09/09/2025

Aprendizagem de Matemática no Ensino Fundamental: Desafios e Perspectivas do Letramento Matemático

Letramento-matematico-e-aprendizagem-a-partir-do-cotidiano

Vanilda de Deus Silva

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Juliana Cristina Rogerio dos Santos

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Cristina Fagundes Correa Rosa

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Leonice Monteiro

Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Matematica. Especialista em Alfabetização e Letramento. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Cristilene Franco da Cruz

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

 


      A matemática ocupa um lugar central na formação escolar, especialmente no Ensino Fundamental, etapa em que as crianças consolidam as bases para o raciocínio lógico, a resolução de problemas e a compreensão crítica do mundo. Nesse contexto, o conceito de letramento matemático emerge como fundamental, pois não se trata apenas da memorização de fórmulas ou algoritmos, mas da capacidade de mobilizar conhecimentos matemáticos para interpretar situações cotidianas, tomar decisões fundamentadas e participar ativamente da vida social (D’Ambrosio, 2001; OECD, 2018).

      O letramento matemático vai além da alfabetização numérica; envolve competências de leitura, escrita, interpretação e argumentação em contextos matemáticos. Assim, refletir sobre sua relevância no Ensino Fundamental é essencial para compreender os desafios da prática pedagógica e as perspectivas de formação cidadã.

      O termo “letramento matemático” tem sido amplamente discutido nas últimas décadas, sobretudo a partir dos relatórios do Programme for International Student Assessment (PISA), que avaliam a capacidade dos estudantes de aplicar conhecimentos matemáticos a situações do cotidiano. Para a OECD (2018), letramento matemático é a capacidade de formular, empregar e interpretar a matemática em diferentes contextos, desenvolvendo raciocínio e capacidade de comunicação.

      No Brasil, estudiosos como D’Ambrosio (2001) e Lorenzato (2006) defendem que a matemática deve ser compreendida como linguagem e prática social. O ensino, portanto, não pode se restringir ao cálculo mecânico, mas deve priorizar a formação de sujeitos críticos e autônomos.

      O Ensino Fundamental, especialmente nos anos iniciais, é o espaço de alfabetização plena, em que a criança aprende não apenas a ler e escrever textos, mas também a compreender e produzir enunciados matemáticos. Isso envolve:

  1. Reconhecimento de números e operações básicas – etapa inicial para desenvolver o pensamento aritmético.

  2. Compreensão de medidas, formas e espaço – permitindo que a criança compreenda o ambiente em que vive.

  3. Leitura de dados e informações – essencial na sociedade da informação.

  4. Construção de estratégias de resolução de problemas – fomentando autonomia e criatividade.

      De acordo com Nacarato, Mengali e Passos (2009), o processo de ensino da matemática precisa articular o conhecimento formal escolar com as práticas sociais de numeramento, valorizando saberes prévios e experiências cotidianas das crianças. Nesse sentido, o letramento matemático é construído na interação entre escola, vida prática e cultura.

      Para promover o letramento matemático, as práticas pedagógicas precisam ser significativas e contextualizadas. Alguns elementos centrais incluem:

1. Resolução de problemas

      A resolução de problemas, defendida por Polya (1995), é uma metodologia essencial para que o estudante aprenda a pensar matematicamente. Ao enfrentar situações desafiadoras, a criança mobiliza conhecimentos prévios, formula hipóteses, testa estratégias e valida resultados.

2. Situações do cotidiano

      Contextualizar o ensino por meio de situações reais – como interpretar uma conta de luz, calcular descontos ou compreender gráficos – aproxima a matemática da vida prática, favorecendo sua relevância social (Lorenzato, 2006).

3. Uso de jogos e tecnologias

      Jogos matemáticos, aplicativos digitais e softwares educativos favorecem a aprendizagem lúdica, estimulam a motivação e promovem a interação social (Borba & Penteado, 2016). O uso de recursos digitais amplia as possibilidades de representação e exploração de conceitos.

4. Práticas de leitura e escrita matemática

      O letramento matemático requer que o aluno saiba interpretar enunciados, compreender tabelas, gráficos e textos que envolvem dados quantitativos. Para isso, é necessário incentivar a leitura crítica e a produção de registros matemáticos claros e coerentes (Smole, 2003).

      Apesar da relevância do tema, os indicadores educacionais mostram que o Brasil enfrenta sérios desafios no ensino de matemática. Os resultados do PISA (2018) revelam que grande parte dos estudantes brasileiros apresenta baixo desempenho em matemática, ficando aquém da média internacional. Isso reflete dificuldades relacionadas a fatores como:

  • Formação docente insuficiente: muitos professores do Ensino Fundamental não possuem formação específica em Matemática, o que limita a exploração de metodologias inovadoras (Nacarato et al., 2009).

  • Práticas tradicionais: ainda predominam métodos centrados na repetição de exercícios e na memorização, em detrimento de abordagens investigativas.

  • Desigualdades sociais e regionais: a falta de recursos pedagógicos, infraestrutura precária e contextos de vulnerabilidade impactam diretamente a aprendizagem.

  • Baixa valorização da matemática no cotidiano: muitos alunos não percebem a aplicabilidade da matemática em sua vida, o que gera desmotivação.

Considerações finais

      O letramento matemático é condição indispensável para a formação cidadã no século XXI. Mais do que aprender conteúdos formais, é necessário que os alunos do Ensino Fundamental desenvolvam competências para compreender e transformar a realidade por meio da matemática. Isso exige práticas pedagógicas significativas, formação docente sólida e políticas públicas que garantam equidade no acesso ao conhecimento.

      Ao colocar o letramento matemático no centro das discussões educacionais, a escola contribui para formar sujeitos críticos, criativos e preparados para enfrentar os desafios de uma sociedade em constante transformação.

Referências

  • BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. Informática e educação matemática. 6. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.

  • BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017.

  • D’AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

  • LORENZATO, S. Para aprender matemática. Campinas: Autores Associados, 2006.

  • NACARATO, A. M.; MENGALI, B. L. S.; PASSOS, C. L. B. A matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: tecendo fios do ensinar e do aprender. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.

  • OECD. PISA 2018 Results: What Students Know and Can Do. Paris: OECD Publishing, 2018.

  • POLYA, G. A arte de resolver problemas. Rio de Janeiro: Interciência, 1995.

  • SMOLE, K. S. Matemática e literatura infantil. Porto Alegre: Artmed, 2003.

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