A importância da Gestão democrática dentro do processo escolar

A importância da Gestão democrática dentro do processo escolar

Josiele Leal dos Santos Flôres[1]

Mara Lucia T Brum[2]

Resumo:

Este artigo tem como objetivo mostrar os resultados do estágio em Gestão Escolar, onde tivemos como objeto de análise a Gestão Democrática dentro das escolas publicas. A metodologia aplicada foi pesquisa exploratória com perguntas abertas, permitindo os sujeitos se expressarem livremente. Neste período analisamos os processos democráticos presentes na gestão da escola parceira, Escola Municipal de Educação Infantil Proinfância Patrona Marisa Timm Sari. Considerando a legislação vigente como ponto de partida, aprofundamos a análise baseados nas idéias de diferentes estudiosos que defendem que a gestão democrática torna-se indispensável para uma educação de qualidade. Contemplamos neste estudo a necessidade de haver uma gestão pautada no diálogo e na participação dos membros da comunidade escolar a fim de que todos possam sentir-se peças fundamentais no processo educacional. Desenvolver dentro de uma comunidade escolar uma gestão democrática que realmente democratize uma escola não é nada fácil. Ao longo do trabalho poderemos observar e refletir sobre as concepções dos diferentes sujeitos em relação ao papel da escola dentro da comunidade e com isto perceber que se torna possível desenvolver uma gestão democrática num ambiente escolar onde através de ações que descentralizem o poder façam com que haja uma participação mais efetiva dos sujeitos que pertencem a comunidade escolar na construção do processo educativo mais dinâmico e igualitário mesmo diante de todas as dificuldades encontradas ao longo da jornada educacional.

Palavras chave Gestão democrática, comunidade escolar, participação.

Introdução

O presente trabalho visa compreender como se dão as relações dos sujeitos presentes na escola e perceber seu papel na organização dos processos educativos e desta forma refletir sobre as ações que acontecem no âmbito escolar possibilitando compreender a escola em sua totalidade. Para Luck fica evidenciado que:

A gestão escolar dos sistemas de ensino e de suas escolas constitui uma dimensão e um enfoque de atuação na estruturação organizada e orientação da ação educacional que objetiva promover a organização , a mobilização e a articulação de todas as condições estruturais , funcionais, materiais e humanas necessárias para garantir o avanço dos processos socioseducacionais. (LUCK, 2006, p.26)

Desta forma torna-se fundamental compreender a Gestão Democrática como condição estruturante para termos qualidade na educação. Isso acontece quando a escola cria vínculos com a comunidade dando sentido a proposta pedagógica envolvendo os diferentes indivíduos em uma só missão. Ao longo do trabalho podemos perceber algumas falas e até mesmo questionamentos dos sujeitos envolvidos no processo educacional, o que nos levará a refletir se os mesmos já compreendem a Gestão Democrática como algo essencial dentro da comunidade escolar e que atitudes estão sendo tomadas para que todos tenham sucesso dentro de suas ações.

Em diálogo com os indivíduos envolvidos no processo educacional, foi possível compreende as diferentes categorias da realidade escolar assim como analisar documentos e ações perante o observado considerando e refletindo sobre os diferentes obstáculos presentes no processo educativo. Desta forma buscou-se compreender como os diferentes sujeitos da comunidade escolar se relacionam para que os movimentos necessários aconteçam e como a direção entende essas articulações uma vez que sabemos que uma educação de qualidade é resultado de uma serie de fatores que compreendem a administração escolar, onde o educando aprende na escola como um todo inclusive pela maneira como esta é organizada.

Desenvolvimento

Durante estágio em gestão escolar na Escola Municipal de Educação Infantil Proinfância, foi possível compreender melhor a Gestão Democrática, pois contamos com a ajuda dos membros da escola, professores, diretores, pais, alunos e funcionários. Podemos perceber que no caso da escola pesquisada as decisões acordadas dentro da escola contam com a participação da comunidade escolar que visa melhor a qualidade das relações humanas assim como o processo educativo tornando-o mais significativos. Sabe-se que o termo gestão democrática agrega intenções a administração escolar, que por sua vez busca o auxilio da comunidade fora e dentro da escola para que os mesmo ajudem a escola no processo educacional. No entanto para que a escola possa apresentar um projeto comprometido com a comunidade escolar se faz necessário saber o que pensam os pais, professores, funcionários e alunos sobre determinado assunto procurando observar o que cada um tem a colaborar com o tema. Pois uma gestão democrática não limita-se apenas à postura do diretor mas sim na renovação de conceitos e práticas pedagógicas propiciando condições para o desenvolvimento integral do aluno.

Durante o estágio de gestão na escola foi possível perceber a presenças dos pais dentro da escola com muita frequência, já que se trata de uma escola que abriga alunos entre 0 e 5 anos de idade. Por se tratar de uma escola de educação infantil onde os alunos ainda não tem independência para irem até a escola sem a companhia de um adulto. Neste período percebeu-se como cada sujeito procura compreender sua participação dentro do processo escolar procurando articular-se com os outros sujeitos a fim de um bem em comum, a educação dos filhos. Através das falas abaixo podemos perceber algumas inquietações e interesse de alguns pais em relação à escola de seu filho,

Olha professora, acredito muito na Escola. É a única coisa que posso dar de valor pra minha filha. Não sei exatamente no que posso ajudar, mas queria muito que vocês me avisassem quando precisarem de mim. E eu quero que a (M) participe de todas as atividades da escola acho muito importante. (PAI, 3)

Ao conversamos com uma voluntaria, também avó de uma dos alunos ela nos relata o seguinte,

Trabalho como voluntária aqui na cozinha por que gosto de ajudar os outros e ainda mais é a escola da minha neta. Gosto de conviver com as crianças e me sinto útil participando das atividades da escola. A minha neta gosta de me ver aqui todos os dias. (VÓ, 1)

Em conversa com a professora da Pré Escola, foi possível perceber que a mesma demonstra segurança no seu posicionamento e um bom discernimento dentro do processo escolar, onde relatou que:

Como professora tenho papel insubstituível no processo educacional , pois os pais e a escola confiam no meu bom desempenho para o avanço do aluno.Tenho uma grande responsabilidade em buscar sempre o novo fazendo um planejamento coerente com as dúvidas das crianças. Procuro sempre trocar idéias com as colegas nas reuniões de formação de professores”. (Diário de Campo- Cachoeira do Sul/RS- Outubro/14),

Na declaração da professora podemos perceber que ela é uma professora preocupada com a qualidade do seu trabalho, procurando estar sempre em contato com outros professores para que possam juntos trocarem informações sobre a educação escolar.

A escola parceira vem propiciando aos professores tempo para planejarem e organizarem suas atividades como, por exemplo, a hora atividade que os professores tem direito e cumprem em casa, mas a escola parceira assegura aos educadores mais uma hora por semana em contato com os demais colegas para planejamentos de atividades, o que favorece a troca de experiências entre os professores. Com relação às horas de planejamento a professora do Berçário nos relata que:

Acho muito importante a hora que temos para planejar junto com as colegas. Se bem administrado este tempo, podemos ter atividades diferentes  para quase a semana toda. Pena que em algumas semanas temos que abrir mão desta hora já que precisamos de alguém que nos substitua neste momento em sala de aula, o que nem sempre é possível.” ( Diário de Campo- Cachoeira do Sul/RS- Outubro/14)

No entanto quando entrevistamos outra professora foi possível perceber que a mesma estava um tanto descontente com o posicionamento de alguns pais perante a escola quando ela colocou que:

O professor tem extrema importância dentro de uma escola , por que é ele quem orienta os alunos, traça estratégias, porém algumas vezes os pais enxergam a escola como lugar para seus filhos ficarem bem cuidados e nada a mais. ( Diário de Campo- Cachoeira do Sul/RS- Outubro/14)

Refletindo um pouco sobre o depoimento da professora que coloca que a escola não é lugar para as crianças ficarem apenas bem cuidadas, podemos afirmar que esta profissional tem uma visão de valorização da sua profissão e que gostaria de ter esta mesma valorização dos pais dos alunos. Já que a escola de educação infantil assim como outra escola é um ambiente de aprendizagem e os profissionais que ali trabalham estudam e se dedicam para que isso aconteça.

Entretanto quando entrevistamos a equipe diretiva da escola sobre a como se da o processo da Gestão Democrática dentro da escola obtivemos a seguinte colocação,

Aqui todos tem a mesma importância, pois as tarefas são divididas. Temos um grupo unido e juntos buscamos proporcionar uma educação de qualidade para nossos pequenos. E acho que o que nos diferencia é que estamos sempre buscando inovar priorizando o educar e o cuidar para que nossas crianças sejam felizes”.( Diário de Campo- Cachoeira do Sul/RS- Outubro/14)

Nos depoimentos é possível perceber um pequeno distanciamento entre o depoimento da professora que estava descontente com alguns pais que vêem a escola como lugar apenas de cuidado, com o depoimento de um membro da equipe diretiva que enfatiza o cuidado às crianças. Talvez falte apenas um diálogo maior entre equipe diretiva, professores e pais. Por isso é tão importante que a escola pense seu projeto onde a comunidade escolar possa se identificar. Sobre isto Azanha nos coloca que:

Só a escola , com seu diretor, seu corpo docente,seus funcionários , suas associações de pais tem que examinar sua própria realidade específica e local: fazer um balanço das suas dificuldades e se organizar para vencê-las. Não há plano de melhoria empacotado por qualquer outro órgão que possa realmente alterar, substantivamente, a realidade de cada escola. Se a própria escola não for capaz de se debruçar sobre os seus problemas, de fazer aflorar esses problemas e de se organizar para resolvê-los, ninguém fará isto por ela”.(AZANHA,1995, p.24).

Conforme vai se conhecendo melhor este universo, se vai entendo que somente a escola conhecendo seus desafios e limitações será capaz de se organizar e tomar decisões valorizando a opinião dos sujeitos presentes no cotidiano da comunidade onde os mesmos possam expor suas angustias aos demais interessados no sucesso escolar. De acordo com o exposto Ana Maria Falsarella coloca que:

Sabe-se que o exercício de opinar, argumentar e ouvir, sendo instrumento de reflexão estimula a organização tanto do pensamento individual quanto coletivo, o que concorre para a superação de práticas autoritárias e individualistas, tão enraizadas no modo de ser da escola.( FARSARELLA. 2009,p ???).

Além de compreender como os sujeitos se articulam dentro do ambiente escolar para atingirem determinados objetivos foi possível compreender melhor o que significa Gestão Democrática na escola publica, avaliando suas possibilidades e limites para que se possa encontrar a melhor forma de unir a comunidade escolar e poder gerar mudanças significativas. Foi possível vivenciar o período de rematrículas onde todas as famílias mantinham o direito de vaga de seus filhos onde muitos asseguravam vagas integrais dentro da instituição de acordo com a necessidade dos pais. Também foi possível perceber o esforço da instituição escolar em designar profissionais para auxiliar professoras de alunos com necessidades especiais, alunos estes que se mantêm ativos dentro do ambiente escolar participando das atividades e apresentações artísticas.

Em conversa com membros da equipe diretiva e observações feitas, foi notória a presença de alguns pais para a reunião do Conselho Escolar. Foi possível perceber que a comunidade escolar está tentando contribuir com o que sabe a favor da escola, onde em uma das diversas reuniões do Círculo de Pais e Mestres surgiu a ideia de um almoço beneficente ao Berçário da escola. Pois precisavam de verba para reformar o espaço de atividades dos bebês. Logo em seguida o almoço foi organizado e foi um sucesso onde a comunidade escolar adquiriu  ingressos e contribuiu com mantimentos para preparar o cardápio. Foi possível perceber que a comunidade escolar empenha-se a favor da escola e seus alunos e com isto a direção assegura aos pais o direito de ao final de cada ano letivo fazerem uma avaliação (por escrito) onde podem contribuir com ideias para o próximo ano letivo, desta forma torna-se favorável a descentralização do poder na tomada de decisões ao mesmo tempo em que acontece uma valorização da comunidade escolar. Os estabelecimentos de ensino devem ser dinâmicos e devem ser assim compreendidos, direcionando as relações a uma dinâmica de trabalho orientando na organização do ensino.

Em nosso entendimento acreditamos que a escola parceira deixa um pouco a desejar quanto ao que determina a LDBEN, pois nem sempre a escola tem assegurado o que está exposto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, em seu artigo 15º, onde fica claro que os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro público. Porém o que acontece muitas vezes é que os recursos que disponibilizam para a escola se torna pouco para determinada demanda o que acaba por exigir das escolas um malabarismo financeiro. Como já foi citado anteriormente a escola parceira muitas vezes recorre a atividades extras para assim poder empregar o lucro em bem feitorias já que as verbas destinadas as escolas já apresentam destino determinado pelo sistema de ensino. Com isso percebemos a importância de uma autonomia financeira mais voltada para a realidade de cada comunidade escolar, pois cada escola possui as suas características e necessidades tornando inviável administrar recursos destinados a uma só realidade.

Já em relação a autonomia pedagogia foi exposto que em reuniões os docentes participam da elaboração da proposta pedagógica o que vem sendo constantemente atualizada onde cada professor juntamente com  a orientação da Supervisão  Pedagógica da escola  tem o direito de atualizar o seu um plano de trabalho o que também  se torna um instrumento de viabilização para uma gestão democrática.

A cada período, de acordo com o que os professores entenderem ser o melhor para seus alunos são elaborados projetos a serem trabalhados em sala de aula respeitando as normas comuns do sistema de ensino. No diálogo com uma professora a mesma colocou que:

Acredito que temos autonomia dentro de sala de aula. Tudo que pensamos em fazer a direção nos apóia. O diretor costuma dizer que gosta de movimento dentro da escola e isso de uma certa forma nos desafia a procurar sempre algo novo. (PROFESSORA 5)

É interessante que dentro deste movimento que o diretor da escola parceira fala os integrantes envolvidos no processo educativo busquem algo que se enquadrem na realidade da comunidade escolar a fim de valorizar e respeitar o aluno dentro do ambiente social que está inserido.

Entendemos a partir da pesquisa que é possível realizar uma gestão democrática dentro da escola desde que haja interesse por partes dos dirigentes em buscar ajuda da comunidade escolar, assim, como dos pais e parceiros que ela agregar ao longo da sua trajetória educacional. É preciso fazer os sujeitos entenderem a importância da gestão democrática dentro de uma escola, para que ela possa acontecer de fato e de direito.

Enquanto educadores podemos fazer a diferença não só dentro de uma instituição de ensino mas sim em uma sociedade, seria algo natural que todos pudessem contribuir para o fortalecimento de sua comunidade assim quem sabe teríamos menos politicagem e sim mais políticas no seu real sentido a favor de um bem comum. Uma escola democrática deve servir como referencia no âmbito educacional fortalecendo o objetivo de formar sujeitos capazes de decidir, opinar e tomar decisões pautadas em constantes reflexões.

Conclusões finais

Com o exposto anteriormente ficou constatado que apesar das dificuldades a gestão democrática é de extrema importância pra que tenhamos uma educação de qualidade. E para que isso aconteça os gestores de uma escola devem compreender a gestão de uma forma diferente a fim de contagiar os demais integrantes da comunidade escolar experimentando ousadia e determinação para enfrentar os problemas do dia-a-dia. Durante o período em que estivemos na escola parceira foi possível refletir sobre como é difícil dar início ou manter uma Gestão Democrática de qualidade, as pessoas devem estar realmente abertas à troca e a aceitação do outro. Unir teoria e prática durante este período nos mostrou que quando os sujeitos participantes do processo educacional estão realmente engajados as coisas acontecem e que nem sempre tudo se encaminha da mesma forma que estudamos ou até mesmo queremos, mas se houver pessoas dispostas a fazer juntas o melhor acontecer as ações vão contornando o melhor caminho para se chegar a tal objetivo.Ao vislumbrar uma gestão democrática os sujeitos devem respeitar e valorizar as novas ideias para que todos possam sentir-se participantes do processo buscando um ensino de qualidade objetivando a verdadeira função social da escola.

Referências

AZANHA, J. M. P. Educação: temas polêmicos. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.

FALSARELA, Ana Maria. Escola, qual é o seu projeto? Presença Pedagógica. v.19.n.110 – mar/abr.2013.

LUCK, Heloisa. Concepções e Processos Democráticos de Gestão Educacional, volume 2. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.

PARO, Vitor Henrique. Gestão democrática da escola pública. São Paulo: Ática,1997.