15/09/2025

A Indisciplina no Ensino Fundamental: Desafios, Causas e Estratégias Pedagógicas

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Vanilda de Deus Silva

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Juliana Cristina Rogerio dos Santos

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Cristina Fagundes Correa Rosa

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Leonice Monteiro

Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Matematica. Especialista em Alfabetização e Letramento. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Cristilene Franco da Cruz

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

 


      A indisciplina nas turmas do Ensino Fundamental é um dos temas mais recorrentes nas discussões educacionais, tanto no âmbito da prática docente quanto nas pesquisas acadêmicas. Frequentemente apontada como obstáculo ao processo de ensino e aprendizagem, a indisciplina envolve comportamentos que desafiam a organização escolar, a autoridade docente e a convivência em sala de aula. Contudo, reduzi-la a um problema de obediência é insuficiente: trata-se de um fenômeno social, cultural e pedagógico, que exige compreensão ampla e estratégias coletivas (Aquino, 1996; Vasconcellos, 2013).

      Ao refletir sobre a indisciplina, é necessário reconhecer que a escola contemporânea enfrenta novas demandas sociais e culturais. Crianças e adolescentes estão inseridos em um mundo digitalizado, com múltiplas formas de comunicação e sociabilidade, o que influencia suas atitudes dentro e fora da escola. Assim, compreender as causas da indisciplina e elaborar práticas de gestão pedagógica adequadas é essencial para a qualidade do processo educativo.

      Segundo Aquino (1996), indisciplina escolar refere-se a comportamentos que perturbam o funcionamento da sala de aula ou da instituição, não se restringindo a atos graves, mas incluindo pequenas atitudes que comprometem o clima educativo. Pode manifestar-se de várias formas: conversas paralelas, atrasos, desatenção, desrespeito às regras, agressividade física ou verbal, e resistência às atividades propostas.

      Para Charlot (2000), a indisciplina deve ser entendida em relação ao sentido que os alunos atribuem à escola. Muitas vezes, o que aparece como falta de disciplina é resultado de uma desconexão entre os conteúdos escolares e a realidade vivida pelos estudantes. Quando o aluno não percebe relevância no que aprende, tende a adotar atitudes de desinteresse ou oposição.

      A indisciplina é um fenômeno multifatorial, influenciado por aspectos individuais, familiares, escolares e sociais.

  1. Aspectos individuais
    Cada aluno traz consigo uma história pessoal, marcada por sua personalidade, experiências e necessidades. Problemas de autoestima, dificuldades de aprendizagem ou transtornos de comportamento podem se refletir em atitudes indisciplinadas (Coll, 2000).

  2. Contexto familiar
    A família exerce papel central na formação de valores e limites. A ausência de acompanhamento das atividades escolares ou conflitos familiares podem impactar o comportamento do aluno na escola (Patto, 1990).

  3. Organização escolar
    A indisciplina também pode ser reflexo da própria estrutura escolar. Ambientes rígidos, autoritários ou pouco acolhedores contribuem para o aumento de conflitos. Da mesma forma, a falta de clareza nas regras e a incoerência em sua aplicação fragilizam a autoridade pedagógica (Vasconcellos, 2013).

  4. Sociedade contemporânea
    Vivemos em uma sociedade marcada pela valorização do consumo, da velocidade da informação e pela fragilidade das relações. Esses fatores influenciam as crianças, que muitas vezes reproduzem, na escola, valores como imediatismo e individualismo (Charlot, 2000).

      A indisciplina interfere diretamente no processo de ensino-aprendizagem, pois compromete o clima da sala de aula. Um ambiente marcado por conflitos, ruídos e tensões dificulta a concentração, a motivação e a cooperação.

      Por outro lado, também é possível compreender a indisciplina como sintoma de falhas no processo educativo. Para Libâneo (2013), quando o aluno não se sente incluído, desafiado ou respeitado, tende a reagir com comportamentos de oposição. Isso significa que a indisciplina não deve ser vista apenas como desvio individual, mas também como indicador da necessidade de repensar práticas pedagógicas.

      O professor é muitas vezes responsabilizado pela indisciplina, mas é preciso reconhecer as condições objetivas de trabalho: turmas superlotadas, falta de recursos didáticos, desvalorização profissional e pressões externas. Esses fatores aumentam o desgaste e a dificuldade de manter um ambiente disciplinado (Libâneo, 2013).

      Além disso, o professor precisa lidar com o desafio de equilibrar autoridade e diálogo. A ausência de autoridade fragiliza a condução da aula, mas o excesso de autoritarismo também gera resistência. O caminho é a construção de uma autoridade pedagógica legítima, baseada no conhecimento, no respeito e na coerência (Aquino, 1996).

      A indisciplina em turmas do Ensino Fundamental é um fenômeno complexo, que não pode ser reduzido a falhas individuais dos alunos ou a deficiências dos professores. Trata-se de uma manifestação que reflete as contradições sociais, os desafios da instituição escolar e as transformações culturais da contemporaneidade.

      Enfrentar a indisciplina requer olhar crítico e práticas pedagógicas inovadoras, que conciliem firmeza e diálogo, limites e afetividade. Mais do que eliminar comportamentos indesejados, o objetivo deve ser construir uma cultura de convivência democrática, em que os estudantes aprendam não apenas conteúdos acadêmicos, mas também valores éticos e sociais.

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