19/07/2021

Algumas questões sobre a supervisão remota, o e-proctoring

Mesmo antes da pandemia, o e-proctoring já vinha sendo utilizado em muitas universidades, e, obviamente, muitas outras procuraram os fornecedores comerciais do serviço em razão do isolamento forçado. Com o aumento da utilização do sistema, algumas preocupações em relação ao seu uso vieram à tona, como violações de privacidade dos alunos, bem como um impacto negativo em sua saúde mental.

Os debates a respeito do tema precisam ser levados adiante, mas também precisamos estar atentos para o fato de que um número crescente de instituições de ensino está introduzindo cursos abertos e online que podem ser seguidos de qualquer lugar do mundo. Eles vão de curtos cursos online a programas inteiros de mestrado. Em ambos os casos o e-proctoring pode oferecer uma excelente solução. Há, enfim, enormes benefícios em permitir que estudantes façam as provas de qualquer lugar do mundo de forma segura e confiável, tanto para os alunos quanto para as instituições de ensino.

Leia:

E-proctoring: a supervisão eletrônica ou remota de exames

Categorias de monitoramento

A forma exata do monitoramento on-line vai variar de fornecedor para fornecedor, com prós e contras em cada uma; podemos identificar três categorias principais:

  • o monitoramento ao vivo, no qual a vigília ocorre durante o exame;
  • exames sendo monitorados posteriormente com base em imagens e registros;
  • e a fiscalização automatizada, onde o software é responsável apenas por parte da detecção.

Proctoring ao vivo

É o modo mais antigo e conhecido de e-proctoring e o que mais se assemelha ao que acontece nas salas de aulas, com um monitor remoto. O número de provas que um único monitor pode observar varia de acordo com o sistema escolhido. É interessante que um e-proctor pode intervir durante o exame, assim como dentro de sala. Por exemplo, durante uma prova, ele pode pedir ao aluno para sacudir ou mostrar seu material, mostrando que não há notas ou folhas dentro dele. A desvantagem é a necessidade de agendar o exame com antecedência e, em regra, a capacidade do sistema é determinada pelo número de e-proctores disponíveis.

Proctoring e verificação subsequentes

Essa configuração de e-proctoring salva as imagens da câmera e os registros para os monitores virtuais revisarem o vídeo, de forma acelerada, posteriormente, avaliando se alguma fraude foi ou não cometida durante o exame. Os alunos podem fazer o exame sem agendamento com antecedência, o que é um benefício. O sistema também possibilita que muitos exames possam ser realizados simultaneamente e os avaliadores têm um período maior para vistoriá-los.

A desvantagem é que um e-proctor não pode intervir durante um exame, o que significa que eles não podem dizer ao aluno que uma determinada ação é ilegal. Também não é possível intervir se a câmera estiver posicionada incorretamente e se não houver uma visão completa da mesa ocupada pelo aluno, por exemplo. O que não seria um problema durante o monitoramento ao vivo, mas, no caso de um exame que só foi revisado posteriormente, o teste teria que ser declarado inválido.

E-proctoring automatizado

Este tipo de monitoramento está crescendo em popularidade nas universidades fora do país. Os e-proctors não monitoram (ou revisam) todo o exame: o software identifica momentos em que há uma possibilidade de fraude, como, por exemplo, quando outra pessoa é detectada na sala. O e-proctor é alertado para eventos desse tipo e eles podem, então, rever os momentos específicos para avaliar se a fraude foi realmente cometida.

O e-proctoring automatizado faz com que o processo se torne muito mais eficiente e econômico, já que nem todas as imagens serão revistas. Uma desvantagem é que os alunos podem facilmente burlar as medidas de prevenção de fraudes se conhecer bem o software. Também já relataram alguns falsos positivos, ou seja, eventos inocentes que foram relatados como fraude em potencial.

Diferentes tipos de provas

Um equívoco comum é entender que o e-proctoring é adequado apenas para exames de múltipla escolha. Em verdade, os exames monitorados virtualmente podem suportar qualquer formato de exame digital. O uso de webcams também oferece outras opções, permitindo, por exemplo, que notas manuscritas sejam levadas em conta. O aluno pode mostrá-los à webcam e o examinador pode também avaliar a versão digitalizada.

Proteção de privacidade – riscos

Obviamente, o e-proctoring envolve o processamento de dados pessoais: ou seja, dados que identificam direta ou indiretamente os alunos. No caso, a LGPD estabelece requisitos rigorosos para o processamento desses dados e o aluno sempre será chamado a dar sua permissão para o tratamento, sendo sempre informado para o que está dando autorização. A informação deve ser plena e os dados pessoais protegidos, utilizados tão somente para a finalidade para a qual foram obtidos. Os dados pessoais sensíveis não podem, obviamente, ser coletados ou usados sem permissão explícita ou quando dispensáveis.

Leia:

Conformidade com a LGPD garante procedimento adequado de monitoramento remoto de exames

Combate às fraudes

O combate às fraudes também é tema importante e torna-se ainda mais complexo ao usar o e-proctoring, pois sua escalabilidade é assustadora.  Assim que um aluno desenvolve um software para viabilizar uma fraude, ele pode compartilhá-lo com um grande grupo de estudantes, diferentemente do que ocorre em uma sala de aula presencial, onde a trama é (quase) sempre fruto de uma atividade individual.

No caso, as instituições que desejam usar o sistema devem fazer sua própria avaliação de quão segura é a solução. Analisar fornecedores e as experiências de outras instituições é um bom caminho.

Geralmente, podem ser detectadas fraudes envolvendo manipulação de hardware ou software. No entanto, isso muitas vezes tem implicações de longo alcance para a privacidade dos alunos.

Custos

Um argumento frequentemente utilizado pelos fornecedores de serviços a favor do e-proctoring são os baixos custos. Na prática, a situação é menos clara. Há muitos fatores adicionais em jogo, o que significa que a conjuntura pode variar de instituição para instituição e até mesmo de programa de estudo para programa de estudo. A instituição de ensino deve se precaver e verificar minuciosamente o que está contratando.

Falsos positivos

Outro problema em todas as formas de monitoração virtual é a detecção incorreta de possíveis fraudes. Isso pode ocorrer porque alguns provedores relatam todas as instâncias do usuário olhando para longe da tela, por exemplo.

Falsos positivos ocorrem mais na fiscalização automatizada e menos na ao vivo. Na proctorização ao vivo um e-proctor pode direcionar a webcam para o lugar onde o aluno deixa seus olhos vagarem; nas gravações é impossível ter certeza se o aluno estava tentando trapacear ou se ele tão somente olhou para longe da tela.

Somente uma webcam de 360 graus ofereceria uma solução para isso, mas a resolução dessas câmeras é muitas vezes baixa e seria confusa para o e-proctor. Em suma, não há – por enquanto - solução eficaz além de um ser humano como monitor.  

Mercado em crescimento

Em nosso texto E-proctoring: a supervisão eletrônica ou remota de exames, enumeramos alguns casos interessantes do uso da tecnologia no Brasil, tanto em provas vestibulares como em avaliações corriqueiras de cursos EAD ou que estão, neste momento, em regime remoto em razão da pandemia.

Apesar de todos os questionamentos sobre impacto sobre a saúde mental dos alunos, possibilidade de fraudes e impessoalidade no trato das avaliações, o assunto merece atenção e interesse e é um negócio em franco crescimento, alavancado, obviamente, pela pandemia.

O período entre os anos de 2021 e 2025 são os anos em que se estima um ritmo global crescente e considerável neste mercado, que já se apresentava em constante ascendência.

Os principais empreendimentos mundiais da área são:  Kryterion, Proctorio, Talview, ProctorU, Comprobo, TestReach, SMOWL, PSI Online, ProctorExam, Pearson Vue, Prometric, Biomids Persistent Proctor, ProctorTrack, BTL, Mercer-Mettl, Verificient, Examity, ProctorEdu, VoiceProctor, Smarter Services, Inspera, Gauge Online

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Nossos clientes são profissionais, associações e Instituições de Ensino Superior que, por meio de suas mantenedoras, nos contratam para atuar em casos que envolvem o Poder Executivo, o Ministério Público, os discentes e as demais instituições concorrentes. Fazendo seu cadastro em nossa lista de e-mail você também recebe mais informações sobre nossos cursos.  

Edgar Gastón Jacobs é doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professor e pesquisador na área de Direito Educacional, atua como advogado, consultor em direito educacional e parecerista para Instituições de Ensino Superior. Se preferir, entre em contato pelo telefone: (31) 3494.0281 

 

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