09/11/2018

A Importância das Tecnologias Educacionais Na Formação Docente

A IMPORTÂNCIA DAS TECNOLOGIAS EDUCACIONAIS NA FORMAÇÃO DOCENTE

 

 

Sabrina Guedes de Oliveira[1]

Veronica Eloi de Almeida[2]

Leonardo Monteiro Trotta[3]

 

 

RESUMO

 

Este artigo tem por finalidade trazer uma parte da discussão trazida na dissertação de Mestrado. As tecnologias educacionais digitais são importantes na formação dos professores que atuam nos três primeiros anos da Educação Básica da Rede Pública de Ensino da Cidade do Rio de Janeiro? A partir deste questionamento, trazemos um panorama histórico sobre os últimos trinta anos da educação e a formação do professor brasileiro da Educação Básica com o uso das tecnologias, refletindo acerca do saber acumulado que possui, sua identidade pessoal e profissional. Passando pelo processo de formação do educador. O artigo traz algumas contribuições trazidas pelo avanço das tecnologias no espaço educacional e a mudança de entendimento do corpo docente no uso sistemático dessa linguagem, permitindo um olhar “a priori” para dentro da formação e práxis pedagógica.

 

Palavras-Chave: Formação Docente; Tecnologia Educacional; Educação Básica; Práxis Pedagógica.

 

INTRODUÇÃO

           A formação do profissional da educação acontece muito antes de sua entrada nos cursos de licenciatura ou de formação de professores, mas fundamentalmente deve ocorrer durante todo o exercício de sua prática. O saber, a reflexão contínua do exercício docente é fundamental, assim como o conhecimento acumulado ao longo da sua vida também o constitui enquanto futuro profissional da educação.

          A aprendizagem ativa, que leva esse profissional a refletir o seu papel na educação tem a missão de transformar uma postura meramente tradicional para um movimento, uma dinâmica que seja dialógica, que leve à reflexão, à investigação, na busca constante de aperfeiçoamento, de uma consciência criativa.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 traz novidades para a formação de professores, com a qualificação através do Normal Superior para a formação dos professores que trabalham do 1ª ao 5ª ano de escolaridade[4].

Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio na modalidade Normal.  (http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf)

         Pensando na qualidade da formação do educador Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 foi implementada, mas sua consolidação se daria num período de uma década, onde a Rede Pública e Particular deveriam se enquadrar na formação do seu quadro de profissionais e o provimento de vagas para este novo educador, que até então, somente com a formação em nível médio já estaria suficiente.

         A dificuldade vigente para esta implementação, levou em 2013, o Plenário da Câmara a aprovar um texto que determinava um prazo máximo de 6 (seis) anos para o cumprimento mais uma vez do estabelecimento do Nível Superior para a prática docente, mas ainda assim, parece que o cumprimento está distante da determinação preconizada.

       Vivemos neste início de século, os entraves e avanços da consolidação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 na formação qualitativa do profissional da educação, uma adaptação necessária para que os rumos sejam verificados no lócus da aprendizagem dos alunos.

      Em seu Artigo 39º, a LDB 9394/96 faz referência ao acesso tecnológico na formação profissional como elemento importante a ser incorporado na prática.

    Não podemos deixar de perceber o quanto há de intrínseco entre a formação docente e a utilização das tecnologias educacionais digitais nos espaços escolares.

      De acordo com dados de 2016 do Centro de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e da Comunicação (Cetic), a aplicabilidade da tecnologia enquanto linguagem e ferramental nos espaços escolares – especialmente o público - ainda está abaixo dos 50%.

As pesquisas que sugerem que o impacto da tecnologia na prática cotidiana dos professores é bastante limitado. Muitos professores resistem ao uso da tecnologia, não por serem antiquados ou ignorantes, mas porque reconhecem que ela não contribui para que eles alcancem seus objetivos. (BUCKINGHAM, 2008)

      Dado este que segue contrário ao que a atualidade aponta, a tecnologia invadindo diferentes espaços e momentos da sociedade atual.

DISCUSSÃO

       Desde muito tempo, a escola esteve atrelada a um caráter civilizatório[5] para o país, sendo a força motriz e necessária para a constituição do Estado, atendendo com isso aos interesses políticos vigentes.

      A partir dos anos 80, ocorreu um movimento no Brasil pela reformulação dos cursos de Pedagogia e Licenciatura, que teve uma preocupação com a “docência como base da identidade profissional de todos os profissionais da educação” (SILVA, 2003, p. 68). Os Cursos de Pedagogia tinham uma preocupação até então com a formação de especialistas.

    Esse período recebeu influências das ideias da Pedagogia Progressista Libertadora de Paulo Freire. Foi um período de ruptura com o pensamento tecnicista que estava em vigor até aquele momento. A discussão girava em torno do:

Caráter histórico-social da formação, a necessidade de um profissional com formação ampla, com pleno domínio e compreensão da realidade de seu tempo, desenvolvimento da consciência crítica que lhe permitiria interferir e transformar as condições da escola, da educação e da sociedade. (BORGES, 2013, p. 38)

         Era necessário que a formação do educador ultrapassasse a dimensão técnica, permeando também o social, que permita entender e saber quem é cada educando e o espaço por ele ocupado.

          A dicotomia que existia até então entre professores e especialista era um viés a ser modificado visto que a própria escola avançava na discussão e a democratização construía novos paradigmas. “Essa construção teórica avançou no sentido de construção de uma nova concepção de profissional da educação que tem na docência e no trabalho pedagógico as suas particularidades e especificidades”. (BORGES, 2013, p. 38). O professor precisava se apropriar do espaço de pesquisa que lhe pertence e ser autor do seu fazer pedagógico.

          Após um longo período do Regime Militar, de 1964 a 1985, o Brasil passou por um Governo denominado de Transição, cuja característica relacionava-se à passagem para um regime político democrático.

          Em 15 de março de 1985 foi assinado um decreto que criou e organizou o Ministério da Cultura, já que até então, estava vinculado à Educação. Com isso, foram criados 2 (dois) Ministérios distintos.

         Em 31 de maio de 1985, o Governo lançou o Programa Educação Para Todos: Caminho Para Mudanças, com a finalidade de combater os problemas que afligiam a educação básica no país: o centralismo administrativo, as desigualdades regionais, baixos níveis de renda, carência alimentar e de saúde de grande parte da população, insuficiência e má distribuição parcial da rede escolar, os currículos inadequados, as deficiências na formação e os baixos padrões de remuneração dos professores (NISKIER, 2011).

     O Programa foi lançado em parceria com estados e municípios, como um conjunto de medidas de aperfeiçoamento e valorização dos educadores, distribuição de livros didáticos e de material escolar para os alunos, assim como o fornecimento de merenda e melhoria e recuperação das escolas. (NISKIER, 2011)

     Nesse período, na década de 80, pensadores de outras áreas do conhecimento falavam de educação e se apropriaram de maneira significativa das questões educacionais.

     Segundo Niskier (2011), ainda na década de 80 (oitenta), o Conselho Federal de Educação, em 1986, aprovou o parecer 161, que delegou que o Curso de Pedagogia também oferecesse formação para docência de 1ª a 4ª séries, ampliando com isso a possibilidade de atuação profissional. O Projeto de Lei da nova LDB foi levado à Câmara Federal em 1988.

      Ainda de acordo com Niskier (2011), em 1990, é lançado o projeto de construção de Centros Integrados de Apoio à Criança - CIACs, em todo o Brasil, inspirados no modelo dos Centros Integrados de Educação Pública - CIEPs, do Rio de Janeiro[6].

     Completando, Niskier (2011) ainda nos fala que no mesmo ano de 1990 foi publicada a Declaração Mundial sobre Educação Para Todos (UNESCO). Paralelamente, o Ministério da Educação (MEC) elaborou o Planejamento Político-Estratégico. Seria um orientador das reformas educacionais, onde os deveres do Estado iriam para a sociedade ou seja, haveria gradativamente uma municipalização da educação.

      Segundo Niskier (2011), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 tem uma raiz de inovações que modificaram a Educação Nacional. Algumas alterações mostraram-se significativas como: a criação de universidades especializadas por campo de saber; não há a exclusividade do exame vestibular para ingresso no nível superior; é obrigatória a Educação Artística no ensino básico; a Religião é disciplina de oferta obrigatória e frequência optativa; há a possibilidade de se diplomar em cursos regulares pela Educação à Distância; as universidades deverão ter um terço dos professores com mestrado ou doutorado e as instituições de ensino superior que tenham alto padrão de excelência poderão gozar os benefícios da autonomia universitária.

       Foi criado o Curso Normal Superior e o processo nacional de avaliação das instituições de educação superior, os currículos dos Ensino Fundamental e Médio deverão ter uma base comum, a ser complementada por uma parte diversificada; o MEC poderá agir diretamente sobre a regularização de um curso; a Lei possibilitou a valorização do Magistério; o curso noturno das universidades terão a mesma qualidade do diurno; o Ensino Fundamental terá aula de Educação Física; crianças até 6 (seis) anos serão atendidas em creches públicas; o Ensino Fundamental terá 9 (nove) anos, com a inclusão das crianças de 6 (seis) anos; o Ensino Supletivo será concedido gratuitamente pelo poder público e a carga horária foi aumentada para 800 (oitocentos) horas, isto é, 200 (duzentos) dias letivos (NISKIER, 2011)

      A partir do ano de 2002, quando houve a promulgação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores as primeiras modificações foram realizadas nos currículos de formação docente. “A formação de professores que atuarão nas diferentes etapas e modalidades da educação básica observará princípios norteadores desse preparo para o exercício profissional específico” (BRASIL, 2002). É importante destacar que de acordo com a LDB 9394/96, a exigência de nível superior para os professores de Educação Básica passa a ser norma. Já não mais basta ter o Curso Normal para lecionar nos primeiros anos da educação básica.

        De acordo com Niskier (2011), a educação do século XXI se depara com 70% da população das escolas públicas oriundas das camadas populares. Um em cada 10 (dez) brasileiros com mais de 15 (quinze) anos ainda não sabe ler e escrever. Ainda temos mais de 1,8 milhão de jovens de 15 a 17 anos de idade fora da escola. O tempo médio de estudo entre os que têm mais de 10 (dez) anos de idade é de 6,9 (seis anos e nove meses) anos. Ainda é muito pouco se pretendemos chegar aos 11 (onze) de escolaridade.

CONCLUSÃO

       Mesmo com os dados embrionários, podemos concluir alguns aspectos que se tornam importantes e necessários para a pesquisa.

       Segundo Niskier (2011), para se chegar neste novo século com qualidade e eficácia, alguns critérios são importantes para que a educação atue com competência: aumentar a participação pública nos investimentos; elaboração de um grande plano de assistência ao magistério; aplicar intensivamente a modalidade de ensino [...] na formação e treinamento de professores e especialistas; determinar às universidades oficiais que promovam gratuitamente a formação de professores em nível superior e criação de fundo de pensão para os professores.

       Outros aspectos também são importantes e necessários, como a ampliação de atendimento aos deficientes e portadores de altas habilidades; ampliar o número de vagas nas escolas públicas; apoiar iniciativas do Sistema Educacional; criação de projeto de valorização da Língua Portuguesa e da nossa Literatura; modernização de todo o sistema e fazer da qualidade o projeto nacional de aperfeiçoamento do ensino brasileiro. (NISKIER, 2011)

       Por outro lado, o educador precisa trabalhar com a realidade dicotômica de forma que consiga extrair o melhor para que o trabalho se apresente de maneira qualitativa.

As falhas e limitações dos Cursos de Formação de professores talvez sejam inerentes à própria natureza deles, visto que dispõem um tempo determinado para formar um profissional que necessita de formação permanente [...]. A formação do professor, eminentemente contínua, é um processo que não pode ter fim.(SAMPAIO & LEITE, 1999, p, 70)

        O professor é um eterno aprendiz. O dever de estudar do professor é iminente ao seu trabalho docente, de pesquisa e de elaboração dos materiais pedagógicos necessários ao exercício de suas funções. A atualização permanente é importante visto que o conhecimento se renova diariamente e traz no seu interior elementos necessários a uma prática qualitativa.

            É preciso que o professor seja também um

profissional [...] conhecedor profundo das inter-relações pedagógicas, psicológicas, políticas e tecnológicas nas atividades de ensino e aprendizagem – esteja presente para dimensionar, programar e orientar com habilidades a produção de ações educativas que vá ao encontro das necessidades de formação continuada das pessoas em diferentes caminhos. (KENSKI, 2013, p.10)

         Como podemos observar com Niskier (2011), a formação e o aperfeiçoamento docente estão intimamente relacionados ao aperfeiçoamento do ensino brasileiro. Nesta pesquisa a formação docente relacionada às novas tecnologias está em questão. A tecnologia exige cada vez mais um pensar diferenciado da educação, assumindo os desafios, e “deixando-se interpelar, questionar-se e se refundar porque com o uso da tecnologia quem desafia a escola é a própria sociedade” (BARBERO apud FILÉ (org), 2011, p.19).

REFERÊNCIAS

BARBERO, J. Desafios da Tecnicidade ao Sistema Educativo. apud FILÉ, V. (org).Escola e Tecnologia: máquinas, sujeitos e conexões culturais. Editora Rovelle. Rio de Janeiro, 2011.

 

BOTO, C. A Civilização Escolar Como Projeto Político e Pedagógico da modernidade: cultura em classes, por escrito. Cad. Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 378-397, dezembro 2003 Disponível em<https://www.cedes.unicamp.br/> Acesso em 27 mar de 2018.

 

BRASIL. Ministério da Educação. Resolução CNE/CP 1, de 18 de fevereiro de 2002. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_02.pdf> Acesso em 01 de junho de 2018.

 

BUCKINGHAM, D. Aprendizagem e Cultura Digital. Fonte: Revista Pátio, Ano XI, No. 44, Jan.2008. Disponível em <https://www.researchgate.net/profile/David_Buckingham3/publication/265564109_Aprendizagem_e_Cultura_Digital/links/551145ed0cf20352196dc145.pdf> Acesso em 23 mar 2018.

KENSKI, V. Tecnologias e Tempo Docente. Papirus Editora. Campinas: SP, 2013.

NISKIER, A. História da Educação Brasileira: de José de Anchieta aos dias de hoje. Editora Europa. São Paulo, 2011.

SAMPAIO, M & LEITE, L. Alfabetização Tecnológica do Professor. Ed. Vozes. Petrópolis, 1999.

 

SILVA, C.S.B. CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL. 2003.

 

Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf>. Acesso em 9 set 2018.

 

 

[1] Professora da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro. Mestranda em Novas Tecnologias Digitais na Educação – UNICARIOCA.

[2] Professora do Mestrado Profissional de Novas Tecnologias Digitais na Educação – UNICARIOCA. Doutora em Sociologia e Antropologia pela UFRJ.

[3] Professor do Mestrado Profissional de Novas Tecnologias Digitais na Educação – UNICARIOCA. Doutor em Ciência da Literatura pela UFRJ.

 

[4] A formação dos professores que até então se dava somente a nível médio, a partir da LDB 9394/96, somente a nível superior.

[5] Desde o século XVII[...] impusera um padrão educativo pretensamente constituído com o propósito de atuar como referência civilizatória; estabelecendo-se, a seu tempo, como severo paradigma institucional.(BOTO, 2003, p. 379)

[6] Os CIAC’s foram lançados durante o Governo do Presidente Fernando Collor de Mello (1991).

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