Apagão de Professores
Em leitura a um texto de Muzzi (2015)[1] foi relatado que a baixa procura e evasão acendem alertas na UFMG. Oras, será que precisou de tanto tempo para perceberem isso? A classe docente é a mais desvalorizada e criticada no país.
De acordo com o texto da autora, é ressaltado que houve uma redução de quase 90% na procura por cursos de licenciatura e mais de 50% de evasão em alguns cursos em andamento. Isso nos faz refletir quais caminhos estamos trilhando.
Como se não fosse só este problema que passamos pela educação, percebe-se que muitos “profissionais “ se passam por entendidos do assunto, aliás, sequer precisam passar pela licenciatura, e muitas vezes ter um curso superior. A educação é vista como um jogo de futebol, que todos se acham no direito de ser técnico, criticando, sugerindo e até impondo mudanças.
Temos economistas, jornalistas, e outros “istas” que se acham entendidos do assunto educação. Todos estes istas e outros mais profissionais adoram opinar sobre um assunto complexo dando soluções simples a idiotas, tendo como base do problema, o educador.
Ao analisarmos nossa atual educação, temos alguns engenheiros como professores de matemática, profissionais de saúde como professores de biologia e/ou química, advogados como professores de português dentre outros profissionais que se acham no direito de lecionar, o que ficou denominado como amigos da escola, banalizando algo que é para levar a sério.
Cabe aqui uma pequena dúvida: Para ser engenheiro basta ser um bom professor de matemática? Para ser advogado basta ser um bom professor de letras e que ter uma boa oratória? Para ser um profissional de saúde basta ser um bom professor de biologia? Então por que a educação abre espaços para estes profissionais que não são docentes e sim, estão docentes? Vale lembrar que estas observações valem apenas para o ensino fundamental e médio e que para o técnico e superior precisa-se também de profissionais ligados à área.
Os problemas levantados pela autora Muzzi e bem alertado, esbarra também com o desrespeito com a classe docente. Nós docentes não somos respeitados nem pelos políticos e nem pelos pais de nossos alunos. Chegamos muitas das vezes a sermos agredidos fisicamente por alunos, fazendo da tarefa de ensinar um caso de polícia como aconteceu em Porto Alegre 2009, quando uma aluna partiu para agressão física contra a professora. A professora sofreu traumatismo craniano, ficando 15 dias hospitalizada e 6 meses em casa para se recuperar. Ou um outro caso de uma diretora que foi agredida por pai de aluno em 2010 (PE) e em consequência a isso sofre de convulsões. Isso tudo porque um pai de aluno foi chamado à escola para conversar sobre o filho, e sem querer saber de conversa, foi de pronto agredindo a gestora. Claro que estes casos são extremos, mas que felizmente não resultaram em morte como no caso de um professor de uma faculdade em Belo Horizonte que morreu esfaqueado por um aluno dentro da instituição.
Temos inúmeros casos a serem levantados, mas isso seria um fomento a violência, visto que a impunidade se faz imperar e o desrespeito aumentar, desrespeito este corroborado pela covardia com os professores no RJ e no Paraná.
Estamos mediante a uma profissão de alta periculosidade o que só vem a corroborar com o problema relatado por Muzzi. Em contrapartida, temos também bons exemplos como o caso de Singapura, um país que amargava altos índices de analfabetismo e desemprego e quando deixou de ser colônia britânica em 1965, teve sua realidade transformada em 46 anos, tendo um sistema de ensino conhecido hoje como um dos melhores do mundo.
Em uma entrevista concedida pelo Diretor do Instituto Nacional de Educação de Cingapura, em agosto de 2011 pela Revista Educação[2] foi ressaltado por ele que a qualidade do ensino em seu país deu-se devido as ações responsáveis valorizando o docente. Para o diretor, tínhamos uma economia industrial e hoje nossa economia é baseada no conhecimento, tema muito reforçado por mim na obra Gestão do Conhecimento, Educação e a Sociedade do Conhecimento pela Icone Editora (2010), além de outra obra em análise por outra editora de grande renome. Tal obra trabalha Gestão do Conhecimento e Educação Pública. A relevância dessas obras é justamente mostrar o que foi ressaltado pelo entrevistado se colado em prática em nosso país, teremos um relevante avanço na educação.
Vale observar que de acordo com o PISA 2009 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) Cingapura ocupava o quinto lugar em leitura, segundo lugar em matemática e quarto lugar em ciências. Nesta mesma avaliação, o Brasil ocupava o 53º lugar no ranking geral, num total de 65 países que fizeram o exame.
Em mesma época, o então ministro da Educação, Fernando Haddad, informava que a valorização dos docentes seria um dos focos de ação para os próximos anos, e advertia que o Brasil jamais chegaria a meta de 2021 sem enfrentar tal situação dos docentes, pois nenhum dos países bem colocados no ranking paga seus professores um salário menor que do que a média das outras profissões, pois em se tratando de nosso país, a média do salário de um professor é 40% menor que a de uma profissão que exige curso superior.
Obviamente, o problema ressaltado pela autora Muzzi, foca a desvalorização do docente em termos de salários e também sociais, ou seja, status. Isto implica em dizer que os docentes não tem nenhuma representatividade ou valor para a formação das crianças. O diretor entrevistado acima, realçou outro passo importante para a valorização da educação em seu país, que foi criar uma cultura de respeito ao docente, esclarecendo aos cidadãos de seu país a verdadeira função do professor, visto que ele não só dava aulas. Ele é responsável por moldar o futuro de uma nação, visto que todo o futuro de uma nação perpassa pelas crianças que por ele são ensinadas, e ressalta que “Quão mais nobre uma profissão pode ser ?”. Com isso, passaram a enxergar o seu verdadeiro papel e sua contribuição social. Isso se deu devida a uma observação, pois nos países bem colocados no ranking como Finlândia e Coreia, existem um respeito cultural. A sociedade acredita que os professores são profissionais honrados e importantes para o desenvolvimento das crianças.
Vale observar que para a educação mudar, o currículo dos professores também tem que mudar, ou seja, em Cingapura, o currículo dos docentes é baseado no modelo “VHC". De acordo com o diretor, o "V" é para valores, o "H" é para habilidades e o "C", conhecimento, e um valor muito trabalhado nos professores é de que todas as crianças podem aprender.
A valorização do professor perpassa como visto, por vários aspectos e em Cingapura o salário não é a diferença, pois um professor lá é tão importante quanto um engenheiro, e se analisarmos, somos engenheiros do conhecimento a construir uma nação promissora que está cansada de ficar deitada eternamente em berço esplêndido.