23/08/2018

A Importância da Educação Física Escolar Nos Anos iniciais do Ensino Fundamental Nas Percepções Dos Professores Unidocentes

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL NAS PERCEPÇÕES DOS PROFESSORES UNIDOCENTES

 

Hugo Norberto Krug [1]

Rodrigo de Rosso Krug [2]

Moane Marchesan Krug [3]

Moacir Marchesan Júnior [4]

 

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a importância ou não da Educação Física (EF) Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental e suas justificativas, nas percepções de professores unidocentes, das redes de ensino, municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil). Caracterizamos a pesquisa como qualitativa do tipo estudo de caso. O instrumento de coleta de informações foi uma entrevista, tendo as respostas interpretadas por meio da análise de conteúdo. Participaram sessenta professores unidocentes das referidas redes de ensino e cidade, sendo vinte de cada rede. Concluímos que, para os professores unidocentes estudados, a EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é importante no currículo escolar, mas que as suas justificativas, para tal consideração, não são adequadas para a valorização deste componente curricular, pois as mesmas se sustentam em uma EF como subalterna às demais áreas do conhecimento, o que comprova uma marginalização da mesma nesse segmento escolar.

Palavras-chave: Educação Física. Ensino Fundamental. Importância da Educação Física. Professores Unidocentes.

 

1- AS CONSIDERAÇÕES INTRODUTÓRIAS

De acordo com Mentz (2011, p.14),

 

[a] Educação Física é um dos componentes curriculares obrigatórios da Educação Básica (BRASIL, 1996), incluindo assim os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, [...]. Desta forma, todos os alunos têm direito assegurado por lei, à Educação Física em seus currículos, mesmo sem que esta se configure como uma disciplina em si (BRASIL, 20010. Conforme a LDB, Art. 26, § 3º, “[a] [E]ducação [F]ísica, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da [E]ducação [B]ásica [...]” (BRASIL, 1996).

 

Entretanto, conforme Contreira e Krug (2010, p.1),

 

[a]o observarmos a realidade da Educação Física nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental nas escolas estaduais (e municipais) do Rio Grande do Sul (RS), encontramos, frequentemente, a utilização de professores “pedagogos” ou “polivalentes”, conhecidos no Estado como “unidocentes”, encarregados de ministrarem aulas de Educação Física para [...] (esse segmento escolar). (acréscimo nosso).

 

Contreira e Krug (2010, p.1) esclarecem que,

 

[...] os termos “unidocente” ou “unidoência” são utilizados no Estado do Rio Grande do Sul para caracterizar o professor que atua nas [S]éries/[A]nos [I]niciais do [E]nsino [F]undamental como sendo o responsável de ensinar os conhecimentos referentes a esta fase escolar.

 

Já, Silva e Krug (2008, p.24) destacam que,

 

[...] o prefixo “uni” é originado da palavra unir e “docência” corresponde ao ato do professor de exercer sua profissão, então, logicamente “unidocência” é a união dos conteúdos de todas as disciplinas e ministrada por um único professor.

 

Segundo Contreira e Krug (2010, p.1), a atuação do professor unidocente no Estado do Rio Grande do Sul (RS), com a Educação Física (EF) nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, encontra respaldo na legislação federal e do RS em dois motivos:

 

1º) [n]ão existe uma especificação na LDB – Lei n.9.394/1996 (BRASIL, 1996) indicando o profissional para atuar nesta fase escolar, dando às escolas a “liberdade” de escolherem o posicionamento sobre o assunto; e, 2º) [o] Estado do Rio Grande do Sul através de Leis como a n.8.747/1988 (RIO GRANDE DO SUL, 1988) e a n.6.672/1974 (RIO GRANDE DO SUL, 1974), garantem gratificações nos vencimentos dos professores que atuam na regência de classes “unidocentes”. Assim, essa situação acaba gerando questões que extrapolam as concepções didáticas e pedagógicas da educação.

 

Assim, nesse direcionamento de legislação, conforme Piccoli (2007), para lecionar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é exigida a formação mínima de Magistério em nível médio ou curso superior de Pedagogia ou equivalente.

Diante desse quadro, Piccoli (2007) coloca que, a partir da legislação anteriormente citada, entende-se que investir no profissional unidocente se trata tão somente de uma questão econômica, situação essa que tem acarretado a diminuição de despesas com professores e materiais. O autor destaca que, com a gratificação pelo exercício em regência de classes unidocentes do currículo por atividades o RS não se compromete em contratar outros professores especializados, como, por exemplo, o professor de EF, deixando que todos os componentes obrigatórios fiquem a cargo dos professores unidocentes. Isso representa uma opção do Estado do RS, uma vez que em escolas municipais, dependendo da legislação pertinente ao município, pode-se observar a presença de outros profissionais nesse segmento escolar.

Frente a esse cenário, este estudo volta olhares para a EF Escolar ministrada pelos professores unidocentes nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, mais particularmente para as percepções dos mesmos, sobre a importância ou não da EF neste segmento escolar, pois, um posicionamento desse docente pode oferecer subsídios para reflexões que contribuam em melhorias na qualidade das aulas desta disciplina.

Assim, embasando-nos nessas premissas descritas anteriormente, formulamos a seguinte questão problemática norteadora do estudo: quais são as percepções de professores unidocentes, sobre a importância ou não e suas justificativas da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental?

Então, a partir dessa indagação, o objetivo geral foi analisar a importância ou não da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental e suas justificativas, nas percepções de professores unidocentes, das redes de ensino, municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do Rio Grande do Sul (Brasil).

Justificamos a realização deste estudo, ao citarmos Krug; Krug e Telles (2017, p.25) que afirmam que, “pesquisas desta natureza oferecem subsídios para reflexões que podem despertar modificações no contexto da Educação Física Escolar, as quais podem contribuir para a melhoria dessa disciplina na escola”.

Para melhor entendimento deste estudo, convém lembrarmos que a partir de 2006, com a instalação do Ensino Fundamental de nove anos (Lei n.11.274), a denominação passa de Séries Iniciais (1ª à 4ª Séries) para Anos Iniciais (1º ao 5º Ano).

 

2- OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Caracterizamos os procedimentos metodológicos empregados neste estudo, como uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso. Para André (2005, p.47), a pesquisa qualitativa tem como foco de atenção “[...] o mundo dos sujeitos, os significados que atribuem às suas experiências cotidianas, sua linguagem, suas produções culturais e suas formas de interações sociais”. Já, Godoy (1995) coloca que, o estudo de caso visa proporcionar um exame detalhado de um ambiente, de um simples sujeito ou de uma situação em particular.

Assim, neste estudo, o caso investigado referiu-se à EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental ministrada por professores unidocentes, mais particularmente, das redes de ensino, municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil).

Nesse sentido, a justificativa da escolha da forma de pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso foi devido à possibilidade de se analisar um ambiente em particular, onde se levou em conta o contexto social e sua complexidade para compreender e retratar uma realidade em particular e um fenômeno em especial, ‘a importância ou não da EF Escolar ministrada pelos professores unidocentes’.

A coleta de informações foi realizada por meio de uma entrevista semiestruturada. Conforme Bauer e Gaskell (2008), a entrevista semiestruturada é uma metodologia de coleta de dados, utilizada com grande freqüência, em investigações qualitativas. Para os autores, a entrevista semiestruturada possibilita a compreensão minuciosa das crenças, atitudes e valores relacionados ao comportamento dos indivíduos em seus contextos sociais.

Utilizamos, para a interpretação das informações coletadas, à análise de conteúdo, que, segundo Bardin (2011, p.44), “[...] procura conhecer aquilo que está por trás das palavras sobre as quais se debruça [...] é uma busca de outras realidades através das mensagens”.

Participaram do estudo sessenta professores unidocentes das redes de ensino, municipal, estadual e particular, de uma cidade da região central do Estado do RS (Brasil), sendo vinte de cada rede. Convém salientarmos que a escolha dos participantes se deu de forma espontânea, onde a disponibilidade dos professores unidocentes foi o aspecto determinante. Quanto aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas, destacamos que, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas.

Enquanto ‘caracterização pessoal e profissional’ dos professores unidocentes estudados, temos que: a) ‘todos’ (sessenta) eram do ‘sexo feminino’, fato esse que comprova o dito por Maciel (2012) de que existe a tendência de feminização dos cursos de Licenciatura em Pedagogia no Brasil, acentuada a partir do final do século XIX; b) as ‘idades variaram de 32 a 65 anos’. Conforme Luizari (2006), a vida é composta de ciclos e esses estão relacionados, geralmente, às mudanças pelas quais às pessoas passam, mas que, nenhum deles é mais importante que outro, pois cada período do ciclo de vida é influenciado pelo que ocorreu antes e irá afetar o que virá depois; c) a ‘grande maioria’ (cinquenta e cinco) eram ‘licenciados em Pedagogia’ e a ‘minoria’ (cinco) em ‘Letras’. Vale lembrar que, segundo Piccoli (2007), para lecionar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é exigida a formação mínima de Magistério em nível médio ou curso superior de Pedagogia ou equivalente; e, d) o ‘tempo de serviço variou de 2 a 35 anos de docência’. Huberman (1992), tendo como critério a distribuição dos anos de docência e suas características, classifica o ciclo de vida docente em fases ou ciclos de desenvolvimento profissional em: entrada na carreira (até 3 anos de docência); estabilização (de 4 a 6 anos de docência); diversificação (de 7 a 15 anos de docência); serenidade e/ou conservantismo (de 15 a 20-25 anos de docência); desinvestimento (de 25 a 30-35 anos de docência). O autor lembra que estes ciclos de vida profissional não são, apenas um conjunto de acontecimentos e sim um processo que, para alguns, pode ser linear e, para outros, descontínuo. Não significa dizer que as seqüências estabelecidas sejam experenciadas na mesma ordem e nos respectivos períodos, nada impede de um profissional retornar a uma das fases ou passar por um delas e sofrer com todos os seus efeitos.

 

3- OS RESULTADOS E AS DISCUSSÕES

Os resultados e as discussões deste estudo foram orientados e explicitados de acordo com o objetivo geral do mesmo.

 

3.1- A importância ou não da Educação Física Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental nas percepções dos professores unidocentes

A ‘maioria’ (cinquoenta e cinco) dos professores unidocentes estudados, declarou ‘sim’, isto é, que a EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental ‘é importante no currículo escolar’. Sobre isso, citamos os Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Física (BRASIL, 1997, p.15) que destaca o seguinte:

 

[o] trabalho de Educação Física nas [S]éries (Anos) [I]niciais do [E]nsino [F]undamental é importante, pois possibilita aos alunos terem, desde cedo, oportunidade de desenvolver habilidades corporais e de participar de atividades culturais como jogos, esportes, lutas, ginásticas e danças, com finalidade de lazer, expressão de sentimentos, afetos e emoções. (inserção nossa).

 

Nesse cenário, mencionamos Aguiar (2014) que, em seu estudo intitulado ‘Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: um paradoxo educacional’, constatou que, todas as professoras unidocentes participantes, afirmaram que, a EF é um importante componente curricular. Também Mentz (2011, p.5), no estudo denominado ‘Educação Física nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: narrativas de estagiárias do curso de Pedagogia’, concluiu que, “[...] as estagiárias consideram a Educação Física importante para a formação do aluno [...]”.

Entretanto, a ‘minoria’ (cinco) dos professores unidocentes estudados, manifestou que ‘não’, isto é, que a EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental ‘não é importante no currículo escolar’. Assim, contrariando esta afirmativa, citamos Freire (1992) que diz que, a criança não pode ser privada da EF, pois o professor deve entender o seu aluno como um ser integral, sem separação entre corpo e mente. No entanto, consideramos necessário nos referirmos a Mentz (2011, p.20) que diz que, “[...] muitas vezes (a Educação Física) acaba relegada ao ‘se der tempo’ dentro de muitos contextos escolares [...]”. (acréscimo nosso).

Nesse direcionamento de constatação, podemos inferir que, para os professores unidocentes estudados, a EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é importante no currículo escolar.

 

3.2- As justificativas da importância ou não da Educação Física Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental nas percepções dos professores unidocentes

Os professores unidocentes estudados elencaram as seguintes justificativas da ‘importância da Educação Física Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental’:

1)Ajuda no aprendizado dos alunos na sala de aula’ (quarenta e duas citações). Sobre essa justificativa, nos reportamos a Neira (2006) que, em estudo realizado, constatou que, muitas professoras unidocentes atribuem à EF a função de dar apoio às demais áreas do conhecimento. Também Aguiar (2014) encontrou, em seu estudo, essa mesma justificativa, para a importância da EF Escolar nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, pelas professoras unidocentes estudadas. Nesse tipo de compreensão, Darido e Rangel (2005) dizem que, a Psicomotricidade, mesmo tendo o intuito de romper com a dicotomia corpo e mente, acaba por reduzir a EF, nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, a uma facilitadora de outras aprendizagens. Já, Peres (2011, p.234-235) destaca que, a Psicomotricidade compreende a EF como um mero instrumento. “Isto quer dizer que ela, a Educação Física, passa a ser de grande utilidade no auxílio do ensino dos componentes curriculares, por exemplo: história, matemática, ciências..., enfim, de todos os demais que compõem o currículo pedagógico”. Ainda, de acordo com Fonseca et al. (2014), a Psicomotricidade também é ligada, com valor, à EF, pois é assim que essa é reconhecida perante a formação da unidocência;

2)Contribui com a formação integral do aluno’ (dez citações). Essa justificativa, pode ser fundamentada em Lima (2012) que afirma que, a formação integral consiste em formar o aluno como sujeito crítico e questionador, discutir as questões sociais e a formação da cidadania, proporcionar-lhe compreender a sociedade atual e atuar em sua transformação. Ainda Lima (2012) coloca que, a educação integral representa uma meta na legislação educacional. Destaca que, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996), a educação (art. 2º) tem como objetivo o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Na Educação Básica (art. 22º), o foco é desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em seus estudos posteriores. Nesse sentido, Silva e Krug (2008, p.24) colocam que, “[a] Educação Física Escolar, [...] possui compromisso com a educação e formação integral do aluno, desempenhando um papel fundamental na escola. [...]”; e,

3)Contribui no desenvolvimento motor dos alunos’ (três citações). Quanto a essa justificativa, apontamos Valentini e Toigo (2006, p.17) que dizem que:

 

[e]m termos de desenvolvimento motor, pressupõe-se que o aprendiz, em idade escolar, tenha tido oportunidade de praticar todas as habilidades motoras fundamentais (correr, saltar, arremessar, deslocar-se, receber, rebater, quicar, chutar, etc.) e que as mesmas estejam estruturadas no seu repertório motor em um nível de proficiência próximo do maduro. As habilidades motoras fundamentais são consideradas indispensáveis para o desenvolvimento de atividades de movimento em uma perspectiva de vida ativa e saudável, bem como para a especialização de habilidades motoras específicas da dança e/ou de esportes.

 

Assim, essas foram as justificativas da importância da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções dos professores unidocentes estudados.

Os professores unidocentes estudados apontaram a seguinte justificativa da ‘não importância da Educação Física Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental’:

1)Uso da aula livre pelos professores unidocentes’ (cinco citações). Relativamente a essa justificativa, mencionamos Mentz (2011, p.7) que afirma que, devido à desvalorização da EF, nos cursos de Pedagogia, “ao ignorá-la nas discussões, privilegiando outros componentes curriculares obrigatórios”, os professores unidocentes, diante às “dificuldades enfrentadas em uma aula de Educação Física passam a atender os pedidos dos alunos de ‘aula livre’ e ‘futebol’”. Ainda Mentz (2011, p.33) coloca que, “[...] a Educação Física parece estar marginalizada, a partir do momento em que perde sua especificidade e qualquer movimento é considerado como tal. Tudo isso evidencia a pouca importância atribuída a este componente obrigatório [...]”.

Assim, essa foi a justificativa da não importância da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, nas percepções dos professores unidocentes estudados.

Ao fazermos uma ‘análise geral’ sobre as justificativas da importância ou não da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental no currículo escolar, declaradas pelos professores unidocentes estudados, constatamos que, a ‘maioria’ (cinquoenta do total de sessenta) está ‘ligada às tendências pedagógicas da EF nas Séries/Anos Iniciais do ensino Fundamental’, as quais, segundo o Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física (1996), são as seguintes: a Psicomotricidade (1- Ajuda no aprendizado dos alunos na sala de aula – quarenta e duas citações); o Desenvolvimento e Aprendizagem Motora (3- Contribui no desenvolvimento motor do aluno – três citações); e, Recreação (1- Uso da aula livre – cinco citações). Consequentemente, a ‘minoria’ (dez do total de sessenta) está ‘ligada a uma formação integral do aluno’ (2- Contribui com a formação integral do aluno), conforme prevista na LDBEN (BRASIL, 1996). Nesse contexto, citamos Darido (1998, p.35) que diz que:

 

[m]uitos professores não especialistas e até alguns com formação específica em Educação Física entendem que o papel da disciplina é auxiliar na melhoria da alfabetização, da socialização, da lateralidade, da coordenação motora, etc. Ou seja, existe a crença de que as aulas de Educação Física servem de meio para outras aprendizagens, certamente mais prestigiosas para a escola, como a aprendizagem da matemática ou a alfabetização.

 

 Já, para Darido e Rangel (2005), na visão recreacionista de EF, praticamente o professor não intervém, deixando os alunos decidirem o que vão fazer na aula, escolhendo o jogo e a forma como querem praticá-lo. Isso desconsidera a importância dos procedimentos pedagógicos dos professores. Dessa forma, as autoras questionam se os alunos são capazes de aprender o conhecimento histórico, geográfico ou matemático sem a intervenção ativa do professor quando fundamenta-se na recreação? Então, é só preenchimento do tempo escolar?

Diante desse cenário, mencionamos Mentz (2011, p.33) que destaca que,

 

[...] nas escolas, a Educação Física parece estar marginalizada, a partir do momento em que perde a sua especificidade e qualquer movimento é considerado como tal. Tudo isso evidencia a pouca importância atribuída a este componente curricular obrigatório, apesar do reconhecimento de sua relevância para o desenvolvimento do aluno quanto aos aspectos motor, social, afetivo e cognitivo.

 

Nesse direcionamento de constatação, podemos inferir que, as justificativas da importância ou não da EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental, manifestadas pelos professores unidocentes estudados, não são adequadas para a valorização deste componente curricular, pois as mesmas se sustentam em uma EF como subalterna às demais áreas do conhecimento, o que comprova uma marginalização da mesma nesse segmento escolar.

 

4- AS CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pela análise das informações obtidas, constatamos que, a ‘maioria’ dos professores unidocentes estudados, declarou ‘sim’, isto é, a ‘Educação Física Escolar é importante nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental’, sendo que, a ‘minoria’ destes, manifestou ‘não’, isto é, ‘não é importante’.

Quanto às ‘justificativas’ para tais afirmativas, os professores unidocentes estudados, apontaram as seguintes: a) para o ‘sim’ – 1ª) ‘ajuda no aprendizado dos alunos na sala de aula’; 2ª) ‘contribui com a formação integral dos alunos’; e, 3ª) ‘contribui no desenvolvimento motor dos alunos’; b) para o ‘não’: 1ª) ‘uso da aula livre pelos professores unidocentes’.

A partir destas constatações, proporcionadas pelas percepções dos professores unidocentes estudados, podemos concluir que, a EF Escolar nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental é considerada importante pelos mesmos no currículo escolar, mas que, as justificativas para tal consideração, não são adequadas para a valorização deste componente curricular, pois as mesmas se sustentam em uma EF como subalterna às demais áreas do conhecimento, o que comprova uma marginalização da EF nas Séries/Anos Iniciais do Ensino Fundamental.

Para finalizar, destacamos que, é preciso considerar que esse estudo fundamentou-se nas especificidades e nos contextos de uma cidade em particular e de professores unidocentes em específico e que, seus achados não podem ser generalizados e sim, encarados como uma possibilidade de ocorrência.

 

REFERÊNCIAS

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[1] Licenciado em Educação Física (UFPel); Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM); Professor Aposentado da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM); hnkrug@bol.com.br.

[2] Licenciado em Educação Física (UNICRUZ); Doutor em Ciências Médicas (UFSC); Professor do Programa de Pós-Graduação em Atenção Integral à Saúde (Mestrado) da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ); rodkrug@bol.com.br .

[3] Licenciada em Educação Física (UNICRIZ); Doutora em Educação Física (UFSC); Professora da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

[4] Licenciado em Educação Física (UNICRUZ); Mestre em Práticas Socioculturais e Desenvolvimento Social (UNICRUZ); Professor Temporário da Universidade de Cruz Alta (UNICRUZ).

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