04/11/2019

AI5 e a Educação

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            A educação pode ser vista como o espaço mais democrático possível, pois ali na sala de aula, a informação, o conhecimento e a aprendizagem estão perpassando por todas as pessoas, obviamente que cada um assimila de acordo com suas especificidade e cognição.

            Pode-se perceber nas falas de Giles, em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983 que o processo educativo tem o verdadeiro intuito de trabalhar o indivíduo em sua totalidade. Dito isso, o autor ainda ressalta que o ato de educar, deve levar o educando a pensar e viver, falar e agir de forma concomitante e conciliada.

            Giles é mais enfático ao aduzir que o ato de educar é uma prática da liberdade, levando o educando a um pensar crítico, fugindo a tutelagem que gera um indivíduo servil e domesticado subalternamente.

            O educar é também preparar o educando para uma sociedade transformadora, coletiva, humanista e protagônica, o que é corroborado por Delors em sua obra Educação: Um Tesouro a Descobrir, publicado pela Cortez em 2001, quando ressalta que na educação está a base para a construção dos ideais de paz, da liberdade e da justiça social.

            Bom seria se realmente isso fosse aplicado ao extremo em nosso país, todavia, a educação tem sofrido censuras e retaliações para que o verdadeiro ensino não seja aplicado. Diga-se verdadeiro ensino como aquele que faz o indivíduo pensar por conta própria e a fugir da situação em que está, que é de corte e controle.

            É comum observarmos que a censura ainda existe de forma camuflada na “Escola sem Partido” que interdita a liberdade do professor pensar, criar e ensinar, como afirmado por Carrano em entrevista concedida ao portal da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio.

Carrano é professor e coordenador do grupo de pesquisa ‘Observatório Jovem do Rio de Janeiro, e com suas falas críticas e esclarecedoras, relata um fato que muitos se esqueceram. Para ele “toda ditadura quer controlar o campo educacional, porque é nele que há liberdade para pensar e construir novos caminhos para a sociedade”, ou seja, liberdade, paz, justiça social nada valerão mediante a uma ditadura.

            Hoje, discursos inundados com falácias são proferidos até mesmo por representantes políticos que deveriam ter hombridade e exigir uma educação de qualidade e com equidade para todos.

            Como se não bastasse a atual conjuntura, tivemos em nossa política um infeliz deputado federal que sequer vivenciou os reveses que o AI5 impôs a sociedade. Este sujeito mimado nasceu em 1981, praticamente na década em que as coisas estavam se ajeitando e por isso que ele tem uma fala sem conhecimento de causa, sem conhecimento histórico, aliás, esta verborréia só mostra a sua inóspita inteligência e cultura.

Tal deputado tem a imbecil idéia de sugerir a criação de um novo AI5 (Ato Institucional Número 5), ou seja, impor novamente a censura mais horrenda que tivemos em nossa história e com amargas conseqüências que educação teve.

            Para os poucos esclarecidos, o AI5 foi um decreto emitido no regime militar pelo governo Artur da Costa e Silva em 13 de dezembro de 1968. Para muitos historiadores foi um marco sombrio em nossa história que deu mais forças as arbitrariedades e ao autoritarismo.

            O AI5 intimidava pela força e pelo medo. Ele era aplicado contra pessoas que tinham um pensar diferente do ideal ditatorial. O pensar diferente era visto como opositor e a discordância era algo para ser paga com o próprio sangue e até mesmo com a própria vida.

            Foi um longo período de perseguição e de repressão contra pessoas que pensavam por si e eram vistas como “esquerdas comunistas”, e isso fez com que muitos brasileiros se exilassem em outros países, brasileiros que tiveram representatividade na cultura e na educação. Os que não se exilaram, ficaram e sentiram o quanto o AI5 era impiedoso.

            Foi época em que “acidentes” e “suicídios” aconteciam a esmo. Como foi o caso do grande educador Anísio Teixeira que também era jurista, intelectual e escritor brasileiro.

Anísio Teixeira foi um dos grandes defensores da universalização da escola pública, gratuita e sem vínculo com nenhuma religião. Ele difundiu os pressupostos do movimento da Escola Nova a qual tinha como cerne o desenvolvimento do intelecto e capacidade de julgamento, ao invés da memorização, ou seja, ele já fomentava a autonomia de seus alunos o que divergia com a domesticação imposta em tal época ditatorial.

            Triste saber que por ele não ter se exilado, ficou ainda mais exposto as artimanhas dos perseguidores. Sua morte aconteceu em 1971 e continua um “mistério” até os dias atuais.

Seu corpo foi encontrado no fosso de um elevador, dois dias depois de registrado o sumiço, e sem sinais de queda e sem hematomas que consolidassem um acidente.

            Defender o AI5 representa um retrocesso na história e no nosso humanismo. Pessoas que fomentam isso são infelizes e vivem as sombras de gigantes ditadores.

            Indo então pelo viés da liberdade, façamos que a educação elucide os eleitores a não votarem em imbecis, porque isso dá força para um dito popular na área da administração, quando afirma que “ao darmos autonomias a idiotas, teremos decisões idiotas”.

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