19/11/2019

A Transitoriedade

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            O mundo virtual é maravilhoso. É a plena utopia e o verdadeiro paraíso. Vidas não vividas, relacionamentos perfeitos e harmoniosos. Sorrisos parecendo propaganda de creme dental e famílias parecendo publicidade de margarina, ou seja, metaforicamente falando, é o mundo de Adão e Eva antes de terem comido o fruto proibido da árvore do conhecimento.

            O sociólogo Bauman é bem enfático ao retratar sobre o transitório[1]. Para o sociólogo, a inabilidade reina e o que "importa é poder descrever aos demais o que se está fazendo", e assim as pessoas vão expondo suas intimidades e as dos demais envolvidos em suas vidas.

            Não existem mais os momentos de conversas pessoais, banaliza-se os passeios, pois o importante não é curtir o lugar, entender a história e ver o seu contexto, é simplesmente registrar o maior número de fotos para poder postar e contar quantas curtidas elas terão. O passeio só terá valido a pena pelas curtidas recebidas. Curtidas passa a ser o medidor de felicidade e satisfação.

            É essencial ter centenas e até milhares de contatos para se mostrar aos demais uma popularidade que esconde uma insegurança em lidar com conflitos, pois como diz o próprio sociólogo, em uma rede social, quando eu não agrado de alguma fala, eu simplesmente a deleto ou excluo quem discordou de mim.

            A vida real não é assim. Precisamos aprender a lidar com conflitos e com as diferenças e aprender com isso. Temos que respeitar os demais, já que nas redes sociais eu tenho o direito de me expressar, expor minha ideologia e até mesmo xingar ou ridicularizar alguns insurgentes, como se fosse o único possuidor da "verdade", assim sendo, me coloco como um inquisidor no auge da inquisição católica.

            Não se pode afirmar que é uma geração superficial, consumista, ansiosa, uma vez que nas grandes redes sociais estão expostas várias gerações (pelo menos até a terceira) de pessoas entrando na grande onda com a superficialização dos sentimentos, leviandade das opiniões, preconceitos nos julgamentos e falsas morais nos comportamentos.

            As exposições não se limitam a própria pessoa com massagens no próprio ego. Elas extrapolam o bom senso e o direito de imagem deixa de existir. O fake news passa  a ser a verdade espalhada por toda a rede.

            Muitos podem afirmar que tudo isso é fruto da globalização, mas em relação a globalização Bauman em sua obra Globalização: Conseqüências Humanas, publicado por Zahar em 1999, afirma que ela para uns representa a sinalização da liberdade, entretanto para muitos outros, não passa de um indesejado e cruel destino.

            Souza em sua obra Introdução a Sociologia da Educação, publicada pela Autêntica em 2007, esclarece que o moderno é transitório. Até aí tudo bem desde que entendamos que o mundo é um constante devir, ou seja, está sempre em transformação e precisamos também nos transformar sempre em algo melhor para nós mesmos e nosso próximo.

            Precisamos oferecer o nosso melhor para as pessoas e para a sociedade, mas como fazermos isso se estamos perdendo nossa própria identidade com toda esta modernidade? Como fazermos isso se não estamos vivendo uma vida que nos pertence? Vivemos uma vida de faz de conta e de pura falsidade.

            Claro que podemos ser globalizados e  modernos sem abrirmos mãos dos relacionamentos pessoais, das interações e da aprendizagem em relação as permutas ocorridas entre as pessoas.

            Interessante percebermos mais uma vez o papel social da escola. Cabe ao educador resgatar esta interação com os educandos e ensinar como lidar com frustrações, já que na rede social, como visto anteriormente, não existe frustração, já que um desagrado pode ser simplesmente apagado, coisa que em nossa realidade, ele será sempre um espinho a nos ferir a alma, mas que será necessário para nossa aprendizagem, respeito com as diferenças e também a nossa humanização.

            A escola é o espaço para que as diferenças sejam respeitadas, mas se o aluno vive em um mundo que foge a sua realidade, este se achará no direito de simplesmente agredir os que têm pensamentos divergentes aos dele e esta agressão poderá ocorrer de forma verbal ou física, afinal de contas, na rede social eu posso fazer tudo, já que lá não terá tanto policiamento e terei a certeza que pensamentos como o meu me apoiarão.

            As redes segundo Bauman são antagônicas, pois somos solitários mesmo cercado de amigos virtuais, e ao mesmo tempo em que é oferecido um isolamento protetor, "vivenciamos uma absoluta exposição", dito isso, façamos então que a educação de qualidade, ensine o correto uso destas redes e demonstre que por mais que tenhamos centenas de amigos virtuais, estes jamais substituirão o calor de um abraço dado por um amigo no mundo real.

 

[1] Para mais informações vide https://www.portalraizes.com/estamos-todos-numa-solidao-e-numa-multidao-ao-mesmo-tempo-zygmunt-bauman/

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