19/10/2017

Academias da Saúde do Município de Cruz Alta - RS: Análise do Ponto de Vista dos Gestores e Usuários

ACADEMIAS DA SAÚDE DO MUNICÍPIO DE CRUZ ALTA- RS: ANÁLISE DO PONTO DE VISTA DOS GESTORES E USUÁRIOS

 Leonardo Henrique Silva; Marília de Rosso Krug

RESUMO

O estudo caracterizou-se como um estudo de caso que teve como objetivo analisar a percepção, dos gestores e usuários, em relação ao projeto academia da saúde da cidade de Cruz Alta- RS. Neste estudo, utilizou-se dois questionários. Um destinado ao gestor responsável pelo projeto, composto por cinco perguntas abertas que versaram sobre a implantação, sustentabilidade e objetivo do projeto, bem como o público alvo e os profissionais envolvidos e o outro destinado aos usuários, com 9 perguntas abertas, que versaram sobre, caracterização dos usuários em relação a idade, sexo e problemas de saúde, tempo de participação, motivos que fizeram com que ele participasse do projeto, o tempo de prática, e a frequência semanal e o conhecimento sobre a prática dos exercícios físicos. Participaram deste estudo 41 usuários e um gestor do projeto academia da saúde da cidade de Cruz Alta - RS. Como resultados observou-se que 92,7% dos entrevistados responderam que participam do projeto por questões de saúde, sendo 29,3% com o objetivo de melhorar dores articulares e 7,3% alegaram participar do programa por lazer. Nota-se também que a maioria dos usuários, praticam atividade física a mais de 3 anos, com frequência mínima de três vezes na semana. Os entrevistados apresentam problemas de saúde como: coluna, hipertensão e diabetes, e a grande maioria (48,8%) apresentam mais de um problema de saúde.

Palavras Chave: Academia da Saúde. Gestores. Usuários

 

 

ABSTRACT 

The study was characterized as a case study that had as objective to analyze the perception, of the managers and users, in relation to the health academy project of the city of Cruz Alta-RS. In this study, two questionnaires were used. One for the manager responsible for the project, consisting of five open questions that dealt with the implementation, sustainability and objective of the project, as well as the target public and professionals involved and the other one for users, with 9 open questions, which related to the characterization of the users in relation to age, sex and health problems, time of participation, reasons that made him participate in the project, time of practice, weekly frequency and knowledge about physical exercise practice. A total of 41 users participated in this study and a manager of the health academy project in the city of Cruz Alta - RS. As a result, it was observed that 92.7% of respondents answered that they participated in the project due to health issues, 29.3% with the objective of improving joint pain and 7.3% reported participating in the leisure program. It is also noticed that the majority of the users, practice physical activity for more than 3 years, with frequency minimum of three times in the week. Interviewees present health problems such as: spine, hypertension and diabetes, and the vast majority (48.8%) present more than one health problem.

Keywords: Health Academy. Managers. Users

INTRODUÇÃO

            As políticas públicas de saúde em 1897 até 1930 e os assuntos relacionados com a saúde, como funções públicas, eram tratados no Ministério da Justiça e Negócios Interiores, em específico, na Diretoria Geral de Saúde Pública. Médice (1994) relata que a assistência à saúde ofertada pelo Estado até a década de 1930 estava limitada às ações de saneamento e combate às endemias.

            A previdência Social no Brasil surgiu em 1923 com o Decreto Legislativo que ficou conhecido como Lei Elói Chaves criando as Caps - Caixas de Aposentadoria e Pensão (BRASIL, 1923). Segundo Belinati (modelo inicial da assistência médica não era universal e baseava-se nos vínculos trabalhistas. Tinham direito aos benefícios somente trabalhadores que contribuíam para a Previdência, ou seja, aqueles “com carteira assinada”

            Em 1966, da fusão dos IAP originou-se o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social que uniformizou e centralizou a previdência social. Nesta década a previdência social se firmou como principal órgão de financiamento dos serviços de saúde. Médice (1994) salienta que aconteceu uma concentração das políticas de saúde com extensão da cobertura assistencial.

            A Constituição Federal de 1988 deu nova forma à saúde no Brasil, estabelecendo-a como direito universal. A saúde passou a ser dever constitucional de todas as esferas de governo sendo que antes era apenas da União e relativo ao trabalhador segurado. O conceito de saúde foi ampliado e vinculado às políticas sociais e econômicas. A assistência é concebida de forma integral (preventiva e curativa). Definiu-se a gestão participativa como importante inovação, assim como comando e fundos financeiros únicos para cada esfera de governo (BRASIL 1988).

            Em 13 de setembro de 2000 foi promulgada a Emenda Constitucional 29 com o objetivo de definir a forma de financiamento da política pública de saúde de maneira vinculada à receita tributária (BRASIL 2000).

            Entre 2006 e 2010, os municípios brasileiros que tiveram projetos submetidos e aprovados em portarias e editais do MS receberam recursos para a implantação ou implementação de estratégias de promoção da saúde em eixos prioritários da PNPS. Foram investidos mais de 125 milhões de reais em diversos municípios e no Distrito Federal, o que possibilitou a expansão dos programas de promoção da saúde e da atividade física (MALTA, 2006).

            Tais iniciativas, entretanto, necessitavam de mecanismos de transferência regular de recursos e normatização, de modo a assegurar a sustentabilidade e melhorar o custo-efetividade. Diante dessa demanda e visando contribuir para a promoção da saúde por meio da implantação de polos com infraestrutura material e pessoal qualificado para a orientação de modos de vida saudáveis, práticas corporais, atividades físicas e de lazer, o MS instituiu, em 2011, o Programa Academia da Saúde (PAS), a ser implantado pelas secretarias de saúde do Distrito Federal e dos municípios, com suporte técnico das esferas estadual e federal do SUS (BRASIL, 2011).

            No cenário atual, as políticas públicas de saúde brasileiras são organizadas e regidas pelas leis do Sistema Único de Saúde (SUS). O SUS está amparado em uma vasta legislação, cujo tripé principal é formado pela Constituição Federal de 1988 e pelas Leis nº 8.080 e nº 8.142, ambas de 1990; complementarmente, existiram várias normas operacionais. As portarias ministeriais são importantes instrumentos de regulação de políticas, e visam a definir instruções para a execução das leis aprovadas pelo Poder Legislativo, tal como previsto na Constituição Federal de 1988. No contexto do setor saúde, as portarias têm assumido um papel de grande destaque, não só pelo quantitativo de documentos apresentados a partir dos últimos anos da década de 90 mas principalmente pelo forte poder de indução que esse instrumento assumiu na definição da política setorial (BAPTISTA, 2007). Neste sentido, busca-se com este estudo analisar a percepção, dos gestores e usuários, em relação ao projeto academia da saúde da cidade de Cruz Alta- RS.

METODOLOGIA

            Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, que segundo Yin (2001) enquadra-se como uma abordagem qualitativa e é frequentemente utilizado para coleta de dados na área de estudos organizacionais. Participaram do estudo gestores das academias da saúde do município de Cruz Alta- RS e os usuários que frequentavam a academia da saúde.

            Participaram deste estudo 41 usuários e um gestor do projeto academia da saúde da cidade de Cruz Alta - RS.

            Como instrumento de pesquisa utilizou-se dois questionários. Um destinado ao gestor responsável pelo projeto, composto por cinco perguntas abertas que versaram sobre a implantação, sustentabilidade e objetivo do projeto, bem como o público alvo e os profissionais envolvidos e o outro destinado aos usuários, com 9 perguntas abertas, que versaram sobre, caracterização dos usuários em relação a idade, sexo e problemas de saúde, tempo de participação, motivos que fizeram com que ele participasse do projeto, o tempo de prática, e a frequência semanal e o conhecimento sobre a prática dos exercícios físicos.

            Para entrevistar os gestores entrou-se em contato com a Secretaria da Saúde de Cruz Alta-RS, convidando-os e agendando horário. Os usuários foram abordados diretamente na academia, para isto o pesquisador realizou plantão diário, durante um mês nas três academias mais frequentadas da cidade. Foram entrevistando todos os usuários que voluntariamente aceitaram participar do estudo.

            Os dados foram analisados a partir da análise de conteúdo, considerando suas três etapas: a pré análise, onde se realizou a organização e seleção do material, para a construção dos indicadores; a exploração do material, onde foi realizada a leitura do material, codificação e escolha das categorias; e, a análise, onde ocorreu a descrição e a análise dos dados (BARDIN, 2011). O tipo de análise de conteúdo utilizada foi de exploração quantitativa, onde foi realizada a exploração das temáticas, buscando informação emergente sendo essas interpretadas baseada em quantidades de referências e na frequência das ocorrências (BARDIN, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

            Analisando a faixa etária dos usuários da academia da saúde da cidade de Cruz Alta - RS, 15 são adultos (36,6%), e 26 idosos (63,4%), com idades entre 41 e 84 anos, com idade média de 63 anos. Em relação ao sexo dos usuários, são 27 mulheres (65,9%), e 14 homens (34,1%).

            Quando questionados sobre os motivos pelos quais eles aderiram ao programa, 92,7% dos entrevistados responderam que foi por questões de saúde, que segundo Matsudo, Matsudo e Neto (2000), os principais benefícios à saúde advindos da prática de atividade física referem-se aos aspectos antropométricos, neuromusculares, metabólicos e psicológicos. Dos entrevistados, 29,3% alegaram praticar com o objetivo de melhorar dores articulares. As dores articulares, segundo Pedrinelli, Garcez-Leme e Nobre (2009), estão associada à diminuição da capacidade para produzir proteoglicanos, decorrentes do envelhecimento, causando alterações degenerativas articulares, já que a cartilagem tem menor capacidade de absorver o impacto. Apenas três usuários (7,3%) alegaram participar do programa por lazer.

            Em relação ao tempo de prática, frequência semanal e problemas de saúde dos usuários, os resultados encontram-se na tabela 1.

 

Tabela 1- Resultados da variáveis tempo de prática, frequência semanal e problemas de saúde.  

Variáveis

Indicadores

n

%

Tempo de Prática

1-2 anos

3-4 anos

5-6 anos

12

21

8

29,3

51,2

19,5

Frequência

Três vezes

Quatro vezes

Mais de quatro

27

4

10

65,9

  9,8

24,4

Problemas de Saúde

Nenhum

Coluna

Hipertensão

Diabetes

Mais de 1 problema

5

5

8

3

20

12,2

12,2

19,5

  7,3

48,8

 

            Observando a tabela 1, nota-se que a maioria dos usuários, praticam atividade física a mais de 3 anos, com frequência mínima de três vezes na semana. Ainda observa-se na tabela 1, que somente um pequeno percentual de usuários (12,2%), não apresentam problemas de saúde, os demais apresentam problemas tais como, coluna, hipertensão e diabetes, e a grande maioria (48,8%) apresentam mais de um problema de saúde.

            Deve-se ter um cuidado especial aos problemas de saúde, pois 87,8% dos entrevistados alegaram ter ao menos um problema de saúde, tornando a presença do profissional de educação física cada vez mais importante.

            Todos os usuários entrevistados, salientaram que tem conhecimento dos benefícios da prática de atividade física. Com relação ao o número de repetições a serem executadas em cada aparelho, 22 usuários (53,7%) alegaram conhecer quantas repetições são necessárias, e 19 usuários (46,3%) responderam que não conhecem o número ideal de repetições.

            Quando questionados sobre o conhecimento de qual exercícios deve ser utilizado em cada necessidade, 21 usuários (51,2%) tem o conhecimento, e 20 usuários (48,8%) não tem o conhecimento.

            A entrevista com o gestor do programa academia da saúde, foi realizada na secretaria da saúde da cidade de Cruz Alta- RS. Quando questionado sobre o número de academia da saúde existentes na cidade, o gestor respondeu que seriam três, porem duas foram depredadas e a terceira está em construção. Essas três estão sobre supervisão da secretaria da saúde, porem existem outras três na cidade, sendo duas delas da secretaria do esporte e a terceira da Unimed. 

            A respeito da sustentabilidade das mesmas, o dinheiro para a construção vem do governo federal, e a manutenção fica por conta do município.

            O objetivo do projeto academia da saúde, versa sobre a promoção de saúde, qualidade de vida e prevenção de doenças crônicas. Quando questionado sobre o público alvo, o gestor afirmou que o projeto foi elaborado para todas as pessoas interessadas, sem haver um público especifico. Quantos aos profissionais envolvidos no projeto, ele alega que diretamente com os usuários, há apenas a presença do profissional de educação física.

CONCLUSÃO

            A atividade física vem sendo aderida com o objetivo primordial a saúde, tornando assim evidente a importância do profissional de educação física nas academias da saúde, para orientar e auxiliar os usuários, pois 46,3% relatam não ter conhecimento sobre o número de repetições nos aparelhos, e 87,8% apresentam problemas de saúde, tornando o cuidado com a orientação ainda maior.

            A percepção dos usuários sobre o projeto é boa, pois lhes viabiliza a pratica de atividade física, auxiliando diretamente na sua qualidade de vida. Em relação aos gestores, eles carecem da colaboração dos moradores do município, para que não ocorra mais depredações, podendo atingir um público maior de praticantes.

REFERÊNCIAS

BAPTISTA, T. W. F. Análise das portarias ministeriais da saúde e reflexões sobre a condução nacional da política de saúde. Cadernos de Saúde Pública, v. 23, n. 3, p. 615-626, 2007.

BARDIN L. Análise de conteúdo. 2ed. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL. Decreto 4.628, de 24 de janeiro de 1923 (Lei Eloy Chaves). Crea, em cada uma das empresas de estradas de ferro existentes no país, uma Caixa de Aposentadoria e Pensões para os respectivos empregados. [citado 2006 Dez 13]. Disponível em: http://www81.dataprev.gov.br/sislex/paginas/ 23/1923/4682.htm

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 719, de 7 de abril de 2011. Institui o Programa Academia da Saúde no âmbito do Sistema Único de Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, p. 52, 2011. Seção 1.

BRASIL. Constituição, 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.

BRASIL. Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000. Altera os arts. 34, 35, 156, 160, 167 e 198 da Constituição Federal e acrescenta artigo ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para assegurar os recursos mínimos para o financiamento das ações e serviços públicos de saúde. [citado 2006 Dez 18]. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Constituicao/Emendas/Emc/emc29.htm

MALTA, D. C; CASTRO, A. M; CRUZ, D. K. A; GOSH, C. S. A promoção da saúde e da atividade física no Sistema Único de Saúde. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde, v. 13, n. 1, p.  24-7, 2008.

MATSUDO, S; MATSUDO, V. K. R; NETO, T. L. B. Efeitos Benéficos da Atividade Física na Aptidão Física e Saúde Mental Durante o Processo de Envelhecimento. Revista Brasileira de Atividade Física & Saúde. v. 5, n. 2, p. 60-76, 2000.

MÉDICE, A. C. Economia e financiamento do setor saúde no Brasil: balanços e perspectivas do processo de descentralização, São Paulo: Faculdade de Saúde Pública, Universidade de são Paulo, 1994.

PEDRINELL, A; GARCEZ-LEME, L. E; NOBRE, R. S. A. O efeito da atividade física no aparelho locomotor do idoso. Revista Brasileira de Ortopedia, v.44, n.2, p.96-101, São Paulo, 2009.

YIN, R. K. Estudo de caso – planejamento e métodos. Bookman, 2Ed, Porto Alegre, 2001.

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