27/06/2018

Análise de um Texto Didático

ANÁLISE DE UM TEXTO DIDÁTICO

WALBE TAVARES DE OLIVEIRA.

Resumo:

A tematização da análise do texto didático deu-se a partir da necessidade de sua exata compreensão para um uso eficiente de seu conteúdo. Para isso compreendeu-se as definições de texto, didática e por fim, texto didático, observando suas características, possibilidades de analises desses texto, construção e interpretação para empregá-lo no tema ao qual é destinado. O artigo é apresentado em quatro capítulos que, embora entrelaçados, podem ser lidos independentemente sem prejuízo de entendimento onde cada fase representa momentos distintos da pesquisa.

Palavras-chave: Texto; Didática; Texto didático; Análise; Ensino.

1 INTRODUÇÃO

Há textos, aqueles que são destinados a divulgar conhecimentos científicos, sobretudo, que no primeiro contato, parece um tanto quanto complexos. Nesse artigo é mostrado com mais detalhes, pontos cruciais para o entendimento desse tipo de texto.

            Tratando-se de um texto conceitual, os termos empregados têm sentido exato. Entender esse tipo de texto como um gênero discursivo que tem por objetivo ensinar algo ou explicar um conteúdo específico. Para análise do texto didático faz-se necessário o conhecimento exato dos termos trabalhados, além do conhecimento prévio, também, da definição de texto, de didática e de texto didático, para por fim, fazer a análise e empregar seu conteúdo no campo de estudo. Nesse trabalho encontra-se esses requisitos além de acompanhar o estudo para uma boa análise de texto didático e com isso o bom uso dessa importante ferramenta da pedagogia.

2 TEXTO E DIDÁTICA: DEFINIÇÃO

Pode-se definir texto como um conjunto coerente e coeso de signos que, codificados em um sistema, formam uma unidade de sentido com um propósito significativo. Por sua vez, define-se a didática como a área da pedagogia vinculada aos métodos práticos do ensino.

Para definir e analisar um texto didático faz-se necessário o conhecimento de ambas as esferas que vem posteriormente fundir-se formando uma extensão de nível educativo, um gênero discursivo que tem por objetivo ensinar ou explicar um conteúdo específico a quem não o domina ou não o conhece. A leitura é uma das fontes mais ricas de informação. Ler, portanto, é fundamental, mas não basta ler, é preciso entender o que se ler. Entender o que se ler significa ir além do simples conhecimento do significado das palavras que aparecem no texto. É preciso, também, compreender o sentido das frases, para que se alcance a finalidade maior da leitura: a compreensão das ideias e, num segundo momento, os recursos utilizados pelo autor na elaboração do que foi escrito.

  1. TEXTO

Os textos podem ter diversos focos. Caso sejam focados no leitor, são apelativos. Se focados no escritor, são emotivos. Quando focam no conteúdo da mensagem, são referenciais. Textos são poéticos quando focam na forma da mensagem. Focando no canal de transmissão do texto, são fáticos. Os textos podem, ainda, focar na própria língua em que são escritos, neste caso, são metalinguísticos. Vale reforçar a ideia de que não existem textos independentes, autônomos. Eles sempre se integram a um universo de textos que rementem a uma realidade, dialogando entre si e assumindo um ponto de vista que se contrapõe a outro ponto de vista.

A rigor, um texto seria composto apenas por palavras. Apesar disso, existem textos que são classificados como textos não verbais. Os textos não verbais são aqueles que não possuem palavras, ou seja, são apenas imagens. São exemplos de textos não verbais: tirinhas, charges e histórias em quadrinho sem falas, fotografias, filmes mudos, placas de trânsito, sinais.

Um texto pode ser literário ou não literário. Textos não literários são textos verídicos, como artigos de jornal, anúncios, receitas culinárias, artigos científicos. Textos literários costumam ser ficcionais e são trabalhados para terem uma maior beleza e também maior impacto no leitor.

Embora as linguagens visuais dominem hoje a comunicação vale sublinhar que há sempre um texto, um conjunto coerente de signos, relacionado a cada imagem. Esse, se a não germinou pode traduzi-la, interpreta-la ou, ainda, equiparar-se com ela. Em diferentes contextos e situações produz-se e lê-se textos, cada texto nasce da relação entre diferentes agentes e assume uma configuração temática e estrutural que associa a gêneros do discurso específico como podemos observar nas visões de Platão e Fiorin em Lições de texto.

Os textos têm a propriedade intrínseca de se constituir a partir de outros textos. Por isso, todos eles são atravessados, ocupados, habilitados pelo discurso do outro [...]. Um texto remete a duas concepções diferentes: aquela que ele defende e aquela em oposição à qual ele se constrói. Nele, ressoam duas vozes, dois pontos de vista. Sob as palavras de um discurso, há outras palavras, outro discurso, outro ponto de vista social (Platão & Fiorin, Lições de texto – Leitura e Redação. São Paulo: Ática, 1996, p. 29).

  1. DIDÁTICA

A didática é um instrumento a ser utilizado nos diferentes processos de ensino e aprendizagem visando a orientação técnica e pedagógica relativas à transmissão do conhecimento e o procedimento pelo qual o mundo da experiência e da cultura é transmitido pelo educador ao educando. Assim, podemos dizer que é a parte da pedagogia que se ocupa em colocar em prática as diretrizes da teoria pedagógica sendo o alicerce de uma tradição didática centrada no método e em regras de bem conduzir a aula e o estudo.

Pode-se encontrar diversas concepções de didática, entre elas, fazendo uma análise histórica destacam-se entre as que mais aparecem como objeto de estudo a concepção na Grécia antiga definindo-a como o ato de ensinar, instruir, fazer aprender;

Comênio, educador tcheco, apresenta a didática em sua obra Didactica Magna como a arte de ensinar tudo a todos;

No Aurélio, dicionário mais usado na língua portuguesa, defina a didática como técnica de dirigir e orientar a aprendizagem.

Trabalhando com definições encontra-se entre várias, a concepção por Masetto, Doutor em Psicologia da Educação, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, define como “Reflexão sistemática sobre o processo de ensino-aprendizagem que acontece na escola e na aula buscando alternativa para os problemas na prática pedagógica” (MASETTO, 1994, p.13).

Por reflexão sistemática, define-se didática como estudo das teorias de ensino e aprendizagem aplicadas ao processo educativo que se realiza na escola, bem como dos resultados obtidos. É a partir dela que se leva a reflexão de como organizar o currículo de uma escola, desenvolver a capacitação de professores, motivar os alunos e avalia-los. Busca alternativas aplicando conhecimentos e questões do dia-a-dia e solucionam-se problemas da prática pedagógica.

Aplica-se a didática em várias áreas do desenvolvimento humano como filosofia, sociologia, psicologia, antropologia, política e teorias da comunicação.

A didática no processo ensino-aprendizagem tem como interesse tudo que o aluno aprende na escola, o professor e a turma e o desenvolvimento como um todo observando a inteligência, afetividade, padrões de comportamento moral, relacionamento com a família, coordenação motora, capacidades artísticas e de comunicação.

Por esse prisma, tem-se o indivíduo em contínua evolução/história de seu povo e nação e define-se em três dimensões:

  • Humana – Relacionamento alunos/professores – Interpessoal, afetividade, sucesso ou fracasso;
  • Político social – Escola, políticas governamentais, material pedagógico, orientações e diretrizes governamentais – Processo intencional orientado por objetivos a serem alcançados;
  • Técnica – Definição de objetivos, seleção de objetivos, recursos de ensino, organização de processo de avaliação e planejamento.    

2.3 TEXTO DIDÁTICO: DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO

Tratando do texto didático, infere-se, portanto, ser aquele cuja finalidade é o ensino. Este tipo de texto tem cunho educativo e busca modelar as regras nas teorias pedagógicas. Marina Ferreira, em sua obra Redação: Palavra e Arte, aponta a necessidade do ser humano de organizar seus conhecimentos para transmiti-los às gerações futuras.

O conhecimento humano é tão vasto e se acumula tão rapidamente que é preciso organizá-lo para que seja compartilhado com o máximo de clareza e coerência pelas gerações que se sucedem. Os textos didáticos e enciclopédicos têm a função de organizar e expor esses conhecimentos, resultado de estudos, observações e pesquisas, com objetividade e eficiência. (FERREIRA, Marina, 2010, p.237)

Ampliando o entendimento, a literatura nasce com o objetivo didático, levando em conta que a origem da escrita se detém ao desejo de condensar os conhecimentos que até então eram transmitidos oralmente de geração em geração. Nisso, observa-se a necessidade de criar uma ferramenta que facilite o ensinamento, nasce então a escrita que já fora precedida por desenhos e símbolos.

Outro fato que se pode utilizar para exemplificar a necessidade da busca de ferramentas para transmissão de conhecimento, essa trazendo para tempos não tão remotos e contextualizando com a história do Brasil, é a catequese dos índios na época do descobrimento que se deu por meio de pinturas e imagens esculpidas.

Percebe-se o uso da linguagem não verbal para fins didáticos para aqueles que desconheciam o uso dos textos.

Tratando propriamente do texto didático enquanto gênero, esse teve seu desenvolvimento específico posterior aos clássicos (o drama, a lírica e a épica). Inicialmente, esses textos eram desenvolvidos em formato de códigos ou crônicas e visavam registrar os feitos históricos e fixar as normas de convivência entre os povos.

Com o tempo o que se tinha já não era suficiente e o texto didático passa a apropriar-se de outras formas para transmitir conhecimentos, com o uso de monólogos e diálogos. Com isso, a didática divide-se me diversos subgêneros, pode-se nomear o ensaio, que inclui a perspectiva pessoal do autor; O tratado, onde o tema é analisado de forma exaustiva e a oratória, que procura convencer através da linguagem oral.

Atualmente a maior parte dos textos didáticos são usados no âmbito da educação escolar e servem de apoio aos conteúdos ensinados pelo docente com base nos planos curriculares como podemos ver ainda na obra Redação: Palavra e Arte.  

Muito comum nos livros escolares, o texto didático é o espaço reservado a transmissão do conhecimento das várias disciplinas que constituem o currículo das escolas.

As obras didáticas são elaboradas com base no currículo feito por especialistas e organizadas em função dos anos escolares a que são destinados, daí a necessária adequação da linguagem, predominantemente denotativa, à faixa etária dos estudantes (FERREIRA, Marina, 2010, p.237).

 O texto didático é um gênero textual com objetivos pedagógicos. É disposto de maneira a que todos os leitores tenham a mesma conclusão. Por este motivo, é considerado um texto utilitário. A construção de um texto didático é feita de maneira conceitual, primando pela necessidade do interlocutor de compreender o assunto exposto com base. Antes de analisar a linguagem desse tipo de texto, é importante saber qual a função de um texto de um modo geral.

Nos textos didáticos, nos relatórios, nas teses e nos artigos acadêmicos, é normalmente usada uma linguagem denominada conceitual. É uma linguagem considerada como denotativa, racional, abstrata e tende a apoiar-se em conceitos, leis, princípios e normas. Esta função denotativa da linguagem significa que ela transmite uma informação objetiva sobre a realidade.

As formas de redação ou gêneros literários são os modos em que os textos se estruturam ou se organizam. Quem vai redigir, deve utilizar uma forma de redação adequada para traduzir os conteúdos que deseja transmitir. Geralmente costumam ser utilizadas a dissertação e a exposição.

3 CARACTERÍSTICAS DO TEXTO DIDÁTICO

  • Objetividade
  • Impessoalidade
  • Linguagem acessível ao nível de conhecimento do leitor
  • Abordagem que permite uma única e específica interpretação
  • Frequentemente usado em programas de ensino-aprendizagem
  • Adaptação dos sentidos para a mais clara compreensão da mensagem
  • Coesão
  • Coerência

3.1 OBJETIVIDADE E IMPESSOALIDADE

Um texto é claro quando há transmissão do conteúdo ao interlocutor de maneira que este compreenda a mensagem. Logo, textos mais concisos, ou seja, objetivos, tendem a possuir mais clareza.

A intenção dos atos de escrita e fala é estabelecer comunicação e, para que ela aconteça, é indispensável que a mensagem seja elaborada de forma compreensível. É nessa hora que lançamos mão de um recurso importantíssimo, a clareza textual. A clareza textual está relacionada à coerência e à coesão, dois recursos que não devem faltar em um bom texto. Ela diz respeito à maneira como as ideias são organizadas a fim de que o objetivo final seja alcançado: a compreensão textual. 

Para que o texto seja eficiente, além de fazer uma boa seleção de argumentos para defender sua tese, o autor precisa pensar em quem lerá a produção. As informações precisam ser pertinentes não só para ele, como também para o leitor. 

Elemento importante também é a concisão, característica principal de um texto objetivo, mas tem suas armadilhas. Texto demasiadamente direto, ausência de elementos de realce e condensação excessiva deixam o conteúdo vago e impreciso, impedindo o leitor de chegar a uma conclusão.

Na obra Redação: Pensando, Lendo e Escrevendo, Ernani e Nicola, afirmam: “Nas dissertações objetivas, o autor expõe argumentos de forma impessoal e objetiva, não se incluindo na dissertação, o que confere ao texto um caráter imparcial, facilitando a aceitação, por parte do leitor, das ideias expostas” (ERNANI E NICOLA, 1996, p. 179).

A objetividade com impessoalidade facilita o entendimento do leitor e a ideia proposta pelo autor do texto é aceita mais facilmente. Teremos a impessoalidade no uso dos verbos na 3ª pessoa do singular e do plural (geralmente acompanhados do pronome “se”). Também é recomendada a utilização da 1ª pessoa do plural, que é mais impessoal do que a primeira pessoa do singular. É importante ressaltar que, caso tenha começado a escrever o texto usando uma pessoa gramatical (1ª ou 3ª), deve permanecer assim até o final, para não mudar os pontos de vista defendidos na argumentação.

Quando há um esforço da parte do autor em se distanciar do assunto abordado, tratando objetivamente dos fatos, dizemos que o texto é impessoal. Em textos científicos e argumentativos, como a dissertação, procura-se sempre escrever com impessoalidade, pois essa característica confere maior credibilidade ao texto, como se ele contivesse verdades universais e indiscutíveis.

  1. LINGUAGEM ACESSÍVEL AO NÍVEL DE CONHECIMENTO DO LEITOR

A linguagem no texto didático apresenta termos próprios de cada área e deve estar de acordo com a norma culta, ou seja, deve obedecer aos princípios estabelecidos pela gramática. Levando em consideração que há no leitor um conhecimento prévio sobre o tema a ser estudado, esse conhecimento prévio precisa ser ativado para que a pessoa efetue uma leitura interessante e produtiva de um dado texto. Como premissa, sabemos de antemão que os textos didáticos permanecem apenas favorecendo o movimento ascendente do processamento de informação.

O texto didático pode ser entendido como a concretização de uma necessidade comunicativa de ensinar em ambientes educacionais institucionalizados, inserido no domínio social da transmissão e construção de saberes, sendo compatível com a modalidade discursiva do expor.

3.3 ABORDAGEM QUE PERMITE UMA ÚNICA E ESPECÍFICA INTERPRETAÇÃO

A linguagem será científica e de cunho denotativo mantendo o sentido literal do uso dos termos empregados de modo a evitar múltiplas interpretações.

Segundo Platão e Fiorin “O texto didático é um texto conceitual. Cada termo significa aquilo que denota. Conhecer a terminologia própria de uma dada disciplina para se entender o texto que dela trata” (PLATÃO E FIORIN, 2008, p.404).

  1. FREQUENTEMENTE USADO EM PROGRAMAS DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Entendo textos didáticos propriamente como aqueles que se constituem como textos para ensinar desde a sua gênese, ocorre também a utilização didática de textos autênticos. Ou seja, um texto originalmente produzido sob determinadas condições, com propósito que não o de ensinar, passa a ser explorado para fins de ensino. É o caso, por exemplo, de verbetes de dicionário e artigos de enciclopédia, cujo propósito primeiro é informar, mas que, se levados à sala de aula, podem assumir outros propósitos e prestarem-se para uma exploração didática. Tradicionalmente, o texto para ensinar vem sendo criado ou reproduzido intuitivamente por docentes ao longo dos séculos, sem uma base teórica de sustentação. Hoje, com o apoio da linguística textual e das abordagens discursivas de língua, existem condições para se pensar o texto didático como um amplo domínio discursivo que se subdivide em diferentes gêneros para ensinar.

3.5 ADAPTAÇÃO DOS SENTIDOS PARA A MAIS CLARA COMPREENSÃO DA MENSAGEM

Ao se propor à leitura de um determinando texto, deve-se proceder tendo a consciência de que todo ato comunicativo se perfaz de uma intenção, de uma finalidade. Tal pressuposto reafirma a condição de a própria linguagem cumprir significativamente seu papel social, ou seja, sempre haverá um “outro” assumindo o papel de interlocutor, para que a mensagem seja realmente entendida, compreendida. 

É então, partindo desse entendimento, que se materializam as diversas situações comunicativas as quais se compartilham cotidianamente, sendo que esse materializar procura responder a alguns fatores básicos, estando eles pautados sob os seguintes pilaresO que escrever? Para quem escrever? Por que escrever? Como dizer? Dessa forma, tomando como ponto principal, sobretudo dando ênfase a esse último quesito, ao tratar acerca do texto didático, tão depressa precisa-se compreender que ele se delineia por traços específicos que justamente o constituem como tal. O material didático de língua materna ou estrangeira, assim como o ensino de línguas como um todo, reflete necessariamente uma concepção de língua que norteie sua organização para que a mensagem pré-estabelecida pelo emissor seja, de fato, recebida com clareza pelo receptor. Observa-se visões de língua/linguagem e de ensino na constituição do texto didático sob a forma de pressupostos epistemológicos que se refletem na superfície textual. Duas grandes vertentes podem ser identificadas na literatura: uma, com foco principalmente na organização do texto e em sua função pragmática e outra, mais voltada para o uso social do texto e suas condições enunciativas. No primeiro caso, o texto didático é concebido como texto para ensino, ou seja, o texto que é relativo à instrução, que tem por finalidade o ensinar (SANTOS, 2001, p.15).

Essa finalidade, que lhe é inerente faz parte da sua constituição, não podendo ser-lhe agregada posteriormente, traduz-se por marcas na organização textual (SANTOS, 2001, p. 19). Já que o texto didático é uma unidade textual, como tal apresenta as propriedades textuais de coesão, coerência, precisão, clareza e argumentatividade.

3.6 COESÃO

Entende-se por coesão a conexão interna presente entre os vários enunciados de um texto. Essa conexão se dá através da relação de sentido dos conectivos ou elementos de coesão. A coesão é parte indispensável ao texto didático constituindo com os demais elementos um material confiável. Platão e Fiorin nos mostram que “O uso adequado dos elementos de coesão confere unidade a qualquer texto, embora isso não seja suficiente para tornar consistentes as ideias veiculadas por ele” (PLATÃO E FIORIN, 2008, p. 270). Destaca-se, portanto, a importância desse elemento tanto para a elaboração de um texto didático bem concebido quanto para uma boa interpretação do mesmo, mas não sua autossuficiência.

É através da coesão que se estabelece a relação semântica, relações de sentido entre as palavras, entre os elementos do discurso por meio do uso adequado de conectivos, que servirão para encadear de maneira lógica as ideias do texto. Para escrever um texto coeso, emprega-se cinco tipos de coesão textual:

  1. COESÃO POR REFERÊNCIA

É um dos tipos mais utilizados em um texto. Graças a ela, evita-se repetições de termos, descuido que pode tornar desagradável a leitura de um texto. Com os exemplos que seguem pode-se ter clara noção que a coesão por referência confere ao texto concisão e objetividade:

O professor de língua portuguesa foi homenageado na festa de formatura. Ele recebeu a homenagem dos alunos do terceiro ano.

Em vez de:

O professor de língua portuguesa foi homenageado na festa de formatura. O professor de língua portuguesa foi homenageado pelos alunos do terceiro ano na festa de encerramento.

  1. COESÃO POR SUBSTITUIÇÃO

São empregadas palavras e expressões que retomam termos já enunciados através da anáfora como se pode observar no exemplo a seguir:

O professor recebeu o prêmio pelo bom desempenho em seu projeto. Sendo o próximo tão bom quanto, ele voltará a receber.

Em vez de:

O professor recebeu o prêmio pelo bom desempenho em seu projeto. Sendo o próximo projeto tão bom quanto o anterior ele voltará a receber o prêmio.

  1. COESÃO POR ELIPSE 

Ocorre por meio da omissão de uma ou mais palavras sem que isso comprometa a clareza de ideias da oração:

O aluno fez a especialização e ao mesmo tempo matriculou-se em um novo curso.

            Em vez de:

            O aluno fez a especialização e ao mesmo tempo o aluno matriculou-se em um novo curso.

  1. COESÃO POR CONJUNÇÃO 

Esse tipo de coesão possibilita relações entre os termos do texto através do emprego adequado de conjunções:

Como não consegui ingressos, não fui ao show, contudo, assisti ao espetáculo pela televisão.

  1. COESÃO LEXICAL 

Ocorre por meio do emprego de sinônimos, pronomes, hipônimos ou heterônimos. Observe o exemplo:

Machado de Assis é considerado o maior escritor brasileiro. O carioca nasceu no dia 21 de junho de 1839 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 29 de setembro de 1908. Gênio intelectual de nossas letras, foi um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. 

coesão, portanto, tem a ver com o aspecto formal do texto: as palavras se conectam, se relacionam umas com as outras no interior do texto, conferindo-lhe um aspecto de unidade, de totalidade e não de fragmento ou de algo incompleto. Um aspecto interessante da coesão textual é que esse nível de análise é contemplado nas matrizes de referência de habilidades de leitura utilizadas nas avaliações do governo brasileiro. Isso significa que compreender a natureza das relações coesivas nos textos é fator imprescindível na compreensão, além de ser objeto de aferição da competência leitora.

  1. COERÊNCIA

A capacidade de analisar, de modo coerente, um texto didático está na seleção e na articulação de ideias, informações, argumentos e conceitos compatíveis entre si que irão produzir como resultado um entendimento claro e objetivo. 

O conceito de coerência textual refere-se à relação lógica entre ideias, situações ou acontecimentos. Em sua obra “Coerência textual”, os estudiosos Koch e Travaglia definem a coerência como “um princípio de interpretabilidade, ligada à inteligibilidade do texto numa situação de comunicação e à capacidade que o receptor tem para calcular o sentido deste texto”. Assim sendo, a coerência é o que faz com que o texto faça sentido para os usuários da língua. A coerência de um texto está diretamente relacionada com a sua significação e não com os elementos estruturais que podemos encontrar nele. Este conceito diz respeito à propriedade do texto que permite a construção do sentido a partir dele mesmo. A falta de coerência fica clara quando o leitor não é capaz de perceber de que modo as informações apresentadas em um texto se articulam.

Platão e Fiorin na obra Para entender o texto: Leitura e Redação, apontam a coerência das ideias como uma qualidade indispensável para qualquer tipo de texto:

[...] sempre se aponta a coerência das ideais como uma qualidade indispensável para qualquer tipo de texto. Mas nem todos explicam de maneira clara em que consiste essa coerência, sobre a qual tanto se insiste, e como se pode consegui-la.

Coerência deve ser entendida como unidade de texto. Um texto coerente é um conjunto harmônico, em que todas as partes se encaixam de maneira complementar de modo que não haja nada destoante, nada ilógico, nada contraditório, nada desconexo. No texto coerente, não há nenhuma parte que não se solidarize com as demais (PLATÃO & FIORIN, 2008, p. 261).

Um texto coerente será aquele através do qual os interlocutores captam ou identificam as relações de sentido que se manifestam entre os enunciados. Trata-se de uma capacidade de compreensão global e construção do(s) sentido(s) do texto. A coerência pode ser entendida como a concordância entre ideias num texto.

Geralmente, após a apresentação das informações, dados e conceitos associados a um tópico, o texto didático propõe atividades a serem desenvolvidas pelo leitor. O objetivo dessas atividades é permitir que o leitor verifique se compreendeu os conceitos apresentados, esperasse que esse seja capaz de estabelecer relações entre informações e conceitos diferentes para elaborar hipóteses explicativas para a situação/problema apresentada.                    

4 POSSIBILIDADES DE LEITURA DE UM TEXTO DIDÁTICO

Considerando sua estrutura e seus códigos, o texto estimula atos que desencadeiam a produção de sentidos. E para essa produção entram em funcionamento diversos fatores que são da instância do próprio texto, do leitor e da historicidade de ambos. Assim, o processo de leitura não está polarizado nem no texto e nem no leitor, pois, por meio da leitura, o leitor filia o texto em uma outra historicidade que difere daquela de sua produção, e reinscreve-se em uma outra historicidade que não a sua.

Alguns procedimentos devem ser levados em consideração para a leitura do texto didático. Para iniciar essa atividade de leitura é válido seguir uma sequência de encaminhamentos, perpassando por três instâncias da construção da leitura:

4.1 RESGATE DE LEITURAS PRÉVIAS           

O que o indivíduo já conhece diante do texto a ser lido;

            Conhecimentos a respeito do autor do texto, assim como vocabulário usado para aquele gênero textual.

            Na forma de apresentação das informações, o texto didático considera os conhecimentos prévios ou não do interlocutor. Ou seja, quando o interlocutor não tem conhecimentos prévios sobre o assunto, o tema é apresentado e destrinchado de acordo com o nível de entendimento.

O mesmo ocorre quando já há algum tipo de conhecimento prévio. Nesse caso, a mensagem é adaptada ao nível das informações adquiridas previamente pelo leitor.

É preciso ter em mente que um texto didático não é figurativo e, por este motivo, os termos são empregados de maneira exata.

Esse é o tipo de texto utilizado em livros didáticos, por exemplo, artigos científicos e programas de educação.

4.2 LEITURA DO TEXTO

A leitura do texto deve seguir considerando os seguintes aspectos de produção:

A estrutura do texto (forma e constituição);

Os códigos discursivos (verbais e não-verbais);

Os recursos discursivos (gramática do texto imagético);

4.3 EFEITO E SENTIDO

A produção de efeito de sentido da leitura do texto, deve levar em consideração elementos importantes como:

A intertextualidade – relação do texto com outros textos;

A memória discursiva – saber enciclopédico do leitor inscrito numa memória social coletiva;

O interdiscurso – presença de diferentes discursos, oriundos de diferentes momentos na história e de diferentes lugares sociais, entrelaçados no interior de um discurso;

O sentido – efeito construído por meio da leitura do texto num processo de troca de linguagem entre texto e leitor.

Ler um texto com objetivos pedagógicos, sustentando-se no reconhecimento dos recursos próprios da linguagem didática, certamente produzirá sentidos mais fluentes ao sujeito leitor, daí a ênfase nas questões mais pertinentes a leitura do texto verbal, em específico do texto didático. Silva (2003: 103) afirma que:

O ensino de leitura sempre pressupõe três fatores: as finalidades, os conteúdos (textos) e as pessoas envolvidas no processo, ou seja, as características dos alunos e da turma a ser trabalhada. Sem a presença desses três fatores, o trabalho com a leitura / literatura corre o risco de se tornar vazio ou um “receituário” em que se repetem esquemas já prontos (SILVA, Ezequiel T. da. Leitura na Escola e na Biblioteca. São Paulo: Papirus, 2003).

Diante do exposto, é possível afirmar que o sentido de um enunciado são os efeitos de suas enunciações. O sentido está posto, portanto, como uma questão enunciativa e se constitui sócio historicamente a partir de um acontecimento do dizer, tornando-se, dessa forma, uma realização discursiva.

5 O USO DO TEXTO DIDÁTICO

Permite-se que um texto seja reconhecido como didático pela observância em sua estrutura e sua finalidade específica.

            Além de professores e alunos que se utilizam dos textos didáticos nas escolas como suporte para o processo ensino-aprendizagem, e esses são maior parte dos leitores, também podem recorrer a esses textos, leitores que desejem obter um conhecimento básico a respeito de determinados assuntos e disciplinas que compõem os currículos escolares.

            A idade dos alunos a quem se destinam as obras é um fator importante a ser observado na elaboração do material. Para a complexidade da língua em uso deve ser levado em consideração a faixa etária de quem vai utilizar o material, quando esse se destina a livros didáticos.

            Nesse sentido, o texto didático é produzido em função do leitor, levando em consideração principalmente o conteúdo a ser apresentado, a linguagem utilizada e o assunto/disciplina tratado.        

5.1 O TEXTO DIDÁTICO NA ESCOLA

O texto didático nasce com a finalidade de instruir. Muito usado na educação, mas especificamente usado nas questões de aprendizado em sala de aula, para isso, o texto didático é inserido dentro da pedagogia.

            A didática como principal ramo da pedagogia apropria-se do texto como ferramenta de ensino estudando os fundamentos, os princípios e as normas de ensino, convertendo objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino e selecionar conteúdo e métodos em função desses objetivos. Estabelecendo uma relação entre ensino e aprendizagem tendo em vista o desenvolvimento das capacidades dos alunos.

            Esse conceito é importante para que se possa compreender o fundamento do texto direcionado especificamente à sala de aula. Seguindo essas definições observa-se a divisão da didática e como é empregada nos textos.

            Observa-se:

            Didática geral – Essa nos dá uma visão ampla das atividades docentes tratando dos fundamentos, princípios e normas de ensino para qualquer tipo de aluno. São textos voltados para instruções ao professorado e como empregar ao alunado.

            Didática especial – Estuda os conhecimentos científicos de uma determinada disciplina ou faixa etária. Nessa tem-se um campo mais específico com textos direcionados para determinado campo respeitando o desenvolvimento desses, analisando mais a fundo suas dificuldades e apropriando-se de conceitos específicos desse campo de ensino.

            Já em posse desses conceitos, tendo-os como base e podo-os em prática, o professor tem condições de realizar um trabalho mais eficaz com o texto didático, garantindo qualidade de ensino e principalmente a aprendizagem dos alunos. Segundo Libâneo em sua obra Didática:

              O processo de ensino é uma atividade conjunta de professores e alunos, organizada sob a direção do professor, com a finalidade de prover as condições e meio pelos quais os alunos assimilam ativamente conhecimentos, atitudes e convicções esse é o objeto de estudo da didática. Os elementos constitutivos da didática, o seu desenvolvimento histórico, as características do processo de ensino e aprendizagem, e a atividade de estudo como condição de desenvolvimento intelectual (LIBÂNEO, 1998, p. 29).                

            Libâneo destaca a relação da prática educativa com a pedagogia e a sociedade. Como cada situação é contextualizada, cabe a pedagogia orientar o processo educativo e à didática, transformar os conhecimentos, a prática e ação educativa que ocorre na sociedade em conteúdos informativos, esses vêm no que trata essa pesquisa, o texto didático. Daí a importância da didática e dos textos didáticos na formação dos professores.

5.2 O TEXTO DIDÁTICO COMO OBJETO DE PESQUISA E O USO DE SUA TERMINOLOGIA

            Será apresentado a seguir um texto de Flávio Kotrin para observar a terminologia empregada:           

              Durante o século I d.C., a Alexandria era um grande centro de atividades esotéricas, teológicas e metafisicas, um verdadeiro amálgama composto de influências de doutrinas herméticas, como a judaica, a mitraica, a zoroástrica e a pitagórica.

              Nos primórdios do Cristianismo, a adoração à Deusa/Mãe chegou ao conhecimento dos cristãos por intermédio de judeus que haviam adotado o neoplatonismo aprendido na Alexandria com base no Paganismo grego.

              As pessoas adoravam as estrelas, que acreditavam ser deuses e deusas que regiam o mundo. Para eles, a constelação de Virgo era a Grande Deusa/Mãe que regeu a Era Dourada da civilização chamada Lemuria, que precedeu a de Atlântida. (KOTRIN, 2006, p.11).

Observa-se a dificuldade encontrada no entendimento, de imediato, na leitura do texto. Essa dificuldade deriva não só do assunto abordado, a linha de pesquisa, mas da terminologia própria do tema que se trata.

Para fazer a análise do texto com exatidão e clareza faz-se necessário um conhecimento intertextual. No texto em análise além do conhecimento sobre o tema e o domínio da língua aparece termos geográficos, históricos e religiosos. Esses termos não são definidos ao longo do texto, o que se pressupõe seu conhecimento prévio por parte do leitor. Não se pode acusar o autor de um texto didático de tê-lo tornado complexo ao usar terminologia científica ou por não ter definido todos os termos empregados.

A terminologia científica trata com maior exatidão o sentido denotativo e evita entendimentos dúbios. Não usado linguagem figurativa o autor alcança o entendimento exato de suas ideias por parte do leitor que usando bem as técnicas de análise do texto científico as fara sem prejuízo.

Dando sequência, outros elementos se revelam também como elementares, tais como: a autoria; o suporte no qual foi publicado: se é livro, jornal ou periódico; data em que foi produzido, editora e lugar de publicação, extensão e número de páginas. Cumpridos esses passos, observar o assunto e, por meio dele, identificar a forma pela qual o autor se utilizou para organizar o texto.

Detendo-se ao texto cuja modalidade se volta para o aspecto científico, torna-se importante observar a relação que se estabelece entre as ilustrações, tabelas, gráficos, entre outros elementos, bem como se esses estabelecem a pertinência necessária ao assunto tratado no texto lido. Contextualizando a modalidade em estudo, relevante é fazer a observância quanto ao uso de termos técnicos, quanto à consistência dos dados e, para não deixar em segundo plano, quanto à coesão, coerência e clareza empregadas em relação aos argumentos elencados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS           

O principal problema do entendimento de um texto didático está na utilização de terminologia científica, termos esses usados não para dificultar a compreensão, mas para exprimir de forma exata e própria de cada campo de estudo.

            Fica claro que o conhecimento prévio sobre o tema abordado facilita a análise desse tipo de texto, assim como o bom entendimento de um conjunto de termos específicos e sistemas de palavras na disciplina ou campo em estudo e está atento para argumentação usada e os elementos dissertativos.

            Conhecer a estrutura da construção do texto didático e o campo a que ele se destina são pontos cruciais para uma eficaz utilização desse tipo de trabalho. 

ANALYSIS OF A DIDACTIC TEXT

Abstract:

The thematization of the analysis of the didactic text was based on the need of its exact understanding for an efficient use of its content. For this we understood the definitions of didactic text and, finally, didactic text, observing its characteristics, possibilities of analysis of these text, construction and interpretation to employ it in the theme to which it is destined. The article is presented in four chapters that, although intertwined, can be read independently without prejudice to understanding where each phase represents distinct moments of the research.

Keywords: Text; Didactics; Didactic text; Analyze; Teaching.

REFERÊNCIAS

FERREIRA, Marina. Redação: Palavra e Arte. São Paulo: Editora Atual, 2010;

KOTRIN, Flávio. O Priorado de Sião: Os Guardiões do Código. São Paulo: Tahyu, 2006;

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MASETTO, M. T. Didática: a aula como centro. São Paulo: FTD. 1994;

PLATÃO & FIORIN, Lições de texto – Leitura e Redação. São Paulo: Ática, 1996;

SANTOS, M. M. C. dos. Texto didático: propriedades textuais e pressupostos epistemológicos. Caxias do Sul: EDUCS, 2001;

SILVA, Ezequiel T. da. Leitura na Escola e na Biblioteca. São Paulo: Papirus, 2003.


. Graduado em Letras pela Universidade Castelo Branco, Pós-graduado em docência do Ensino Superior pela Faculdade São Luís, Pós-graduado em Ensino da Língua Portuguesa pela Faculdade São Luís.

E-mail: walbetavares@yahoo.com.br

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