23/11/2017

A PSICOMOTRICIDADE PARA AUTISTAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FISICA DO ENSINO FUNDAMENTAL I

A PSICOMOTRICIDADE PARA AUTISTAS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FISICA DO ENSINO FUNDAMENTAL I

 

Daiane Batista Dos Santos Padilha, Luiz Fernando Leonardo Faria, Poliana Bortolo Da Silva Santos, Stefanie Aparecida Souza, Suzana Zacarias Souza, Daniela Moraes Scoss

Centro Universitário Ítalo Brasileiro

daianeguiga@gmail.com

 

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo identificar a contribuição da psicomotricidade para a abordagem de crianças autistas, nas aulas de educação física do ensino fundamental I. A psicomotricidade tem por objetivo desenvolver o corpo e a mente das crianças, sendo estas umas das dificuldades apresentadas pelas crianças autistas. Na atualidade a educação física não abrange esse assunto da forma que poderia ser, pois alguns professores não se preocupam em trabalhar a psicomotricidade em seus alunos. O autismo pode envolver deficiência intelectual, dificuldade de coordenação motora, distúrbios gastrointestinais, déficit de atenção e hiperatividade. É fundamental frisar que a Educação Física oferece muitas possibilidades para enriquecer a experiências das crianças, permitindo acesso a saberes corporais, experiências estáticas, emotivas, lúdicas e agonistas. A metodologia utilizada será revisão de literatura com utilização das seguintes bases de dados Scielo, Portal Sophia, Biblioteca Virtual Pearson e tendo como descritores psicomotricidade, educação física e autismo. Com o elevado índice de autismo, a psicomotricidade pode acrescentar melhorias no tempo, espaço, coordenação motora, consciência corporal, ritmo e lateralidade, esses elementos são essenciais para que possamos atingir a transformação interna do indivíduo.

Palavras chave: Psicomotricidade; Educação Física; Autismo

 

ABSTRACT

The aim of this article is to identify the contribution of psychomotricity to the approach of autistic children in physical education classes in elementary education I. The purpose of psychomotricity is to develop the body and mind of children, these being one of the difficulties presented by children autistic. At present physical education does not cover this subject in the way it could be, as some teachers do not bother to work psychomotricity on their students. Autism may involve intellectual disability, impaired motor coordination, gastrointestinal disturbances, attention deficit and hyperactivity. It is important to emphasize that Physical Education offers many possibilities to enrich children's experiences, allowing access to corporal knowledge, static, emotional, playful and agonistic experiences. The methodology used will be literature review using the following databases Scielo, Sophia Portal, Pearson Virtual Library and having as descriptors psychomotricity, physical education and autism. With the high rate of autism, psychomotricity can add improvements in time, space, motor coordination, body awareness, rhythm and laterality, these elements are essential for us to achieve the internal transformation of the individual.

Key words:  Psychomotricity, Physical Education, Autism

 

INTRODUÇÃO

 

Ressaltando a realidade educacional onde cada sala de aula tem que atender um aluno com algum tipo de deficiência segundo a Lei nº 13.146. (BRASIL, 2015). Realizando atividades que necessariamente envolvam objetivos reais e estimulando todas as habilidades motoras, psicomotoras, sensoriais, cognitivas, sociais e afetivas respeitando a capacidade de cada aluno.

Segundo Barros e Barros (2005) a psicomotricidade pode ser vista como uma ação educativa para a comunicação, linguagem e nos movimentos conscientes e naturais, aperfeiçoando a conduta global do ser humano, auxiliando de forma positiva no desenvolvimento de crianças autistas.

O ser humano tem seu desenvolvimento de modo global e no processo de aprendizagem exige determinados conhecimentos para sua construção. E com o auxílio da psicomotricidade podemos estudar a ciência do movimento do corpo, nas ligações com seu mundo interno e externo, dando a capacidade de determinar e coordenar mentalmente os movimentos corporais. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2001)

O autismo segundo Leo Kanner[1] é um distúrbio de desenvolvimento causando incapacidade de se relacionar com os outros, atrasos e erros no uso de linguagem, obsessão em manter o ambiente sem mudanças e atitudes com repetições. Para Labanca (2000) afeta interação social, comunicação e a imaginação. Já segundo Wing (1981) o autismo causa deficiências sociais, comunicativas e comportamentais.

         A psicomotricidade tem por objetivo desenvolver o corpo e a mente das crianças, sendo estas umas das dificuldades apresentadas pelas crianças autistas.  A metodologia utilizada será revisão de literatura com utilização das seguintes bases de dados Scielo, Portal Sophia, Biblioteca Virtual Pearson e tendo como descritores psicomotricidade, educação física e autismo.

 

ENSINO FUNDAMENTAL I

 

O Ensino Fundamental I tem como caráter obrigatório, sendo direito público subjetivo de cada um e como dever do estado e da família na sua oferta a todos (CONFEF apud RODRIGUES, 2017).

A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos e patrimônio da cultura do movimento (CONFEF apud RODRIGUES, 2017).

O objetivo dessa etapa de ensino, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais, deve assegurar aos estudantes o acesso ao conhecimento e aos elementos da cultura imprescindíveis para a vida em sociedade e os benefícios de uma formação comum, independente da grande diversidade da população escolar, especialmente em relação aos primeiros anos do Ensino fundamental (BRASIL, 2010).

 

CARACTERÍSTICAS DA CRIANÇA DE 6 A 10 ANOS

 

Cada criança tem seu modo de desenvolver, ou seja, os limites fixados de idade são simples indicações, pois o desenvolvimento da criança é continuo e insensivelmente progressivo. O que diferencia o desenvolvimento de uma criança para a outra e as aquisições que irão obter em cada fase desse desenvolvimento são os estímulos que lhes são dados e como esta criança ira transforma-los em aprendizado.

Piaget[2] considerou o desenvolvimento cognitivo em quatro estágios principais: os estágios sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Iremos focar no período pré-operatório, de 2 a 7 anos nesse período, a partir da linguagem a criança inicia a capacidade de representar uma coisa por outra, ou seja, formar esquemas simbólicos (TEIXEIRA, 2015).

Esse período se destaca como o declínio do egocentrismo intelectual e o crescimento do pensamento lógico, pois é nessa idade que a criança ingressa na escola, a realidade passa a ser estruturada pela razão, a criança terá um conhecimento real, correto e adequado de objetos e situações da realidade, pensa antes de agir, ou seja, ela consegue solucionar mentalmente um problema, a operação que antes levava alguns minutos agora é resolvida rapidamente (GALLAHUE, OZMUN, 2001).

 

 

Fases do desenvolvimento motor (GALLAHUE e OZMUN, 2001)

Entre os 06 e 10 anos de idade, as transformações físicas das crianças ocorrem num ritmo mais lento. O que faz toda diferença é o desenvolvimento intelectual. Os amigos ganham importância servindo de referência uns para os outros, uma atividade iniciada por uma criança sem deficiência pode servir de modelo para outra, ampliando significativamente as experiências vividas gerando benefícios as crianças autistas (PAPALIA, FELDMAN 2013).

 

PSICOMOTRICIDADE

 

Psicomotricidade é a ciência que estuda o homem através do seu corpo em movimento nas ligações com seu mundo interno e externo podendo ser definida como a capacidade de determinar e coordena mentalmente os movimentos corporais (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2001).

As funções psicomotoras são o esquema corporal, imagem corporal, orientação espacial, temporal e coordenação motora ampla e fina, ritmos, lateralidade e equilíbrio (LE BOULCH 1983 apud MELLO, 2006).

Dupré[3], em 1907, deu ênfase ao aparecimento do termo Psicomotricidade. Este reconhecimento surgiu através de estudos com crianças, designadas por retardados, os quais possibilitaram que a criança fosse considerada como um todo, tanto no aspecto motor, como no aspecto cognitivo e afetivo (FONSECA, 1992; PEREIRA, 2005).

Nos estudos dos pesquisadores mais recentes da abordagem psicomotricidade existem três principais campos de atuação, a reeducação psicomotora, a terapia psicomotora e a educação psicomotora a qual utilizaremos em nosso estudo. (BARRETO, 1982 apud MELLO, 2006).

 

A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a

eficácia e a estética, de completar e aperfeiçoar ser equilíbrio”. (COSTE, 1981 apud MIRANDA, 2002, p.11).

 

 

A psicomotricidade é a soma para auxiliar o processo do ensino aprendizagem porque ela é a ligação entre a alma, espírito, mente e a educação que atua propriamente no desenvolvimento motor, ela oferece diversas estratégias para que possa se trabalhar os obstáculos na aprendizagem associando corpo e afeto, pensamento e o nível de intelecto. A criança encontra seu corpo e o espaço no mundo ao seu redor atingindo o objetivo que é o fortalecimento da criatura e o desejo de estudar por meio do seu próprio corpo.

 

Os problemas afetivos que a criança encontra no seu meio familiar ou simplesmente uma inabilidade educativa ou o pouco tempo consagrado do meio da criança podem conjugar-se diminuindo a espontaneidade criadora. ” (LE BOUCH, 1982 apud MIRANDA, 2002, p.14).

 

AUTISMO

 

No início do século XX, surgiram várias histórias e contos ligados ao folclore, supostamente associados ao autismo devido às características das crianças que eram chamadas “crianças fadas”, esses contos de fadas insinuavam que as crianças na maioria sendo meninos eram substituídas por outras idênticas, mas que tinham uma personalidade totalmente diferente e agressiva sem demonstrar afeto (KANNER,1943 apud SCHWARTZMAN e ARAÚJO, 2011).

O Doutor Leo Kanner deu início a um artigo sobre autismo infantil em 1938 (GAUDERER,1985).

 

(...) “nesse artigo Kanner descreve 11 crianças de idades variando de 2 anos e 4 messes a 11 anos, sendo 8 meninos e 3 meninas. Ele finaliza: ” (...) Mesmo uma revisão rápida do material faz com que a emergência de um certo número de características essenciais comuns seja inevitável. Essas características formam uma síndrome única, não reportada até o momento, que parece ser suficientemente rara, embora seja provavelmente mais frequente do que seja indicado pela paucidade de casos observados. “É bem possível que tais crianças tenham sido vistas como retardadas ou esquizofrênicas. ” (KANNER, 1943 apud SCHWARTZMAN e ARAÚJO, 2011, p. 22 e 23).

 

Várias pesquisas foram feitas e por um tempo o autismo foi considerado uma psicose e um tipo de esquizofrenia, mas acabaram concluindo que elas são diferentes e consideraram o autismo como um distúrbio Persistente do Desenvolvimento Relacionado a Déficits Cognitivos (KANNER, 1943 apud GAUDERER,1985).

Kanner deu o nome “autismo” que tem origem Grega que significa ‘si mesmo’, depois de uma descoberta ao observar crianças de 5 a 6 anos com o transtorno e concluiu que elas olham muito para dentro de si (KANNER, 1943 apud SCHWARTZMAN e ARAÚJO, 2011).

Dados científicos e estudos feitos por uma entidade chamada “Board of Directors of The National Society For Autiste Children”  concluíram que o autismo é causado por disfunções incapacitantes físicas do cérebro e algumas crianças sofrem perdas graves no sistema central, seus sintomas aparecem entre os três primeiros anos sendo mais comum em meninos e encontrado em qualquer tipo de raça ou etnia, afetando a interação social e a comunicação, prejudicando as habilidades verbais e não verbais. Sendo considerada uma deficiência cognitiva onde o desenvolvimento é anormal, mas a aparência é normal (KANNER, 1943 apud GAUDERER,1985).

Os casos de pacientes diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista) sempre representam desafios na vida dos familiares e também na equipe de profissionais que precisam propor as intervenções necessárias para o tratamento.

Podendo apresentar dificuldades cognitivas e atrasos no desenvolvimento, inteligência e fala intacta ou retardos intelectuais. O retardo mental pode ser moderado ou severo causando diversas formas de comportamentos (VATAVUK, 1996; NILSSON, 2003).

Dentro do Transtorno do Espectro Autista também existem outros problemas relacionados, a criança com autismo também pode ter alterações motoras como é o caso do TDC (Transtornos do Desenvolvimento da Coordenação) que interfere não apenas na escrita, mas em organizações como correr ou qualquer outra que necessite de planejamento motor (BRITES, 2016).

Atualmente o autismo está sendo mais conhecido devido ao aumento de casos e é considerado como um transtorno do desenvolvimento neurobiológico causando danos na interação social (SCHWARTZMAN e ARAÚJO, 2011).

 

 

 

 

DESENVOLVIMENTO

 

Existem alguns fatores que podem dificultar a aprendizagem, fatores emocionais, hiperatividade e dislexia e também alguns tipos de síndromes ou transtornos invasivos que dificultam muito o processo de aprendizagem.

          Sabe-se que de acordo com a intensidade exercida pela síndrome, o acompanhamento de especialistas deve ser constante na vida da criança, a presença do profissional é imprescindível para que possam ocorrer novas melhoras, de forma gradativa e eficaz na vida do autista.   

         O diagnóstico para identificar o autismo é realizado clinicamente por profissionais qualificados, não há testes laboratoriais ou de imagens que possam diagnosticar, é importante a identificação correta se o autismo ocorre isoladamente ou apresenta se associado, baseando se nas atitudes comportamentais através de observações e anamnese (APA,2000; OMS, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE).

       Quando um indivíduo tem um bom diagnostico nos primeiros anos de vida ele tem o relacionamento e desenvolvimento diferenciado, nesses primeiros anos a diferença na criança é notada pela família devido mostrar-se indiferente aos estímulos ou brinquedos. Por outro lado, algumas crianças tem um desenvolvimento normal nos primeiros meses e repentinamente ocorrem as transformações no comportamento, uma criança portadora do autismo leve e moderado, tinha comportamentos (ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO AUTISTA).  Segundo estudos de Negrine e Machado (1999) esse fato aconteceu com um menino diagnosticado como portador de autismo leve moderado, no início era uma criança com comportamento normal, porém no decorrer do tempo ficou uma criança agitada tanto em casa como na escola.   

A psicomotricidade é uma ciência que envolve o desenvolvimento integrado de habilidades motoras associadas aos aspectos emocionais e cognitivos, com a finalidade de melhorar e lapidar as expressões coordenadas dos movimentos do indivíduo autista durante uma atividade ou uma tarefa sequencial, e o auxílio da psicomotricidade tem a função de estimular o autoconhecimento das crianças a partir de suas próprias ações, propondo aprendizagem de novos comportamentos, assim estabelecendo uma melhora na qualidade de vida da criança e da família (NEGRINE, MACHADO 1999).

Para Negrine e Machado (1999) o objetivo tem que estar em auxiliar a criança a demonstrar suas emoções e desejos buscando amadurecimento, entendendo que o processo de aprendizagem acontece primeiro dentro dela, a criança precisa entender, sentir, e pensar para que ela se desenvolva e supere suas capacidades corporais e com a utilização da psicomotricidade elas possam demonstram sinais de autonomia.

A personalidade de cada indivíduo tem por base a noção de esquema corporal, ou seja, a percepção que é feita do exterior, construída através de outros esquemas existenciais e vivenciais, como os posturais, os periféricos ou corporais e os temporais (ONOFRE, 2004).

Ainda no mesmo sentido, são as experiências da criança com o envolvimento que permitem que se organize, de um modo progressivo, as estruturas nervosas (FONSECA, 1998; ONOFRE, 2004).  Wallon se destaca por seus estudos na relação entre a motricidade e a personalidade, o qual afirma que as emoções e afetos de cada indivíduo afetam as suas ações (FONSECA, 1998; SOUSA, 2007).

Assim, toda a intervenção psicomotora deve valorizar a função tónica, postural e sensório-motora como pontos de partida da estruturação mental, e a emoção como meio de ação sobre o outro (FONSECA, 1998).

Na medida em que a Psicomotricidade objetiva melhorar ou normalizar o comportamento geral do indivíduo, desenvolvendo um trabalho constante sobre competências motoras, neuromotora e perceptivo-motoras, permite a consciencialização, por parte do mesmo, do seu próprio corpo, além do desenvolvimento do equilíbrio, da coordenação global e fina e estruturação espaço temporal (SEIXAS, 2006).

Neste sentido, a prática psicomotora pode intervir no corpo do indivíduo com TEA, promovendo o florescer da ação através de várias vias, fortificam a interiorização e impedem a relação do sujeito com o mundo exterior (SEIXAS, 2006).

Segundo Vidigal e Guapo (2003) as atividades que a intervenção psicomotora recorre, favorecem uma melhor adaptação da criança ao meio, constituindo uma ajuda para a integração da imagem corporal e diminuição das estereotipias, estabelecendo-se uma relação com o adulto.

De acordo com Sánchez, a Psicomotricidade oferece um contexto rico em estímulos para o desenvolvimento das diferentes funções comunicativas, executando um trabalho de motivação, para que a criança utilize tais funções comunicativas com o grupo. A partir da intervenção psicomotora é possível reforçar-se sistematicamente funções básicas como ajudar a guardar o material que foi utilizado em sala de aula, consolidando a comunicação entre pares. (LINARES e RODRÍGUEZ, 2003).

         Em 1996 foi criado a Lei nº 9.394/96 que defende: “Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. Ou seja, a inclusão de crianças com TEA na rede regular de ensino promovendo a interação social com crianças sem necessidades especiais tornando o indivíduo com TEA mais independente possível, capacitando-o a viver de maneira igual aos demais (BRASIL, 1996).

A TEACHH (Tratamento e Educação de Crianças Autistas e Atrasos na Comunicação) é uma abordagem com uma série de adaptações que vão influenciar no comportamento geral da criança, desde os detalhes mais simples ao mais abrangente, uma abordagem para as escolas e os professores de educação física para interação com as crianças com TEA. O professor de Educação física, precisa saber distrair e divertir a turma, mantendo uma relação positiva com cada aluno, desenvolvendo atividades significativas para aprimorar as habilidades motoras, sempre com demonstrações e auxiliando para que o autista aprenda com facilidade até executar sozinho, utilizar outros alunos como exemplo pode ocasionar grandes avanços (NEGRINE, MACHADO 1999).

O professor precisa conhecer todos os detalhes das habilidades dos autistas, os interesses e as capacidades comunicativas, para que a tarefa psicomotora proposta seja realizada com sucesso para construção da motivação, obediência, auto estima e desempenho independente, utilizando atividades para normalização do convívio social e não somente aprimoramento físico (LABANCA 2000; VATAVUK, 1996).

         Deste modo, na prática psicomotora é ideal a tentativa de combinação entre estas duas formas de intervenção, de modo a promover um ambiente lúdico, de exploração sensório-motora, de jogo simbólico e de representações, através do movimento e da regulação tónica (MARTINS, 2001).

         É comum que a criança com TEA ao ingressar na escola demonstre toda a sua inflexibilidade de maneira exacerbada. Pois, a nova experiência pode apresentar reações diversas podendo ocorrer choro, movimentos repetitivos, apego a determinados locais da escola e desobediência a ordens estabelecidas pelos professores. Por isso, é importante que essa ingressão não seja tardia e que seja feita sem retirar a naturalidade do ambiente estudantil. Levando em conta que a mesma inflexibilidade do início pode se transformar em apegos a outras situações que também podem se tornar indesejáveis (BELISARIO JUNIOR; CUNHA, 2010).

“Nesse cenário os professores têm que saber ensinar e, concomitantemente, distrair e divertir, mantendo uma relação positiva com cada aluno, pares de alunos e o grupo” (HOLLERBUSCH, 2001, p. 83).

          Atividades como rolar, pular, tocar, mudando de lado ou de posição (frente/atrás) fazem com que ela consiga, aos poucos, perceber os limites entre seu interno e seu externo. Porém, deve-se também ser cauteloso quando incluso as práticas desportivas, pois, quando usada sem os princípios da inclusão, acaba se tornando uma atividade que não favorece a cooperação, podendo gerar nos alunos sentimento de frustração.  O papel do docente no ensino do aluno autista precisa ter a persistência como grande aliada, elaborar um planejamento reestruturado a fim de atender as necessidades, desenvolver a independência e manter uma rotina de atividade, porque, exercícios que envolvam regras, gincanas e jogos imaginários, causam certa frustração e consequentemente o desinteresse pelas aulas de educação física (TOMÉ, 2007 apud MORAES, LUIZ, 2016).

         Quando planejada e desenvolvida a aula de educação física para os autistas, o local pode ser aberto, porém alguns cuidados são importantes, evitar estímulos visuais ou auditivos para não distrair o aluno e, assim, ele perder interesse pela atividade, utilizar recursos para que o aluno compreenda o início e o fim das atividades, de modo a executá-la com maior êxito e no fim de cada exercício, abrir um intervalo para que ele possa fazer algo do seu interesse (VATAVUK ,1996 apud MORAES, LUIZ, 2016).

        O trabalho com autistas, não deve ser baseado em fundamentos ou movimentos técnicos, porem devem seguir o princípio com aquecimento, atividade principal e relaxamento, que devem ser propostos ao autista por meio de combinações e repetições para facilitar a fixação e o entendimento da atividade a ser realizada (MORAES, LUIZ, 2016).

        Sendo assim, a Educação Física pode ser usada também como perspectiva terapêutica, para a incorporação de determinados comportamentos que permitam que a criança amplie sua independência, seja adquirindo autonomia para vestir-se sozinho, seja para ajudar o adulto a arrumar a sala quando a aula está por concluir. As crianças com TEA apresentam uma inaptidão para participar de brincadeiras em grupo ou para estabelecer relações de amizade. Geralmente, não participam de jogos cooperativos, demonstrando pouca emoção, pouca simpatia ou pouca empatia por outras pessoas. A falta de controle pela criança de seus impulsos, limites sociais e percepção de espaço fazem com que as formas de se expressar pelo corpo fiquem muito prejudicadas e desorganizadas. O controle de seus movimentos depende de noção espacial, sensibilidade, interação com o meio e com o outro, o autista não tem a perfeita noção do seu corpo, parece-lhe fragmentado, o que torna difícil a integração do esquema corporal e consequentemente, a estruturação da imagem do corpo (COELHO, 2011).

 

Para que o objetivo da psicomotricidade perante o autismo seja atingido, ou seja, para que se possa propiciar ao autista uma maneira confortável de viver no mundo e de ser eficiente, é preciso “dar” contorno ao seu corpo, fazendo com que ele possa ter a compreensão do que a ele pertence e do espaço, dos objetos e das pessoas que o cercam. É importante ressaltar que antes de iniciar qualquer tipo de trabalho, independente da queixa da criança, deve-se estabelecer um vínculo e um tipo de comunicação que irão permitir o desenvolvimento (COELHO, 2011, p22).

 

        As experiências sensoriais e motoras, juntamente com a relaxação, propostas pela psicomotricidade, reforçam os limites do corpo, mal definidos na criança autista (VILLARD 1984, APUD MOUSINHO, 2002).

        Os sinais emitidos pelas crianças deverão ser captados pelo professor, que, além de observador, deverá estar em constante busca do encontro do olhar da criança, para que a partir deste momento, sejam facilitadas novas vias de contato. Através do olhar, saberá o que agrada e o que incomoda o autista, ou então o que parece ser indiferente, além de ser um excelente meio de estabelecer vínculo (COELHO, 2011).

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

A proposta da faculdade no trabalho em grupo mostrou ser um grande aprendizado, por meio de pesquisas e muitas reflexões chegou-se no tema em pauta. Um dos desafios que tivemos foi a dificuldade em encontrar artigos sobre o assunto, pois o tema ainda é pouco explorado pela sociedade.

Assim, após uma devasta pesquisa conseguimos concluir que a psicomotricidade nas aulas de educação física para o aluno autista, contribui no aprendizado de seu próprio conhecimento, auxiliando a resolver seus próprios conflitos estimulando o trabalho de desenvolvimento entre corpo e mente. O aluno consegue compreender melhor o domínio de seu corpo, passa a ter noções entre espaço, tempo e equilíbrio, controlando melhor suas emoções e movimentos.

A psicomotricidade na Educação Física oferece às autistas novas formas de expressão, além de obter um grande benefício à saúde e melhora nas áreas psicomotora, social e cardiovascular, diminuindo comportamentos como: falta de atenção, impulsividade e hiperatividade.

O desenvolvimento desse estudo permitiu ainda avaliar a importância do profissional de educação física no contexto educacional e de desenvolvimento dos autistas, o qual, por meio da prática positiva de atividades físicas atua de modo a melhorar a qualidade de vida e funcionalidade dos portadores desse transtorno.

Concluímos que se faz necessário a realização de mais pesquisas relacionadas ao tema para que os profissionais que lidam com estas crianças tenham maior direcionamento durante suas aulas, possibilitando melhor desenvolvimento psicomotor de seus alunos.

Porém, em relação às evidências científicas, ainda carecem de trabalhos que comprovam a eficácia da psicomotricidade, mas clínicos e profissionais experientes vêm ressaltando seu papel na intervenção e remediação de alguns déficits muito comuns no Autismo, especialmente no que tange à coordenação motora e problemas sensoriais.

 

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STEFANINI, C. Desenvolvimento Motor. Curso de Licenciatura em Educação Física. Disciplina. Centro Universitário Ítalo Brasileiro. Primeiro Semestre 2017.

 

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VAZ, R. C. S.; SANTOS, C. S. Inclusão e Educação Física Escolar: Realidade e Possibilidades para o Aluno com Autismo na Escola Comum. Olhares e Trilhas, Uberlândia, v. 10, n. 3, p.49-63, 2009. Disponível em:<file:///C:/Users/user/Downloads/13869-52300-1-PB.pdf>. Acesso em: 28 set. 2017.

 

[1] Léo Kanner foi um psiquiatra austríaco, nascido em 1894, e que em 1943 descreveu sobre a síndrome do aspecto autistíco como um distúrbio de desenvolvimento (GAUDERER, 1985).

[2]Jean William Fritz Piaget foi um grande teórico, biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos mais importantes pensadores do século XX (WIKIPEDIA, 2017).

[3] Ferdinand Pierre Louis Ernest Dupré, foi um psiquiatra francês e professor de Psiquiatria na Faculdade de Medicina de Paris, nascido em 1862 (WIKIPEDIA, 2017). 

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