Anti-Intelectualismo Vulgar

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

            Às vezes, o que nos diferencia de bestas, é justamente o humanismo, humanismo este defendido na educação por Delors em seu livro Educação: Um Tesouro a Descobrir, publicado pela Cortez em 2001. Para o autor, a educação deve ajudar a desenvolver nos educandos um novo humanismo, tendo este um componente ético essencial, além do conhecimento das diferentes culturas e valores espirituais das diferentes civilizações, além do respeito, já que nossos representantes apenas observam aspectos econômicos e tecnicistas, em meio a ações extrativistas e defastadoras.

            Interessante perceber que estamos passando por crises diplomáticas, e temos na diplomacia, o tato e manejo com pessoas que pensam politicamente diferente. Saber como lidar com conflitos políticos se faz importante. Não cabe a um político que pleiteia ser embaixador chamar o representante de outro país de “idiota”. Não cabe a um presidente de qualquer nação, endossar insultos a esposa de um líder político de outro país. É a mais desprezível atitude de um ser humano, pois só endossa um de seus preconceitos e como a misoginia está enraizada em si.

            Estamos para colher amargos frutos de uma conduta irresponsável e ditatorial.

            De acordo com o Dr. em história Igor Tadeu Camilo Rocha, a crise internacional tem seus complicadores, como por exemplo o alinhamento subserviente aos Estados Unidos, mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém, dentre outras falas e ações inconseqüentes que vão agravando cada vez mais a situação do Brasil no Exterior.

            A situação não é nada agradável para nós brasileiros. Estamos sendo governado mediante um anti-intelectualismo vulgar.

            Não se dá mais crédito as instituições renomadas de pesquisas, e o caso mais recente foi no INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) em que o próprio presidente desmentiu pesquisas realizadas por cientistas sobre desmatamento e incêndios, impondo seu achismo embasado em sua arrogância.

            Este anti-intelectualismo é defendido até mesmo por nosso Ministro da Educação Abraham Weitraub, que possuidor deste cargo, assassina a língua portuguesa e ofende a classe de educadores, bem como comunidades internacionais.

            Cabe ressaltar que anti-intelectualismo refere-se a sentimentos hostis em relação às pessoas intelectualizadas, justificadas no caso da perseguição de Paulo Freire, ou também por suspeição de intelectuais e seus objetos de pesquisa, como aconteceu com as principais instituições de pesquisas.

            O Anti-intelectualismo ocorre com ataques aos méritos da ciência, educação, arte ou literatura. Observe que são justamente áreas atacadas por nosso governo e também ministros e em nome disso, cometem crime de responsabilidade.

            De acordo com Agência Senado[1] a "sanção nesse caso é substancialmente política: perda do cargo ou, eventualmente, inabilitação para exercício de cargo público e inelegibilidade para cargo político. A Lei nº 1.079/50 regula o crime de responsabilidade cometido por presidente da República, ministros de Estado e do Supremo Tribunal Federal, governadores e secretários de Estado".

            Vale lembrar que o presidente dos Estados Unidos Richard Nixon respondeu pelo processo de crime de responsabilidade por ter cometido 3 falhas em seu mandato e uma delas foi a "violação do seu juramento de respeitar a Constituição e do seu dever constitucional de cuidar para que as leis fossem fielmente cumpridas". Já que muitos admiram os americanos, que sigam os seus bons exemplos.

            O anti-intelectualismo tem elevado o obscurantismo na educação sem precedentes e com exemplos nas falas do deseducador Abraham Weitraub quando deixa claro que o “O Brasil tem doutor demais” e critica pesquisas feitas em áreas de humanidades.

            Estamos rodeados em todas as esferas políticas, por pessoas sem sensibilidade moral e ética.

            Deslandes em seu livro O Projeto ético-Político da Humanização, conceitos, métodos e identidade, publicado pela Interface - Comunic, Saúde, Educ, v.9, n.17, em mar/ago 2005, cita Benevídes e Passos (2005) quando aduzem que precisamos ser um misto de altruísmo caritativo e humanismo.

            Encontramo-nos na era do conhecimento e nossas escolas ainda não se encontram preparadas para trabalhar seus alunos para esta sociedade, já que Terra em seu livro do Conhecimento: O Grande Desafio Empresarial: Uma abordagem baseada no aprendizado e na criatividade, publicado pela Negócios Editora em 2001, deixa claro que a principal qualidade dos trabalhadores do conhecimento é o humanismo.

            Humanismo este ausente nas falas de nossos ministros, governantes, políticos, Superior Tribunal Federal dentre outras instituições que ou compactuam com esta barbárie ou simplesmente ignoram, assim como Pôncio Pilatos fez ao lavar as mãos.