17/09/2015

A Interiorização da Educação Superior no Estado do Ceará

A Interiorização da Educação Superior no Estado do Ceará

                                               RAIMUNDO SANTIAGO DOS SANTOS [1]

A descrição etimológica indica que a interiorização é o ato ou efeito de interiorizar. Já interior é o que está dentro. Para a arquitetura interior é a parte de dentro da construção; para filosofia pode se referir à alma; na psicologia ou sociologia, a natureza moral e para a geografia os espaços mais distantes ou menos desenvolvidos de uma região.

Durante décadas, essas áreas internas foram de difícil acesso, pouco desenvolvidas técnico-científica e informacionalmente, não estavam integradas ao restante do país e eram pouco conhecidas. A interiorização mudou esse contexto, antes disso a globalização e a evolução tecnológica romperam as fronteiras e aproximaram as regiões, integrando-as.

As diferentes ciências conceituam interior, interioridade ou interiorização, através de diferentes visões. Sistematizar um conceito que se aplique a geografia. Interiorização pode ser considerada uma palavra polissêmica, isto é, possuem várias interpretações se considerarmos as situações de aplicabilidade.

Uma dessas situações de aplicabilidade está relacionada ao autoconhecimento. Sócrates afirmava que antes do homem se preocupar em conhecer a origem da natureza ou das coisas, deveria primeiro procurar conhecer a si mesmo. Talvez por isso a inscrição no pórtico do templo de Apolo seja “conhece-te a ti mesmo”.

Essa analogia nos permite refletir que ao interiorizar projetos, políticas, instituições e pessoas, a intenção e as consequências não são as mesmas, porque não é possível aos agentes sociais e institucionais controlarem as reações a essa ação. Nesse estudo, a ação (interiorização do ensino superior) e algumas reações a esse processo. Reconhecemos que diferentes áreas do conhecimento têm refletido sobre interior, interioridade ou interiorização. Destacamos as contribuições da filosofia, sociologia e literatura no intuito de descrever-se um conceito que se coadune às proposições para geografia.

A educação superior no Brasil historicamente foi ofertada primeiramente nas metrópoles, capitais e em poucas cidades do interior do país. O acesso ao ensino superior por pessoas do interior do país era circunscrito, tendo êxito apenas poucos privilegiados ou pessoas arrojadas e possuidoras de condições que lhes permitissem sair de sua cidade natal para estudar em outra cidade. Isto fortaleceu um modelo de desenvolvimento que acelerava o processo de concentração das populações nas capitais e metrópoles, sem, contudo criar-se condições sociais e econômicas adequadas nestes locais para tal, contribuindo como decorrência para intensificação dos problemas sociais.

Dentre os muitos desafios que o Brasil precisa enfrentar a educação superior ainda é um dos mais importantes. As taxas de inclusão de jovens na idade entre 18 e 24 anos, matriculados nas instituições públicas e privadas do país, ainda é uma das mais baixas de toda a América Latina, 12,1 %. Para se ter uma ideia, os países sul-americanos vizinhos apresentam taxas muito mais elevadas, o Chile 20,6%, a Venezuela 26% e a Argentina 40%. (MELO, P.A 2011, p.245)

Longe dos grandes centros que concentravam a Educação Superior, a aspiração de cursar faculdade mantinha-se reprimida em indivíduos que desejavam ascender de condição social e que reconhecia na Educação Superior essa possibilidade. Mas para alcançar esse objetivo tinham que migrar para as capitais, por vezes levando consigo seus familiares. Uma das consequências é que esses estudantes, depois de formados, muitas vezes não voltavam a sua cidade de origem e o interior ia perdendo seus jovens. O que representava também a “drenagem” de profissionais do interior para a capital. Este padrão acentuava as insuficiências do interior brasileiro e aprofundava os problemas sociais nas capitais e metrópoles. Mantinha um interior modesto e pobre, enquanto as capitais apresentavam um desenvolvimento desordenado e descontrolado.

           A revisão da distribuição espacial da localização das Universidades tornava-se uma necessidade cada vez mais evidente. Esta percepção se acentuou no período da interiorização de ações extensionistas das universidades brasileiras experimentadas na década de 1970 e 1980, em especial através do Projeto Rondon (RIEDER, 2011, p. 04).

Rieder (2011) relata que esse foi um período extremamente importante para re-oxigenar internamente as Universidades e suas concepções. Foi uma fase em que passaram a perceber que estavam isoladas da realidade brasileira. E constatava-se que os famosos muros da academia precisavam ser quebrados. E isto começou a acontecer. E as universidades passaram também a intensificar contatos com as comunidades, seja em suas proximidades como em regiões longínquas.

Desejamos evidenciar que a direção do ensino superior foi modificada nos últimos anos. As instituições começam a se instalar nas cidades do interior, a partir das políticas educacionais alicerçadas pelos ideais de democratização e interiorização. A descentralização do ensino técnico e superior foi defendida como fundamental para o desenvolvimento regional e para fixação da população.

O Nordeste e o Ceará (cuja posição geográfica pode ser visualizada no Mapa 2) têm sido definidos como região das perdas. Com o declínio do ciclo da cana e do algodão, no final do século XVII e início do século XVIII, a economia nordestina se enfraqueceu. Sem a renda gerada pelo açúcar, a qualidade de vida de grande parte da população sofreu forte deterioração. A estagnação socioeconômica transformou o Nordeste em uma área de repulsão populacional.

Durante as décadas de 1960, 1970 e 1980, milhares de nordestinos migraram para outras regiões, principalmente para o Sudeste em busca de melhores condições de emprego e renda. O ciclo da borracha na Amazônia, no início do século XX, também atraiu muitos cearenses. A partir da década de 1990, porém, essa migração perdeu força. As metrópoles do Sudeste vivenciaram o agravamento dos problemas sociais como a favelização e a mendicância, simultaneamente os salários muito baixos e a dificuldade de conseguir emprego influenciou e “migração de retorno” para seus estados de origem.

O censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística dos anos de 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010 permitiram a análise do crescimento populacional e as mudanças ocorridas na estrutura demográfica do estado do Ceará. Quanto ao contingente populacional, o Ceará possuía no ano de 1970, um total de 4.361.603 habitantes, passando para 8.448.055 hab. no ano de 2010. A população do estado representava 15,52% da região Nordeste e 4,68% da população brasileira em 1970, percentual que praticamente não se alterou durante os últimos quarenta anos, uma vez que em 2010 o estado correspondeu a 15,91% da população da Região Nordeste e a 4,43% do Brasil.

No tocante à distribuição da população por municípios, observa-se que a mesma não se distribui uniformemente, havendo uma maior concentração nos municípios que compõem a Região Metropolitana de Fortaleza, notadamente no município de Fortaleza, o qual deteve 28,97% da população do estado no ano de 2010. Os municípios com maiores taxas de urbanização no ano 2010 foram Fortaleza (100,00%), Eusébio (100,00%), Maracanaú (99,57%), Itaitinga (99,30%) e Juazeiro do Norte (96,07%). Já os municípios com menores taxas de urbanização e consequentemente maiores contingentes de população rural no total de suas populações foram Aiuaba (24,40%), Tarrafas (29,45%), Choró (29,52%), Granjeiro (29,59%) e Icapuí (31,42%) (IPECE, 2011).

O clima predominante é o semiárido quente, as secas são periódicas e os índices pluviométricos são baixos. As médias de temperatura variam conforme cada região do estado, sendo que no litoral, o clima é quente semiúmido com temperatura média de 27°C; as Serras são caracterizadas pelo frio e a alta umidade relativa do ar, a temperatura média é de 22°C; o Sertão é marcado pelo clima semiárido, a temperatura média é de 29°C.

A vegetação com predominância da Caatinga é uma expressão do clima, na qual ocorrem diferentes tipos de espécies, bem como de outros fatores geoambientais representados pelo relevo, solo e outros organismos. A Caatinga é formada por revestimento baixo de vegetação arbustivo-arbórea, com folhas miúdas e hastes espinhentas adaptadas para conter os efeitos de uma evapotranspiração muito intensa.

A diversidade biológica, principalmente na flora, as várias formas de manifestações culturais e até mesmo os diferentes microclimas fazem do Semiárido brasileiro uma região extremamente rica e com grande potencial para o desenvolvimento sustentável.

O Semi-árido nordestino é bastante diversificado, o que possibilitou a sua sub-compartimentação em sete (07) Grandes Unidades Geossistêmicas, a saber: (1) Depressão Sertaneja; (2) Planaltos Sedimentares; (3) Planalto da Borborema; (4) Planaltos com Coberturas Calcárias; (5) Maciços Serranos Residuais; (6) Chapada Diamantina e Encostas do Planalto Baiano e (7) Tabuleiros Pré-Litorâneos e parte da Planície Costeira. (NOGUEIRA e CARVALHO in BRASIL, 2005, p.10).

Infelizmente, as consequências das longas estiagens do passado não serviram de aprendizado para os governantes implementarem políticas públicas, que considerem as potencialidades da região, garantindo um desenvolvimento sustentável e apropriado para o semi-árido.

De acordo com Gomes, Souza e Magalhães (1995) a seca do Nordeste tornou-se um problema de política governamental a partir da segunda metade do século XIX, especialmente depois da seca de 1877. Nesta seca, a mortalidade da população foi estimada em 500 mil pessoas conforme referido por Furtado (1964) em seu estudo sobre a Formação Econômica do Brasil. As intempéries climáticas, a pobreza extrema, a fome, as doenças resultaram num movimento de migração e abandono de algumas regiões. Nessas regiões o processo educacional também foi comprometido como consequência da ausência de escolas e de professores qualificados. No interior nordestino, durante muitos anos, existiu o improviso: salas de aula precárias nas quais funcionavam diversas séries (salas multisseriadas), com um professor que por vezes só havia completado a “quarta série”. O que se observava nesse contexto era professores que tinham conhecimentos pedagógicos precários e sobre os mesmos assentavam seu ensino e pouquíssimo domínio dos conteúdos específicos que deveriam ensinar. “Com os dois eixos fracos, a base de conhecimento para o ensino é fraca, mecânica e estereotipada” (XIMENES-ROCHA, 2012, p. 42).

A educação básica, todavia, é fundamental para o ensino superior. “É impossível construir um ensino superior perfeito sobre um ensino primário e um ensino médio defeituoso” (ROCHA FILHO, 1993, p. 28). Dessa forma, no Estado do Ceará foi preciso investimentos em educação básica para que se pudesse melhorar o ensino superior, que surge tardiamente. A primeira Universidade do Estado (a Universidade Federal do Ceará) foi criada apenas na década de 1950, embora a primeira instituição de ensino superior do Ceará tenha sido o Seminário Episcopal do Ceará criado em 1864 e a primeira instituição de ensino superior nos moldes do governo brasileiro tenha sido a Faculdade de Direito do Ceará fundada em 1903. Assim, nas primeiras décadas essas instituições tiveram o desafio de se consolidar, aumentar o número de cursos e vagas ofertados, além de ampliar o número de campis.

Os dados do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes - ENADE 2005, obtidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep/MEC, 2006), mostraram que o Nordeste - somente atrás da região Sul - concentra o maior número de instituições de ensino superior com conceitos avaliados como altos, numa escala de um a cinco. Na avaliação do exame, o Nordeste atingiu percentual de 29,8% de cursos com conceitos quatro e cinco e a região Sul, 29,9%. Os estados do Sudeste estão na terceira colocação, com 27,6%. O Centro-Oeste obteve o percentual de 17,8% e a região Norte, 17,5%.

Na opinião do vice-reitor da Universidade Federal de Alagoas, Eurico de Barros Lobo Filho, o Nordeste recebeu muitas melhorias na infraestrutura das suas universidades, recursos humanos, implementação de bibliotecas, oficinas, salas de aula e na preparação do ambiente acadêmico para o aprendizado. "Há um engajamento da docência, que busca maior captação de recursos por meio de projetos de pesquisa. A convergência de todos esses fatores resultou em ensino de boa qualidade", finaliza.

Os dois pressupostos definidos no governo Fernando Henrique Cardoso: a importância do ensino superior para a melhoria da qualidade do ensino, e que a modernização do país passaria pela formação de recursos humanos qualificados, associou-se as políticas de inclusão social dos governos petistas de Luis Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef, para os quais o desenvolvimento humano poderia ser alcançado através de políticas sociais, dentre elas as políticas educacionais que permitiriam a redução do quadro histórico de desigualdade e disparidade social do Brasil.

Democratizar o acesso à educação superior deve ser muito mais do que um objetivo de governos e de pessoas, precisa ser uma política de Estado que envolva toda a Nação. Esse é um pré-requisito que precisa ser perseguido veementemente e em curto espaço de tempo. Entretanto, não se pode perder de vista a ideia de que esta política precisa vir acompanhada de outro requisito fundamental a qualidade. ( MELO, P.A 2009, p.272)

Nesse contexto, o Nordeste tem sido alvo das políticas sociais em função de suas já mencionadas perdas. No Ceará, as políticas educacionais para o ensino superior ocasionaram nos últimos anos, dentre outras ações, a ampliação das vagas e dos campi da Universidade Federal do Ceará (UFC) através do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI); ampliação dos campi do Instituto Federal de Educação (IFCE); ampliação dos campi da Universidade Estadual do Ceará (UECE); ampliação dos polos da Universidade Aberta do Brasil (UAB); ampliação de vagas e polos da Universidade Vale do Acaraú (UVA) e a criação da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB, localizada no município de Redenção - CE).

O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (IPECE) organizou em 2011 o perfil básico regional das oito macrorregiões de planejamento que compõem o estado do Ceará, criadas pela lei complementar nº 12.896 de 1999. O objetivo da lei, ao recortar o estado em microrregiões, foi permitir uma abordagem regional no Planejamento de Políticas Públicas.

As informações apresentadas objetivaram evidenciar a contribuição da UECE no processo de expansão da oferta de ensino superior e na qualificação dos profissionais de educação no Ceará. Essas ações têm sido fortalecidas pelo incremento de cursos de pós-graduação lato e strictu senso em Educação. No ano de 2012, por exemplo, a UECE conseguiu a aprovação do primeiro mestrado intercampi para o sertão central. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, aprovou a criação do Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino - MAIE que funciona nas Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM - Limoeiro do Norte) e Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC - Quixadá).

O Mestrado em Educação e Ensino possibilita a interiorização da pós-graduação strictu sensu no estado do Ceará, através da ação coordenada de duas faculdades, FAFIDAM e FECLESC, localizadas no Vale do Jaguaribe e Sertão Central.O programa apresenta uma área de concentração - Educação, Escola e Movimentos Sociais - e tem como Linhas de Pesquisa: "Educação, Escola, Ensino e Formação Docente" e "Trabalho, Educação e Movimentos Sociais".

Numa perspectiva histórica, a primeira instituição de ensino superior do Ceará foi o Seminário Episcopal do Ceará em 1864, proposto por dom Luís Antônio dos Santos, primeiro bispo do estado. Nos moldes do governo brasileiro, a primeira instituição de ensino superior foi a Faculdade de Direito do Ceará, fundada em 1903.

A Faculdade de Direito foi seguida pela criação da Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará, criada em 1916, e depois a Escola de Agronomia do Ceará, criada em 1918. A Universidade Federal do Ceará foi criada em 1957 e a Universidade Estadual do Ceará em 1975. Já a interiorização do ensino superior teve inicio na década de 1950, com a criação do Instituto de Ensino Superior do Cariri (IESC) mantenedora da Faculdade de Filosofia do Crato (FFC), primeira unidade de ensino superior criada pelo MEC, no interior do estado do Ceará.

O Ceará diferenciou-se de outros estados nordestinos, pois, inicialmente, concentrou suas atividades na capital. A difusão do ensino superior teve inicio na década de 1950 com a criação do Instituto de Ensino Superior do Cariri (IESC). O IESC era a entidade mantenedora do Ensino Superior na Diocese do Crato com a Faculdade de Filosofia do Crato, primeira unidade de ensino superior criada pelo MEC, no interior do estado do Ceará. A faculdade oferecia cinco cursos, todos reconhecidos pelo Ministério da Educação, a saber: Pedagogia, Letras, História, Ciências e Geografia. Com a criação de uma universidade pública no Crato, a Diocese, considerando que a gratuidade do ensino viria beneficiar os alunos pobres e melhorar a situação do corpo docente, acolheu a proposta de incorporar os cursos da Faculdade de Filosofia do Crato à nova Universidade.

Na tarde em que toda população católica das cidades da região sul do Ceará, sob a jurisdição da diocese do Crato, se reunia na praça da Sé daquela cidade, depois das calorosas louvações ao Senhor Bispo Dom Francisco de Assis Pires sobe a tribuna com a incumbência de declarar oficialmente criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Crato. “Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo”. Disse eu enfaticamente, aqui toda multidão respondeu entusiasmada: “Para sempre seja louvado!” E prossegui... pela graça que nos concedeu de subir a esta tribuna e vos trazer auspiciosa notícia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Crato. Terminada a minha falação fui a seguir referendado pelas autoridades civis e eclesiásticas, bem como pelos professores, intelectuais e estudantes, o ato formal da criação da primeira escola de nível superior a ser instalada no interior do estado do Ceará, tendo como sede a cidade do Crato e como entidade mantenedora o Instituto de Ensino Superior do Cariri (MARTINS FILHO, 1983, p. 173).

O discurso inaugural da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Crato proferido pelo professor Antônio Martins Filho evidencia a influência da igreja católica na educação cearense. No Ceará, a igreja católica manteve Seminários e uma rede de escolas confessionais. Assim, não surpreende que a criação da Faculdade no Cariri tenha ocorrido com festa e religiosidade.

Passada essa fase de mobilização e participação, Martins Filho, então reitor da UFC, leva o projeto para o Conselho Universitário e consegue aprovar a criação da faculdade, como agregada a essa Universidade, o que só ocorreu em 15 de maio de 1960. O pioneirismo d Faculdade de Filosofia do Crato resultou posteriormente na Universidade Regional do Cariri, criada em 19 de setembro de 1986 (ALVES, 2007, p. 54).

A difusão do ensino superior teve inicio, como visto, na década de 1950, com a Faculdade de Filosofia do Crato, que contou com a participação de dom Francisco de Assis Pires, Bispo do Crato, posteriormente a Faculdade foi incorporada à Universidade Regional do Cariri (URCA). Atualmente, a URCA possui três campi no Crato (Pimenta, São Miguel e São Francisco); dois campus em Juazeiro do Norte (Crajubar e Pirajá); o Museu de Santana do Cariri e três unidades descentralizadas em Iguatu, Campos Sales e Missão Velha.

A Faculdade de Filosofia Dom José foi criada pela Diocese de Sobral e seu nome faz referência ao primeiro bispo do município Dom José Tupinambá da Frota. Em 1968, por iniciativa do cônego Francisco Sadoc de Araújo e, através da Lei Municipal Nº 214 de 148 de 23/10/1968, sancionada pelo prefeito de Sobral, Jerônimo de Medeiros Prado, é criada a Universidade Vale do Acaraú (transformada em Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA no ano de 1984). A UVA encampou as Faculdades de Ciências Contábeis, Enfermagem e Obstetrícia, Educação e de Tecnologia, que compunham a antiga Fundação Universidade Vale do Acaraú, e a Faculdade de Filosofia Dom José, que pertenciam à Diocese de Sobral.

Na região do Jaguaribe temos a Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), solicitada pelo 1º Bispo de Limoeiro do Norte Dom Aureliano Matos e depois encampada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE).

A UECE continua seu processo de interiorização com a Faculdade de Educação, Ciências e Letras do Sertão Central (FECLESC) criada em 1976; a Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI) criada em 1979; a Faculdade de Educação de Crateús criada em 1983 e a Faculdade de Educação de Itapipoca criada em 1988.  

No Ceará, o governo do estado foi responsabilizado pela interiorização do ensino superior através de três universidades: a Universidade Estadual do Ceará (UECE), a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) e a Universidade Regional do Cariri (URCA).

Ao serem responsabilizadas pela interiorização, as universidades estaduais do Ceará assumiram como “vocação” a formação de professores, já que no decorrer do século XX, o Brasil passou de um atendimento educacional de pequenas proporções, próprio de um país predominantemente rural, para serviços educacionais em grande escala, acompanhando o incremento populacional e o crescimento econômico que conduziu a altas taxas de urbanização e industrialização.

Em termos quantitativos constatamos que a matrícula geral saltou de 2.238.773 alunos (ensino primário: 2.107.617; Ensino Médio: 108.305; Ensino Superior: 22.851) em 1933 para 44.708.589 (Primário: 35.792.554; Médio: 6.968.531; Superior: 1.947.504) em 1998 (BRASIL, 2003, p. 106). Considerando-se que a população do país girava em torno de 40 milhões em 1933, passando a aproximadamente 167 milhões em 1998, conclui-se que, enquanto a população global quadruplicou, a matrícula geral aumentou vinte vezes. Vê-se, assim, que, relativamente, a trajetória do século XX representou do ponto de vista quantitativo, um significativo avanço no campo educacional (SAVIANI, 2011, p. 7 e 8).

Esse avanço das matrículas gerou a necessidade de uma resposta institucional, que garantisse professores para esse contingente de alunos. As preocupações acerca do professor e de sua formação passam a figurar como pautas relevantes no contexto da política educacional. O Ceará, localizado numa das regiões mais pobres do Brasil, assumiu como prioridade de sua política educacional o desafio da formação de professores.

Uma primeira iniciativa foi à criação das Escolas Normais Rurais, estabelecimentos de ensino voltados para a formação de docentes que pudessem atuar nas escolas rurais do Brasil. Acerca dessa temática destacamos o estudo da professora Isabel Maria Sabino de Farias (2006) sobre a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte (Ceará) no período de 1934 a 1945, considerada na historiografia educacional como o primeiro estabelecimento de ensino voltado para a formação docente especializada. O objetivo da pesquisa foi analisar a influência do escolanovismo na formação dos professores ruralistas.

Não podemos deixar de mencionar a tese da professora Fátima Maria Leitão Araújo (2006), cujo objeto de estudo foi a proposta de formação docente das escolas normais rurais do Ceará entre 1930 e 1960. A tese aborda, além da Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte; a Escola Normal Rural de Limoeiro; o Colégio Sagrado Coração de Jesus de Quixadá; a Escola Normal Rural Santana, de Iguatu; a Escola Normal Rural de Crateús; a Escola Normal Rural Joaquim Magalhães, de Itapipoca e a Escola Normal Rural de Ipu.

As Escolas Normais Rurais se adequavam as proposições governamentais da época e almejavam responder aos problemas identificados pelos especialistas educacionais. “A fundação de uma escola de formação docente para o meio rural era a resposta que se dava aos discursos em defesa de uma ação educadora que atingisse os sertões cearenses” (ARAÚJO, 2006, p. 67).

O estudo de Araújo (2006) reconhece nas Escolas Normais Rurais uma característica também presente no discurso das Universidades para o Desenvolvimento - a regionalização. Isso fica evidenciado quando aborda a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, criada em uma região agrícola e que, portanto, clamava por uma escola que instigasse no sujeito sua consciência agrícola, por esse motivo era essencial criar uma escola de formação de professores no sertão. A ideia subjacente nas Escolas Normais Rurais e nas Faculdades que vieram posteriormente era que sua formação induziria a fixação do homem ao campo.

A pedagogia ruralista declinou, mas a discussão sobre formação de professores continuou na pauta de debates educacionais. A partir do governo Vargas, como já enfatizado no capítulo I, intensificou-se a ideia de modernização e desenvolvimento nacional e a Universidade emerge como instrumento para o desenvolvimento.

Nesse contexto, destacamos o papel da Universidade Estadual do Ceará (UECE) para o desenvolvimento educacional. Sua tradição nessa área é consequência da atenção especial à formação de recursos humanos especializados nos mais diversos campos do conhecimento no estado, sobretudo à formação de professores - sua vocação histórica.

A Universidade Estadual do Ceará é reconhecida regionalmente por sua vocação histórica na formação de professores. Dos 57 cursos de graduação (presenciais) que oferece atualmente, 45 são licenciaturas, das quais 14 acontecem nos campi da capital e 31 nos campi do interior do estado (FARIAS et all, 2011, p. 07).

A Universidade Estadual do Ceará (UECE) foi autorizada pela Lei número 9.753 de 18 de outubro de 1973, com a instituição da Fundação Educacional do Estado do Ceará (FUNEDUCE).

A resolução número 2 de 5 de março de 1975 do Conselho Diretor, referendada pelo Decreto número 11.233, de 10 de março do mesmo ano, tornou possível a criação da UECE, que teve incorporada ao seu patrimônio as Unidades de Ensino Superior existentes na época: Escola de Administração do Ceará, Faculdade de Veterinária do Ceará, Escola de Serviço Social de Fortaleza, Escola de Enfermagem São Vicente de Paula, Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos, além da Televisão Educativa Canal 5.

A UECE teve sua instalação concretizada somente em 1977, tempo em que procurou direcionar seu âmbito de abrangência àquelas profissões mais necessárias ao desenvolvimento do Ceará, naquela época: Ciências da Saúde (Enfermagem e Nutrição); Ciências Tecnológicas (Matemática, Física, Química, Ciências Pura, Geografia e Ciências da Computação); Ciências Sociais (Administração, Ciências Contábeis, Serviço Social e Pedagogia); Ciências Humanas (Letras, Filosofia, História, Música, Instrumento-Piano e Estudos Sociais) e Ciências Agrárias (Medicina Veterinária) (CEARÁ, 2012).

A Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIFAM), unidade acadêmica da UECE em Limoeiro do Norte é mais antiga que a própria Universidade. Esse ano a FAFIDAM completa 45 anos. A FAFIDAM tem por objetivo formar profissionais para atuarem na Educação Básica, atendendo assim aos anseios da população do Baixo e Médio Jaguaribe. Assim, desde a sua implantação, estrutura cursos de licenciatura plena em áreas diversas do conhecimento, visando à formação de professores atuantes em diferentes funções no âmbito das instituições educacionais da região jaguaribana. Atualmente, oferta os cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, Física, Geografia, História, Letras Português e Língua Inglesa, Matemática, Pedagogia, Química e Educação do Campo, em convênio com o MEC/FNDE/SECADI/ PROCAMPO, sendo a maior unidade da UECE instalada no interior do estado do Ceará.

A UECE foi criada com o objetivo de atender às necessidades do desenvolvimento científico e tecnológico do estado do Ceará. Dessa forma, passou a atuar em outros municípios do Estado, estruturando-se, a partir daí, em rede multicampi com faculdades nos municípios de Iguatu, Quixadá, Limoeiro do Norte, Crateús e Tauá . Através da rede "multicampi", tem privilegiado os cursos voltados para a formação de professores.

As unidades acadêmicas da UECE no interior têm se consolidado a partir da melhoria da estrutura física, qualificação de seu corpo docente (composto na maioria por mestres e doutores), desenvolvimento de projetos de extensão e de pesquisa, criação de laboratórios, oferta de grupos de estudo, dentre outros. Mas, também reclama o abandono e descaso do governo do estado, percebido na precariedade das condições de trabalho com bibliotecas defasadas, falta de salas de aula, falta de professores efetivos, falta de computadores com acesso a internet, a dependência em relação a capital, dentre outros problemas históricos. Sua organização em multicampis explicita a expansão da UECE na direção do interior. Nessas unidades acadêmicas os cursos visam à formação de um corpo de profissionais, capaz de responder à demanda por professores com formação de nível superior, particularmente em áreas específicas para o magistério no ensino fundamental (anos finais) e médio.

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[1] Professor da Universidade Estadual do Ceará-UECE, Pós Doutor em Educação (UNTREF-Argentina)

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