07/04/2019

A Reforma Psiquiátrica e o Estágio de Psicopatologia

A Reforma Psiquiátrica e o Estágio em Psicopatologia A Reforma Psiquiátrica e o Estágio em Psicopatologia na Graduação em Psicologia. O alcance dos diversos equipamentos, o papel do supervisor e do monitor. Ariane Aparecida de Souza¹, Renata Afonso Arantes², Ludmila Carderelli³. ¹Monitora de Psicopatologia da Universidade Paulista–UNIP. ariane.souzapsico@gmail.com ²Monitora de Psicopatologia da Universidade Paulista–UNIP. aarantes.renata@gmail.com ³Professora-Supervisora da Universidade Paulista – UNIP; Especialista em Psicologia Hospitalar, Coordenadora de Grupos Operativos de Pichon Rivière e Mestranda em Psicologia da Saúde pela Universidade Metodista lucarderelli@hotmail.com A Reforma Psiquiátrica e o Estágio em Psicopatologia na Graduação em Psicologia. O alcance dos diversos equipamentos, o papel do supervisor e do monitor. RESUMO As mudanças acarretadas pelo movimento anti-manicomial desde 1980 vem tomando proporções mais significativas a partir dos anos 2000 no Brasil, refletindo no estágio de psicopatologia e implicando diretamente na prática dos alunos no campo no sentido em que as questões institucionais e a visão do tratamento se transformam neste cenário. Palavras-Chave: Movimento anti-manicomial; Estágio de Psicopatologia. ABSTRACT The changes entangled by the anti-asylum movement that has started in the 1980s have been getting significant proportions since the 2000s in Brazil, reflecting on the internships in Psychopathology during the psychology graduation course and implying directly on the off campus practice, once the institutional matters and the treatment perspective are transformed in this scenario. Key Words: Anti-asylum movement; Psychopathology internship. 1. INTRODUÇÃO Este artigo objetiva fazer uma reflexão a respeito do aproveitamento dos alunos no Estágio em Psicopatologia da graduação de Psicologia diante do adoecimento mental e seu tratamento. O momento dos alunos entrarem em contato com os equipamentos de saúde mental, de se aproximarem das equipes-multiprofissionais e dos pacientes em tratamento ocorre no estágio de Psicopatologia, momento fértil para observar, sentir e refletir sobre uma proposta de atuação, entre universidade-instituição no tratamento da saúde mental na região do Vale do Paraíba. Com dez anos de experiência como professora-supervisora de psicopatologia, foram inúmeras vezes em que foi surpreendida nos corredores da universidade, por alunos curiosos e ansiosos com a disciplina e com a prática da Saúde Mental. Demonstrando-se interesse e certo receio com a chegada da oportunidade, frente ao acometimento mental. Diante da Reforma Psiquiátrica e com as mudanças disparadas pelo movimento anti- manicomial desde 1980, que vieram e vem tomando proporções mais significativas a partir dos anos 2000 no Brasil, as conquistas são expressivas e os desafios enormes, muitas vezes parecendo evoluir para uma proposta social e humanizada e outras vezes parecendo retroceder diante das dificuldades (econômicas, políticas e sociais). O estágio de psicopatologia também vem sofrendo mudanças, implicando diretamente na prática dos alunos no campo (nos equipamentos de saúde mental), no sentido em que as questões institucionais e a visão do tratamento se transformam com os preceitos da reforma em um movimento de mudanças neste cenário. A qualidade da formação na graduação, no aprimoramento teórico e prático destes futuros profissionais é um grande desafio para os professores e colaboradores, diante deste quadro da Saúde no Brasil buscou-se propiciar uma experiência rica e verdadeira neste Campo da Saúde Mental. Se mostra pontual refletir a respeito do papel do professor-supervisor e o dos monitores no sentido de verificar o aproveitamento destes alunos. Para tal desenvolveu-se uma pesquisa online para os alunos-estagiários. Neste artigo apresenta-se um breve histórico a respeito da Loucura, da Reforma Psiquiátrica no Brasil, do estágio em Psicopatologia na graduação como grade curricular e os dados da pesquisa com os alunos. 1.1 Um olhar para Loucura Os seres humanos marginalizados a milhares de anos atrás eram objetos de construção da história da Loucura da humanidade. Essa história que foi sendo traçada pelo “diferente”, esquisito, estranho e dominado por forças desconhecidas. Essas pessoas não se comportavam como a maioria, comportavam-se de forma bizarra e eram levados do convívio social, familiar, separados ou deixados à sorte. A loucura desde a Grécia Antiga, Homero (700 a.C.) considerado o primeiro e maior poeta épico da Grécia, autor de Ilíada e Odisseia, apresenta em sua obra o enfoque mitológico-religioso da loucura: “Todo ato insensato é determinado pela ação dos deuses, ou porque seus caprichos determinam o rumo dos acontecimentos ou porque deliberadamente roubam do homem a razão”. (COCIUFFO, 2007, pag. 21) Esse modelo mitológico-religioso, não responsabilizava o Homem e considerava as forças divinas ou diabólicas como sendo o que enlouquecia o ser humano. Essa visão de Homem vai perdurar por séculos chegando a uma concepção psicológica da loucura, produto de conflitos passionais do homem. Cociuffo (2007) comenta que no final do século XlX com o advento da Psicanálise, Freud contribuiu com seus estudos a respeito da histeria e das paixões como pertencentes ao sujeito. A ideia de conflito psíquico sendo o responsável pelo adoecimento emocional, dos transtornos como as neuroses e psicoses. Com o desenvolvimento da Psicanálise, Freud desenvolveu o conceito de inconsciente que coloca para dentro do homem “o desconhecido” Freud (1983) Construiu o conceito de inconsciente na primeira tópica da psicanálise que representava as vivências recalcadas dos momentos traumáticos do sujeito e através do mecanismo de repressão impedia o acesso ao consciente do sujeito, como essas forças eram forças pulsionais, essas criavam mecanismos de defesa que poderiam facilitar na formação dos sintomas. Cociuffo (2007) descreve que nesse momento existiam correntes cientificas que defendiam ou um modelo organicista ou outro com Pinel em que a loucura provinha do psíquico das neuroses. Pinel priorizou os aspectos comportamentais da Loucura, contradizendo ao que se enfatizava a importância as alterações anátomo fisiológicas como determinantes da psicopatologia. Assim a Loucura como perda da Razão para um modelo organicista por Emil Kraeplin (1856-1926), maior contribuidor da concepção organicista que fundou a nosográfia psiquiátrica, a primeira tentativa de definir perturbações mentais que surgiram da necessidade dos censos nacionais. Nos Estados Unidos da América, em 1840, a primeira tentativa referenciada incluía as categorias idiotia/loucura. No censo de 1880 diferenciaram-se sete categorias: mania, melancolia, monomania, paresia, demência, dipsomania e epilepsia. A doença mental, objeto construído há duzentos anos, implicava o pressuposto de erro da Razão. Assim, o alienado não tinha a possibilidade de gozar da Razão plena e, portanto, da liberdade de escolha. Liberdade de escolha era o pré-requisito da cidadania. E se não era livre não poderia ser cidadão. (AMARANTE, 1995) A psicopatologia até os dias de hoje se depara com o modelo clássico organicista e a psicopatologia dinâmica. O clássico, onde os médicos detêm o saber orgânico e o privilegiam diante dos outros saberes psíquicos, sociais e espirituais, e a psicopatologia dinâmica descrita por Dalgalarrondo (2008, p.35) da seguinte forma; A psicopatologia dinâmica é pessoal e subjetiva, é o movimento interno e dinâmico das vivências afetivas do sujeito. A boa prática em saúde mental implica a combinação hábil e equilibrada de uma abordagem descritiva, diagnóstica e objetiva e uma abordagem dinâmica, pessoal e subjetiva do doente e de sua doença. A atuação técnica na saúde como um todo e na saúde mental se refere a um trabalho multiprofissional. Silva (apud Oliveira e Yamamoto, 2003) defende que essa ocorrência é devido a fragmentação do saber e das especialidades da medicina, essas equipes surgem da necessidade do olhar de um sujeito integral e a questão é :Como integrar esses saberes tanto fragmentados? 1.2 A reforma psiquiátrica Diante de tantos exemplos a respeito dos tratamentos psiquiátricos no Brasil, destaca-se um recorte da história da Reforma Psiquiátrica, a história penosa, de um exemplo do que não se deseja retornar, a história do Hospital Colônia, o hospício ou o manicômio, em Barbacena. A esse respeito, Arbex (2013) em sua pesquisa traz a luz o verdadeiro genocídio ocorrido em Barbacena, mais de 60 mil mortos entre os anos de 1930 e 1980. Foi chamado de Campo de Concentração por Franco Basaglia, 1979, em sua visita a Barbacena, psiquiatra Italiano percursor do movimento de abertura dos hospitais psiquiátricos italianos. Após sua visita, Basaglia se pronunciou à imprensa relatando o que tinha visto. Esse momento, ou seja, essa visita foi um divisor de águas, criando um ambiente favorável aos profissionais que lutavam a favor de tratamento psiquiátrico humanizado. Arbex (2013) relata que a maioria dos pacientes eram internados a força, a grande maioria não tinha diagnóstico, nem tratamento adequado aos seus males. Eram levados para lá prostitutas, andarilhos, crianças abandonadas, usuários de drogas, esquizofrênicos e etc. Sem condições de higiene, sem dignidade, morriam e ficavam jogados até serem encontrados pelos profissionais, centenas de cadáveres eram vendidos para universidades de medicina, eram ministrados eletrochoques que levaram muitos a morte cerebral pela falta de controle das cargas ou número de vezes que eram aplicadas. Em 1990 com a Declaração de Caracas, ocorre uma reflexão dos dirigentes dos países da América Latina, influenciados pelo o que estava ocorrendo na Europa, concluem que se fazia necessário um modelo tratamento digno aos pacientes psiquiátricos e neste encontro resulta em uma proposta de mudanças para os tratamentos psiquiátricos. Após doze anos deste encontro, no Brasil foi sancionada a Lei Paulo Delgado 10.216, que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país. É o início das lutas do movimento da Reforma Psiquiátrica nos campos legislativos e normativo. (BRASIL, Ministério da Saúde, 2005) Há um redirecionamento a assistência em Saúde Mental, privilegiando o oferecimento de tratamento em serviços de base comunitária, o que impulsiona e dá um novo ritmo para o processo da Reforma Psiquiátrica. O grande desafio para a Reforma passa a ser a progressiva extinção dos manicômios, diante da trágica história da Institucionalização ocorrida no país. Pacientes que viveram institucionalizados por toda a vida apresentam grandes dificuldades de viverem fora dos muros asilares, necessitando de cuidados especializados e progressiva tentativa de libertação. Luta que ainda não tem data para terminar. Nise da Silveira, médica psiquiátrica desenvolveu as Oficinas Terapêuticas, técnica que utiliza da pintura e da escultura, como espaço criativo onde os pacientes podem se expressar, sendo essa linguagem artística repleta de significados (subjetivos) da história dos sujeitos e se mostra terapêutico no tratamento. Essa técnica vem sendo usada por psicólogos nos equipamentos da saúde mental dentro e fora dos muros dos hospitais. Com a redução dos leitos em hospitais psiquiátricos, a implementação e financiamento do Serviço de Residências Terapêuticos (SRT), surgem neste contexto como componentes decisivos da política de Saúde do Ministério da Saúde. Os Serviços Residências Terapêuticos (SRT), são moradias, são casas localizadas no espaço urbano, constituídas para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais graves, egressas de hospitais psiquiátricos ou não. (BRASIL, Ministério da Saúde, 2005) Alguns conceitos importantes para se entender o movimento da Reforma Psiquiátrica são os de Rede, território e autonomia. A rede de atenção à saúde é parte integrante do Sistema Único de Saúde (SUS) 1990, rede organizada de ações e serviços públicos de saúde, território é a construção de uma rede comunitária de cuidados fundamentais, que são as referências capazes de acolher a pessoa com sofrimento mental no município. (BRASIL, Ministério da Saúde, 2005). As redes são construídas conforme área geográfica e particularidades da região com participação dos munícipes. Essas redes podem conter Ambulatórios de Saúde Mental, Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de atendimento a infância e juventude (CAPSI) atendimentos a pacientes crônicos CAPS II) e a dependentes de substâncias químicas (CAPS AD), Residências Terapêuticas tipo I e II que diferencia pelo grau de dependência dos pacientes. Esses equipamentos são mantidos pelos municípios e recebem verbas federais. Atualmente em 2017 se tem muito a fazer, a caminhada é exaustiva, mas a cada ano conquistas são apresentadas e cada dia mais pessoas se conscientizam da necessidade de aceitação do diferente, da dignidade da vida humana, dos direitos humanos de se estar em sociedade em família, em rede de tratamentos, com equipes multiprofissionais, tratamentos que se aproximem do sofrimento mental e que alcancem o homem como um todo. A respeito de tratamentos que defendam a liberdade, GALLIO (1983) no prefácio Rotelli comenta que esta luta pela liberdade é uma aventura paciente e coletiva, elementarmente prática e quase impraticável e que a Liberdade é Terapêutica. Gallio (1983) descreve que a Instituição inventada, deverá transformar-se para tratar seus pacientes em seu meio social, para tal é necessário a participação dos pacientes, seus familiares e os profissionais da saúde mental, é uma mudança em todos os níveis político, social, científico e técnico. Na atuação técnica e multiprofissional o conhecimento científico de se tratar em equipe, com grupos terapêuticos, grupos de familiares e com oficinas terapêuticas se faz necessário aprimoramento técnico, formação e supervisão para essas novas atuações que visam o homem integral. Os grupos operativos e terapêuticos são usados e vem sendo ampliados a cada dia mais nos equipamentos de tratamento. Pichon Rivière com sua experiência em psiquiatria e com grupos operativos contribui com sua teoria de papéis assumidos no grupo como o caminho dos pacientes de alcançarem sua saúde mental, processo esse que também pode ser ministrado com as equipes cuidando da saúde mental dos técnicos. (RIVIÈRE; VELLOSO; GONÇALVES, 2005) 2. O Estágio de Psicopatologia e o papel do supervisor e do monitor A disciplina de psicopatologia está dividida em 2 tempos (semestres): Psicopatologia Geral e Especial, no primeiro semestre a teoria enfoca o exame psíquico, a história da reforma psiquiátrica e na proposta da prática objetiva-se visitas no maior número de equipamentos da saúde mental da região para primeiro contato e observação dos diversos equipamentos e construção dos projetos de atuação; no segundo tempo, enfoca-se a prática, possibilitando a escolha dos alunos no equipamento que mais se identificaram para a realização dos projetos. Neste ano de 2017 alcançamos diversos equipamentos, promovendo aos alunos uma diversidade de atuações: Hospital Psiquiátrico, Ambulatórios de Saúde Mental adulto e infantil, Residências Terapêuticas (tipo I e II), CAPS Infantil, CAPS II, CAPS AD (álcool e drogas), 24 horas e Comunidades Terapêuticas para tratamento do uso indevido de drogas, resultando em mais de cem vagas. As supervisões foram ministradas nos locais ou em sala de aula quinzenalmente. O supervisor (professor), foi responsável pelas reuniões com as gerencias dos equipamentos e preparação das vagas, para recepção dos alunos. O objetivo do estágio é estar em consonância com as instituições, com oficinas terapêuticas, grupos terapêuticos, pré-consultas psiquiátricas, reuniões com familiares, reuniões de equipe multiprofissional, acompanhamento terapêutico, passeios, cinemas, visita a parques, piqueniques, etc. O supervisor é visto pelos alunos como aquele que detém o saber e está ali para protege-los do não saber e do desconhecido. Os monitores foram vistos como iguais (identificados) a eles, para apoia-los. Rodrigues e Zaniani (2017) descrevem que existe uma idealização dos formandos de psicologia para com o papel do psicólogo, sendo este usualmente atrelado aquele sujeito que ajuda as pessoas. Atualmente, a formação generalista proposta nos cursos, se apresenta como uma forma para atender a exigência de um perfil multiprofissional que esteja apto a atuar nos diversos campos que fogem ao tradicional e que se estendem diante ao formando como uma possibilidade de atuação, visando o cuidado ao outro a partir de uma compreensão que não visa reduzir o sujeito a enfermidade, ao seu sintoma, mas compreende-lo em sua totalidade. A Universidade Paulista defende uma formação generalista, sendo o estágio de psicopatologia uma disciplina que estimula e amplia o olhar dos futuros profissionais para o outro e para o mundo. A área da saúde apresenta atualmente, uma constante mudança frente a seus paradigmas, sendo esta mudança diretamente ligada com reforma psiquiátrica. No Brasil, por volta da década de 1980 com a constituição do Sistema Único de Saúde – SUS, observamos a necessidade de mudanças estratégicas frente ao modelo proposto nos cursos voltados a área da saúde, inclusive a psicologia. O olhar se volta para a estruturação de um paradigma voltado a construção de uma identidade profissional que seja complexa e pluralista, compreendendo o sujeito através de práticas pedagógicas que integram uma gama de saberes. Ainda que exista a busca por uma mudança de paradigmas, o caminho para tanto, parece ser trabalhoso, pois, assim como descrito por Bardagi et al. (2008), na área da saúde muitos profissionais descrevem não se sentirem preparados para atuar em abordagens que divergem das tradicionais, atrelando esse resultado a uma formação tradicionalista que privilegia determinadas áreas em detrimento de outras, dificultando que o profissional tenha a possibilidade de compreender a práxis frente a determinadas áreas de sua formação, como, por exemplo, a área da saúde mental. Sendo assim o alcance dos diversos equipamentos, suas especificidades e diversidades de atuação como a qualidade de atuação do estagiário acompanhados pelo supervisor e apoiado pelos monitores são importantes na formação do psicólogo. Rodrigues e Zaniani (2017) descrevem que dentro da formação de psicólogo, existe, por vezes, a valorização do modelo clínico em detrimento das outras áreas e é nesse sentido que a prática de estágios voltadas para a atenção psicossocial se dá como algo significativo dentro do curso, sendo estas atuações discutidas no presente artigo, a psicopatologia. Caon (2002 apud Fernandes et al. 2015) descreve que submeter toda a potencialidade do páthos e da paixão perde seu significado, uma vez que reduzimos estes ao significado de enfermidade e defeito. As aulas ministradas a respeito de psicopatologia, por vezes, ainda apresentam como roteiro principal a discussão a respeito de sintomas e classificações psiquiátricas e, dado esse motivo, Dalgalarrondo (2008) descreve que a proposta de um ensino voltado para o sofrimento psíquico seria um desafio, em especial o ensino prático, sendo este o momento no qual os alunos vão a campo, em meados do fim do curso de psicologia. Dentro da prática nos estágios em psicopatologia encontramos a presença do monitor, sujeito que não se apresenta como alguém que necessariamente compreende mais do que o aluno a respeito das práticas no campo de psicopatologia, mas que minimamente possui conhecimentos teóricos ao mesmo nível que este e conhecimentos práticos recentemente adquiridos com relação a práxis. A prática da monitoria dentro do estágio em psicopatologia visa, portanto, não somente preparar o monitor no sentido acadêmico, mas colocá-lo como uma presença que busca representar amparo aos alunos, diante os questionamentos e anseios que podem ser evocados frente ao primeiro contato com a saúde mental. Fernandes (2003 apud Fernandes, 2015) descreve que o ensino de psicopatologia muitas vezes promove no aluno de psicologia uma identificação com o sujeito ao qual estuda e ele se vê confrontado por sua história pessoal, sendo diante deste aspecto que Natário (2007 apud Fernandes, 2015) e Natário e Santos (2010 apud Fernandes, 2015) entrelaçam a importância da presença do sujeito monitor nesta disciplina. Diante as experiências vivenciadas pelos alunos frente as novas situações dispostas nesta disciplina, o monitor age de modo a colaborar com o aluno para seu melhor aproveitamento, considerando que recentemente vivenciou o papel de aluno e, portanto, é provável que se sensibilize e compreenda os sentimentos evocados nos alunos frente a essa experiência, colaborando no sentido de ajudar não somente ao aluno, mas reforçar a relação existente entre aluno-professor e colaborar com a solução de problemas que podem vir a surgir. Ainda a esse respeito, Dalgalarrondo (2008) relata que o ensino frente a esta temática não pode descartar a subjetividade do sujeito, pelo contrário, deve transformar este aspecto como principal foco de trabalho. Considerando, portanto, uma reflexão acerca das dimensões e narrativas que este sujeito produz na intenção de lidar com seu sofrimento psíquico. Em momento algum, discute-se aqui a possibilidade de abandonar as práticas quanto ao ensino e discussão frente as classificações psiquiátricas, mas discute-se a importância de agregar a isso, promovendo um ensino mais humanitário, uma proposta que aproxime o aluno de um ensino que lhe permita compreender de modo mais abrangente a respeito do sofrimento psíquico do outro. O estágio em psicopatologia nesse sentido, juntamente a prática da monitoria, visa proporcionar discussões com os alunos que proporcione nestes o desenvolvimento de competências para atuar em contextos não tradicionais da psicologia, trabalhando a integração do que é ministrado em sala de aula, em relação as classificações psiquiátricas, e as formas humanitárias de intervir no tratamento do paciente psiquiátrico. Dentre os meios de intervenção, cita-se a arte como um dos principais meios, utilizando-se, para tanto, de materiais gráficos e dramatizações, por exemplo. A utilização da arte se apresenta através das oficinas terapêuticas, na qual se tem como objetivo proporcionar ao paciente a oportunidade de substituir a fala racional pela poética, trabalhando a partir da atividade proposta uma reorganização de determinados eventos da vida do sujeito e, quando possível, gerando ressignificação. Na região do Vale do Paraíba, um estudo realizado por Oliveira (2009) descreve que nas cidades de São José dos Campos e Guaratinguetá, cidades as quais possuem mais recursos e nas quais se encontram equipamentos de saúde alicerçados nas políticas da reforma psiquiátrica, encontramos a maior concentração de profissionais que utilizam da arte na intervenção em equipamentos de saúde mental, apresentando destaque para os Centros de Atenção Psicossocial, os CAPS. Os dados apontam para a utilização desses recursos principalmente em grupos, privilegiando questões conectadas ao aqui e agora e que trabalhem questões interpessoais e a escuta do outro. A atuação do psicólogo pautada em um modelo de atenção psicossocial, visando uma abordagem humanizada dentro dos mais variados contextos no qual esse profissional atua, tem alta conexão com o papel desempenhado pela universidade e o modo como proporciona uma construção de pratica crítica, corroborada pelo que é apresentado pela reforma psiquiátrica, pelas pesquisas atuais da área e frente as intervenções que valorizem a humanização e a condição de cidadão no paciente da saúde mental. O monitor em si tem uma grande função ativa, que parte de uma necessidade de maior organização, o monitor em uma disciplina na graduação tem algumas funções bem particulares, sendo elas favorecer a participação dos alunos na execução de projetos de ensino e na vida acadêmica, auxiliando os alunos principalmente no “novo” manejo, outra função é de incentivar a melhoria do processo ensino-aprendizagem, promovendo a cooperação acadêmica entre alunos e professores, papel fundamental nesse trabalho, principalmente se tratando de uma demanda grande de alunos. Também tem a função de minimizar os índices de reprovação, evasão e falta de motivação na disciplina, devido ao grande desafio do estágio, e o primeiro contado com paciente, muitos dos alunos também enfrentam suas próprias angustias, o monitor também pode trabalhar a escuta desses conflitos, diminuindo a resistência dos alunos frente aos desafios acadêmicos. Proporcionar melhoria na qualidade do ensino também é a função do monitor, função que se torna muita ativa durante o processo, muitos dos alunos precisam de um auxilio, auxilio esse que o supervisor pode deixar despercebido fazendo com que a qualidade de ensino como um todo diminua. Oferecer ao aluno experiência nas atividades técnicas, didáticas e científicas em determinadas disciplinas também é uma função muito ativa na monitoria. A última função não menos importante é de poder aprofundar o conhecimento do monitor sobre o conteúdo da disciplina, se tratando de um estágio com duração de 20h como no caso do estágio em psicopatologia no curso de graduação em Psicologia, o contato com a disciplina e principalmente com os sujeitos no qual sofrem de algum prejuízo devido a patologia em si é muito pouco e rápido, retornar a esse trabalho é sinal que se tem algo a aprender. Sobre o desenvolvimento da estratégia de monitoria e seu papel durante o estágio Fernandes et al. (2015, p.143) descreve: No desenvolvimento da monitoria, docente e monitores compartilham e discutem metodologias e estratégias com o intuito de assegurar que não apenas a aprendizagem aconteça, mas que as questões subjetivas que possam emergir durante o processo, sejam mais bem compreendidas e elaboradas, não desvinculando assim teoria da prática, nem tão pouco, prática da sensibilidade humana. O monitor, portanto, tem nesse sentido um papel que engloba um contato direto tanto com o professor supervisor quanto com o aluno, agindo, por vezes, como um interlocutor durante a prática do estágio, buscando proporcionar uma rede de comunicação linear entre aluno e professor, permitindo que mensagens sejam transmitidas de forma que todos compreendam, colaborando para uma prática do estágio que atinja os objetivos frente a proporcionar o conhecimento para aluno não somente frente a classificações psiquiátricas, mas também a uma prática humanizada, pautada nos paradigmas da Reforma Psiquiátrica e experiência para o próprio monitor, enquanto sujeito também em formação. 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivo Geral O estágio em Psicopatologia da graduação em Psicologia da Universidade Paulista de São José dos Campos no ano de 2017 teve como objetivo oferecer uma prática atualizada para os alunos, que se aproximassem dos indivíduos que sofrem com transtornos mentais e alcançassem as diversas frentes do tratamento da saúde mental e assim que pudessem ser sujeitos de crítica diante do que observam. Contamos com a experiência da professora supervisora, de 02 monitores e 120 alunos distribuídos nos equipamentos de Saúde Mental, das cidades de São José dos Campos, Jacareí e Caraguatatuba no Vale do Paraíba. 3.2 Objetivos específicos Verificar se o estágio está em consonância e ou em sintonia com as mudanças que vem ocorrendo no tratamento de Saúde Mental no Brasil e mais especificamente no Vale do Paraíba. Verificar a importância da supervisão e da monitoria durante a realização do estágio. 4. Justificativa Neste cenário de grandes desafios para o serviço público, na crescente atuação das equipes multiprofissionais, na desinstitucionalização, na volta dos pacientes para casa, na criação das residências terapêuticas, vem se construído uma prática na Saúde Mental que requer um profissional ágil, capaz de atuar em diversos campos e desenvolver a escuta psicológica diante do Caos institucional em que toda mudança é implicada. Para isso se faz necessário aproximar-se da experiência dos alunos para verificar o aproveitamento e críticas dessa vivência tão esperada por eles. 5. MÉTODO O presente artigo foi realizado a partir da aplicação de um questionário em alunos do quarto ano de psicologia, os quais estavam no período de realização do estágio de psicopatologia especial. Os resultados obtidos foram, posteriormente, quantitativa e qualitativamente mensurados e descritos para a efetivação do presente artigo. Aplicou-se aqui a definição de método proposta por Minayo (2006), a qual descreve as pesquisas quantitativas como sendo baseadas em escalas hierárquicas, enquanto as pesquisas qualitativas as quais buscam um aprofundamento no mundo dos significados, buscando compreender o que não é diretamente visível, sendo interpretado pelos pesquisadores. 5.1 Amostra A amostra pautou-se no grupo de alunos dos períodos diurno e noturno da Universidade Paulista – UNIP do curso de psicologia, matriculados na disciplina de psicopatologia especial e participantes do estágio, sendo este um total de 120 participantes, que respondessem ao questionário. Ao final da coleta de resultados obteve-se um total de 90 respostas, representando, portanto, um percentual de 75% de participantes dentre os que realizaram o estágio. 5.2 Instrumentos Para a realização do presente artigo foi aplicado um questionário nos alunos do quarto ano de psicologia da Universidade Paulista, no qual as respostas seriam de forma anônima, utilizando-se da plataforma online Survio, o qual contava com um total de seis questões, cinco destas optativas e uma questão dissertativa, todas voltadas para a prática do estágio na área de saúde mental. 5.3 Aparatos de pesquisa Foram utilizados como aparatos a fim de realizar o presente artigo computadores, a fim de se utilizar do pacote office e arquivos em formato Portable Document Format – PDF; livros e apostilas físicas e a plataforma online Survio para a aplicação do questionário. 5.4 Procedimentos Visando obter um feedback dos alunos do quarto ano de psicologia a respeito da prática do estágio, foram levantadas questões pertinentes quanto a esta temática e dispostas em uma plataforma online, solicitando aos alunos para que, ao final de seus respectivos estágios, as respondessem. As solicitações foram realizadas por intermédio da professora, em sala de aula, e pelas monitoras da disciplina, utilizando como subsídio plataformas como redes sociais, tais como Facebook e WhatsApp. Posteriormente, os dados foram analisados qualitativa e quantitativamente para compreensão e mensuração dos dados obtidos. 5.5 Considerações éticas Os objetos da pesquisa (alunos) receberam as orientações a respeito da pesquisa e assinaram o TLC. Declaração de autorização da Universidade Paulista 5.6 Riscos e benefícios Riscos: Não foram todos que responderam ao questionário. Benefícios: Avaliação do aproveitamento do estágio por parte da Instituição de Ensino e dos colaboradores com intuito de repensar a prática para o próximo ano letivo. 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO Com relação aos resultados obtidos através da aplicação do questionário será apresentado adiante uma análise quantitativa e qualitativa dos resultados referentes a cada uma das questões utilizadas para a realização do presente artigo de modo que seja possível uma análise abrangente dos dados coletados. A primeira questão do questionário se referia ao local de atuação dos estagiários e, quanto a isso, é possível observar os dados mensurados na Figura 1, apresentando um percentual de 34,4% alunos que ingressaram e realizaram suas horas de estágio no hospital Francisca Júlia, localizado na cidade de São José dos Campos, sendo este o local de estágio com o maior número de alunos inseridos, seguido pelas residências terapêuticas na cidade de São José dos Campos, sendo entre dois ou três estagiários por residência, representando 15,6 % dos alunos estagiários e o CAPS 2, localizado na cidade de Jacareí, correspondente a 12,2 %. Figura 1 – Percentual referente ao número de estagiários por equipamento de saúde mental. É pertinente considerar hipóteses com relação aos resultados obtidos frente aos locais de práticas dos estágios, considerando o alto percentual do hospital psiquiátrico em relação aos demais locais de atuação. Observa-se, atrelado a esse resultado, que os locais de estágio foram escolhidos pelos próprios estagiários, buscando mediante as possibilidades existentes encaixar os estagiários nos equipamentos de saúde de forma democrática, conforme a aspiração de cada um dos alunos. Considerando que no semestre anterior a realização dos estágios, na disciplina de psicopatologia geral, acompanhados ou da professora ou de uma das monitoras, os alunos obtiveram a oportunidade de visitar no mínimo três equipamentos de saúde, distribuídos entre as cidades de São José dos Campos e Jacareí, no interior de São Paulo, como, por exemplo, o hospital psiquiátrico Francisca Júlia e os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, para que, posteriormente, buscassem decidir o local onde realizariam suas respectivas horas de estágio, é pertinente levantar a hipótese de que tais escolhas se devem a aspectos tais quais as motivações pessoais de cada um dos sujeitos estagiários com relação a prática profissional que almejam, a identificação com a proposta de determinados equipamentos em detrimento de outros e a curiosidade que se desperta frente ao contato com o paciente psiquiátrico. Com relação a curiosidade diante ao paciente psiquiátrico e a atuação em equipamentos específicos, observa-se que se mostra como uma constante, presente nos alunos de psicologia semestres antes do momento em que irão efetivamente a campo, buscando pelo professor nos corredores e questionando ao final de aulas a respeito desta prática dentro da atuação do psicólogo. Diante disso, observa-se que, por vezes, o foco inicial do aluno, diante sua curiosidade, se volta para as classificações psiquiátricas, por conhecer o modo como a doença se apresenta no sujeito e atrelado a esse aspecto se observa a importância da realização do estágio. A esse respeito, pode-se embasar a partir da frase disposta por um dos alunos participantes do questionário que descreve a experiência da práxis neste estágio sendo “Enriquecedora e desmistificadora experiência com pacientes que normalmente são "mitos" para nós estudantes.” Nesse sentido, o estágio visa, portanto, colaborar para que o aluno possa compreender e, posteriormente, aplicar o conhecimento obtido que deverá se entrelaçar com que é posto por Piaget (s.d apud Dalgalarrondo, 2008, p.27) quando descreve que “Um fenômeno sempre é biológico em suas raízes e social em sua extensão final. Mas nós não nos devemos esquecer, também, de que, entre esses dois, ele é mental.” A prática do estágio, oferecida em diversos equipamentos de saúde, busca, portanto, promover no aluno a prática e conhecimento do campo da psicopatologia como uma possibilidade de atuação que irá compreender não somente a enfermidade, tampouco somente o sujeito, mas a complexidade existente entre estes, buscando promover a partir deste conhecimento uma prática psicológica pautada em um paradigma complexo e pluralista que apresenta como base os ideais propostos através da reforma psiquiátrica. É possível levantar a hipótese, a partir das respostas obtidas com o questionário, que o estágio aqui realizado caminha nessa direção, dado que se observaram respostas neste sentido, como uma na qual o aluno descreve a prática do estágio como “Um estágio que volta o olhar do aluno para a humanização da psiquiatria.” (2017) A segunda questão do questionário, trazia a respeito do quão o aluno percebeu a experiência do estágio como proveitosa para uma formação adequada e, quanto a isso, é possível observar na Figura2 que 90% dos participantes a perceberam a oportunidade do estágio como favorável para a sua formação, dado que 41,1% dos participantes a descreveram como tendo sido “excelente”, enquanto outros 48,9% como “bom”. A percepção de que o estágio se deu como regular representa 8,9% dos alunos, enquanto respostas de que a experiência teria sido ruim representam apenas 1,1%. Figura 2 – Percentual quanto a percepção dos alunos acerca da qualidade do estágio frente sua formação profissional em psicologia. Levanta-se a hipótese a esse respeito de que o alto índice de alunos satisfeitos com o estágio oferecido e a experiência adquirida através deste se dá em resposta as variáveis dispostas para a realização dos mesmos, como a possibilidade de conhecer os equipamentos de saúde mental próximos a região da universidade no semestre anterior ao da realização do estágio, o que permitiu aos sujeitos estagiários tomar conhecimento a respeito da estrutura e modelo de funcionamento do local, assim como permitiu o contato inicial deste aluno com pacientes psiquiátricos desde os que estão inseridos em uma instituição psiquiátrica, como o Hospital Francisca Júlia localizado em São José dos Campos, até o paciente que se encontra com maior autonomia e reside em residências terapêuticas ou participa das atividades no CAPS de sua respectiva cidade; outro aspecto que pode ser atrelado ao resultado apresentado se dá pela possibilidade que foi concedida aos alunos de optar, de acordo com suas preferências pessoais, em qual equipamento realizaria as horas de estágio, o que pode contribuir, dado que possivelmente as escolhas foram realizadas visando uma atuação futura e permitiu aos alunos o primeiro contato com uma área e equipamento que despertam seu interesse para seu futuro profissional dentro da área da saúde mental. A questão seguinte buscava compreender em que medida os alunos compreenderam a realização do estágio como um facilitador para um melhor aproveitamento do que é oferecido no curso de psicologia da Universidade Paulista, no sentido de que o estágio incentivaria estudos e leituras para a busca de aperfeiçoamento do atendimento profissional em saúde mental. Quanto a isso, observou-se um resultado positivo, sendo representado por 81,1% dos alunos que percebem a experiência do estágio como algo que promove sua prática de estudos e leituras, optando, para tanto, notas entre sete e dez para responder ao questionamento, como pode se observar na Figura 3. Figura 3 – Percentual frente a percepção dos alunos a respeito do favorecimento do estágio frente a seus estudos e leituras relacionados as temáticas debatidas no curso. Observa-se, portanto, com base nos resultados obtidos através do questionário aplicado que as práticas de estágio favorecem o estudo dos alunos no que diz respeito a busca por conhecimentos teóricos frente ao que se é proposto como prática, possivelmente promovendo a obtenção de conhecimentos pertinentes para a formação profissional e prática qualificada deste estagiário, no sentido de que promove a busca por estudos dentre o que é proposto pela grade curricular da universidade e além desta, visando sanar questionamentos subjetivos dos alunos frente a prática profissional em saúde mental. Na questão de número quatro se abordou a respeito da pertinência e importância das supervisões frente a um melhor aproveitamento e aprendizado do que foi vivenciado através da experiência do estágio em psicopatologia. Frente a esse questionamento, observa-se que de fato a realização das supervisões se mostram como um aspecto de extrema importância e pertinência para o aluno, dado que os resultados mensurados apontam um total de 42,2% que pontuaram entre nove e dez frente ao quanto acreditam ser a pertinência da supervisão, pontuação esta considerada em uma escala de um a dez, como é possível observar na Figura 4, disposta a seguir. Figura 4 – Mensuração da percepção dos alunos frente a contribuição das supervisões recebidas durante a época em que realizam o estágio em psicopatologia especial. Observa-se, a partir dos resultados, que os alunos consideram as supervisões como um fator importante de contribuição dentro da prática em saúde mental, levantando, portanto, a hipótese de que a supervisão, assim como as leituras e estudos destes, se mostram como fatores que dão um suporte ao aluno frente a prática nos equipamentos, promovendo para estes a obtenção da visão do professor-supervisor frente aos acontecimentos do estágio, o que permite a promoção de discussões em supervisão, frente a visão do supervisor e do próprio aluno com relação ao caso, dado que o aluno estagiário se dá por um profissional em formação. A quinta e última questão optativa questionava a respeito da satisfação dos alunos frente ao conteúdo teórico e prático que receberam durante a prática do estágio, questionando se estes se apresentaram de modo satisfatório frente a formação profissional dos sujeitos. Como se observa na Figura 5, a maior parcela dos alunos, representando 45,6%, percebem como satisfatório. Figura 5 – Mensuração da percepção dos alunos frente a satisfação diante os conhecimentos obtidos na prática do estágio para a formação profissional dentro do curso de psicologia. A quinta questão objetivava compreender como a disciplina de forma geral foi compreendida pelos alunos, englobando nisto aspectos teóricos e práticos, frente aos conteúdos ministrados em sala de aula e sua relação com a prática, a prática em si e a presença do supervisor e do monitor durante essa etapa. A esse respeito, observa-se que de modo geral os resultados se mostraram positivos, o que nos possibilita levantar a hipótese de que o modelo aqui proposto se apresentou como um modo positivo de ministrar a disciplina, proporcionando aos alunos conhecimento teórico e prático indispensáveis para uma prática psicossocial de qualidade. A sexta questão se deu pela única dissertativa, proporcionando aos alunos participantes do questionário relatar a respeito do modo como perceberam a práxis frente a essa etapa no estágio em psicopatologia. Observou-se frente as respostas coletadas que grande parte destas se voltaram para a prática humanizada dentro dos equipamentos de saúde mental e a oportunidade de vivenciar e aplicar conhecimentos teóricos ministrados em sala de aula frente a temática da saúde mental. 7. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento do presente artigo possibilitou obter um feedback quanto ao aproveitamento dos alunos do quarto ano de psicologia da Universidade Paulista no estágio de psicopatologia especial, realizado no segundo semestre do ano de 2017. Inicialmente levantou-se como proposta compreender a respeito do aproveitamento dos estagiários a partir da mensuração e apreensão dos dados coletados a partir da aplicação do questionário para aqueles alunos aos quais se encontravam devidamente matriculados na disciplina e realizavam o estágio. O estágio em psicopatologia se mostra como um aspecto de extrema pertinência a ser realizado dentro da formação em psicologia, considerando que é neste momento em que se dá a oportunidade do aluno de compreender o que é ministrado em sala de aula, observar e vivenciar as mudanças geradas no tratamento ao paciente psiquiátrico a partir das transformações observadas após a Reforma Psiquiátrica. Sabe-se que, inicialmente, temos a loucura definida como falta de razão, como resultado de aspectos mitológico – religiosos, e que, ao longo de sua história isso se modifica sendo compreendida posteriormente como relacionada a aspectos psicológicos e atualmente não somente psicológicos, mas de uma complexidade que compreende aspectos psicológicos, biológicos e sociais. Nesse sentido, o estágio e, conectado a isso a presença do professor supervisor e/ou do monitor, trabalham no sentido de colaborar para que o aluno vivencie uma experiência de estágio que lhe proporcione a oportunidade de não somente compreender definições psiquiátricas, mas compreende-las dentro da complexidade que envolve o trabalho em saúde mental, dominando não somente a teoria, mas sua articulação com a busca pela compreensão do ser humano em sua totalidade. A realização da presente pesquisa se mostra como pertinente, dado que permite compreender o quão o estágio desenvolvido pelos estagiários de psicologia tem alcançado a proposta inicial de proporcionar a estes uma formação pluralista, que os permita conhecer áreas e equipamentos que se mostram para além da atuação tradicional do profissional psicólogo. Proporcionando ainda a equipe envolvida para a efetivação deste estágio a oportunidade de mensurar e compreender como os alunos têm compreendido o que vem sido ministrado através da disciplina de psicopatologia especial, possibilitando um novo olhar a respeito que pode ser voltado para o aperfeiçoamento do que vem sido oferecido aos alunos como experiência de estágio em saúde mental e, portanto, visando desenvolver o que é oferecido na formação. Observou-se a partir dos resultados obtidos com a pesquisa realizada, através da aplicação do questionário online, que o modelo de estágio oferecido na Universidade Paulista caminha na direção de proporcionar o que se tem como proposta atualmente no campo de atuação em psicologia, de uma prática humanizada, pautada nos paradigmas da Reforma Psiquiátrica e que proporcione aos pacientes um atendimento psicossocial de qualidade. As respostas, em grande porcentagem se apresentaram de forma positiva e as poucas que divergem neste aspecto indicam um caminho a ser trabalhado nos estágios oferecidos nos anos seguintes, buscando proporcionar um aperfeiçoamento quanto ao que é oferecido aos alunos em formação. Considera-se também o quanto a questão da compreensão do acometimento mental passa pelas relações importantes do sujeito, sendo o adoecimento aquilo que resulta das paixões, dos abandonos e do desamparo do humano, ponto este que transita em algum momento em cada um de nós. Sendo o adoecimento mental, o enlouquecer algo não distante podendo provocar em alguns alunos uma ameaça ou até mesmo identificação, ainda não se mostrando maduros o suficiente para este enfrentamento. É interessante que novos estudos frente a essa temática sejam realizados posteriormente, possivelmente em um estudo comparativo com o presente, visando compreender como as alterações realizadas ao longo dos anos no estágio de psicopatologia especial resultaram frente ao aproveitamento dos alunos nesta vivência. REFERÊNCIAS ARANTES, Renata Afonso; CARDERELLI, Ludmila; SOUZA, Ariane Aparecida. Estágio de Psicopatologia: Aos alunos do quarto ano do curso de psicologia do ano de 2017 da Universidade Paulista – UNIP, https://my.survio.com/ Acesso em 11 de dezembro de 2017. AMARANTE, Paulo. Novos sujeitos, novos direitos: o debate em torno da reforma psiquiátrica. Cadernos de Saúde Pública, v. 11, n. 3, p. 491-494, 1995. Disponível em: Acesso em 18 de novembro de 2017 ARBEX, Daniela. 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