30/08/2006

Aptidão para escolher certo

Múltiplas Inteligências podem ajudar na hora de decidir sua profissão.
Para quem está se preparando para o vestibular, a chegada dos dias de prova traz aquele frio na barriga e a temida pergunta: "será que estou fazendo a escolha certa?". Você já deve estar cansado de ouvir que é preciso pesquisar sobre profissões, carreiras, cursos e mercado de trabalho. Só que também é preciso saber quais são suas aptidões e aprender a desenvolvê-las.

Até a década de 1990, tinha-se a idéia de que a capacidade intelectual era única e medida pelo famoso teste de Q.I. (Quociente de Inteligência). Depois de estudar o cérebro humano, o psicólogo norte-americano Howard Gardner desenvolveu a teoria das Múltiplas Inteligências, na qual cada pessoa possui habilidades específicas em evidência e pode aprender como melhorar cada uma delas.

Originalmente, Gardner listou sete inteligências diferentes - lógico-matemática, lingüística, cinestésica corporal, espacial, musical, interpessoal e intrapessoal. Com base nesses estudos, o também psicólogo Daniel Goleman acrescentou mais duas aptidões na lista inicial - pictográfica e naturalista. Mas não deve parar por aí. Os estudiosos continuam pesquisando e a tendência é que novas inteligências sejam descobertas.

Tá, mas e como isso pode te ajudar na hora de escolher uma profissão? "A escolha universitária é muito delicada. Não é uma teoria ou um teste que vai apontar o que o indivíduo vai fazer bem, mas é um aspecto que pode ajudar bastante", afirma a professora do departamento de Psicologia da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) Ana Maria Stingel. É saber como você gosta de funcionar, identificar o que gosta e sabe fazer, conciliando com o lado profissional.

E não é porque você é muito bom em matemática que terá que seguir algo na área de exatas. O raciocínio matemático pode ser excelente para médicos e psicólogos compreenderem determinadas situações. Ou então, um jornalista com forte inteligência musical pode ser ideal para a assessoria de imprensa de uma orquestra ou uma banda.

Por isso unir habilidades e gostos é tão importante. O autoconhecimento passou a ser fundamental neste processo de escolha, como explica o psicólogo hebeatra (especializado em adolescentes) Eliseu de Oliveira Neto: "há tempos, a orientação profissional parou de ser norteada somente numa cotação estatística de habilidades do jovem. Hoje em dia, é importante que eles saibam quais seus pontos fortes e fracos, o que podem ou devem desenvolver e qual a relação da escolha com sua história de pessoal de vida".

Todo mundo tem capacidade para desenvolver todas as inteligências, mas, obviamente, cada pessoa tem mais facilidade com uma ou outra aptidão. Não basta, porém, se acomodar com os conhecimentos básicos. Você precisa exercitar as habilidades de forma prática, de acordo com a necessidade de cada uma - ler, escrever, fazer contas, atividades físicas, ouvir música, fazer terapias, etc.

A universidade também é uma ótima escola para aperfeiçoar as habilidades, segundo Oliveira Neto. Um exemplo citado pelo psicólogo é o caso do curso de Arquitetura - o aluno nem sempre sabe desenhar muito bem, mas dentro do curso haverá disciplinas para ensiná-lo. Utilizar seu hobbies também é uma ótima ferramenta para exercitar as aptidões.

Mercado de trabalho

Descobrir as inteligências não é útil somente na fase universitária. O mercado de trabalho está começando a valorizar profissionais com aptidões diferenciadas e que se conheçam o suficiente para saber desenvolvê-las. "É importante ter inteligência emocional para avaliar o ambiente de trabalho e saber reagir de forma que o profissional consiga se relacionar com todo mundo", explica a gerente de produto efetivo da Gelre, Sidnéia Palhares.

Apesar de muitos selecionadores ainda não utilizarem e nem conhecerem a teoria, Sidnéia afirma que, cada vez mais, o assunto vem sendo divulgado em palestras, workshops e seminários. Ela ainda acredita que "daqui a algum tempo, conhecer e saber otimizar as inteligências vai ser necessário no mercado".

O psicólogo Eliseu Oliveira Neto ressalta que a teoria das Múltiplas Inteligências não pode ser usada para rotular ou rejeitar os candidatos de um processo seletivo. "O objetivo do teste não é rotular ninguém. É nomear as coisas e, a partir dessa nomeação, poder perceber melhor as características e investir nas áreas necessárias", completa.

Entenda cada inteligência

Lógico-matemática: capacidade de solucionar problemas envolvendo números e outros elementos matemáticos, perceber a relação entre as coisas, saber, por exemplo, como um computador funciona. Envolve todas as ciências exatas. Exemplos de profissões: engenheiros, físicos, químicos, técnicos em informática e médicos. Albert Einstein é um exemplo de pessoa com inteligência lógico-matemática.

Lingüística: habilidade para lidar com as palavras, para expressar idéias, memorizar o que se fala, gostar e saber como falar, usar a linguagem para representar o mundo - é a inteligência responsável pela comunicação. Exemplos de profissões: políticos, professores, jornalistas, vendedores e escritores. Grandes autores, como Jorge Amado, têm grande potencial lingüístico.

Cinestésica Corporal: capacidade de usar o corpo de maneiras diferentes e hábeis, saber como se movimentar, gostar de exercícios físicos, pessoas que desenvolvem essa inteligência costumam usar muitos gestos quando falam. Exemplos de profissões: atletas, dançarinos e atores. Essa aptidão pode ser encontrada em atletas como Pelé e Michael Jordan.

Espacial: habilidade para memorizar cenas, noção de espaço e direção, saber onde está e quais são as referências a sua volta, criatividade e imaginação. Exemplos de profissões: arquitetos, engenheiros e decoradores. Um bom exemplo é o arquiteto Oscar Niemeyer.

Musical: pessoas com o chamado "ouvido absoluto", capacidade de organizar sons de maneira criativa, ouvir uma melodia e não esquecer mais, tocar uma música que nunca tocou antes, reconhecer notas e acordes. Exemplo de profissões: músicos, cantores, compositores. Os compositores Beethoven e Mozart possuíam inteligência musical.

Interpessoal: habilidade de compreender os outros, se dar bem com as pessoas, saber se comunicar, ter empatia (saber o que o outro está sentindo), gostar de estar entre outras pessoas - indivíduos com inteligência interpessoal em evidência costumam ser bons líderes. Exemplos de profissões: psicólogos, advogados, assistentes sociais, apresentadores de TV e administradores. Silvio Santos, por exemplo, tem capacidade interpessoal.

Intrapesssoal: capacidade de relacionamento consigo mesmo, saber se entender, gostar de passar tempo sozinho, compreender os próprios sentimentos - relacionada com a auto-estima. Exemplos de profissões: psicólogos e filósofos. Os filósofos clássicos, como Platão, podem ser exemplos de inteligência interpessoal.

Pictográfica: habilidade de transmitir mensagens por meio de desenhos, figuras e imagens, memorização de cenas e lugares. Exemplos de profissões: desenhistas, escultores, designers e publicitários. Pintores como Leonardo da Vinci e Pablo Picasso são bons exemplos.

Naturalista: sensibilidade à natureza e ao meio ambiente. Capacidade entender o meio natural e identificar como as coisas acontecem, compreender, por exemplo, como as plantas crescem e se desenvolvem. Exemplos de profissões: paisagistas, biólogos e ecologistas. O britânico Charles Darwin, que desenvolveu uma teoria sobre a evolução dos seres vivos, é um exemplo de quem tem aptidão naturalista.

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