15/12/2025

A Miséria Intelectual como Combustível do Cristofascismo no Brasil

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

As falas de Nietzsche são tão assertivas nos dias de hoje quanto em sua época, e olha que a Teologia da Libertação não se trata de algo recente; é uma estratégia utilizada por líderes religiosos para manipulação de seu “rebanho”.

A internet, para muitos, é vista como uma terra de ninguém, na qual verdadeiros imbecis se sentem capacitados a falar sobre tudo. Colocam-se como verdadeiros sábios e coachs a explicitarem os chorumes das estultices saídas de suas bocas, alicerçadas por grupos fundamentalistas que têm como única fonte seus iguais.

Todavia, nesta terra de ninguém, podemos encontrar pessoas que, com maestria pedagógica, conseguem passar verdadeiros conhecimentos, balizados pela ciência como também pela história.

São pessoas com consciência de classe e consciência política e que não titubeiam em elucidar fatos e refutar inverdades proferidas por alguns oportunistas e manipuladores.

Podemos citar como exemplo Aline Câmara[1], que em um de seus vídeos dá uma verdadeira aula magna, elucidando o conceito de cristofascismo, algo que deveria ser combatido com veemência pelas escolas. Uma forma de combater algo com raízes tão profundas em nossa sociedade, inclusive em nossa política, será por meio da educação, educação esta que estes mesmos cristofascistas chamam de doutrinária.

A educação doutrinária diverge da educação porque educação doutrinária, na verdade, é adestramento, como acontece com as escolas militarizadas, nas quais os alunos têm que obedecer a comandos e ordens e não precisam pensar.

É sabido que o fundamentalismo cristão é um movimento que defende a interpretação literal e inquestionável da Bíblia, tanto que um dos movimentos mais cruéis que tivemos na história ocorreu entre os séculos XII e XIX e se chamou de Santo Ofício ou Inquisição, banalizando confiscos de bens pela Igreja, prisão e até mesmo pena de morte na fogueira.

Rocha (2014)[2] adverte que o fundamentalismo cristão quase sempre se desdobra em um fundamentalismo político, e isso temos percebido em nosso parlamento com a bancada evangélica.

Um fato interessante nas falas de Aline Câmara são as características encontradas no fundamentalismo cristão, que está em encontrar um líder que se diz ungido por Deus. Isso o dá uma ilusão de poder além das instituições, sem contar que, com seu ódio organizado, instiga a demonização de outras religiões, principalmente as de origens africana.

São pessoas com ideologias fascistas que buscam um Estado de Exceção, que justificam a violência policial e militar e legitimam a morte de pessoas pretas das comunidades.

Estas mesmas pessoas se dizem favoráveis ao autoritarismo político, mas quando a sociedade faz valer o que reza a Constituição, se dizem perseguidos por um sistema autoritarista.

O Cristofascismo prega uma moral cristã seletiva, justamente a que era refutada por Nietzsche, que a denominava de moral de rebanho, o que é facilitado pela miséria intelectual de seus fiéis.

Albuquerque (2021) [3]  esclarece que o termo cristofascismo não se trata de um neologismo, mas sim de um termo remetido pela teóloga alemã Dorothee Sölle e que, no Brasil, o ex-presidente fez um “apelo à religião foi usado como estratégia de comunicação para a manutenção do caráter autoritário de seu governo”. E observe, nas características acima, este mesmo ex-presidente se colocou como uma pessoa ungida por Deus, não a toa que seu nome tem a palavra "messias".

Segundo o pesquisador supracitado, o fundamentalismo cristão trabalhou com o imaginário das pessoas a partir de alusões à Bíblia e/ou por um messianismo difuso que não mediu esforços para um discurso religioso em volta de um projeto de poder autoritário e repressor.

Um fato interessante é que as ferramentas teológico-políticas tiveram apoio especial “de parlamentares ligados à bancada evangélica e a setores conservadores do catolicismo”.

Enfim, a educação que trabalha o discernimento do aluno, a sua autonomia intelectual, cidadania crítica e protagonismo cognoscente é a única forma de se combater o cristofascismo enraizado como câncer em nossa sociedade.

 

[1] https://www.facebook.com/reel/1185034653828927

[2] ROCHA, Zeferino. A perversão dos ideais no fundamentalismo religioso. Rev. Latinoam. Psicopat. Fund., São Paulo, 17(3-Suppl.), 761-774, set. 2014

[3] ALBUQUERQUE, B. DA S.. Evangélicos, bolsonarismo e a pandemia fundamentalista. Topoi (Rio de Janeiro), v. 22, n. 48, p. 821–825, set. 2021.

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