15/02/2017

A EDUCAÇÃO E O MUNDO NO TRABALHO: PARALELO ENTRE AS DIMENSÕES DO CAPITALISMO, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

A EDUCAÇÃO E O MUNDO NO TRABALHO: PARALELO ENTRE AS DIMENSÕES DO CAPITALISMO, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

 

Fernando Ramos Lengler (Economista, Mestre em Administração)

Emerson Correia da Silva (Pedagogo, Doutor em Educação)

 

Para realizar uma análise sobre o assunto educação e mercado de trabalho, onde são criados paralelos entre as esferas de educação, sociedade e capitalismo, é necessária uma apresentação histórica das mudanças nos princípios e sistematizações da busca por aumento produtivo. Além disso se faz necessário salientar os impactos na esfera social, onde as comunidades foram transformadas para seguir a orientação única e exclusivamente para manter seus trabalhos assalariados.

A construção histórica dos meios de produção demostra que o caminho percorrido permeia a ligação entre trabalho e apropriação, com a satisfação de necessidades do homem, sejam elas de cunho material ou sobrevivência. Nesta concepção, nas primeiras sociedades, o trabalho se desenvolveu sob a forma de subsistência por meio da agricultura, caça e pesca. Passando por um período de escravidão nas sociedades gregas e romanas, na Idade Média durante o Feudalismo caracterizou-se por um trabalho servil e durante a Revolução Industrial o trabalho assalariado assume sua condição, como fator de produção (LOCH e CORREIA, 2004). Segundo Oliveira (2003, p.6), “escravismo, feudalismo e capitalismo são formas sociais em que se tecem as relações que dominam o processo de trabalho [...] O processo é compreendido, portanto, pela forma como os homens produzem os meios materiais, a riqueza”.

A história apresenta caminhos nos quais o cenário atual capitalista se configurou, passando pelos sistemas produtivos de princípios de racionalização produtiva, o Taylorismo, a automação dos processos com intuito de buscar maior produtividade, o Fordismo, quando existe a flexibilização do trabalho, mesclando autonomia e controle, conhecido como Toyotismo. Esses sistemas produtivos, que apresentaram mudanças durante o tempo até o sistema atual, podendo, ou não, dizer que evoluíram ao longo do tempo. Esses movimentos históricos remetem à competitividade e depreciação dos recursos. Loch (2004, p.21) é direto na afirmação de que, “o acirramento das consequências negativas que configuram a nossa sociedade como o aumento do desemprego e a precarização dos vínculos trabalhistas que levam a exclusão social”.

No entanto, no contexto da economia capitalista, dois conceitos citados por Lafargue (1999) podem ser vinculados ou analisados frente as características do ensino a distância, desenvolvimento dos trabalhadores e ganhos sociais, que são: a alienação do trabalhador assalariado e o vício pelo trabalho. Com essas duas premissas ditas pelo autor, fica evidente que o trabalhador acabou se envolvendo de certa forma nos mecanismos produtivos do capitalismo que acabou assumindo ele como uma forma de vida natural. Além disso, aparentemente, direciona uma linha de raciocínio onde levam a crer que cada vez mais os indivíduos se distanciam da vida em sociedade e família.

Pensando na atualidade, início do século 21, a alienação do trabalhador se dá pela necessidade absorvida pelos homens que somente com o trabalho podem suprir suas necessidades de subsistência. Os trabalhadores assalariados assumem que quanto maior a capitalização de recursos financeiro, por meio de maiores e crescentes produtividade, maior será o retorno e a capacidade de atender toda e qualquer demanda por lazer, tranquilidade e consumo de bens, sejam eles essenciais ou supérfluos. Remetendo esta visão para um comparativo em paralelo com educação e sociedade, pode-se observar um ciclo que começa pela busca incansável de trabalho para acumular recursos e passa pela despreocupação e perda de prioridade e foco nos desenvolvimento pessoal e social. Os trabalhadores deixam de investir em si próprios, frente a saúde, lazer e família, para trabalhar cada vez mais e, além disso, não reservam tempo para apropriar ganhos intelectuais e desenvolver seus potenciais. Essa reflexão na qual mostra os trabalhadores alienados no trabalho, levando essa atividade como prioridade, passa culturalmente, já que estamos neste ambiente econômico, para os que deverão de alguma forma participar de alguma etapa mercadológica.

Com isso, cada vez mais os homens vivem para trabalhar, mostrando ser uma característica passada de geração para geração. Pois, uma ascensão do trabalhador, ou seja, um momento de mudança e melhoria no contexto capitalista, só existirá quando este tomar a consciência de que o trabalho é um vício e a preguiça uma virtude que significa força e vigor. Este vicio é de certa forma um parasita no qual suga as benfeitorias por ele gerada para seu próprio benefício, como a acumulação e o consumismo, desconsiderando fatores sociais, culturais e ambientais. Já a preguiça um tempo livre no qual os trabalhadores poderiam usufruir dos prazeres da vida e se instruir, desenvolvendo e alcançando assim o conhecimento de sua exploração. (LAFARGUE, 1999)

Com o entendimento que o momento de preguiça, foco do trabalho escrito por Lafargue (1999), não seja no sentido pejorativo e sim um benefício, que ao longo prazo trará vantagens para o trabalhador e quiçá ao capitalista, fica fácil de aplicar a análise deste conceito frente ao objeto de estudo da gestão universitária e ensino superior no modelo educacional à distância. Se avaliarmos os benefícios do modelo de ensino à distância e os malefícios oriundos do vício do trabalho e o trabalho alienado, claramente salientamos o tempo desperdiçado na sociedade atual em meios de transporte e desmotivação por desenvolvimento intelectual do trabalhador (LAFARGUE, 1999). O cenário atual da economia, onde os trabalhadores possuem carga horária de trabalho de aproximadamente um terço do dia e não possuem mobilidade urbana satisfatória, mostra que é necessário uma solução para não desperdiçar tempo entre as atividades que realmente lhe trarão benefícios. O modelo de ensino a distância que disponha de aparato tecnológico cabível pode apresentar um desperdício de tempo menor para o trabalhador, principalmente na questão do deslocamento e da flexibilidade de horários, deixando assim margem para que possam orientar suas vidas sociais da melhor forma possível.

Com um maior desenvolvimento e conhecimento do que realmente acontece dentro do modelo produtivo capitalista, invariavelmente, fará com que os indivíduos, que dele fazem parte, percebam suas características, e juntamente com o conhecimento do que é benéfico para suas vidas, como o lazer e vida social, pensem em razões para assumir posturas que venham tangenciar trabalho, educação e sociedade.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

LAFARGUE, P. O direito à preguiça. 2. ed. Tradução de J. Teixeira Coelho Netto, Introdução: Marilena Chauí. São Paulo: Hucitec: Unesp, 1999.

LOCH, C. L.; CORREIA, G. S. A flexibilização do trabalho e da gestão de pessoas limitadas pela racionalidade instrumental. Revista de Ciências da Administração. v.6, n.12, p.09-30, jul./dez. 2004. Disponível em: <www.periodicos.ufsc.br/index.php/adm/article/download/869/677>. Acesso em: 05 de junho de 2012.

OLIVEIRA, C. R. História do trabalho. São Paulo: Ática, 2003.

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