom’ e ‘mau aluno’ de EF da EB e, assim, consequentemente, auxiliar na melhoria da qualidade da atuação do professor de EF na EB.

 

2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Para Abric (2000), a TRS, elaborada por Serge Moscovici, no final dos anos 1950, é considerada um marco para o estabelecimento de uma percepção inovadora a respeito da integração entre os fenômenos perceptivos individuais e grupais. Nesse sentido, Basílio e Machado (2013, p.101) colocam que, “a necessidade do ser humano estar atualizado com a sua realidade e com seu grupo de pertença o impulsiona a construir representações sociais”. Já, Coutinho et al. (2017) afirmam que, as RS investigam como se formam os sistemas de referência utilizados para classificar pessoas e grupos e para interpretar os acontecimentos da realidade cotidiana.

Segundo Dotta (2006), as RS são partilhadas e guiam os grupos sociais no momento em que nomeiam e definem em conjunto aspectos que compõem a realidade.

Assim, de acordo com Abric (2000, p.156),

 

[...] a representação é um conjunto organizado de opiniões, de crenças e de informações referentes a um objeto ou a uma situação. É determinada ao mesmo tempo pelo próprio sujeito (sua história, sua vivência), pelo sistema social e ideológico no qual ele está inserido e pela natureza dos vínculos que ele mantém com esse sistema social.

 

Entretanto, Moscovici (1978) enfatiza que, as RS não são apenas ‘opiniões sobre’, são teorias coletivas sobre o real, baseados em valores que determinarão as ideias compartilhadas pelos grupos. Assim, todas as formas de RS influenciam na formação de um indivíduo, podendo modificar suas ideias.

Já, Moscovici (2003) ressalta que, são dois os processos importantes na TRS: a) a ancoragem ou amarração, que é responsável pela constituição das significações em torno do objeto e sua relação com o mundo físico, social ou práticas sociais (crenças e valores). A ancoragem “é um processo que transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada” (MOSCOVICI, 2003, p.61); e, b) a objetivação, que é a passagem de ideias e/ou conceitos para esquemas e/ou imagens concretas. A objetivação une a ideia de não-familiar com a realidade, tornando-se a verdadeira essência da realidade, o que possibilita “transformar uma representação na realidade da representação, transformar a palavra que substitui a coisa, na coisa que substitui a palavra” (MOSCOVICI, 2003, p.71).

Desta maneira, “a imagem que parecia ser irreal, estranha, passa a se configurar como real assim conhecidas passam a ser o que já são conhecidas para os outros, tornando-se familiar. Deixa de ser um signo e torna-se a réplica da realidade” (MOSCOVICI, 2003, p.74).

Relativamente às RS das profissões, segundo Bessa (2009), essas podem estar intimamente ligadas aos ofícios ou profissões que os sujeitos praticam e refletem as imagens de que são detentores. Já, para Borges (2007, p.85), as representações profissionais permitem edificar “um saber profissional, proteger a especificidade dos grupos, orientar as condutas, antecipar as expectativas dos parceiros de acção, guiar práticas e justificar à posteriori as tomadas de posições”.

Ao abordar a profissão docente, Bessa (2009) destaca que, a imagem que o professor constrói da sua profissão é o reflexo do seu pensamento sobre a docência relacionado com as suas percepções da realidade e das referências que o influenciam. Já, Gomes (2009, p.13) diz que, a utilização da TRS contribui para a compreensão dos fatos educativos e se apresenta “como espaço privilegiado para vermos como as representações sociais são construídas, evoluem e se transformam”. Ainda Alves-Mazzotti (2007) aponta que, as RS constituem elementos efetivos à análise dos mecanismos que interferem na eficácia do processo educativo, uma vez que mantêm relações com a linguagem, com a ideologia e com o imaginário social e por seu papel de orientação de condutas e práticas sociais.

 

3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterizamos os procedimentos metodológicos empregados nesta investigação como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Segundo Santos (2006), a pesquisa qualitativa caracteriza-se pela subjetividade, já que se insere nas ciências sociais e busca compreender os fenômenos a partir de atitudes e sentidos que os agentes conferem às suas ações, com vista a construir um conhecimento intersubjetivo, descritivo e compreensivo. Para Ponte (2006), o estudo de caso é uma investigação sobre uma situação específica, procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de certo fenômeno de interesse.

Assim, neste estudo, o caso investigado referiu-se ‘as RS de professores de EF da EB, sobre o bom e o mau aluno da EF Escolar, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil)’.

O instrumento utilizado para coletar as informações foi o Teste de Associação Livre de Palavras que, de acordo com Abric (2000), procura acessar, de maneira menos elaborada, os elementos mais salientes de uma RS. Para Machado e Gomes (2015, p.86), a Associação Livre de Palavras “é uma técnica projetiva que procura acessar conteúdos mais espontâneos acerca de um objeto, fato ou evento geralmente mascarados nas produções discursivas”. No caso deste estudo, a associação livre consistiu em solicitar aos participantes que registrassem em formulário próprio, de forma livre e imediata, a primeira palavra que lhes viessem à lembrança mediante apresentação do seguinte estímulo indutor: o ‘bom’ e o ‘mau aluno’ de Educação Física da Educação Básica é...? E, logo após o motivo, isto é, a justificativa da palavra escolhida.

Para a análise das informações coletadas, utilizamos à análise de conteúdo de Bardin (2010).

Participaram do estudo vinte professores de EF da EB, da rede de ensino pública, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil), sendo dez da rede de ensino municipal e dez da rede de ensino estadual. A escolha dos participantes aconteceu de forma intencional, em que a disponibilidade dos professores foi o fator determinante para que fossem considerados colaboradores. Nesse direcionamento de decisão, Molina Neto (2004) coloca que, esse tipo de participação influencia positivamente no volume e credibilidade de informações disponibilizadas pelos colaboradores.

Quanto aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas, destacamos que, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas.

Para caracterizar os participantes deste estudo, descrevemos, a seguir, algumas informações. Considerando as duas redes de ensino, a ‘totalidade’ (vinte) dos professores possuem ‘curso de graduação’ em EF, sendo que a ‘metade’ deles (dez) possui ‘curso de pós-graduação’, à nível de ‘Especialização e/ou Mestrado’. Quanto ao sexo dos professores, a ‘maioria’ (treze) é do ‘sexo feminino’ e a ‘minoria’ (sete) do ‘sexo masculino’.

 

4- RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados e as discussões deste estudo foram explicitados e orientados pelos objetivos específicos.

 

4.1- As RS do ‘bom aluno’ de EF da EB advindas dos professores da área estudados

Identificamos e analisamos as seguintes ‘palavras’ evocadas pelos professores de EF da EB estudados, mediante a apresentação do estímulo indutor: o ‘bom aluno’ de Educação Física da Educação Básica é...? E, logo após o motivo (justificativa) da palavra escolhida.

As palavras representativas do ‘bom aluno’ de EF e suas justificativas (motivos) foram:

1- Ativo (nove citações) – De acordo com Luft (2000), a palavra ativo significa aquele que tem a faculdade de agir; que exerce ação; que age. Nesse direcionamento de conceito, lembramos que, a EF na escola tem a sua importância no dever de instigar o aluno a entender os limites do próprio corpo, exercendo o papel de compreendê-lo como sujeito ativo dentro do espaço da escola e da sociedade (S.A., 2018a). Nas justificativas, a palavra ‘ativo’ apareceu com o indicativo de que ‘os alunos sejam participativos’ (nove citações) e, nesse sentido, citamos Krug et al. (2018a) que colocam que, uma EF Escolar ideal é aquela em que os alunos são participativos no processo de aprofundamento dos conhecimentos, pois o conhecimento é um instrumento que todos os educandos devem ter acesso, pois frente à globalização e a vida contemporânea, é essencial para o convívio social e para o seu próprio desenvolvimento;

2- Disciplinado (sete citações) – Para Luft (2000), a palavra disciplinado significa aquele que se disciplinou; que obedece à disciplina; é ordeiro. Nesse sentido, segundo Menandro e Souza (2010, p.91), o ‘bom aluno’, sobretudo, é definido “por sua relação de obediência à professora (ele fica quieto; não briga; obedece; respeita; é educado; não diz palavrões)”. Na perspectiva desse cenário, mencionamos Barreto (1981, p.85) que afirma que, “[o] aluno ideal é [...] aquele que, apesar de participar ativamente da aula, o faz disciplinadamente, dentro das regras de comportamento que tornam mais fácil o trabalho da professora”. Nas justificativas, a palavra ‘disciplinado’ foi apontada com o indicativo de que ‘mantém um bom comportamento’ (sete citações) e, nesse sentido, citamos Menandro e Souza (2010, p.88) que dizem que, “[o] termo ‘comportado’ deixa entrever que o ‘bom aluno’ é, essencialmente, submisso às normas escolares pré-estabelecidas”;

3- Interessado (cinco citações) – Segundo Luft (2000), a palavra interessado significa aquele que mostra interesse, empenho, motivação. A esse respeito, citamos Lima e Machado (2012b) que ao estudarem as representações sociais do ‘bom aluno’ na opinião de professoras dos Anos iniciais do Ensino Fundamental da rede municipal de Recife-PE constataram que, o ‘bom aluno’ deve ser interessado. Nas justificativas, a palavra ‘interessado’ foi abordada com o indicativo de ‘querer aprender’ (cinco citações) e, nesse sentido, lembramos Nascimento et al. (2016, p.42) que coloca que, alunos que queiram aprender é “[...] o tipo de aluno considerado ideal [...]” para o professor se sentir motivado na profissão;

4- Competitivo (quatro citações) – Conforme Luft (2000), a palavra competitivo significa aquele que compete, que participa da competição. Nesse cenário, citamos Viana; Dantas e Silva (2012, p.1) que colocam que, o esporte “[...] é o conteúdo mais presente nas aulas de Educação Física [E]scolar e traz consigo várias características, dentre elas a competição [...]” que, possui vários autores com argumentos pró e contra a atividade competitiva e por isso precisa ser muito discutido na escola. Nas justificativas, a palavra ‘competitivo’ foi abordada com o indicativo de ‘gostar de praticar esportes, pois tem prazer’ (quatro citações), e, nesse sentido, mencionamos Villas Boas et al. (1988) que dizem que, o esporte como conteúdo da EF Escolar faz com que, a maioria das pessoas sinta prazer pela sua prática. Já, Martins Júnior (2002) afirma que, a prática esportiva é proporcional À necessidade e ao prazer que dela advém. Um indivíduo normal não continuará a praticar esportes se não sentir prazer;

5- Aprende (três citações) – Luft (2000) afirma que, a palavra aprende significa ficar sabendo, conhecendo; reter na memória; tirar proveito do que se vê ou observa. Nesse direcionamento de significado, citamos Nascimento et al. (2016, p.42) que dizem que, o aluno ideal é “[a]quele que consegue aprender”. Já, Krug e Krug (2015, p.4) destacam que, uma das percepções de futuros professores de EF sobre os alunos da EB é que “os alunos são seres aprendentes”. Também Boff (apud CASTRO, 2013) coloca que, o ser humano é um ser aprendente, um ser de abertura, um ser potencial, um ser utópico, porque sonha para além daquilo que é dado e feito. Sempre acrescenta algo ao real. È um ser nunca pronto e por isso aprendente. Nas justificativas, a palavra ‘aprende’ foi relacionada com o indicativo de ‘ser estudioso’ (três citações) e, nesse sentido, citamos Menandro e Souza (2010, p.91-92) que diz que no conceito do ‘bom aluno’ “aparece a relação com os estudos (o ‘bom aluno’ sabe a matéria, sabe ler e escrever, é dedicado);

6- Frequente (duas citações) – Para Luft (2000), a palavra frequente significa aquele que se faz constante, presente, assíduo. Nesse sentido, essa característica do ‘bom aluno’ parece óbvia, mas tem muita relevância, pois alunos que frequentam as aulas ficam por dentro do que está sendo passado na matéria, ficam sabendo das alterações em datas de provas e trabalhos e não perdem nenhuma avaliação. Além disso, criam uma relação mais sólida com o professor e com os colegas, o que pode ser muito proveitosa na hora de estudar e tirar dúvidas (S.A., 2018b). Nas justificativas, a palavra ‘frequente’ foi relacionada com o indicativo de ‘que gostam das aulas de EF’ (duas citações) e, nesse direcionamento de ideia, citamos Canfield (1996) destaca que, é evidente que, os alunos gostam das aulas de EF da EB, o que demonstra que, as aulas são prazerosas para os alunos. Entretanto, a autora coloca que, o gosto dos alunos pelas aulas de EF vai decrescendo com a evolução da idade e série, isto é, nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é mais alto o índice, caindo um pouco nas Séries/Anos Finais deste segmento e baixando mais ainda no Ensino Médio; e,

7- Crítico (uma citação) – Segundo Luft (2000), a palavra crítico significa aquele que faz a análise de, que julga, faz a apreciação. Nesse sentido, Nascimento et al. (2016, p,42) definem como aluno ideal “[a]quele que é crítico”. A esse respeito, citamos Ilha e Krug (2013, p.197) que dizem que,

 

[a]s constantes transformações que vêm ocorrendo nos contextos social, político e econômico da sociedade atingem e interferem no âmbito educacional. Consequentemente, essas transformações vêm fazendo com que às práticas pedagógicas dos professores sejam repensadas com vistas a uma atuação mais significativa que possibilite a formação de alunos críticos e participativos na sociedade.

 

Nas justificativas, a palavra ‘crítico’ foi abordada com o indicativo de ‘educação crítica’ (uma citação) e, nesse sentido, lembramos Krug et al. (2018a, p.55) que colocam que, “[...] a tarefa da educação crítica é promover condições para que estas estruturas autoritárias sejam suspensas e o ensino encaminha no sentido de uma emancipação, possibilitado pelo uso da linguagem”. Entretanto, segundo Ilha e Krug (2013, p.197), os professores de EF da EB “[...] desconhecem as formas de se trabalhar fundamentando-se no [...]” ensino crítico-reflexivo.

Assim, estas foram às palavras representativas do ‘bom aluno’ da EB e suas justificativas apontadas pelos professores de EF da EB estudados.

Ao analisarmos as RS do ‘bom aluno’, advindas dos professores de EF da EB estudados, percebemos que, estas ‘mostraram significados que coincidiram, simultaneamente, com o papel/função da escola em uma educação reprodutora da sociedade’ (‘disciplinado’; ‘interessado’; ‘competitivo’; ‘aprende’; e, ‘frequente’), bem como com ‘o papel/função da escola em uma educação transformadora da sociedade’ (‘ativo’; e, ‘crítico’), mas ‘com predominância da educação reprodutora sobre a educação transformadora’ (cinco palavras contra duas). Diante desse cenário, consideramos importante lembrarmos que, para Luckesi (1994), a tendência filosófico-política da educação denominada de ‘reprodutora’ é aquela que concebe a educação como um elemento da sociedade, determinada pelos seus condicionantes econômicos, sociais e políticos, portanto, a serviço dessa mesma sociedade e de seus condicionamentos. Ainda, segundo Luckesi (1994), a tendência filosófica-política da educação denominada de ‘transformadora’ é aquela que pretende demonstrar ser possível compreender a educação dentro da sociedade, com seus determinantes, mas com a possibilidade de trabalhar pela sua democracia. Assim, no direcionamento desse cenário, concordamos com Lima e Machado (2012b, p.151) que destacam que, na opinião dos professores “[...] concorre para a construção simbólica do ‘bom aluno’ [...] um emaranhado de elementos [...]”, às vezes, com justificativas não adequadas aos tempos atuais.

Assim, podemos inferir que as RS do ‘bom aluno’, advindas dos professores de EF da EB estudados, em sua maioria, estão fundamentadas em uma educação reprodutora, considerada como mantenedora do status quo da sociedade vigente.

 

4.2- As RS do ‘mau aluno’ de EF da EB advindas dos professores da área estudados

Identificamos e analisamos as seguintes ‘palavras’ evocadas pelos professores de EF da EB estudados, mediante a apresentação do estímulo indutor: o ‘mau aluno’ de Educação Física da Educação Básica é...? E, logo após o motivo (justificativa) da palavra escolhida.

As palavras representativas do ‘mau aluno’ de EF e suas justificativas (motivos) foram:

1- Desinteressado (dez citações) – Luft (2000) diz que, a palavra desinteresse significa inexistência de curiosidade, de gosto por; indiferença, imparcialidade. Nesse sentido, Betti e Zuliani (2001) destacam que, os alunos não estão vendo mais significado na disciplina de EF e desinteressam-se em praticá-la. Já, Gonçalves et al. (2016) salientam que, existe uma falta de comprometimento dos alunos do Ensino Médio em realizar as atividades propostas pelo professor de EF. Nesse contexto, lembramos Nascimento et al. (2016, p.42) que salientam que, “[...] o desinteresse [...]” é considerado pelos professores um dos principais entraves no processo educativo. Nas justificativas, a palavra ‘desinteresse’ foi usada com o indicativo de ‘falta de infraestrutura da EF na EB’ (dez citações). Nesse direcionamento de motivo, lembramos Folle; Pozzobom e Brum (2005) que apontam que, a infraestrutura e as condições ambientais são fatores que influem para uma boa ou péssima aula e a consequência disso é que pode gerar a evasão e o desinteresse dos alunos;

2- Desmotivado (quatro citações) - Para Luft (2000), a palavra desmotivação significa ato ou efeito de desmotivar ou desmotivar-se; desinteresse; indiferença; estado de espírito em que não se vê motivo para agir ou tomar atitude; falta de espírito de iniciativa. Nessa direção de conceito, lembramos que, a desmotivação dos alunos reflete uma das maiores dificuldades nas aprendizagens das atividades escolares básicas, pois os alunos desmotivados têm mais dificuldades em assimilar os conteúdos propostos pelo professor em qualquer disciplina do currículo escolar (KRUG, 2002). Nas justificativas, a palavra ‘desmotivado’ foi abordada relacionada à ‘falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas pelo professor’ (quatro citações) e, nesse sentido, citamos Krug et al. (2017) que dizem que, a falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas pelo professor prejudica o bom andamento das aulas de EF na EB. Assim, segundo Krug et al. (2019), a falta de interesse dos alunos pelas atividades propostas pelo professor é uma das dificuldades da prática pedagógica de professores de EF na EB, em diversas fases da carreira docente;

3- Indisciplinado (duas citações) – Luft (2000) afirma que, a palavra indisciplinado significa que ou aquele que não se submete a disciplina, regulamento, regra, rebelde. Para Barretto (1981, p.85-85), “[c]omo componentes do mau aluno, figuram, [...] aqueles atributos que dificultam o trabalho do professor em classe. A indisciplina é uma das dificuldades mais apontadas pelos sujeitos em relação ao manejo de sala de aula”. Já, para Krug (2019), a indisciplina dos alunos é uma das dificuldades na gestão de aula em diversas fases da carreira de professores de EF da EB. Na perspectiva desse cenário, apontamos Nascimento et al. (2016, p.42) que afirmam que, “[...] a indisciplina [...]” é considerada pelos professores um dos principais entraves no processo educativo. Nas justificativas, a palavra ‘indisciplinado’ foi colocada com a conotação de ‘desobediente’ (duas citações) e, nesse sentido, nos reportamos a Barreto (1981, p.85-86) que coloca que, “[o] aluno indisciplinado é visto como desobediente que não sabe acatar ordens e faz, sobretudo, o que quer; é irriquieto e quer chama a atenção atrapalhando o andamento da aula. Mas, enquanto indisciplinado ele também é principalmente agressivo com os colegas e professores, afrontando a autoridade deste na classe”; e,

4- Ausente (uma citação) – Luft (2000) coloca que, a palavra ausente significa que ou quem se afastou temporariamente do lugar em que habita, que frequenta, etc.; que ou quem deixou de comparecer a evento, compromisso, etc. No direcionamento desse conceito, nos referimos a Müller (2017) que aponta que, existem vários fatores que podem dificultar ou até mesmo impedir a presença do aluno em determinados dias. Então, ressalta que, vale o bom senso do professor para avaliar se isto vai prejudicar o aluno faltante. Assim, em todas as situações de ausência nas aulas, o que se espera do educador é a imparcialidade de sua análise. Nas justificativas, a palavra ‘ausente’ foi colocada com a conotação de ‘faltar às aulas’ (uma citação). Nesse sentido, Massucato e Mayrink (2012) colocam que, o professor deve conversar com os alunos que faltam sobre os motivos das ausências deles na escola e isto é fundamental. Só assim será possível ajudá-los. Além disso, o fato de existirem alunos faltosos não prejudica somente o aluno, mas, também, o trabalho do professor. Entre outros aspectos, compromete o planejamento da rotina semanal de trabalho, inviabiliza os agrupamentos produtivos e impossibilita as intervenções pontuais com o aluno que falta muito, pois, geralmente, esses são os que apresentam mais dificuldades de aprendizagem.

Assim, estas foram às palavras representativas do ‘mau aluno’ da EB e suas justificativas apontadas pelos professores de EF da EB estudados.

Ao analisarmos as RS do ‘bom aluno’, advindas dos professores de EF da EB estudados, percebemos que, estas ‘mostraram significados que coincidiram com o papel/função da escola em uma educação reprodutora da sociedade’ (‘desinteressado’; ‘desmotivado’; ‘indisciplinado’; e, ‘ausente’). Em relação à EF Reprodutora, citamos Castro (2010, p.1) que diz que, essa "é aquela em que o professor trabalha apenas com movimentos corporais nas suas aulas, sem qualquer relação com o modo de vida dos estudantes, sem nenhuma reflexão e significação sobre esses mesmos movimentos, ministrando aulas que valorizam a competição, a concorrência e o rendimento em sua prática [...]".

Assim, podemos inferir que as RS do ‘mau aluno’, advindas dos professores de EF da EB estudados, em sua totalidade, estão fundamentadas em uma educação reprodutora, considerada como mantenedora do status quo da sociedade vigente.

 

5- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela análise das informações obtidas dos professores de EF da EB estudados, constatamos que: 1) quanto às RS do ‘bom aluno’, foi possível ‘identificar sete palavras (‘ativo’; ‘disciplinado’; ‘interessado’; ‘competitivo’; ‘aprende’; ‘frequente’; e, ‘crítico’). Essas representações mostraram as características do ‘bom aluno’ ‘influenciada pelo papel/função da EF Escolar dividida em dois pólos, um, numa educação considerada como reprodutora do status quo da sociedade vigente (‘disciplinado’; ‘interessado’; ‘competitivo’; ‘aprende’; e, ‘frequente’) e, outro pólo, numa educação considerada como transformadora do status quo da sociedade vigente (‘ativo’; e, ‘crítico’)’; e, 2) quanto às RS do ‘mau aluno’, foi possível ‘identificar quatroe palavras (‘desinteressado’; ‘desmotivado’; ‘indisciplinado’; e, ‘ausente’). Essas representações mostraram as características do ‘mau aluno’ ‘influenciada pelo papel/função da EF Escolar em uma educação considerada como reprodutora do status quo da sociedade vigente’.

Este cenário, na RS dos professores de EF da EB estudados, mostra tanto uma EF Escolar, quanto as características do bom e do mau aluno enraizadas em uma educação considerada como reprodutora do status quo da sociedade vigente’. Assim sendo, esse fato pode ser justificado pelas colocações de Krug et al. (2017) e Krug et al. (2018b) de que, estas palavras representativas apontadas, podem ter surgido de convicções pessoais, projeções futuras, de influência de grupos, pessoas e ou instituições de todas as naturezas nas quais os sujeitos tenham interagido em suas vidas. Já, Oliveira (2016, p.409) destaca que, as RS “variam conforme os sujeitos e os lugares de onde falam [...]”. Além disso, Abric (1994) lembra que, as RS articulam várias funções nos grupos sociais, não se limitando à função do saber, mas também identitária, avaliativa e reguladora das práticas sociais.

Entretanto, o que chamou à atenção no rol de palavras representativas do ‘bom e do mau aluno’, pelos professores de EF da EB estudados, foi que, o ‘bom aluno’ ‘apresentou palavras com conotações positivas’ (‘ativo’; ‘disciplinado’; ‘interessado’; ‘competitivo’; ‘aprende’; ‘frequente’; e, ‘crítico’) e o ‘mau aluno’ ‘apresentou palavras com conotações negativas’ (‘desinteressado’; ‘desmotivado’; ‘indisciplinado’; e, ‘ausente’).

De acordo com Luft (2000), positivo é algo que tende a auxiliar para a melhoria de alguma coisa. Assim, para esta investigação, consideramos positiva, a representação (palavra) apontada pelos professores de EF da EB estudados, que tendeu para auxiliar em uma boa aprendizagem do aluno nas aulas de EF Escolar. Também Luft (2000) diz que, negativo é algo que contém ou exprime recusa, é contraproducente. Assim, para esta investigação, a representação (palavra) apontada pelos professores de EF da EB estudados, que tendeu para tornar contraproducente a aprendizagem do aluno nas aulas de EF Escolar. Convém salientarmos que, para decidirmos sobre a conotação positiva e/ou negativa levamos em consideração a palavra e sua justificativa (motivo) de sua escolha.

Neste cenário, notamos que, foi ‘maior o número de citações de palavras com conotações positivas (trinta e uma no total) do que palavras com conotações negativas’ (dezessete no total), o que leva a entendermos que é mais fácil identificar um ‘bom aluno’ do que um ‘mau aluno’.

Assim, podemos concluir que: 1) face às constatações, temos que, as RS dos professores de EF da EB estudados, ‘tanto do bom aluno, quanto do mau aluno, se ancoraram na educação reprodutora do status quo da sociedade vigente’; e, 2) face às constatações, temos que, as RS dos professores de EF da EB estudados, ‘quanto ao bom aluno, se ancoraram em palavras com conotações positivas, e, quanto ao mau aluno, se ancoraram em palavras com conotações negativas’.

Para finalizar, reconhecemos a necessidade de estudos mais aprofundados do que este, já que Sá (1998), alerta que, os fenômenos representacionais não podem ser captados pelas pesquisas de modo completamente direto, pois são, por natureza, difusos, fugidios, multifacetados, em constante movimento e presentes em inúmeras instâncias da interação social. Mas, convém lembrarmos que, os resultados desta investigação não vincularam, em nenhum momento, o aluno ser ‘bom’ ou ‘mau’ com caracterizações familiares, cor, sexo e situação sócio-econômica, mesmo existindo muitos estudos que fazem esta relação, entre eles, Barreto (1981), Lima e Machado (2012a) e Menandro e Souza (2010).

 

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[1] Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel); Doutor em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); Professor Aposentado do Departamento de Metodologia do Ensino do Centro de Educação da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 

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