02/11/2025

As Interfaces da Didática com a Psicologia: Um Diálogo entre o Ensinar e o Aprender.

Ivan Carlos Zampin;

Elza Maria Simões;

Mery Elbe Simões Ramalho;

Dulcinéia Alves Fernandes Fogari;

Maria Neuma Simões da Silva;

Márcia dos Santos.

 

Resumo

Este artigo analisa as relações entre a Didática e a Psicologia, explorando como essas áreas se complementam no processo educativo. A Didática, como campo de estudo da prática pedagógica, e a Psicologia, como ciência que investiga os processos de aprendizagem, estabelecem um diálogo essencial para a compreensão do ato educativo. Partindo de uma revisão histórica e teórica, o texto discute três modelos epistemológicos clássicos sobre a relação sujeito-objeto e suas implicações para o ensino. Além disso, aborda as contribuições de teóricos como Piaget, Vygotsky e autores contemporâneos, como Jonassen, Peck e Wilson, para a construção de uma Didática construtivista e sociointeracionista. Por fim, destaca a importância do professor como mediador e organizador de experiências de aprendizagem significativas, capazes de promover a autonomia e o pensamento crítico dos estudantes.

Palavras-chave: Didática, Psicologia da Educação, Construtivismo, Mediação Pedagógica, Aprendizagem Significativa.

1. Introdução

A Didática, enquanto campo de estudo da Educação, ocupa-se da prática de ensino de como o conhecimento é ensinado, apreendido e transformado em saber escolar. Essa prática, entretanto, não ocorre de forma neutra, pois é orientada por concepções de homem, sociedade e conhecimento que refletem visões de mundo específicas. Nesse sentido, suas interfaces com a Psicologia da Educação tornam-se essenciais, uma vez que é por meio dela que se compreendem os processos internos do sujeito que aprende, abrangendo desde os aspectos cognitivos até os fatores afetivos e sociais que medeiam a construção do conhecimento.

Historicamente, a Didática esteve associada tanto à manutenção da cultura transmissão de conhecimentos, valores e normas estabelecidas socialmente quanto à transformação cultural, que permite ao sujeito refletir criticamente sobre a realidade e atuar para transformá-la. Essa dupla dimensão, conservadora e transformadora, conforme analisada em sua teoria histórico-crítica, coloca a Didática no centro das discussões sobre o papel social da escola (SAVIANI, 2008). Assim, o educador se coloca como um mediador entre o saber socialmente construído e o sujeito em formação um papel que, como destaca Fullat (1994), pode ser compreendido como uma “arte”: não no sentido estético do belo, mas no sentido grego de “κανονίζω, τακτοποιώ”, “arrumar, dispor”, ou seja, dar forma à humanidade nos educandos.

Neste contexto, o diálogo entre Didática e Psicologia permite compreender como as teorias psicológicas fundamentam as práticas pedagógicas, influenciando desde a seleção de métodos de ensino até a relação professor-aluno. Como observa Libâneo (1994), "a Didática é a mediação entre as bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente", sendo a Psicologia uma dessas bases fundamentais. Este artigo busca, portanto, explorar as bases teóricas que sustentam essa interface, analisando suas implicações para a prática educativa contemporânea.

A relevância deste estudo justifica-se pela necessidade de repensar constantemente as práticas pedagógicas à luz das contribuições da Psicologia, especialmente em um contexto educacional marcado por desafios como a diversidade de aprendizes, as novas tecnologias e a complexidade dos processos cognitivos e afetivos envolvidos na aprendizagem. A "virada cognitiva" na Psicologia, conforme descrita por Gardner (1995), trouxe novas compreensões sobre como os estudantes processam informações, constroem significados e desenvolvem estratégias de aprendizagem, demandando correspondentes ajustes nas abordagens didáticas.

O século XXI apresenta desafios adicionais com o advento das tecnologias digitais e a emergência de novas formas de sociabilidade. A psicologia cultural de Bruner (1997) nos alerta que a mente é constituída através da participação na cultura, o que exige da Didática uma atenção redobrada aos contextos culturais específicos nos quais se dá a aprendizagem. Nesta perspectiva, ensinar torna-se cada vez mais uma atividade de mediação cultural, exigindo do professor, nas palavras de Freire (1996), uma compreensão dialógica do ato educativo.

Além disso, as contribuições das neurociências, por meio de autores como Damasio (2012), têm demonstrado a inseparabilidade entre razão e emoção no processo de aprender, desafiando abordagens didáticas excessivamente racionalistas. Esta compreensão exige que se repense o planejamento didático para incorporar estratégias que envolvam afetivamente os estudantes com os objetos de conhecimento.

Neste complexo cenário, torna-se imperativo analisar como as diferentes correntes psicológicas do behaviorismo ao construcionismo social informam as práticas didáticas e como estas, por sua vez, podem se beneficiar de um diálogo mais estreito com a pesquisa em Psicologia da Educação. Este artigo se propõe a examinar essas inter-relações, oferecendo uma análise atualizada das contribuições da Psicologia para a Didática e vice-versa.

2. Referenciais Teóricos

No diálogo entre Didática e Psicologia, surgem três modelos epistemológicos clássicos sobre a relação entre sujeito e conhecimento, os quais refletem diferentes compreensões sobre a natureza do aprender e, consequentemente, implicam distintas abordagens de ensino. Estas perspectivas, como bem analisa Mizukami (1986) em sua obra sobre abordagens do processo de ensino-aprendizagem, orientam não apenas as práticas em sala de aula, mas também a organização curricular e a própria formação docente.

O modelo (S → O) (sujeito age sobre o objeto) está ligado ao inatismo e ao racionalismo, segundo os quais o sujeito já traz, desde o nascimento, as estruturas necessárias para conhecer o mundo. A aprendizagem, portanto, consiste em atualizar essas potencialidades internas por meio da ação sobre os objetos. O conhecimento seria uma revelação progressiva do que já está contido na razão. Esta perspectiva remonta a Platão e sua teoria da anamnese, e encontra eco no pensamento de Descartes com suas ideias inatas. Na educação, esta visão fundamentou o ensino humanista clássico, que privilegia o desenvolvimento das capacidades naturais do educando através de disciplinas como a lógica e a retórica. Como observa Châtelet (1994, p. 42), nesta tradição filosófica, "o mestre é aquele que ajuda a dar à luz o conhecimento que já estava latente no aluno", numa clara referência à maiêutica socrática.

O modelo (S ← O) (o objeto age sobre o sujeito) fundamenta o empirismo e o comportamentalismo, nos quais o meio é o determinante do comportamento e da aprendizagem. O sujeito é visto como uma "tábula rasa" na concepção de John Locke, e aprender é reagir a estímulos externos, conforme o reforço e a repetição. Essa visão influenciou fortemente a educação tradicional e o ensino tecnicista, centrados no controle, na instrução e na mensuração de resultados. Skinner (1972, p. 17), com sua teoria do condicionamento operante, representa o ápice desta concepção na educação, defendendo que o comportamento pode ser moldado através de reforços positivos e negativos. Esta abordagem, conforme crítica Pozo (2002, p. 33), reduz a aprendizagem a "um processo de acumulação de informações transmitidas pelo professor", negligenciando os processos mentais superiores envolvidos na construção do conhecimento.

O modelo (S ↔ O) (sujeito e objeto interagem) constitui a base do interacionismo, perspectiva segundo a qual o conhecimento resulta da interação dinâmica entre o sujeito e o meio. O aprender não é nem a simples revelação do que já existe no sujeito, nem o registro passivo do que vem de fora, mas uma construção ativa mediada pelas experiências, pela linguagem e pelo contexto social. Essa concepção dá origem às tendências construtivistas e sociointeracionistas na educação. Como sintetiza Wallon (1975, p. 41), "o homem é um ser fundamentalmente social, e sua consciência se constitui na relação com o outro e com o meio cultural".

Entre os principais teóricos dessa perspectiva estão Jean Piaget e Lev Vygotsky. Piaget (1896–1980) enfatiza o desenvolvimento cognitivo endógeno, ou seja, o sujeito constrói o conhecimento à medida que reorganiza suas estruturas mentais, num processo de equilíbrio entre assimilação e acomodação. Sua epistemologia genética, conforme análise de Becker (1993), demonstra que "a inteligência se constrói através da ação do sujeito sobre os objetos, numa sequência de estágios universais". Já Vygotsky (1896–1934) defende o enfoque histórico-cultural, segundo o qual o conhecimento é mediado pelas interações sociais e pela linguagem. O aprendizado ocorre primeiro no plano intersubjetivo (entre pessoas) e depois no plano intrassubjetivo (interiorizado pelo sujeito). Seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, como destaca Oliveira (1993), "revolucionou a compreensão sobre o papel do ensino, mostrando que este deve se adiantar ao desenvolvimento, criando condições para o avanço das funções psicológicas superiores".

A psicologia humanista, representada por Rogers (1969), trouxe contribuições significativas ao enfatizar a importância dos aspectos afetivos e relacionais no processo educativo. Para Rogers, a aprendizagem significativa ocorre quando o estudante está envolvido integralmente de formas cognitiva e afetivamente no processo. Esta perspectiva, que encontra ressonância no pensamento de Paulo Freire sobre a educação libertadora, valoriza a autonomia, a auto-realização e as experiências subjetivas do educando. Como sintetiza Maslow (1970, p. 150), outro expoente desta corrente, "a educação deve visar à atualização das potencialidades humanas, criando condições para que os estudantes se tornem tudo o que são capazes de ser".

Mais recentemente, as contribuições da psicologia cultural, representada por Bruner (1997), e das abordagens socioconstrutivistas, como a teoria da atividade de Engeström (1987), vêm ampliando o entendimento sobre os processos de ensino e aprendizagem, incorporando as dimensões culturais, históricas e institucionais que medeiam a construção do conhecimento. Estas perspectivas se destacam, nas palavras de Charlot (2000, p. 77), que "o sujeito que aprende é sempre um sujeito situado, inserido em contextos sociais específicos que condicionam suas possibilidades de aprender".

3. Desenvolvimento

3.1. Contribuições do Construtivismo e do Sociointeracionismo

As contribuições de Piaget e Vygotsky fundamentam o que se convencionou chamar de abordagem construtivista da Didática, que entende o ensino como uma situação de construção de sentido, e não apenas de transmissão de informações. O professor, nesse contexto, deixa de ser o centro do processo e passa a atuar como mediador, orientador e organizador de experiências de aprendizagem significativas.

A teoria piagetiana, com seus estágios de desenvolvimento cognitivo, oferece importantes subsídios para o planejamento de atividades adequadas às capacidades intelectuais dos estudantes. Como afirma Becker (1993. P. 17), "a grande contribuição de Piaget para a pedagogia está em ter demonstrado que a criança pensa de maneira diferente do adulto e que passa por estágios universais e sequenciais de desenvolvimento".

Já a perspectiva vygotskyana, com seus conceitos de Zona de Desenvolvimento Proximal e mediação semiótica, amplia o entendimento sobre o papel do professor e dos pares no processo de aprendizagem. Para Oliveira (1993), "Vygotsky nos mostra que o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento, criando zonas de desenvolvimento proximal que serão internalizadas pelo educando".

Autores como Jonassen, Peck e Wilson (1999) ampliam essa visão ao propor que as situações didáticas sejam baseadas em problemas reais, de modo que o estudante aprenda a pensar como um membro ativo de uma comunidade profissional. A aprendizagem, assim, passa a ser contextualizada, colaborativa e reflexiva, centrada na resolução de problemas e na autonomia intelectual.

3.2. Implicações Didáticas

Do ponto de vista didático, a perspectiva interacionista e construtivista implica profundas transformações na organização do trabalho pedagógico, exigindo do educador uma postura reflexiva e investigativa constante. Conforme destaca Perrenoud (2000), esta abordagem demanda que o professor desenvolva competências para "organizar e dirigir situações de aprendizagem" que considerem a complexidade dos processos de construção do conhecimento. Entre as principais implicações, destacam-se:

  • Reconhecer que o contexto social do aluno é central na formação de seus esquemas de pensamento, o que exige, nas palavras de Charlot (2000), uma "antropologia do saber" que compreenda as diferentes relações que os estudantes estabelecem com o conhecimento;
  • Valorizar os materiais pedagógicos e o ambiente como elementos que influenciam o modo e o ritmo da aprendizagem, criando, como propõe Zabala (1998), "ambientes de aprendizagem ricos em possibilidades de interação e descoberta";
  • Desenvolver situações desafiadoras e problemas abertos, que promovam a investigação e a criatividade, na linha do que Dewey (1979) defendia ao propor que a educação se organizasse em torno de "experiências problematizadoras" que mobilizem o pensamento reflexivo;
  • Fomentar a colaboração, o diálogo e a negociação de significados entre os educandos, criando o que Mercer (2000) denomina de "comunidades de investigação" onde o conhecimento é construído coletivamente através do discurso educacional.

Nesse sentido, a Didática construtivista e sociointeracionista busca superar a visão fragmentada do conhecimento, propondo uma educação integral que considere as dimensões cognitivas, afetivas e sociais do aprendizado. Como argumenta Coll (2004), o ensino deve promover "aprendizagens significativas" que permitam aos estudantes estabelecer relações substantivas entre os novos conteúdos e seus conhecimentos prévios.

A avaliação, nesta perspectiva, deixa de ser um instrumento de controle e classificação para tornar-se um processo contínuo de investigação das conquistas e dificuldades dos estudantes. Como propõe Hoffmann (1993), a avaliação mediadora deve "acompanhar, intervir, desafiar o aluno em seu processo de construção do conhecimento". Esta concepção de avaliação formativa, conforme desenvolve Hadji (2001), assume caráter regulador do processo de ensino-aprendizagem, fornecendo informações precisas para a reorientação da prática pedagógica.

Além disso, o planejamento didático nesta abordagem deixa de ser um documento rígido e pré-determinado para tornar-se um instrumento flexível, capaz de se adaptar aos interesses e necessidades que emergem no processo educativo. Como sugere Vasconcellos (2002), o planejamento deve ser compreendido como "processo de reflexão sobre a prática", permitindo constantes reelaborações em função das respostas dos estudantes.

3.3. A Mediação Pedagógica na Perspectiva Histórico-Cultural

A mediação pedagógica, conceito central na interface entre Didática e Psicologia, adquire contornos específicos na perspectiva histórico-cultural. Para Libâneo (1994), a mediação didática consiste na "ação do professor em criar condições para que o aluno assimile ativamente os conteúdos escolares, transformando-os em instrumentos de pensamento e ação".

Esta concepção vai além da simples transmissão de informações, envolvendo a criação de situações desafiadoras que mobilizem os esquemas de conhecimento dos estudantes e promovam avanços em seu desenvolvimento. O professor, como mediador, precisa dominar não apenas os conteúdos específicos de sua área, mas também compreender os processos psicológicos envolvidos na aprendizagem.

Nesta seara de autores, Coll (2004) destaca a importância da adaptação do ensino às características dos aprendizes, considerando tanto seus conhecimentos prévios quanto suas capacidades e interesses. Esta adaptação não significa simplificar os conteúdos, mas sim encontrar as vias mais adequadas para que os estudantes possam atribuir significado aos conhecimentos escolares.

3.4. As Contribuições da Psicologia Cognitiva Contemporânea

A psicologia cognitiva trouxe contribuições importantes para o entendimento dos processos de aprendizagem, particularmente no que se refere à memória, atenção e solução de problemas. Ausubel (2000), com sua teoria da aprendizagem significativa, demonstrou a importância dos organizadores prévios e da ancoragem dos novos conhecimentos nas estruturas cognitivas já existentes. Segundo Ausubel, "o fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aprendiz já conhece". Esta afirmação tem profundas implicações didáticas, pois ressalta a necessidade de diagnosticar os conhecimentos prévios dos estudantes e estabelecer pontes entre o que já sabem e o que precisam aprender (AUSUBEL, 2000).

Mais recentemente, as neurociências têm oferecido contribuições relevantes para a compreensão dos processos de aprendizagem. Cosenza e Guerra (2011) destacam que "o cérebro é um órgão social e plástico, que se modifica em função das experiências vivenciadas". Esta compreensão reforça a importância de ambientes educacionais ricos em estímulos e interações sociais.

3.5. Desafios Contemporâneos na Interface Didática-Psicologia

O século XXI apresenta novos desafios para a educação, particularmente no que se refere à diversidade cultural, às tecnologias digitais e às demandas por uma educação inclusiva. A interface entre Didática e Psicologia precisa responder a esses desafios, desenvolvendo abordagens que considerem a complexidade dos contextos educacionais atuais. 

A psicologia cultural, representada por autores como Bruner (1997), tem contribuído para o entendimento de como os significados são construídos culturalmente e como a escola pode ser um espaço de negociação de significados. Esta perspectiva ressalta a importância de considerar as múltiplas vozes e experiências que os estudantes trazem para a sala de aula. Por outro lado, as tecnologias digitais têm transformado radicalmente as possibilidades de mediação didática. Kenski (2012) argumenta que "as novas tecnologias exigem novas formas de ensinar e aprender, baseadas na colaboração, na autonomia e na construção compartilhada de conhecimentos".

4. Conclusão

As interfaces entre a Didática e a Psicologia constituem um dos pilares fundamentais da prática pedagógica contemporânea, pois revelam que ensinar vai muito além da transmissão mecânica de conteúdos. Ensinar, nesse contexto, é provocar o pensamento, é criar condições reais para que o estudante construa o conhecimento de maneira crítica, reflexiva e autônoma. A ação docente, portanto, deve estar alicerçada na compreensão de que o processo de aprendizagem é dinâmico, interativo e profundamente humano, exigindo do educador sensibilidade para lidar com as dimensões cognitivas, afetivas e sociais do aluno.

Compreender o ato educativo sob essa ótica significa reconhecer que o professor é um mediador e organizador de experiências e não apenas um transmissor de saberes. A Didática, ao articular-se com a Psicologia, permite que o educador compreenda como o sujeito aprende, pensa, sente e age diante do conhecimento. Essa integração amplia a consciência pedagógica, possibilitando que o ensino seja orientado não apenas por objetivos instrucionais, mas também por propósitos formativos e emancipatórios. O educador, assim, torna-se um agente de humanização, capaz de favorecer o desenvolvimento integral do estudante e de contribuir para a formação de cidadãos críticos e participativos.

A Psicologia da Educação, ao investigar os mecanismos da aprendizagem e do desenvolvimento humano, oferece subsídios indispensáveis para a prática didática. Correntes como o construtivismo piagetiano e o sociointeracionismo vygotskiano demonstram que o conhecimento é construído por meio da ação e da interação do sujeito com o meio, sendo a escola o espaço privilegiado para essa construção. Dessa forma, a Didática deve criar situações de aprendizagem que mobilizem o raciocínio, estimulem a curiosidade e promovam o diálogo entre o conhecimento científico e o saber cotidiano. A aula, nesse sentido, deixa de ser um momento de mera exposição e passa a ser uma oportunidade de investigação, cooperação e descoberta.

A integração entre Didática e Psicologia reforça também a importância da formação docente voltada para a compreensão das dimensões subjetivas da aprendizagem. Ensinar é, inevitavelmente, um ato relacional e comunicativo, exige do professor o domínio dos conteúdos, mas também o entendimento dos processos mentais e emocionais que permeiam o aprender. Assim, um professor que conhece as bases psicológicas da educação está mais preparado para planejar intervenções pedagógicas eficazes, diagnosticar dificuldades, adaptar metodologias e construir ambientes de aprendizagem inclusivos e motivadores.

Essa aproximação entre Didática e Psicologia ainda contribui para o fortalecimento de uma educação democrática e significativa, centrada no estudante e voltada à sua realidade social e cultural. Quando o ensino parte da experiência vivida, valoriza os saberes prévios e promove o diálogo entre diferentes formas de conhecimento, cria-se um espaço educativo que respeita a diversidade e estimula a autonomia intelectual. A escola torna-se, assim, um lugar de encontro de saberes, de construção de sentidos e de desenvolvimento de competências que ultrapassam os limites disciplinares.

Os desafios educacionais do século XXI marcados pela velocidade das transformações tecnológicas, pela complexidade social e pela necessidade de formar sujeitos autônomos e éticos exigem que o diálogo entre Didática e Psicologia se mantenha aberto, dinâmico e interdisciplinar. As contribuições das neurociências, da psicologia positiva, da aprendizagem socioemocional e das abordagens construtivistas contemporâneas devem ser incorporadas à prática pedagógica, ampliando a compreensão do processo educativo em sua totalidade.

Deste modo, a Didática, enriquecida pelas contribuições da Psicologia, assume um papel estratégico na consolidação de uma educação humanizadora, crítica e transformadora, capaz de responder aos desafios da sociedade do conhecimento. Formar professores que compreendam essa relação é formar profissionais comprometidos com uma prática que valoriza o pensamento autônomo, a criatividade, a sensibilidade e o potencial de cada aprendiz. É reconhecer que ensinar não é apenas transmitir o que se sabe, mas inspirar o desejo de aprender um ato ético, estético e político que define o verdadeiro sentido da educação.

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Ivan Carlos Zampin: Professor Doutor, Pesquisador, Pedagogo, Docente no Ensino Superior, Ensino Fundamental, Médio e Gestor Escolar.

Elza Maria Simões: Bacharel em Administração de Empresas, Professora de Matemática, Matemática Financeira, Pedagoga, Especialista em Educação Especial.

Mery Elbe Simões Ramalho: Pós-graduação em psicanálise, Pedagoga, Graduação em Artes, finalizando pós-graduação em neuropsicologia.

Dulcinéia Alves Fernandes Fogari: Professora, Tecnóloga em Processos Gerenciais, Pedagoga, Psicanalista, Neuropsicopedagoga, Docente do Ensino Superior.

Maria Neuma Simões da Silva: Pedagoga, Especialista em Alfabetização de crianças do Ensino Fundamental, jovens do Ensino Médio e Ensino de Jovens e Adultos.

Márcia dos Santos: Graduada em Licenciatura Plena em Geografia, Pedagoga, Coordenadora de Gestão Pedagógica, Especialista em Gestão Escolar.

 

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