04/10/2021

A QUALIDADE EM SERVIÇOS EDUCACIONAIS (1) - Rabbit, run

*Dênio Mágno da Cunha

Neste momento em que acontece o retorno de estudantes às aulas presenciais, ressurge o debate sobre a qualidade dos serviços educacionais oferecidos pelas instituições públicas e privadas, em qualquer um dos níveis em que se subdivide a educação brasileira. O debate é iniciado pelas modalidades: presencial, à distância e híbrida, em suas diversas formas e percentuais. Ninguém, eu reafirmo, ninguém tem condições de neste momento afirmar que há uma superioridade de uma forma sobre a outra, de uma instituição sobre a outra.

A educação no Brasil foi zerada, está apenas respondendo às circunstâncias, mesmo nos cursos que mais exigem ação formativa presencial, como por exemplo, aqueles da área da saúde. Foram os primeiros a retornarem ao modo presencial, justamente pela necessidade das práticas laboratoriais e, especificamente no caso da Medicina, Enfermagem e Fisioterapia, por faltarem mão de obra especializada. No auge da pandemia corria-se atrás de quem fizesse adequadamente a entubação das vítimas, faltava mão de obra especializada. Mas e daí? Daí que as escolas foram obrigadas a migraram para o ensino emergencial, utilizando as plataformas de comunicação e agora, não sabem como voltar, pois estudantes e professores, preferem permanecer em casa – não em função da pandemia, diga-se. O conforto de não ter de sair para trabalhar, a economia nos custos em momento altamente inflacionário, ou o costume de um ano atuando remotamente, respondem por esta dúvida. Porque voltar ao ensino presencial se as escolas estão adaptadas ao ensino emergencial, apelidado de “novo normal”? Não há motivos. Considerando que motivos, se arranjam… (MORGAN, 1946).

E a qualidade, onde fica? Fica onde está.

Sem projeto educacional oficial, ausente de objetivos, qualquer qualidade serve, nas instituições públicas ou privadas; no ensino presencial ou à distância; do nível básico ao superior. Hoje é o mercado ou as circunstâncias é que definem a qualidade e não há quem a exija em nível elevado. É justamente neste momento que a “onça sai para beber água”. É hora daqueles que querem expandir horizontes profissionais saírem em busca de aperfeiçoamento, de aprendizagem, de integrarem-se a grupo de discussão, para construírem a educação do pós-pandemia. Sim, teremos uma vida diferente quando este vírus estiver frente a frente com a barreira dos protegidos. Ele ainda dá as cartas, graças aos que negaram o poder que ele tem, mas é por pouco tempo.

Então, para finalizar, se me permitem os meus colegas educadores: não caiam no discurso comum do vamos esperar para ver como ficará, saiam da toca, saiam para beber água, porque a fonte do futuro está limpa, precisando de pensadores-fazedores. É hora da qualificação profissional construir a qualidade da educação. “Run Rabbit”, diria John Updike (1960). A oportunidade está batendo à sua porta.


* Consultor Educacional. Doutor em História da Educação.


MORGAN, Charles. A Viagem. Porto Alegre, Editora Globo, 1946.

UPDIKE, John. Rabbit, Run. Random House, New York, 1996.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×