A Institucionalização de Projetos de Educação Preventiva: A Experiência do 12º Batalhão de Bombeiros Militar - Ijuí
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO PREVENTIVA: A EXPERIÊNCIA DO 12º BATALHÃO DE BOMBEIROS MILITAR - IJUÍ [1]
Augusto Albuquerque Moura[2]
RESUMO
Este artigo apresenta a análise de experiências do 12º Batalhão de Bombeiros Militar – Ijuí (12ºBBM) na realização de projetos de educação preventiva, cotejando-as com o curso Bombeiro Educador proposto pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) e Programa Bombeiros na Escola desenvolvido em outros Estados. Durante a pesquisa delimitou-se como foco do estudo a experiência desenvolvida no município de Horizontina/RS. Após a análise dos dados coletados durante a pesquisa, foram detectados pontos a serem readequados no projeto do 12º BBM, dentre os quais se destacam a necessidade de redefinição da faixa etária do público-alvo, a integração e equalização entre a teoria e a prática do conteúdo ministrado, a capacitação específica de Instrutores para a docência no programa, a previsão de remuneração extraordinária e/ou planejamento de emprego dos Instrutores dentro de suas cargas horárias e a regularidade de oferta de novas turmas anualmente. Ante tais constatações, verificou-se a necessidade de adoção de ajustes para possibilitar a transformação do Projeto em um Programa Institucionalizado, estabelecendo a carga horária padrão de 20 horas-aula, consistindo em 14 horas-aula a serem ministradas no ambiente escolar, priorizando aulas prático-teóricas, das quais 2 horas serão reservadas para simulado integrado na escola e 6 horas-aula a serem ministradas no quartel do Corpo de Bombeiros, com enfoque em demonstrações práticas, distribuídos em encontros de 2 horas-aula. A faixa etária do público-alvo deve ser fixada como sendo a dos alunos do 9º ano do ensino fundamental. Complementarmente constatou-se a necessidade de criar um programa paralelo para capacitação dos profissionais da educação.
Palavras-chave: Prevenção. Institucionalização. Bombeiros. Educação.
ABSTRACT
This article presents the experience analysis of the 12th Military Fire Brigade - Ijuí (12ºBBM) in the execution of preventive education projects, comparing them with the Bombeiro Educador course proposed by the National Secretariat of Public Security (SENASP) and the Firemen Program in the developed school in other states. During the research, the experience developed in the municipality of Horizontina / RS was delimited as the focus of the study. After analyzing the data collected during the research, points were identified to be re-adapted in the project of the 12th BBM, among which the need to redefine the age range of the target audience, the integration and equalization between theory and practice of the content provided, the specific training of Instructors for teaching in the program, the forecast of extraordinary remuneration and / or employment planning of the Instructors within their working hours and the regularity of the offer of new groups annually. Given these findings, it was verified the need to adopt adjustments to enable the Project to be transformed into an Institutionalized Program, establishing the standard workload of 20 classroom hours, consisting of 14 classroom hours to be taught in the school environment, prioritizing classes practical-theoretical, of which 2 hours will be reserved for integrated simulated in the school and 6 hours to be taught in the barracks of the Fire Department, focusing on practical demonstrations, distributed in 2-hour class meetings. The age range of the target audience should be fixed as that of the 9th grade students. In addition, there was a need to create a parallel program for the training of education professionals.
Keywords: Prevention. Institutionalization. Firefighters. Education.
INTRODUÇÃO
A ausência de uma cultura prevencionista na sociedade brasileira se deve em muito a inexistência de um ensino preventivo no âmbito escolar, diante disso o presente artigo objetiva, com o estudo de caso de experiências perpetradas pelo 12º BBM na educação preventiva, verificar a formatação ideal para que projetos desta natureza sejam Institucionalizados pelo Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul (CBMRS).
Neste contexto, o presente estudo pretende, como foco geral, verificar qual a formatação ideal para desenvolvimento de um programa institucional de educação preventiva no âmbito escolar.
Desta feita, pretende-se ainda o alcance dos seguintes objetivos específicos: identificar o público-alvo adequado ao Programa; verificar a carga horária necessária para o desenvolvimento do Programa; sugerir um cronograma para as aulas; avaliar o nível de satisfação de alunos, profissionais da educação e instrutores em relação às experiências desenvolvidas no 12ºBBM; analisar os parâmetros sugeridos pela SENASP para programas desta natureza; identificar experiências de educação preventiva realizadas em outras corporações.
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia utilizada na pesquisa foi o estudo de caso, visto que se caracteriza pelo aprofundamento de um determinado objeto de pesquisa, buscando compreendê-lo de forma isolada, exigindo do pesquisador uma observação rigorosa. As análises do estudo de caso baseiam-se em qualitativas, no entanto levantamentos quantitativos podem ser incorporados à coleta de dados.
Gil (2010, p. 37) afirma que "consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento". Para que seja possível alcançar o conhecimento profundo e exaustivo, serão utilizados os seguintes métodos de coleta de dados: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e questionários.
A pesquisa bibliográfica permitirá conhecimento teórico acerca das produções bibliográficas relacionadas aos assuntos pertinentes a essa pesquisa. Já a pesquisa documental permitirá profundo conhecimento sobre os projetos que foram utilizados nos municípios de Horizontina, Panambi, Cruz Alta, Ijuí e Ajuricaba. Não obstante, dar-se-á enfoque ao projeto desenvolvido no município de Horizontina, devido a maior adesão a pesquisa por meio de questionários, com retorno mais consistente na coleta de dados realizada.
Por conseguinte, foram utilizados questionários aplicados aos alunos, professores e diretores das escolas que receberam os projetos analisados, de maneira a conhecer a comunidade alvo dos projetos, bem como identificar as correções necessárias, desafios e facilitadores dos projetos desenvolvidos, como também recolher sugestões que possam contribuir na elaboração e execução de ações futuras.
O BOMBEIRO EDUCADOR
As ações educativas em nível de Corpos de Bombeiros Militares não podem se restringir ao preparo do público interno para agir de forma adequada perante os diversos tipos de ocorrências atendidas diariamente pela Corporação, pois, conforme exposto anteriormente, a missão preventiva é ampla, conglobando também ações desenvolvidas pela Corporação voltadas ao público externo, incolumidade civil, de maneira a disseminar uma cultura prevencionista capaz de impactar na redução de sinistros e acidentes.
Para tanto, devem os Corpos de Bombeiros Militares explorarem a figura do “Bombeiro Educador”, o qual no presente trabalho será definido como o Bombeiro Militar Estadual de carreira, com experiência na área operacional e com capacitação pedagógica para disseminação do conhecimento prevencionista ao público-alvo definido pela Corporação.
Sobre este ponto, friso que o simples domínio da técnica não garantirá ao Bombeiro Educador sucesso em suas instruções, caso não possua metodologia de ensino e conteúdo didático adequado às necessidades do público-alvo, logo, o profissional deve estar capacitado, motivado e possuir a sua disposição material didático e de apoio que o auxilie nas aulas ministradas. Material didático a ser disponibilizado aos alunos deverá conglobar conteúdo condizente com os anseios e necessidades da faixa etária do público-alvo, respeitando o desenvolvimento intelectual etário.
Corrobora este entendimento Santos (2009, p. 3):
Conferir a alguns bombeiros a denominação de “educador” é sério e de elevada importância. Há, por isso, a necessidade de compreender e buscar as mais variadas compreensões e significados da atividade de educação [ . . . ] Mais do que ensinar simplesmente o que é certo ou errado, o propósito do bombeiro educador é promover na comunidade, insistentemente, a mudança de hábitos e atitudes. A relevância dos executores nesse processo é tão grande que, motivação, valorização e capacitação devem fazer, obrigatoriamente, parte de um contexto e objetivo maior, que é a consecução dos objetivos da educação preventiva. De nada adiantará um excelente planejamento, apoio e envolvimento integral do Comando da Corporação se os executores não estiverem motivados ou não acreditarem na proposta, bem como, capacitados e envolvidos no processo.
Em relação à gestão de pessoas e à necessidade de manter a motivação dos colaboradores, ensina Souza (2017, p. 10, grifo do autor):
Assim, caso o colaborador (exemplo: O soldado) não verifique vantagens concretas para si próprio, no presente e no futuro, na relação de trabalho que mantém com a Corporação (empresa), ele dificilmente irá comprometer-se com ela. O fato de as Corporações (empresas) serem obrigadas a observar, com maior precisão, o conjunto de expectativas e necessidades das pessoas (público interno) fez com que surgissem as pressões do contexto interno, ou seja, de dentro da própria organização. De forma geral, têm grande dificuldade para definir com clareza o que esperam dos seus colaboradores, e dificuldades ainda maiores para definir os horizontes profissionais que podem oferecer a eles, as principais peças da Corporação. Esta indefinição afetará consequentemente seu comprometimento dentro do contexto organizacional e quiçá comportamental pois não vislumbrando claramente ascensão profissional meritória, este combatente não “vestirá a camisa” com afinco e desvelo.
Para tanto, a Secretaria Nacional de Segurança Pública – SENASP editou “O Caderno Guia Nacional do Bombeiro Educador”, concebido integralmente com base na edição 2013/2014 do Caderno Guia do Bombeiro Educador do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo, “[...] objetivando proporcionar um roteiro padronizado e abrangente sobre o conteúdo dos temas a serem abordados com cada público-alvo específico.” (BRASIL, 2014, p. 2).
O aludido caderno guia é apresentado como uma ferramenta de aproximação das corporações com a comunidade, caracterizando a educação pública como a atividade primária de prevenção executada pelos Corpos de Bombeiros Militares, visando prevenir acidentes e salvar vidas, reduzindo ao máximo o número de ocorrências e minimizando o número de mortes e pessoas feridas (BRASIL, 2014, p. 2).
O projeto Bombeiros na Escola originou-se no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo no ano de 1983, por ação do 9º Grupamento de Incêndios da cidade de Ribeirão Preto, cujos Oficiais entendiam que o Corpo de Bombeiros Militar não poderia reduzir-se às rotinas de apagar fogo, concluíram pela necessidade de intensificar as atividades no campo prevencionista, com maior dinâmica, criando naquela unidade operacional o “Programa Educacional de Proteção Contra Incêndios”, que posteriormente foi renomeado como “Programa Bombeiro nas Escolas” (SOUZA, 2003, p.16).
Conforme Souza (2003, p. 17) além do ensinamento prevencionista, visa o programa o estreitamento dos laços entre a corporação e a comunidade, incidindo sobre a maior preciosidade da sociedade, que em sua visão é a juventude escolar, instruindo-a sobre prevenção contra incêndios, necessidade de prevenção, utilização de aparelhos de combate a incêndio e noções de primeiros socorros.
Nesse sentido, a SENASP traz em seu guia sugestões de temas a serem tratados em sala de aula, nas conformidades do público-alvo delimitado, com os respectivos tópicos a serem abordados por tema, especificando os enfoques necessários, ademais, explicita textualmente a informação preventiva a ser dada, alhures padroniza procedimentos nacionalmente.
Compõem “O Caderno Guia Nacional do Bombeiro Educador” os seguintes temas: a) acionando o Corpo de Bombeiros Militar – 193; b) afogamentos; c) acidentes e incêndios domésticos; d) acidentes com crianças – ambientes externos; e) acidentes de trânsito; f) acidentes de trânsito com motocicletas; g) acidentes com animais peçonhentos; h) balões e fogos de artifícios; i) elevadores; j) enchentes; k) extintores; l) GLP – gás liquefeito de petróleo; m) incêndio em vegetação; n) noções de primeiros socorros; o) plano de abandono de edificações.
A eficácia desta espécie de programa foi comprovada pelo Corpo de Bombeiros Norte-americano da cidade de Nova Iorque, onde o número de mortes em incêndios, após a implantação do programa, reduziu em 69%, refreando de 276 mortes no ano de 1989 para 86 mortes no ano de 2007. Para tanto, a cidade contou com 30 bombeiros educadores devidamente capacitados para atividades educativas. (SANTOS, [2009]).
Sobre a redução no número de mortes na cidade de Nova Iorque, após a adoção de ações de educação preventiva, Santos ([2009], p. 13) conclui que:
Nova Iorque dá um exemplo, muito claro, de que um trabalho planejado para várias ações preventivas e claro, com um forte investimento de recursos financeiros, materiais e de pessoal capacitado, é possível sim, colher resultados expressivamente positivos na redução de ocorrências, a exemplo das mortes por incêndios ocorridas naquela metrópole [...] Não se consegue esse resultado do dia para a noite. É um conjunto de ações bem planejadas e de execuções afinadas e objetivas, realizadas profissionalmente, por pessoas capacitadas.
PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 2017-2021 DO CBMRS E AÇÕES EDUCATIVAS
A preocupação com o desencadeamento de ações preventivas voltadas à população Gaúcha é uma realidade no Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio Grande do Sul, entretanto, atualmente padece o CBMRS de um programa, aos moldes do Bombeiro na Escola, institucionalizado e sistematizado, ministrado por Instrutores capacitados especificamente para este fim.
Entretanto, existem na Corporação diversas experiências desenvolvidas em distintas localidades do Estado com o objetivo de levar conhecimento preventivo à população civil.
Porém, as ações desenvolvidas consubstanciam-se em esforços locais de Batalhões que enxergam na educação preventiva uma ferramenta hábil para redução do número de ocorrências com risco à vida, ao patrimônio e ao meio ambiente, igualmente, ferramenta para fortalecimento dos laços da Sociedade Civil com a Corporação Local.
Exemplos destes esforços foram as experiências realizadas na área do 12º Batalhão de Bombeiros Militar – Ijuí, as quais serão analisadas em momento oportuno, de forma a construir um parâmetro possível de ser utilizado pela Corporação para a Institucionalização de um Programa a nível estadual com aproveitamento das boas práticas identificadas e implemento de ajustes necessários.
A atual situação Gaúcha não é um caso isolado no cenário nacional, pois conforme Santos ([2009]) todos os Estados apurados em sua pesquisa executam alguma tipo de atividade de educação preventiva, entretanto, apenas um terço das Corporações normatizou as ações de educação preventivas, logo, adverte ainda que (SANTOS, [2009], p. 6):
[...] b) a metade dos estados, sequer, possui programas educacionais próprios; c) as atividades da grande maioria, 17 estados (89,5%), não são mensuradas, além disso, 84% deles, também não utilizam os apontadores estatísticos como norteador da atividade; d) a redução de acidentes não é a principal razão ou motivo para a execução da educação preventiva, sendo apenas a 3ª opção mais escolhida ou lembrada; e) apenas 3 Estados utilizam bombeiros designados exclusivamente para a função. Mas a realidade é que a maioria dos estados, (58%), não possui uma regra definida para emprego de bombeiros na atividade, apesar de 70% deles, afirmarem capacitar internamente os seus bombeiros, conforme demonstra o gráfico abaixo; e f) uma maioria expressiva (84%) dos Corpos de Bombeiros não determina os “temas” a serem explorados pela educação preventiva em razão de apontadores estatísticos. Além disso, metade deles, não executa suas ações educativas de forma padronizada no seu Estado;
A ausência de um “Programa Bombeiro na Escola” institucionalizado muito se deve a recente vinculação do CBMRS à Brigada Militar do Rio Grande do Sul - BMRS, Corporação da qual era uma especialidade, a qual concentrava esforços no fortalecimento e disseminação do Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência – PROERD.
É inegável que o PROERD possui imensa importância e impacta de forma positiva na sociedade no combate às drogas e à violência, exemplo dessa consagração é a sua adoção em diversos Estados da Federação, perante isto, a BMRS investiu neste programa, institucionalizando-o, concentrando recursos para formação de instrutores e para confecção e impressão de material didático específico, tanto para alunos quanto para instrutores.
No final do curso de capacitação os instrutores formados do PROERD ganham um brevê para utilizarem em seu fardamento e os distinguirem dentre os demais componentes da tropa, fator o qual orgulha e motiva estes profissionais.
Destaca Santos ([2009], p. 2-3) a importância das ações educativas preventivas:
O outro braço da prevenção é, justamente, a relação direta entre bombeiros e comunidade. É a mensagem preventiva levada diretamente ao público-alvo, quer seja por programas e ações educativas ou por campanhas prevencionistas. É a prevenção em seu mais estrito significado, é onde o bombeiro reveste-se de outra maior importância, a de um “educador”. [ . . . ] Algumas e principais ações preventivas, mesmo que a corporação enfrente problemas de efetivo, inevitavelmente deverão, ainda, ser executadas por seus integrantes.
Diante deste cenário, o CBMRS no período de transição de sua desvinculação da Polícia Militar Gaúcha procedeu à realização de estudos para construção de seu planejamento estratégico, por conseguinte, foi concebido o Planejamento Estratégico do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul 2017 – 2021.
Para que tornemos possível no futuro o que hoje consideramos impossível ou improvável é necessária uma ação estratégica, norteado para o que for mais importante, para o alcance dos objetivos propostos, portanto, os problemas devem ser enfrentados com planejamento prévio, para que assim se consiga viabilizá-los.
Outrossim, assevera Farias (2017, p. 5, grifo do autor), sobre a importância do planejamento estratégico no processo decisório:
Corporações não podem ser incapazes de pensar no futuro. Muito menos agir minimamente apenas para resolver problemas corriqueiros do dia-a-dia, mas traçar planos e metas futuras, analisar o ambiente que as cercam e gerar novos projetos. Diante dos novos desafios e das mudanças contínuas do mundo, as organizações também precisam mudar e ser ágeis na tomada de suas decisões, por isso a grande importância do planejamento. Somente com uma visão de futuro estabelecida, as organizações poderão se defender das constantes mudanças que ocorrem no mercado, agilizando seu processo de tomada de decisões. É importante ressaltar, que o planejamento precisa ser comunicado a todos os colaboradores da empresa fazendo com que estejam sempre motivados e comprometidos e conhecedores do destino a ser buscado. A grande importância de existir um planejamento estratégico é fazer com que os gestores estejam aptos a agir com iniciativa, de forma pró-ativa, contra as ameaças e a favor das oportunidades identificadas nas constantes mudanças que por hora estão freneticamente ocorrendo.
No planejamento estratégico do CBMRS 2017-2021 está presente a preocupação da Corporação com a necessidade de dar a devida atenção à educação preventiva, explorando uma linha de atuação até então pouco explorada.
Para que se possa situar o tema em questão no planejamento estratégico, primeiramente se apresenta os desdobramentos do planejamento, estruturado da seguinte forma: três eixos, doze objetivos, quarenta ações e trinta e cinco desdobramentos de ações.
Desta feita, o presente trabalho concentrar-se-á na análise do eixo “prevenção”, objetivo “Consolidar a cultura prevencionista da sociedade gaúcha”, ação: “ação 2: Institucionalizar projetos de educação preventiva” e desdobramento das ações: “Promover e realizar atividades educativas para o público externo visando capacitar multiplicadores (docentes, lideranças comunitárias e outros) e conscientizar crianças e adolescentes”, sob o enfoque da experiência do 12º Batalhão de Bombeiros Militar de Ijuí, vez que “o planejamento é fundamental para abrir o caminho até o objetivo, mas a execução é quem dará os passos para alcançá-lo.” (SANTOS, [2009], p. 19).
EXPERIÊNCIA DO 12º BATALHÃO DE BOMBEIROS MILITAR – IJUÍ: PROJETOS DESENVOLVIDOS
O 12º Batalhão de Bombeiros Militar – Ijuí (12ºBBM) é exemplo de unidade que envidou esforços para avançar na educação preventiva, para tanto, realizou variadas experiências de ensino prevencionista voltado a públicos diversos, com isto, em síntese, desenvolveu três projetos distintos, um voltado a crianças do 6º ano do ensino fundamental, outro a crianças da educação infantil até o 5º ano do ensino fundamental, por fim, um projeto voltado à capacitação de professores e funcionários de escolas.
A dificuldade para dar continuidade anualmente aos projetos ficou evidente, pois atualmente não há projetos desta natureza sendo realizados na área do 12ºBBM, razão pela qual, preliminarmente verifica-se a complexidade existente para a manutenção contínua anual das ações em escolas. Por conseguinte, pretende-se com a análise de questionários identificar os fatores intervenientes impeditivos para a solidez dos projetos, com enfoque no Projeto desenvolvido na cidade de Horizontina/RS.
Para o diagnóstico foram distribuídos questionários nos municípios, destinados à coleta de informações, concernentes ao projeto desenvolvido, junto aos instrutores, professores/diretores e alunos. Nesse sentido, foram analisados projetos desenvolvidos nos últimos dois anos em cinco cidades que pertencem a área de responsabilidade do 12ºBBM, sendo elas, Ijuí, Cruz Alta, Panambi, Horizontina e Ajuricaba.
Destacou-se o 12ºBBM pelas ações desenvolvidas na cidade de Horizontina, cujo projeto realizado no ano de 2016, com carga horária de 20 horas-aula, atendeu todos os alunos do 6º ano do ensino fundamental da rede pública e particular do município, para tanto, o projeto foi apoiado pela empresa John Deere, que patrocinou a confecção de materiais e, de forma integrada, ministrou o módulo de comportamento humano.
A referida cidade foi a que mais contribuiu com a pesquisa, retornando questionários com respostas para análise três instrutores, vinte alunos e sete diretores de sete escolas, razão pela qual concentraremos o presente estudo no projeto desenvolvido nesta cidade.
Na cidade de Panambi o projeto foi voltado a crianças da educação infantil até crianças do 5º ano do ensino fundamental, com carga horária média de uma hora-aula e meia, sendo que da pesquisa participaram dois instrutores, oito alunos do 5º ano, nove diretores e quatro professoras, dos quais quatro diretoras e três professoras eram de escolas de ensino infantil. Por questões de maturidade psicológica não foi possível realizar as pesquisas diretamente com as crianças da educação infantil, desta feita, as informações relativas ao projeto desenvolvido com este público foram coletadas diretamente com professores e diretores.
Em Cruz Alta foram desenvolvidos dois projetos, ambos com carga horária de 10 horas-aula. Um destes projetos foi o “Bombeiros na Escola” e o outro foi voltado à capacitação de professores e funcionários de escolas. Entretanto, a pesquisa na referida cidade obteve pequena adesão, retornando questionários de dois instrutores e apenas quatro alunos e quatro professores.
Não obstante, surpreendeu negativamente a participação na pesquisa do público-alvo da cidade de Ijuí, onde foi realizado projeto de 8 horas-aula voltado à capacitação de professores e funcionários de escolas, em que apenas quatro professores e dois diretores retornaram a pesquisa, além dos dois instrutores que ministraram as aulas.
Por fim, na cidade de Ajuricaba foi realizado o mesmo projeto de Ijuí, porém com carga horária reduzida para 5 horas-aula. Retornaram os questionários seis professores e cinco diretores, além do instrutor que ministrou as aulas na cidade.
Alhures, em razão da curta duração e carga horária das ações desenvolvidas em Panambi, Ijuí e Ajuricaba, mais condizente é enquadrar estas ações como palestras educativas. Com relação à cidade de Cruz Alta, por se tratar de dois projetos distintos desenvolvidos, a amostragem coletada foi pequena, por consequência prejudicando a realização de uma avaliação concisa, logo, concentraremos o presente estudo no projeto desencadeado na cidade de Horizontina/RS.
Outrossim, em que pese alguns municípios terem retornado menos questionários, o volume de informações coletadas (10 instrutores, 32 alunos, 23 diretores e 18 professores, totalizando 83 questionários respondidos), interpretadas de forma conjunta, possibilita a construção de um panorama sobre as ações de educação preventiva perpetradas pelo 12ºBBM.
Por decorrência, alguns aspectos sobre os projetos desenvolvidos serão apresentados, principalmente àqueles relativos à avaliação dos instrutores sobre os projetos.
PROJETO BOMBEIROS NA ESCOLA – HORIZONTINA/RS
1) Público-alvo: alunos do 6º ano do ensino fundamental de escolas públicas e particulares; 2) Carga horária: 20 horas-aula; 3) Conteúdo ministrado: a) Prevenção e Proteção a Sinistros e Acidentes nas Escolas; b) Defesa Civil; c) Segurança e Desempenho Humano; d) Primeiros Socorros; e) Prevenção e Combate a Incêndio; f) Busca e Salvamento; 4) Material de apoio: cartilhas, banners e folders, abrigo, camiseta, bonés e alimentação para os alunos; 5) Bombeiro Mirim: Foram selecionados alguns alunos dentre os destaques das 6ª séries; 6) Número de Instrutores utilizados: 8 instrutores; 7) Escolas atendidas: 10 escolas; 8) Alunos formados: 320 alunos.
Avaliação dos Instrutores sobre o projeto executado.
Os três instrutores participantes informaram que não receberam capacitação específica por parte da Corporação para ministrarem as aulas, para tanto se valeram de conhecimentos pessoais e profissionais pretéritos e ainda do auxílio voluntário de uma professora, mas sentiram dificuldades na questão pedagógica no trato com os alunos/adolescentes.
Em relação à carga horária mensal gasta durante o projeto informaram a quantia média de 145 horas, entretanto ao serem indagados se foram pagas horas extras ou carga horária para ministrar as aulas informou um dos instrutores que as horas teriam se fundido às escalas de serviço, dando a entender que as aulas foram ministradas durante os turnos de serviço, e os outros dois afirmaram que: “não, muito pouco.”, “não, somente algumas”, denotando a possível voluntariedade fora da escala do serviço para a execução do projeto, a qual foi confirmada posteriormente ao responderem se a execução do projeto causou prejuízos à atividade operacional, quando responderam que mesmo sem receber horas o projeto foi executado com sucesso. Os três instrutores consideraram a faixa etária ideal.
Sobre o material utilizado, foi apontada a necessidade de aperfeiçoamento, com ajustes para integrar teoria e prática, ainda foi apontada a necessidade de inserção de assuntos sobre cidadania e adequações do conteúdo a cultura local. Os três instrutores avaliaram a necessidade de aumentar a carga horária para 28 horas-aula, com enfoque nas atividades práticas.
Afirmam os instrutores que a aceitação e avaliação de pais, alunos, professores, instituições parceiras e comunidade sobre o projeto foi excelente, contudo ficaram tristes pela falta de continuidade.
Conforme relatam, todas as escolas tem interesse em receber o projeto novamente, como também, a empresa John Deere, patrocinadora do projeto, manifestou a intenção de firmar parceria nos mesmos moldes futuramente.
Para projetos futuros sugeriram um planejamento mais adequado, condizente com a realidade local de falta de efetivo, com previsão de recursos materiais e realização de qualificação dos Instrutores para ministrar aulas, por se tratar o público-alvo de adolescentes.
Percepção dos Diretores de escolas atendidas sobre o Projeto
Inicialmente esclareço que colaboraram com a presente pesquisa 7 dos 10 diretores das escolas atendidas, quantidade que representa 70% das escolas atendidas pelo projeto.
Conforme os diretores, o projeto alcançou significativos conhecimentos aos alunos, os quais tiveram a oportunidade de vivenciar diferentes situações de cuidado com a vida.
A presença do Bombeiro Militar na escola repercutiu de forma positiva, representou aos alunos conhecimento e autoridade, por se tratar de pessoas que ajudam e as quais os alunos respeitam, igualmente, trouxeram segurança, respeito e amizade entre os profissionais da Corporação e a Comunidade Escolar (alunos, professores, funcionários e pais).
Os diretores relataram terem percebido mudanças no comportamento dos alunos após as aulas, estando mais atentos, preocupando-se com os cuidados nas atividades cotidianas e zelo com a vida, como também, despertaram o espírito de liderança, tornaram-se mais solidários no auxílio ao próximo.Sobre o contato com o Bombeiro Militar, relatou uma das diretoras que os alunos “vinham eufóricos para a escola e compartilhavam com as professoras”.
O aumento da faixa etária dos alunos foi sugerido por diretores, com enfoque no 7º ao 9º anos, pela seguinte justificativa: “a faixa etária que realiza esse projeto poderia ser de idade maior, que abrangesse 7º ou 8º ano, pois assim teriam uma maior noção de corpo humano, conhecimento dos ossos, músculos (conteúdo desenvolvido em ciências no 8º ano).”.
Seis dos sete diretores afirmaram que não houve prejuízos à rotina escolar a execução do projeto, pelo contrário, conforme uma das diretoras: “o projeto veio ao encontro do projeto político pedagógico da escola”, complementou outra que: “salientamos a importância do trabalho interdisciplinar com outras instituições, pois aprimoramos os conhecimentos de nossos educandos”. Entretanto uma das diretoras avaliou a carga horária muito extensa fator que prejudicou as atividades escolares, com a utilização do horário escolar em demasia.
Foram citados pelos diretores como pontos positivos do projeto: interação, troca de conhecimentos, aprendizagem, instrutores capacitados, assuntos condizentes com o dia a dia, local adequado, parceria com outros órgãos, formação de liderança entre alunos, conhecimentos sobre primeiros socorros, aulas dinâmicas, comprometimento dos instrutores, material muito rico, projeto bem organizado.
De outro modo foram citados como pontos negativos: carga horária extensa, confecção de nós em aula, necessidade de condensação de alguns assuntos.
Como sugestões para edições futuras alguns diretores sugeriram aulas no turno inverso, melhor seleção dos conteúdos, explanação para outras turmas, aumento da faixa etária, capacitação para professores em primeiros socorros, integração da teoria e da prática, ajustar a metodologia conforme o nível intelectual dos alunos, redução para 12 horas-aula pois os alunos necessitariam de explanação na conformidade de suas capacidades de entendimento.
Avaliação dos Alunos Atendidos
O sucesso do projeto com o público-alvo ficou evidenciado na pesquisa, devido a avaliação positiva da totalidade dos alunos, que se alternaram nos adjetivos tecidos, considerando-o: muito legal, muito útil, muito bom, ótimo, legal, bom, bem desenvolvido, muito divertido.
As perguntas realizadas no questionário aos alunos foram dissertativas, sem apresentar alternativas preconcebidas, de maneira a extrair o real percepção destes jovens em relação ao contato com os bombeiros na escola. Com isto, a riqueza de espontaneidade tecida na avaliação denota a satisfação com os ensinamentos adquiridos, julgando unanimemente que os conhecimentos adquiridos serão úteis em suas vidas e de suas famílias, como também que aprovaram a maneira utilizada pelos Bombeiros Educadores durante as aulas.
Entretanto, o público-alvo, como já era esperado, apresentou várias críticas e sugestões para as próximas edições, sendo a crítica campeã a necessidade de mais atividades práticas ao ar livre com mais tempo para o desenvolvimento do projeto, ainda sugeriram: ter mais dinâmicas e grupos de conversa, inserção de cuidados com meio ambiente como tema, realização de atividades envolvendo a família dos alunos, não realizar aulas em finais de semana, oferecer material didático para melhor compreensão, fornecimento de mais lanches diários, aumento no número de turmas e extensão do projeto para todas as pessoas.
Nas sugestões alguns alunos foram além e até mesmo descreveram a dinâmica das atividades que desejariam ver incluídas; uma aluna sugeriu que: “implantação de uma piscina para que possamos aprender a nadar e ajudar pessoas que estejam se afogando; colocar fogo em alguma coisa para que possamos abafar ou usar o extintor; nos ensinar a fazer fogueira de maneira correta e nos ensinar a apagar sem usar extintor.”(sic). Outra aluna apresentou as seguintes sugestões: “carregar e efetuar salvamentos em uma van de resgate. Um aluno finge-se de machucado. Fingir acidente, ligar para um bombeiro e realizar os procedimentos necessários.”(sic).
Uma aluna do Projeto atestou a utilidade prática dos conhecimentos adquiridos, relatando a adoção de procedimentos em uma situação de seu cotidiano: “Eu mesma utilizei uma das técnicas. Estava em minha casa. Iria fazer o almoço, por isso coloquei água ferver. Sem querer havia colocado fogo no pano de prato. Lembrei-me do abafamento. Peguei um pano maior e o apalpei contra o fogo. Deu certo. Por isso a importância desse projeto. Salvamentos e precauções. Adorei muito, muito mesmo. Muito grata por tudo.”(sic).
O relato de outra aluna denota ter ficado clara a importância dos serviços prestados pelos Corpos de Bombeiros Militares: “Foi um bom projeto, os passeios os ensinamentos para a vida, mas eu gostaria que tivesse mais horas desse projeto, foi um bom trabalho desenvolvido com atividades interessantes, bons exemplos que nos deram, foi muito divertido muito educativo. O trabalho dos bombeiros é muito importante, exige dedicação carinho, coragem, esforço. Então sempre lembre-se Bombeiros na escola chegaram pra ajudar trazendo informações para nos alertar de todo o perigo até eles chegar. Parabéns pelo trabalho de vocês.”(sic).
Foram questionados ainda sobre quais temas despertaram maior interesse neles, após as respostas chegamos ao seguinte gráfico:
Os alunos ouvidos atualmente cursam o 8º ano do ensino fundamental, entretanto na época que participaram do projeto, no ano de 2016, cursavam o 6º ano do ensino fundamental, desta feita, foram indagados sobre qual profissão sonham exercer no futuro, porém nenhum manifestou o desejo de exercer a profissão de Bombeiro, apresentando as seguintes respostas:
CORREÇÕES, DESAFIOS, FACILITADORES A SEREM OBSERVADOS NA INSTITUCIONALIZAÇÃO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO PREVENTIVA
Para implementação de um projeto desta magnitude é fundamental conhecer o público-alvo, identificar sua faixa etária, escolaridade, grau de conhecimento sobre o tema, fase de desenvolvimento intelectual, atitudes e linguagem atinente à idade.
Outrossim, imprescinde a disponibilidade de um profissional capacitado para exercício desta função, portanto, é necessário a criação de um curso específico de formação de Bombeiros Educadores dentro da Corporação, capaz de habilitá-los com qualidade para exercer com proficiência a atividade de educador.
Afinal, todos os Instrutores informaram não terem recebido instrução específica para ministrarem as aulas, como também oito instrutores (80%) relataram terem sentido dificuldades para ministrar as aulas e necessidade de serem capacitados especificamente para esta atividade. Este sentimento foi corroborado por uma das diretoras, a qual constou que percebeu conhecimento técnico nos instrutores, entretanto carência de preparo pedagógico.
Além da capacitação é importante que existam incentivos atrativos e que motivem os potenciais e atuais instrutores, sendo assim, propõem-se a previsão e pagamento de horas extras pelo serviço desempenhado, pois a docência não é uma atribuição funcional ínsita à profissão, portanto, além de uma remuneração extra por este trabalho, deve ser observada a voluntariedade para a execução desta incumbência.
Contudo, caso inexistente recurso financeiro para subsidiar o programa, deve-se respeitar primeiramente a voluntariedade dos Bombeiros Militares e posteriormente garantir que a carga horária correspondente ao planejamento das aulas e de sua realização seja contabilizada na carga horária mensal realizada, pois desta forma, será possível garantir a característica institucional do projeto, evitando a personalização das ações, como também, a desmotivação dos instrutores ao se desrespeitar seus momentos reservados para folga e desfrute de seus familiares.
Para que a educação seja realizada com proficiência, defende Santos ([2009], p. 18) a existência de um sistema de ciclo completo da educação preventiva nos serviços de bombeiros, dividido em etapas, conforme a ilustração a seguir:
Alhures, os princípios básicos sobre o Programa devem ser disseminados desde o curso de formação e sucessivamente durante a carreira do Bombeiro Militar, de forma a incutir em seu espírito a educação prevencionista.
Sobre este ponto, aponta Santos ([2009], p. 7-8) em seu estudo sobre o tema no Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado de São Paulo:
no entendimento das Unidades, todas as ações educativas são realizadas por bombeiros capacitados, o resultado chama a atenção, uma vez que, não há oficialmente, no momento, nenhuma qualificação interna no CB para a capacitação de bombeiros educadores. É provável que, de forma autônoma, tenham “capacitado” ao seu modo, alguns de seus bombeiros, interna ou externamente.
Este excerto evidencia que mesmo a Corporação pioneira na implantação deste programa a nível nacional não possui um curso específico voltado à capacitação de instrutores do Programa Bombeiros na Escola.
Na pesquisa realizada por Santos ([2009], p. 9-10) na Corporação Paulista foram identificados como principais problemas e dificuldades para a execução do Programa: 1º - falta de efetivo, 2º - falta de pessoal interessado na atividade, 3º - falta de capacitação, 4º - ausência de uma diretriz ou norma reguladora para a atividade e, por fim, 5º - orientação superior para a execução da atividade. Como também, constatou que 52% dos instrutores consideram as atividades operacionais mais importantes que as preventivas, e apenas 17,9% veem a prevenção como mais importante, já para 28,5% são de igual importância, motivos pelos quais Santos sustenta a necessidade de reforço da cultura prevencionista na Corporação.
Por outro prisma, aconselha o” Caderno Guia Nacional do Bombeiro Educador” (SENASP, 2014, p. 6), sobre a preparação de apresentações e palestras, “[...] ser necessário, muitas vezes, determinar o quanto e a que ritmo o público geralmente assimila as informações. De que forma a informação deve ser apresentada? Escrita, falada, por meio de recursos audiovisuais, etc.”.
No que atine à carga horária estabelecida para o projeto verifica-se que em razão da ampla gama de temas discutidos as 20 horas-aula previstas são adequadas como padrão para um Programa Institucionalizado, entretanto, ficou visível a carência de atividades práticas, impedindo que os conhecimentos adquiridos no projeto sejam testados na prática monitorada.
Em razão disso propõe-se que 6 horas-aula sejam realizadas dentro do Quartel, divididas em 3 encontros de 2 horas-aula com enfoque na testagem dos conhecimentos adquiridos. Ao passo que 14 horas-aula prático-teóricas sejam ministradas no ambiente escolar, das quais 2 horas propõem-se que sejam reservadas para um simulado integrado sobre evacuação de edificações e ações coletivas diante de sinistros.
No planejamento do Programa a ser desenvolvido a faixa etária do público-alvo é fator preponderante, pois o conteúdo ministrado deverá ser condizente com a maturidade do discente.
Sobre a maturidade do público-alvo ensina o “Caderno Guia Nacional do Bombeiro Educador” (SENASP, 2014, p. 6):
O nível de maturidade também deve ser considerado. Não é sensato, por exemplo, uma lição de prevenção sobre a correta utilização dos extintores portáteis com uma turma de crianças da escola primária, que não estão suficientemente maduros para decidir quando é seguro utilizá-lo e de que forma.
A educação escolar está definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB, Lei nº 9.394 de 1996, estando dividida em Educação Básica, composta pela educação infantil (0 a 5 anos), ensino fundamental (6 a 14 anos) e ensino médio (15 a 17 anos), e em Educação Superior (BRASIL, 1996).
Conforme vimos anteriormente, vários são os fatores que dificultam o desenvolvimento do programa, principalmente a falta de efetivo capacitado, diante disso, é crucial que o planejamento delimite de forma adequada o público-alvo que se quer atingir, de forma a garantir que as instruções surtam os efeitos desejados, com assimilação adequada pelos ouvintes, de maneira que consigam ao final além da compreensão da teoria, também possam se sentir hábeis para executar as técnicas aprendidas, por conseguinte, formando-se multiplicadores do conhecimento auferido.
Ademais, a Corporação deve enxergar esta oportunidade de aproximação com os jovens, como um meio para despertar o interesse pela profissão de Bombeiro Militar, objetivando angariar recursos humanos motivados e convictos da função que exercerão e do compromisso social de salvar e proteger do Corpo de Bombeiros Militar.
Logo, o público-alvo indicado para programas aos moldes do proposto no Bombeiro na Escola são adolescentes matriculados no 9º ano do ensino fundamental, por ser um ano de transição, no qual o jovem já possui capacidade psicológica e física para interagir nas instruções, como também, período no qual começará a definir a profissão que deseja exercer após a conclusão do ensino médio e por fim, pelo fato de comprovar a experiência paulista ser o público-alvo adequado há mais de 30 anos.
Por este enfoque, vejamos o gráfico a seguir que apresenta as profissões desejadas pelos 32 alunos pesquisados, entretanto, a profissão de Bombeiro Militar não foi citada:
Portanto, a iniciação precoce deste projeto para as faixas etárias que compõe os demais anos do ensino fundamental obterá piores resultados no longo prazo, devido à imaturidade psicológica do público-alvo.
Esta visão sobre o último ano do ensino fundamental agrupar a faixa etária alvo do programa é compartilhada por Souza (2003, p. 18):
A escolha do grau de escolaridade do aluno e de sua faixa etária segue critérios de padronização e adequação ao PBE, sendo importante frisar que, com essa idade e escolaridade, os alunos estão mais maduros psicológica e fisicamente para absorver os conteúdos técnicos, além de mais capazes de tomar as medidas adequadas para a pronta atuação em caso de sinistro. Soma-se a isso o fato de que, um aluno com essas características, além de assimilar e executar as manobras próprias do curso poderá constituir-se em um agente multiplicador mais eficiente do que em uma faixa etária menor, porque poderá compreender a base técnica das aulas.
Comunga deste entendimento Bortolini apud Souza (2003, p. 19):
[...] "... sob o aspecto pedagógico, na escolha da melhor série para se desenvolver o PBE, deve-se considerar que o indivíduo já tenha aprendido noções de ciências físicas, químicas e fisiológicas, sendo as duas primeiras necessárias para o bom entendimento da natureza do fogo e dos métodos de extinção. O conhecimento da fisiologia do corpo humano permite melhor assimilação das instruções de primeiros socorros, bem como os efeitos produzidos no organismo humano pelo resultado da combustão. (...) Analisando o currículo do Ensino Fundamental, no que diz respeito às bases curriculares comuns, nota-se que os alunos adquirem conhec1mentos básicos de fisiologia do corpo humano e ciências física e química, na sétima série do Ensino Fundamental. (...) considerando que os alunos concluem a sétima série entre os treze e quatorze anos de idade, e há o registro de que o Corpo de Bombeiros de Ribeirão Preto desenvolve desde 1984, programa idêntico ao proposto, para as oitavas séries, conclui-se que a melhor série para o desenvolvimento do PBE é a oitava série do Ensino Fundamental".
No sistema de ensino atual o 9º ano do ensino fundamental equivale à antiga 8ª série do ensino fundamental. Os artigos 26 e 27 da LDB demonstram a pertinência da inserção do Programa Bombeiro na Escola no currículo escolar, como forma de complementação da parte diversificada, nas conformidades das características regionais e por se tratar de difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática:
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino fundamental e do ensino médio devem ter base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e dos educandos. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica observarão, ainda, as seguintes diretrizes: I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática; II - consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada estabelecimento; III - orientação para o trabalho; IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não-formais. (BRASIL, 1996, grifo nosso).
Chama-se a atenção para o fato da cultura preventiva ser praticamente inexistente nos currículos escolares, prova disso é o fato do currículo do Ensino Fundamental, muito embora possua 25% da carga horária destinada para a parte diversificada, não conter disciplinas relativas ao estudo da prevenção, combate a incêndio e primeiros socorros.
Atinente à metodologia adequada ao Programa, para que se constitua em uma base consistente de prevenção, deve se pautar, com enfoque nos riscos característicos de cada região, por técnicas e procedimentos cujas etapas facilitem a memorização dos alunos, fomentando o trabalho em equipe, iniciativa e pronta resposta, para que compreenda estes elementos vitais em situações de crise (SOUZA, 2003, p. 17).
Por fim, destaca-se a importância de programas voltados aos profissionais da educação, os quais trabalham diariamente com públicos de idades variadas, em ambientes com grande concentração de pessoas e suscetíveis a eventos imprevisíveis, portanto, levar a estes profissionais conhecimentos mínimos sobre prevenção poderá preservar vidas humanas.
Tal preocupação deve-se ainda ao fato de apenas cinco dos vinte e três diretores consultados terem informado que os professores de suas escolas sentem-se capacitados para intervir em situações de emergência com risco a vida humana no ambiente escolar.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após tudo o que foi posto resta explícita a importância do projeto Bombeiros na Escola transformar-se em um Programa Institucionalizado no Corpo de Bombeiros Gaúcho, após os devidos ajustes necessários.
Por este ângulo é importante que a práxis norteie a revisão do conteúdo didático e metodológico do programa, atrelando consistentemente o conhecimento teórico com o prático, de maneira que as pessoas não titubeiem diante de situações de risco e emergenciais e recordem-se dos ensinamentos transmitidos e adotem-nos na prática dentro da técnica aconselhável.
Sendo assim, a educação preventiva deve ser levada tanto aos alunos quanto aos professores, e aos alunos de maneira a incentivar que os temas tratados na escola sejam discutidos em seus lares com seus familiares, para que assim, atinjamos um efeito multiplicador dos conhecimentos.
Para tanto, o material didático a ser utilizado deve conter, a exemplo do hodiernamente utilizado nas cartilhas do PROERD, atividades de casa que devem ser realizadas de forma conjunta entre pais e filhos, por consequência se alcançará uma demanda até então reprimida e difícil de se alcançar, além do mais, pelo fato de se concentrar esforços em determinadas faixas etárias, será possível que o próprio aluno multiplique tais conhecimentos a outras faixas etárias com os quais tem o contato diário.
Estas ações educativas são fundamentais para incutir em nossa sociedade a cultura prevencionista, por consequência reduziremos o número de acidentes e óbitos, com resultados visíveis já no médio prazo, conforme comprovou os resultados obtidos pelo Corpo de Bombeiros da cidade de Nova Iorque.
Para tanto, é imperativo investir na capacitação de Bombeiros Educadores, porém não somente alcançando-lhes o conhecimento de técnicas, mas também os capacitando para a proficiência em ensino, para que realmente possam ser considerados educadores.
Não obstante, há também a necessidade de valorizar estes profissionais com a previsão de vantagens pecuniárias ou flexibilização de suas jornadas de trabalho, podendo ser por meio do pagamento de horas extras ou implementação de ajustes nas escalas de serviço com consequente contabilização da carga horária executada no planejamento e na ministração de aulas.
Outrossim, a escolha adequada do público-alvo é fundamental para que o programa alcance os objetivos propostos, logo, conclui-se pela fixação do público-alvo como sendo os alunos do 9º ano do ensino fundamental, pelas razões anteriormente expostas.
Atrelado a isso, que seja criado um programa específico para capacitação de profissionais do ensino de escolas públicas, de maneira a capacitá-los para agir diante de situações emergenciais, e neste ponto, desenvolver ações integradas entre toda a escola, fomentando a adoção de medidas de forma coletiva, reduzindo-se o nível de pânico em possíveis situações de crise e simultaneamente redução do número de feridos e de mortos.
Por derradeiro, a experiência da cidade de Horizontina deixou evidente a preocupação social com a prevenção, bem como, o apoio irrestrito a reedição deste projeto a nível local, inclusive a empresa apoiadora manifestou interesse na retomada do projeto, portanto, é visível que um dos facilitadores de um Programa Bombeiros na Escola institucionalizado serão a adesão e o apoio da iniciativa privada locais.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República