07/03/2017

APROVAÇÃO CONTINUADA E DESCONTINUADA

Por Claudinei José Martini

Professor. Especialista em Educação a Distância, Mídias na Educação e Ensino de Ciências

A quem interessa o sistema de reprovação e exclusão sociais ainda marcadas por relações educacionais do final do século XIX e início do século XX, principalmente entre professor e aluno. Uma relação manifestada pelo autoritarismo, tanto da escola, da família e do professor, onde a premissa é manter o controle da sala de aula a qualquer preço, inclusive com castigos físicos, pois a criança e o jovem são vistos como adultos em miniatura e por sua vez deve se comportar como tal.

Esta visão equivocada e inadequada transforma o professor como um ser superior, dono e detentor do saber, referência para a qual os alunos devem respeito e assim seguir, resultando com reprovações em massa, favorecendo a elite brasileira e com clara proposta de exclusão dos desfavorecidos social e economicamente.

Felizmente aos meados do século XX, a educação passa a tomar novos rumos graças aos ideais democráticos que se expandem no mundo, chegando ao Brasil às ideias de democratização da informação e do saber, criando condições de acesso às camadas mais populares no ensino público que vai se desenvolver graças a diferentes contribuições cientifica no campo da psicologia, pedagogia, neurologia e do sócio construtivismo, onde, a aprendizagem se dará de forma progressiva tendo o aluno como o centro do processo e o professor de estimular à participação, atividade, pesquisa e comportamento crítico, zelando e garantindo essa aprendizagem.

Aprendizagem que será continua, respeitando os diferentes ritmos e estilos sem interrupções durante o processo, motivando o aluno a aprender de acordo com o ambiente social que vive e dando condições de orientação e reforço escolar para aqueles com maior dificuldade, porém essa nova filosofia encontra muita resistência daqueles que ainda vivem a escola da reprovação, exclusão e da evasão escolar que estatisticamente se mostrou incapaz de promover avanços, uma situação deprimente.

A década de 1990 marca um período novo principalmente na educação pública com a introdução do sistema de progressão continuada em ciclos registrando em seu início um crescimento das matrículas. Com a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394 de 1996), inspirada nos ideais do grande educador Darcy Ribeiro cria condições de acesso ao conhecimento para toda a população. A nova lei vai atender antigas e diversas reivindicações de toda comunidade escolar entre elas a ampliação da carga horária mínima durante o ano letivo.

De fato, essas mudanças trazem de imediato uma drástica queda no percentual de evasões escolares e claro na repetência, onde somente é reprovado o estudante que obtiver faltas em excesso ou por abandono escolar. A aprovação perante os ciclos irá revelar se o professor e a escola falharam, tendo que ser avaliados e questionados do por que esse aluno é retido e ambos sendo convidados a repensar suas metodologias de aprendizagem. A escola do século XXI está exigindo uma escola mais dinâmica, aberta às necessidades de seus educandos que dia após dia compreendem que o saber está em todo lugar e que é preciso despertar neste jovem o espírito da descoberta além daquilo que ele enxerga mostrar que a escola é aberta a novas tecnologias, moderna, acolhedora, um porto seguro ao saber e a vida.

A aprovação continuada trouxe sem dúvida avanços significativos para a sociedade, mas em trinta anos não conseguiu reverter as altas taxas de atraso escolar em muitos jovens que saem das escolas sem saber o mínimo. Com o professor e a escola sendo “engessados” por um sistema que não leva em conta a família, co-autora da responsabilidade de educar, coube ao professor essa responsabilidade.

Família que, muitas vezes, se exime de sua responsabilidade e permite impunemente ao jovem fazer da escola um ambiente livre para práticas e comportamentos inadequados, desmotivando o bom aluno que se empenha com responsabilidade durante o ano todo e vê seu colega que não teve o mesmo sendo aprovado juntamente com ele. A culpa é do professor? Não, é do sistema que não oferece ainda condições de trabalho aos seus profissionais deixando a cargo deles o dever de resolver conflitos, brigas, trabalhar o psicológico e o emocional do aluno sem ao menos ter formação para tal, enfim, a aprovação continuada é louvável ao abrir a escola a todos gratuitamente, mas a que preço? 

 

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