06/07/2015

AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE EDUCAÇÃO BÁSICA A PARTIR DE UMA VISAO SISTEMICA DO MODO DE PRODUÇAO.

AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE EDUCAÇÃO BÁSICA APARTIR DEUMA VISAO SISTEMICA DO MODO DE PRODUÇÃO.

 

Leiliana Rebouças Freire[1]  

 

RESUMO

 

O objetivo desse artigo é analisar a importância da prática psicopedagógica na escola de educação básica (ensino fundamental e médio), propondo verificar o campo de trabalho e o papel que os psicopedagogos desempenham nas escolas, de como acontece à interação psicopedagogo-escola. As políticas públicas têm dificuldade em delimitar a função especifica, através da abertura de mercado no ensino, mesmo ciente da necessidade atual, pois se detecta que as unidades de ensino, mais especificamente, as instituições publicas, não possuem em sua maioria a figura do psicopedagogo e outras estão com problemas sérios pela defasagem do profissional em relação ao número de alunos e pelo sistema de atendimento da sua clientela. A educação formalizada se tornou responsável por grande parte da formação do ser humano. Faz-se necessário observar que os problemas não são apenas de ordem emocional, ou psicológico, mas é imprescindível o psicopedagogo. Entende-se que a função especifica do psicopedagógico na instituição escolar tem caráter preventivo no sentido de procurar criar estratégias para solução dos problemas de aprendizagem. Com esta finalidade e em decorrência do grande número de crianças com dificuldade de aprendizagem e de outros desafios que englobam a família e a escola, a intervenção psicopedagógica ganha, atualmente, espaço nas instituições de ensino de educação básica.

Palavras-Chave: Aprendizagem, Formação Humana. Psicopedagogia.

     AS CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR DE EDUCAÇÃO BÁSICA

Leiliana Rebouças Freire

1 INTRODUÇÃO         

      O objetivo desse trabalho é investigar as contribuições da psicopedagogia na instituição escolar de educação básica. Partindo do pressuposto que a sociedade atual exige, necessariamente, uma educação comprometida com as mudanças sociais. Sendo assim ela pode ser social e historicamente construída pelo homem, e precisa de linguagens múltiplas, capaz de dar conta da diversidade de situações inerentes ao contexto escolar. Essa formação compreende esforços que desenvolvam reflexões permanentes, sobre todos os aspectos inerentes ao âmbito escolar, imerso no sistema de produção que o delineia constantemente. Para a análise opta-se por fazer um recorte que vai das teorias educacionais desenvolvidas nos mais diversos lócus de conhecimento, bem como as práticas desenvolvidas por esses profissionais. No sentido de trazer reflexões sobre essa temática, pergunta-se, o psicopedagogo tem consciência dos ditames das politicas educacionais voltadas para a educação? ; trabalha somente numa perspectiva colaborativa com o sistema educacional vigente?,  Saber também como os saberes são apropriados por esse profissional e como ele media esse conhecimentos na sua atuação profissional é importante. Para responder esses questionamentos discutiremos a luz de teóricos nacionais e internacionais, a saber: Saviani (2003; 2004), Rocha (2011), Sushodholsky (1998), Libânio (1990),Mendes(1997), Luckesi (1993), Sales(1990) ,  bem como acervos que abordem esse assunto e demais fontes que  se destacam de forma geral sobre educação . Com base nesse referencial teórico, pretende-se desenvolver análises no sentido de compreender as contribuições do psicopedagogo no ensino básico. Os procedimentos metodológicos na construção da discussão do tema desse artigo, se caracteriza por uma abordagem exploratória, bibliográfica, situando-nos no campo das praticas psicopedagógicas, enfocando sua contribuições, com o propósito de contribuir  para o enriquecimento das reflexões acerca dessa profissão

2- REFORMAS EDUCACIONAIS: OS NOVOS RUMOS DADOS A EDUCAÇAO

      As reformas educacionais vivenciadas nas duas últimas décadas do século XX modificaram consideravelmente todo o sistema educacional brasileiro, Saviani (2004) apud Giroux entende que a educação funciona como um espaço privilegiado, onde concomitantemente são socializados saberes sistematizados e transmitidos valores por ela legitimados.

A educação nem sempre teve esse caráter sistemático e metódico, aliás, Libânio (1990), diz que a educação acontece em todos os lugares, mas a partir do momento que o homem começa a submeter à natureza a si, para satisfazer suas próprias necessidades, ele planeja e idealiza suas ações. Esse processo que surge sobre as relações matérias se chama cultura, surgindo assim à educação. A princípio as relações naturais não necessitavam de sistematização, todavia com a complexidade das relações sociais surgindo nas sociedades já em evolução, houve a necessidade de sistematizar o conhecimento, sobrepondo-se ao saber do senso comum.

A educação é erigida como instrumento de repasse desses conhecimentos que o homem acumulou. Assim em cada período da humanidade as relações sociais tendem a se modificar, as necessidades e demandas de uma sociedade, através da educação molda as pessoas ao seu ideal de homem. Luckesi (1993) se arrisca a dizer que a educação sistematizada tem uma intencionalidade, ou seja, a  prática pedagógica, consciente ou inconscientemente está a serviço de um projeto de sociedade. Ainda segundo Liibânio:

A educação é uma prática humana direcionada por uma determinada concepção teórica. A prática pedagógica está articulada com uma pedagogia, que nada mais é que uma concepção filosófica da educação. Tal concepção ordena os elementos que direcionam a pratica educacional, (op.cit. p. 21).

As considerações ora apresentadas são necessárias para mostrar que a história aponta caminhos obscuros percorridos pela educação, pois sempre esteve sob a égide de classes que submetem a maioria da população aos seus ditames. Sendo necessário seu entendimento frente à atuação psicopedagógica no sistema de ensino.

Sendo a educação um dos caminhos que contribui e contribuiu para tal façanha, certamente sua organização pode servir a classe trabalhadora, cumprindo seu papel, mas para isso precisa-se entender o que rege as orientações gerais da educação brasileira. Nesse sentido vale observar alguns aspectos da legislação educacional, mesmo que superficialmente.

A reforma educacional se inicia no Brasil nos anos 90, alguns anos após a redemocratização do país, tem como marco o plano decenal de educação, este deriva da conferência mundial de educação para todos, realizada em Jomtien na Tailândia, em 1990. As reformulações apresentadas atingem a organização da educação, principalmente a partir da Lei 9.394/96(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN - 9394/96)). Por entender que através das políticas públicas o governo redefine suas ações nos diversos setores sociais, deve-se compreender a escola partindo do seu interior, mas, sobretudo percebê-la como imersa no sistema de produção atual. Observa-se que a escola se relaciona de maneira intrínseca com a realidade social mais ampla, nesta perspectiva, as mudanças que ocorrem na sociedade busca na educação um alicerce para satisfazer demandas de mão de obra.

As mudanças em curso, segundo Mendes (1997) são propostas em diversos aspectos, levando a alterações do sistema educacional. Para Bogdam Suchodolski (2000), o projeto de sociedade na contemporaneidade é apenas a continuidade da proposta burguesa de sociedade, que responde pelos princípios liberais, iniciados no seio da sociedade feudal, intensificado e redefinido as relações sociais através dos mais diversos mecanismos de controle, tendo seu marco nas grandes revoluções da humanidade. Se configurando num modelo de desenvolvimento de competências, com vistas a formação de mão de obra.

Desta feita é mister analisar que tipo de direcionamentos a LDBN/96 propõe a educação, se os investimentos e currículos  proporcionam na prática esses resultados. Deve ser analisada, sobretudo frente às dificuldades que se observa na escola. Os aspectos principais que proporcionam uma educação de qualidade são postergados, visto na falta de investimentos, pacto com universidades que oferecem graduação e pós-graduação as quais não se preocupam com a formação humana necessária ao desvelamento das contradições da sociedade, oportunizando o aprofundamento das dificuldades educacionais.

É sabido que as desigualdades sociais são produzidas no seio da própria sociedade capitalista, tendo suas estratégicas de disfarce nos mais diversos âmbitos da sociedade, visto que é pautada sobre princípios de liberdade, igualdade e fraternidade, cujo lema nos informa Sales (1990) se originou há alguns séculos atrás e esbarra na Revolução Francesa, sendo esta última influenciada pelos ideais do Iluminismo e da Independência Americana (1776). Estão entre as maiores revoluções da história da humanidade.

Ainda com as contribuições de Sales (2009), percebe-se que a revolução Francesa é considerada como o acontecimento que deu início à Idade Contemporânea. Aboliu a servidão e os direitos feudais e proclamou os princípios universais de "Liberdade, Igualdade e Fraternidade" (Liberté, Egalité, Fraternité), frase de autoria de Jean-Jacques Rousseau.

Sales (1990) diz que,  para a França, abriu-se em 1789 o longo período de convulsões políticas do século XIX, fazendo-a passar por várias repúblicas, uma ditadura, uma monarquia constitucional e dois impérios. Curiosamente Saviani (1994) coloca que as Tendências Pedagógicas Liberais tiveram seu início no século XIX, tendo recebido as influências desse período, essas mesmas influências foram também, determinante do liberalismo no mundo ocidental e do sistema capitalista. Onde estabeleceu uma forma de organização social baseada na propriedade privada dos meios de produção, o que se denominou como sociedade de classes. Sua preocupação básica é o cultivo dos interesses individuais e não sociais.

Os modelos ou tendências pedagógicas historicamente produzidas, de acordo com as teorizações de Saviani (2003) e Libâneo (1990),seus pressupostos fundamentais e implicações para a formação dos agentes do meio educacional foram repensados com a ascensão da classe burguesa. Sendo assim, a educação  atual, tem basicamente sua origem em movimentos sociais, filosóficos e antropológicos em determinados momentos da história humana, terminam assim por influenciar as práticas pedagógicas associadas às expectativas da sociedade que esse pretende erigir.

Para Sushodholsky (1998) a existência do homem [o eu empírico] tornou-se o fulcro da sua educação, assim, colhem os princípios da educação na realidade concreta existente. Dessa forma  defende que:

A educação pautada na existência Constitui desde fins do século XIX a corrente de maior importância da pedagogia burguesa, base de numerosos sistemas de grande diversidade e reputação. Os inspiradores dessa nova educação são os seguintes, no Século XVII – Hobbes, Leibniz, dentre outros, Século XVIII – Rousseau, Pestalozzi, Froebel, Século XIX – Decroly, Stirner, Spencer, Gentile, Dewey, dentre outros, (op.cit.p.76)

Para discorrer sobre aspectos relacionados à educação é preciso partir de uma visão sistêmica de sociedade, sobretudo seus aspectos filosóficos, sendo a educação um complexo privilegiado, e carregada de sentidos. Saviani (2003), quando se referindo à especificidade da educação, diz que a educação, constitui “[...] o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens” (op.cit. p. 13).

Levando em conta a categoria que proporciona a construção da existência humana, cabe analisá-la, de forma a penetrar na realidade pragmatista que atribui à escola a tarefa de redimi-la das distorções, cujo propagador é o próprio sistema. Na atualidade alguns discursos ganharam força na teoria da educação. Estes discursos e teorias, centrados na problemática educacional e na contradição existente entre teoria e prática produzem certas conformações e acomodações entre os educadores e nas equipes multidisciplinares que contribuem com a educação.

A problemática da educação está atrelada as mais variadas situações associadas; valores humanos, ausência e/ou ruptura de valores essenciais ao convívio humano, assim, como despreparo profissional dos educadores, salas de aula superlotadas, cursos de formação acelerados, salários baixos, falta de recursos, currículos e programas pré-elaborados pelo governo, dentre tantos outros fatores, tudo em busca da redução de custos.

Todas essas questões contribuem de fato para a crise educacional, mas é preciso ir além e buscar compreender o núcleo dessa problemática, encontrar a raiz desses fatores, entendendo de onde eles surgem. A grande questão é: qual a origem desses fatores que mantem as crônicas defasagem no ensino-aprendizagens da educação? Certamente a resposta para uma discussão tão atual como essa surja com o estudo sobre as bases que compõem a sociedade atual. Pois, ao analisar o sistema capitalista nas suas mais amplas esferas, descobre-se que todas essas problemáticas surgem da forma como a sociedade está organizada com bases na propriedade privada, lucro, exploração do ser humano e da natureza e se manifestam na ideologia do sistema.

3 INTERESSE PELA PSICOPEDAGOGIA

Analisando de forma ampla a educação e sabendo dos condicionantes históricos, e que a produção das desigualdades educacionais parte muitas vezes do próprio sistema, que é elitista e dual. Surge então o interesse pela presente temática, logo que ingressei no curso de psicopedagogia, ao perceber o quanto  que   qualidade educacional é determinada por diversos aspectos , e que os sujeitos envolvidos  no curso partem do interior da escola, secundarizando o meio que  a organiza e determina.  Para que se concretize uma prática psicopedagógica eficaz é necessário entender que interesses estão por trás dessas práticas, ou seja, que tipo de sociedade objetiva-se. A escola pública aponta para a necessidade de por uma educação que prime por desvelar as relações sociais injustas.

Convivendo com professores, coordenadores e alunos, por um curto espaço de tempo, perceber-se que a prática pedagógica condiciona as relações verticais já orientadas pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), mas em meio às contradições a psicopedagogia tem sua importância no contexto educacional atual, se, e somente se, levarem em consideração as relações macro que orientam o sistema educacional geral.

A educação oferecida hoje pauta-se numa concepção construtivista, mas a realidade sem as condições objetivas que proporcionem tal aprendizagem caem num vazio, que se caracteriza pelo verbalismo e informações, onde o aluno não compreende a função social da escola, tampouco entende a razão de sua presença no âmbito educacional.

A aprendizagem ainda é entendida como acumulação de conhecimentos onde cada professor cuida de sua disciplina, sem conexão com as demais e sem levar em conta a experiência e os significados que os alunos haviam construídos ao longo de suas experiências pessoais. Nesse processo de busca e reflexão um questionamento sempre vinha à tona: como educar sem que o processo educativo se transforme num instrumento de manutenção do sistema? A necessidade de uma visão mais abrangente de sociedade e as praticas dos profissionais da educação devem pautar-se em orientações que deem conta da dinâmica social vigente. Os embasamentos teóricos devem ajudar a orientar uma práxis que venha de encontro as reais necessidades da escolas, que não restringem apenas aos problemas d e ordem psicológica.

4 SURGIMENTO DA PSICOPEDAGOGIA

A psicopedagogia surge na Europa no Século XIX, especificamente surgiu da preocupação com problemas de aprendizagem. Versaram sobre o problema, filósofos, médicos e educadores. Rocha (2011) diz que os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946, por J Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes Centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar e atender crianças com dificuldades de aprendizagem, seja de caráter de evolutivo, normal ou patológico, assim como a influência do meio (família, escola e sociedade).

Conceituar psicopedagogia não é uma tarefa fácil, visto que é uma área de estudo, a qual tem procurado sistematizar seu corpo teórico próprio, delimitar seu campo de atuação, para isso recorre a diversos ramos epistemológicos, psicologia, psicanálise, psicolinguística, fonoaudiologia, medicina e pedagogia. Dessa forma , em Saviani(2004) o campo do saber que se constrói a partir de dois saberes e práticas: pedagogia e a psicologia. É mister observar que o objeto da psicopedagogia está diretamente ligado a sua necessidade de criação, pois surgiu da necessidade de um profissional que trabalhasse na fronteira  entre  a pedagogia  e a psicologia,  a partir das necessidades de atendimento a crianças com distúrbios de aprendizagem, que acreditava-se que eram inaptas para o sistema educacional da época.

Rocha (2011) informa que as contribuições de equipes multidisciplinares iniciaram-se no Século XIX. Pestalozzi fundou na Suíça um centro de educação, Maria Montessori, da área psiquiatra, criou um método de aprendizagem para crianças retardadas, posteriormente o método foi estendido a outras crianças, aprendizagem pela estimulação de sentidos, usando o lúdico para despertar a criança, cores, bloco logico, etc. Declory criou centro de interesse destinado à educação infantil, que prevalecem ate hoje. Essas são contribuições iniciais dentre outras.

Espera-se que através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender o caso para determinar uma ação reeducadora. Surgem pensamentos tentando resolver alguns problemas buscando diferenciar as crianças que não aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial, se configurando assim em uma das preocupações da época.

Nota-se que a psicopedagogia teve uma trajetória significativa tendo inicialmente um caráter médico-pedagógico dos quais faziam parte da equipe do Centro Psicopedagógico: médicos, psicólogos, psicanalistas e pedagogos. A psicologia escolar surgiu para compreender as causas do fracasso de certas crianças no sistema escolar enquanto a psicopedagogia surgiu para o tratamento de determinadas dificuldades de aprendizagem específicas; é uma área plenamente interdisciplinar.

A psicopedagogia chegou ao Brasil, na década de 70, cujas dificuldades de aprendizagem nesta época eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos. Rocha (2011), diz que foi introduzida aqui no Brasil baseada nos modelos médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas de aprendizagem que se iniciaram, a partir de 1970, cursos de formação de especialistas em Psicopedagogia na Clínica Médico-Pedagógica de Porto Alegre, com a duração de dois anos

Rocha (2011) informa ainda que o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil, foi o criador da epistemologia convergente, linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia:

 Escola de Genebra - Psicogenética de Jean Piaget (já que ninguém pode aprender além do que sua estrutura cognitiva permite), Escola Psicanalítica - Freud (já que dois sujeitos com igual nível cognitivo e distintos investimentos afetivos em relação a um objeto aprenderão de forma diferente) e a Escola de Psicologia Social de Pichon Rivière (pois se ocorresse uma paridade do cognitivo e afetivo em dois sujeitos de distinta cultura, também suas aprendizagens em relação a um mesmo objeto seriam diferentes, devido as influências que sofreram por seus meios socioculturais), (op.cit, p. 66).  

Enfim, a atuação psicopedagógica abrange diversos âmbitos da sociedade. O profissional formado na área pode atuar de forma preventiva e terapêutica. Na sua função preventiva, cabe ao psicopedagogo detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa a fim de favorecer o processo de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos; realizar processo de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.

 

5 O PSICOPEDAGOGO NA ESCOLA (INSTITUIÇÃO ESCOLAR)

 

 O psicopedagogo institucional, como um profissional qualificado, está apto a trabalhar na área da educação, assistindo aos professores e a outros profissionais da instituição escolar visando à melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem, bem como para prevenir problemas de aprendizagem.

Por meio de técnicas e métodos próprios, o psicopedagogo possibilita uma intervenção psicopedagógica visando à solução de problemas de aprendizagem em espaços institucionais. Juntamente com toda a equipe escolar, deve este empenhado na construção de um espaço adequado às condições de aprendizagem. Elege a metodologia e/ou a forma de intervenção com o objetivo de facilitar e/ou desobstruir tal processo.

Os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativo. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar. A psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor.

Ao psicopedagogo cabe avaliar o aluno e identificar os problemas de aprendizagem, diagnosticando-o juntamente com outros profissionais, buscando conhecê-lo em seu potencial construtivo e em suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando necessário, para outros profissionais - psicólogo, fonoaudiólogo, neurologista, entre outros. Onde será realizado diagnóstico especializado e exames complementares com o objetivo de favorecer o desenvolvimento da potencialização humana no processo de aquisição do saber.

Para estudiosos da área, as evidências sugerem que um significativo número de alunos possui características que requerem atenção educacional diferenciada, sendo assim, um trabalho psicopedagógico pode contribuir muito, auxiliando educadores a buscar e aperfeiçoar seus conhecimentos sobre as teorias do ensino-aprendizagem e as recentes contribuições de diversas áreas do conhecimento, resinificando-se e redirecionando-as numa ação educativa.

Esse trabalho permite que o educador se olhe como um sujeito que concomitantemente se redefine, aprende e que ensina. Além do já mencionado, o psicopedagogo está preparado para auxiliar os educadores realizando atendimentos pedagógicos individualizados, contribuindo para a compreensão de problemas na sala de aula, permitindo ao professor ver alternativas de ação e ver como as demais técnicas podem intervir, bem como participando do diagnóstico dos distúrbios de aprendizagem e do atendimento a um pequeno grupo de alunos.

Para o psicopedagogo, a experiência de intervenção junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito importante e enriquecedora, não só a sua intervenção junto ao professor é positiva, mas o psicopedagogo aprende ao mesmo tempo em que pretende ensinar, ou seja, ele também é um aprendente. Também o é a sua participação sistêmica na escola - em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento dos filhos; em conselhos de classe, avaliando o processo metodológico; na escola como um todo, acompanhando a relação professor e aluno, aluno e aluno, aluno que vem de outra escola, sugerindo atividades, buscando estratégias e apoio.

Segundo Bossa (1994), cabe ao psicopedagogo detectar eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, ajudando na integração. Indicando metodologias de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando assim processos de orientação.

No que tange ao caráter assistencial, o referido profissional participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas educacionais, levando aos professores, diretores e coordenadores reflexões que possibilitem repensar o papel da escola frente a sua pratica e às necessidades individuais de aprendizagem da criança. Dentre algumas ações, destacam-se: orientação direcionada aos pais, auxílio aos professores e demais profissionais nas questões pedagógicas, colaboração com a direção para que haja um bom entrosamento em todos os  integrantes da instituição e, Socorrer o aluno que esteja sofrendo, qualquer que seja o problema.

O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno e orientado através de uma visão do sistema educacional e suas peculiares determinações, observando assim os espaços disponibilizados para que a escola viabilize condições para atender às necessidades de aprendizagem. Para tanto é importante analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem. Desta forma, o fazer psicopedagógico se transforma podendo se tornar uma ferramenta poderosa no auxílio do ensino-aprendizagem.


6 A INTERVENÇÃO DO PSICOPEDAGOGO JUNTO À FAMÍLIA

 

O conhecimento e o aprendizado não são adquiridos somente na escola, mas também são construídos pela criança em contato com o social, dentro da família e no mundo que a cerca. Para o professor Libânio (1992):

Educar é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa a direção o que é suscetível de educação. O ato pedagógico pode então, ser definido como uma atividade sistemática de interação entre seres sociáveis, tanto no nível intrapessoal como no nível da influencia do meio, interação essa que se configura numa ação exercida sobre sujeitos ou grupos de sujeitos visando provocar nelas mudanças tão eficazes que os tornem elementos ativos, dessa própria ação exercida (op.cit, 98).

Quando uma criança aprende um novo modo de executar uma brincadeira, um modo de ser, não suprime o modo anterior, ao contrário, incorpora o modo anterior ao novo modo de execução. É o novo que nasce do velho, incorporando-o por superação.

Pode-se dizer, então que a educação não pode ser compreendida a margem da história, mas apenas no contexto em que os homens estabelecem relações entre si, dessa forma a família é o primeiro vínculo da criança e é responsável por grande parte da sua educação e da sua aprendizagem, por meio dessa aprendizagem a criança é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a construir seus conhecimentos, seus saberes. Entretanto, na realidade, o que se tem observado é que as famílias estão perdidas, não estão sabendo lidar com situações novas.

 A nova forma de sociabilidade tem modificado o cotidiano das famílias, pressionados pelas demandas do mundo moderno, os pais têm uma carga horária de trabalho que não possibilita uma maior convivência com os filhos, ficam fora o dia inteiro ou pais desempregados, as brigas, as drogas, os pais analfabetos, pais separados e mães solteiras, ou seja, crises nas instituições sociais.

As famílias acabam transferindo suas responsabilidades para a escola, sendo que, em decorrência disso, formam-se gerações cada vez mais dependentes e a escola tendo que desviar de suas funções para suprir essas necessidades. A escola se converteu na principal instituição socializadora, onde deve resolver a maioria desses problemas. Lugar esse, em que os meninos e as meninas têm a possibilidade de interagir com iguais e onde se devem submeter continuamente a uma norma de convivência coletiva.

Considerando o exposto, cabe ao psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam dificuldades na aprendizagem, por meio, por exemplo, de uma entrevista e de uma anamnese com essa família, para tomar conhecimento de informações sobre a sua vida orgânica, cognitiva, emocional e social. O que a família pensa, seus anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento de seu filho também são de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar o que diz Bossa (1994) sobre o diagnóstico:

O diagnóstico psicopedagógico é um processo, um contínuo sempre revelável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento da evolução do sujeito. (op.cit, p.74)

Na maioria das vezes, quando o fracasso escolar não está associado às desordens neurológicas, o ambiente familiar tem grande participação nesse fracasso. Boas partes dos problemas encontrados são lentidão de raciocínio, falta de atenção e desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor rendimento intelectual. Pois a que a escola é o meio social também  que têm a sua responsabilidade no que se refere ao fracasso escolar.

Entende-se assim que a família desempenha um papel decisivo na condução e evolução do problema acima mencionado, pois, muitas vezes, não consegue enxergar essa criança com dificuldades, essa criança que, muitas vezes, demonstrar suas necessidades através de suas atitudes, que às vezes são ignoradas ou não perceptíveis, devido a vida ter assimilado um caráter acelerado. A necessidade do vínculo afetivo é primordial para o bom desenvolvimento da criança.   A esse respeito Souza (1995)  diz que...

Fatores da vida psíquica da criança podem atrapalhar o bom desenvolvimento dos processos cognitivos, e sua relação com a aquisição de conhecimentos e com a família, na medida em que atitudes parentais influenciam sobremaneira a relação da criança com o conhecimento (op.cit.p.58).

        A criança só aprende se ela tem o desejo de aprender, as lembranças futuras estarão relacionadas ao que foi significativo no fulcro de sua existência. E para isso é importante que os pais contribuam para que ela tenha esse desejo. A intervenção psicopedagógica também se propõe a incluir os pais no processo, por intermédio de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho realizado junto aos professores. Assegurada uma maior compreensão, os pais ocupam um novo espaço no contexto do trabalho, abandonando o papel de meros espectadores, assumindo a posição de parceiros, participando e opinando.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A profissão do psicopedagogo não está regulamentada, mas se encontra na Comissão de Constituição, Justiça e Redação, na Câmara dos Deputados Federais, para ser aprovada. Enquanto isso, a formação do psicopedagogo vem ocorrendo em caráter regular e oficial em cursos de pós-graduação oferecidos por instituições devidamente autorizadas ou credenciadas.

A aprendizagem humana é determinada pela interação entre o indivíduo e o meio, da qual participam os aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Dentro dos aspectos biológicos, a criança apresenta uma série de características que lhe permitem, ou não, o desenvolvimento de conhecimentos. As características psicológicas são consequentes da história individual, de interações com o ambiente e com a família, o que influenciará as experiências futuras, como, por exemplo, o conceito de si próprio, insegurança, interações sociais, etc.

É pertinente concluir e fundamental entender que a criança seja estimulada em sua criatividade e que seja respondida às suas curiosidades por meio de descobertas concretas, desenvolvendo a sua autoestima, criando em si uma maior segurança, confiança, tão necessária à vida adulta. É preciso que os pais se impliquem nos processos educativos dos filhos no sentido de motivá-los afetivamente ao aprendizado. O aprendizado formal ou a educação escolar, para ser bem-sucedida não depende apenas de uma boa escola ou de bons programas, mas, principalmente, de como a criança é tratada em casa e dos estímulos que recebe para aprender, é preciso entender que o aprender é um processo contínuo e não cessa quando a criança está em casa.

As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para delinear o sistema educacional, mas também compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com tudo o que se relaciona com o desenvolvimento da aprendizagem.

A importância do psicopedagogo frente às dificuldades de aprendizagem começa a configurar-se quando se toma consciência das dificuldades do próprio sistema de ensino, sabendo que os desafios que surgem para o psicopedagogo dentro da instituição escolar relacionam-se de modo significativa com a realidade da sociedade mediada por relações de exploração. A sua formação pessoal e profissional implicam a configuração de uma identidade própria e singular que seja capaz de reunir qualidades, habilidades e competências de atuação na instituição escolar.

O estudo psicopedagógico atinge seus objetivos quando, ampliando a compreensão sobre as características e necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de aprendizagem. Para isso, deve-se analisar o Projeto Político-Pedagógico, sobretudo quais as suas propostas de ensino e o que é valorizado como aprendizagem.

As mudanças políticas, sociais e culturais são referenciais para compreender o que acontece nas escolas e no sistema educacional. O psicopedagogo deve saber interpretar e estar inteirado com essas mudanças para poder agir e colaborar, preocupando-se com que as experiências de aprendizagem sejam prazerosas para a criança e, sobretudo, que promovam o desenvolvimento.

As formações didáticas e especificas e de fundamentos, devem necessariamente contribuir para a formação de um profissional competente, crítico e que entenda a práxis pedagógica, instruídos pelo pensamento de Vasquez (1988), pois entende a atitude do professor, eivada de conhecimentos que o impulsionem a apontar para uma nova prospectiva de ação, descobrindo as contradições inerentes ao modelo de produção atual.

Finalmente entende-se que a psicopedagogia, portando, pode fazer um trabalho entre os muitos profissionais, visando à descoberta e o desenvolvimento das capacidades da criança, bem como pode contribuir para que os alunos sejam capazes de olhar esse mundo em que vive e saber interpretá-lo e de nele ter condições de interferir com segurança e competência. Assim, o psicopedagogo não só contribuirá com o desenvolvimento da criança, como também contribuirá com a evolução de um mundo que melhore as condições de vida da maioria da humanidade.

BIBLIOGRAFIA

 

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[1] Professora substituta do curso de pedagogia, faculdade de filosofia Dom Aureliano matos-UECE, graduada em pedagogia-UECE/2010- Pós-Graduação em Psicopedagogia Institucional - Faculdade Vale do Salgado – FVS/2012.

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