29/03/2021

Agenda Ideológica no Ensino

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
 
A educação sempre foi vista como algo perigoso, e neste quesito, Burke e Ornstein no livro O presente do fazedor de machados - os dois gumes da história da cultura humana, publicado pela Bertrand Brasil em 1998, deixam claro nas ideias de Hanna que no século XVII afirmava que para combater a crise crescente, bastava ensinar a submissão total à autoridade e incentivar a resignação cristã em face da privação e da adversidade, e complementava da seguinte forma “Eu não admito a escrita para os pobres. Meu objetivo não é formar fanáticos, mas treinar as classes baixas nos hábitos da indústria e da devoção.”
Ou seja, ela pregava a alienação, a subordinação e a total passividade, algo que nos dias de hoje, diverge da verdadeira educação, mesmo com suas falhas, muitos educadores lutam para que o educando seja cada vez mais crítico a ponto de se tornar protagonista e mudar o seu próprio contexto.
Por isso Darcy Ribeiro elucidava que a crise na educação era um projeto e não crise, pois as coisas são planejadas para não funcionarem do jeito que deve, tanto que uma das maiores brigas contra a cidadania foi a "escola sem partido", como se existisse um educar sem politizar.
Como ressaltado em meu livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019, toda educação é uma forma de politizar, isto é, deixar o aluno mais crítico e senhor de seu próprio destino, toda via, a escola sem partido não surtiu muito efeito com professores, pois de fato, não cabe a escola ideologizar seus alunos e sim fazê-lo pensar e desenvolver seu próprio discernimento.
Dito isso, perceberam que seria uma guerra inócua ao levantar a bandeira de escola sem partido, porque a escola nunca teve partido, apenas buscou contextualizar a realidade e fazer o aluno perceber toda manipulação em cima da realidade e as tendências para fomentar a esterilidade nesta seara.
Hoje a estratégia mudou e o governo quer impor uma agenda ideológica, pois ela acredita que o aluno tem muita informação desnecessária e acredita que seria mais útil falar em seus livros didáticos conteúdos como criacionismo, terraplanismo dentre outras imbecilidades que só néscios poderiam conceber.
Não precisamos ser contra o criacionismo, já que o argumento é que está nas escrituras sagradas, mas seria interessante mostrar também o evolucionismo e fazer o aluno pensar.
Observe, estamos regredindo no tempo e fazendo como o Papa Pio IX, que segundo HARARI em seu livro Homo Deus: Uma Breve História do Amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016, este papa realizou várias reformas e uma delas foi estabelecer o princípio da infalibilidade papal, ou seja, o papa nunca erra em questões de fé, esta ideia medieval se deu segundo o autor, 11 anos depois que Charles Darwin ter publicado A Origem das Espécies. 
Ideias estultas como esta agenda ideológica são válidas e reforçam as falas de Durkheim em seu livro Educação e Sociologia, publicado pela Edições 70 Ltda em 2007, já que o sociólogo afirmava que não há sociedade onde o sistema educativo não apresente um duplo aspecto: é, ao mesmo tempo, uno e múltiplo.
E se analisarmos, este duplo aspecto faz com que o aluno desenvolva seu poder de discernimento e aprenda e perceber os nuances de como ocorre o conhecimento, como ser crítico e principalmente, não acreditar em tudo que ler.
Por isso se faz mister ser um pouco subversivo e esta agenda e ecoar as falas de Freire que está em seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996, quando elucida a importância em fomentar a pesquisa, pois "pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo me educo e educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço", e este conhecer me leva a criticidade e a um protagonismo cognoscente que imunizará o educando de qualquer alienação, já que ele terá resguardado o seu discernimento.
Vale ressaltar que esta agenda ideológica é uma afronta a educação de qualidade, pois trata-se de um ideário antiprogressista , indo na contramão dos países cuja educação está avançada, podendo constatar que tais países desenvolvem em seus educandos um livre pensar, embate intelectual e curiosidade que aguça a busca do novo e do conhecimento.
Esta agenda ideológica blinda qualquer ato citado acima por meio de conservadorismo hipócrita e manipulador, todavia, nosso governo se esqueceu que nesta equação existe uma variável de suma importância denominada professor e este com toda certeza, não assumirá este papel retrógrado com seu educando, já que a principal função da educação é libertar o aluno para o conhecimento, assim sendo, que sejamos protagonistas desta libertação. 

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