14/11/2019

Alice, de Jan Svankmajer

Alice_pic

Alice, de Jan Svankmajer

Marcos Staub*

Quando Alice seguiu o atrasado Coelho Branco no País das Maravilhas, iniciou-se assim uma surpreendente e perigosa aventura onírica pelo mundo infanto juvenil. Alice, do checo Jan Svankmajer, é uma adaptação sombria e surreal do clássico romance de Lewis Carroll (Alice no País das Maravilhas), combinando técnicas de animação e atores reais, dando uma nova e fascinante dimensão para uma das melhores fantasias da literatura infantil mundial, onde o sonho torna-se pesadelo, sendo assim classificada como gênero terror.

As adaptações ganharam os palcos do teatro, as telas de cinema e de televisão, os musicais, a internet e os múltiplos meios existentes atualmente. Na mesma velocidade, acirraram-se as criticas à nova arte “incipiente”, nas palavras de Linda Hutcheon, citando Virginia Wolf, para quem a transposição de uma obra literária para o cinema resultaria em uma simplificação inevitável, considerando o filme um “parasita” e a literatura sua “vítima” (Wolf, 1926, Pg. 309).

Para Newman a travessia do literário para o cinema ou televisão constituiria “uma forma de cognição deliberadamente inferior” (NEWMAN, 1985 Pg. 129). Para alguns, conforme Robert Stam, a literatura sempre possuirá uma superioridade axiomática sobre qualquer adaptação, por ser uma forma de arte mais antiga, estabelecendo assim uma hierarquia, fundamentada no que ele chama iconofobia (uma desconfiança em relação às artes visuais) e logofobia (sacralização da palavra) (STAM 200 Pg. 58).

Linda Hutcheon argumenta que a depreciação da adaptação pode ser um produto das expectativas frustradas por parte dos fãs que esperam encontrar a fidelidade nos textos adaptados, ou então por parte de alguém que ama, ou ensina literatura e necessita da proximidade com o texto escrito – e talvez algum valor de entretenimento.

Por que as adaptações ganham espaço e número cada vez maior e vemos cada vez mais obras literárias sendo traspostas para o cinema e televisão? Deve haver algo de atraente nas adaptações, como adaptações, para serem consumidas em massa, por um publico que nem sempre está familiarizado com as obras literárias fonte, mas que muitas vezes é seduzido a beber da fonte literária quer seja pela popularização das obras ou pela novidade apresentada, não fosse pela qual talvez não a descobrisse como literatura.

Ellis argumenta que há uma necessidade de massificação da cultura literária, que valoriza a novidade e um óbvio apelo comercial, segundo ele “processo de adaptação deveria, então, ser visto como investimento massivo...” (ELLIS, 1982, Pg. 4). De acordo com a retórica comercial de Ellis, a adaptação também exerce um obvio apelo financeiro. Filmes de Hollywood apostaram em romances populares, a que Ellis (1982 Pg. 3) chama de “testados e provados”, dentre os quais podemos citar os romances de Dan Brown (Código da Vinci, 2003) best-seller que vendeu mais de oitenta milhões de cópias. Uma adaptação televisiva ou um filme terá, contudo a possibilidade de alcançar muito milhões a mais.

Controvérsias à parte o fato é que Alice , de Jan Svankmajer, cuja Magnum Opus (grande obra) é Faust (1994) que abrange vários meios de comunicação e influenciou outros artistas com Tim Burton e Terri Gilliam é um grande sucesso de crítica e levou a consagrada obra de Lewis Carroll à milhões de espectadores e continua a encantar, aterrorizar e a acirrar a crítica mundo afora.

 

Marcos Staub é mestrando

No Programa de Pós-Gradução em Estudos Da Tradução (PPGET)

Da Universidade federal de Santa Catarina ( UFSC).

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×