11/08/2020

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS IMPLICAÇÕES DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E AS IMPLICAÇÕES DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA

 

Arcelita Koscheck[1]

 

Resumo:  A presente pesquisa objetiva analisar e compreender a importância da mediação do professor no papel de mediador na construção do conhecimento da criança no processo educacional, destacando assim a importância da mediação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem. O professor tem deixado de ser um mero transmissor de conhecimentos para ser mais um orientador, um estimulador de todos os processos que levam os alunos a construírem seus conceitos, valores, atitudes e habilidades que lhes permitam crescer como pessoas, como cidadãos e futuros trabalhadores, desempenhando uma influência verdadeiramente construtiva. A Educação deve não apenas formar trabalhadores para as exigências do mercado de trabalho, mas cidadãos críticos capazes de transformar um mercado de exploração em um mercado que valorize uma mercadoria cada vez mais importante: o conhecimento. Dentro deste contexto, é imprescindível proporcionar aos educandos uma compreensão racional do mundo que o cerca, levando-os a um posicionamento de vida isento de preconceitos ou superstições e a uma postura mais adequada em relação a sua participação como indivíduo na sociedade em que vive e do ambiente que ocupa. 

 

Palavras-chave:  Mediação Pedagógica; Conhecimento; Educação.

                                                                                                                                  

INTRODUÇÃO

            Estamos cercados pelas tecnologias da informação, na qual estamos vivenciando uma velocidade perceptível, evidenciando uma evolução histórica presente em nosso meio. A globalização por sua vez, tem o papel de acompanhar os processos tecnológicos, os referidos processos também se encontram presentes no dia a dia na sala de aula, a educação, no entanto está enfrentando algumas mudanças necessárias para acompanhar as mídias. A interação professor/aluno necessita de um olhar muito mais dinâmica nos últimos anos, para que os alunos sintam curiosidade em aprender.

           O objetivo principal desse estudo a seguir é em relação a importância da mediação pedagógica sobre o processo educacional. Nesse sentido, a mediação é uma forma do professor conduzir o aluno no ato de pensar em que se suscita discussões em torno de uma resposta obtida e, em seguida, questiona-se sua veracidade.

           Paralelamente, a tarefa de ensinar implica numa relação plena e constante do professor com o aluno, não só no conhecimento, mas também na capacidade de questionar a criança que, nas situações de aprendizagem, vai desenvolver cada vez mais a habilidade de fazer perguntas. Faz-se necessário, portanto, valorizar a curiosidade, o espírito de busca, a imaginação, a autonomia. Para que isto aconteça, não se pode desenvolver o ato de ensinar só a partir das informações dadas pelo professor, mas na busca, na investigação, na procura de soluções das situações apresentadas.

             É, então, nesse contexto que o professor se torna o mediador entre o aluno e o conhecimento (objeto a ser aprendido). A mediação é uma tarefa bem complexa que vai exigir do professor a criatividade, o estar alerta, a preocupação com cada aluno e a percepção da caminhada da turma.

              Pode-se ver, entretanto, que todos os papéis (organizador, consultor, mediador, controlador e incentivador) contribuem com o maior objetivo a ser atingido com a prática didática: educar. Educar é transformar e, antes de ir em busca dessa transformação em seus alunos, é necessário que o educador/professor transforme a sua forma de agir e de pensar.

            Neste período de busca pela própria transformação e dos educandos, nada melhor que um bom planejamento. É importante que, antes de iniciar a abordagem de qualquer tema ou assunto, o professor defina o que é essencial e pesquise fontes variadas, além de utilizar diferentes métodos de trabalho e procurar conhecer muito bem os seus educandos. Nesta prática escolar é sempre bom conversar com outros educadores e buscar informações em sociedades, associações ou órgãos. No entanto, pensar na formação de professores é algo que se apresenta de fundamental importância nas discussões sobre educação.

 

O CONHECIMENTO SOB UMA PERSPECTIVA HISTÓRICO-CRÍTICA

 

             Vivemos numa época de transformações profundas e contraditórias. Com a globalização e a reestruturação da forma de produção na sociedade capitalista, as instituições de ensino, precisaram se reinventar, oferecendo subsídios e procedimentos flexíveis, enfatizando habilidades voltadas ao relacionamento social, por meio da intelectualidade, ou seja iniciou-se o processo de formação do ser humano voltado as relações sociais evidenciando a criação, a comunicação, trabalhos em coletividade, um conjunto de novas  possibilidades de trabalho em necessidade a uma nova forma de organização.

            Diante dessa mudança, observamos que de um lado o desenvolvimento tecnológico trouxe avanços na forma de produção e também nos diversos ramos da ciência, o aumento inclusive da expectativa de vida, com a descoberta de novos medicamentos e aparelhos de diagnósticos mais precisos, por outro lado, trouxe crise e contradições para uma parcela da população que se encontra à margem desse desenvolvimento econômico e social.

           A educação, como fenômeno social, não ficou de fora dessa revolução. Ao contrário, seu papel e suas funções passaram a ser muito mais questionadas e apontadas como elemento de mudança. Segundo Saviani (1996, p. 170):

 A crise do processo de modernização vale dizer, crise da sociedade capitalista que, tendo realizado suas possibilidades, se estendeu por todo o globo atingindo também seus limites e deparando-se com contradições a ela inerentes as quais tendem a se agravar, prenunciando o seu colapso.

 

           Neste contexto, à escola é solicitada a mudar o ensino que oferece principalmente a qualidade da informação que está promovendo e procure se adaptar às novas exigências do mercado neoliberal, incluindo o domínio das novas tecnologias que tomam conta de todos os setores da atividade humana.    Esse modelo de educação pautado em princípios neoliberais passa a ser essencial para a erradicação da pobreza, pois garante que investindo no indivíduo e dando-lhe instrução, a escola estaria capacitando o sujeito a sair da situação que se encontra.

          Com isso, a responsabilidade pela condição social de cada indivíduo nessa concepção passa a ser inteiramente responsabilidade individual. Segundo Arce (2001, p. 261):

 

Enfatizando as diferenças individuais como saudáveis e necessárias, sendo a chave para o indivíduo achar seu lugar em nossa sociedade; retira-se da aprendizagem o conteúdo que fica reduzido a informações, instrumentalização das ações posteriores, emergindo um saber imediato e utilitário, além da inclusão do princípio básico da flexibilidade, capaz de torná-lo um sujeito adaptável ao mercado.

 

           De fato, ao sistema capitalista interessa a formação e a prática de um “novo professor” para uma “nova educação”, que responda às necessidades da formação de homens para um mercado excludente, mas que exige que o trabalhador seja capacitado para aquisição de competências, conhecimentos e atitudes necessárias a manutenção da produção e do consumo. Formando assim, o homem liberal, competitivo, que se adapte com facilidade às normas do mercado.

          Desta forma, é atribuída ao professor a culpa por não estar “preparados” a nova situação de globalização. É evidente que se considerarmos a escola, partindo dos princípios de organização das empresas, com a finalidade de satisfazer os interesses econômicos imediatos que não levam em consideração à formação de um homem unilateral, a função da educação seria desenvolver no indivíduo competências e habilidades como “aprender a conhecer, aprender a ser e aprender a conviver, amplamente utilizada nos Parâmetros Curriculares Nacionais.

           A ênfase na formação dessas competências não leva em consideração o contexto histórico da sociedade, as contradições e os problemas sociais produzidos pela própria sociedade capitalista, dentre eles, o individualismo, a competitividade, o desemprego e outros. Desta forma, questiona Vasconcellos

(1996, p. 262):

 

Será que o fato de se criar em condições para o desenvolvimento da cooperação e da reciprocidade, em sala de aula, significa que a escola possa tornar-se um instrumento poderoso de emancipação e de desalienação, a ponto de promover mudanças estruturais na sociedade? Como pode se desenvolver a verdadeira solidariedade, numa sociedade tão desigual, na qual a desigualdade é gerada nas relações de produção? Como pode se desenvolver a solidariedade numa sociedade na qual a mídia convida permanentemente ao mais absoluto individualismo?

 

          Vale ressaltar, que hoje permeia na sociedade vários discursos em favor da formação dos indivíduos, que embora de aparência sedutora, mas nem sempre esclarecido e consistente com os interesses da classe trabalhadora. É preciso dar instrução, sim, mas como instrumento concreto de conhecimento, de capacidade operativa, produtiva, e de capacidade cognoscitiva.

          Neste sentido, é fundamental que os professores tenham clareza que sua função não é neutra, além do pedagógico tem um sentido político e social. Ter consciência dos seus limites, mas não ser alienado achando que nada é possível fazer. Saber que não resolveremos todos os problemas sociais, mas sem a educação, sem que os trabalhadores se apropriem dos conhecimentos socialmente elaborados não terão condição de lutar por condições mínimas de sobrevivência na sociedade. Saviani (2005, p. 76) alerta para a condição do saber na sociedade capitalista:

 

Na sociedade capitalista, a tendência é torná-lo propriedade exclusiva da classe dominante. Não se pode levar tendência às últimas consequências porque isso entraria em contradição com os próprios interesses do capital. Assim, a classe dominante providencia para que o trabalhador adquira algum tipo de saber, sem o que ele não poderia produzir; se o trabalhador possuir algum tipo de saber, ele é o dono da força produtiva e no capitalismo os meios de produção são propriedades privada! Então, a história da escola no capitalismo traz consigo essa contradição.

 

           Diante desta realidade, a função da escola não pode se resumir apenas nas necessidades competitivas do mercado. Há a necessidade de a prática pedagógica ser organizada para garantir às novas gerações o saber sistematizado, com a condição dos indivíduos adquirirem instrumentos cognitivos necessários à formação da consciência crítica para a vivência na sociedade de forma não alienada. Segundo Saviani (2005, p.15):

 

A escola existe, pois, para propiciar a aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado (ciências, bem como o próprio acesso aos rudimentos desse saber. A atividade da escola básica deve organizar-se a partir dessa questão. Se chamarmos isso de currículo, poderemos então afirmar que a partir do saber sistematizado que se estrutura o currículo da escola elementar.

 

           Nesta perspectiva, exige-se do professor uma postura consciente e transformadora na busca da práxis. Vasconcellos (1998, p.87), esclarece, “... uma prática fertilizada pela reflexão teórica, portanto, carregada de sentido, de significado, e uma teoria fertilizada, provocada, desafiada pelas questões da prática”. Um dos pressupostos da pedagogia histórico-crítica é relacionar os conhecimentos que os alunos já possuem da sua prática cotidiana com os novos conteúdos, dando condições para que o estudo tenha sentido, considerando professores e alunos parte da realidade concreta, os conteúdos não serão mais tratados de forma fragmentados e neutros.

          O conhecimento escolar passa a ser teórico-prático. Para Gasparin (2002, p.03), fica evidente que:

 

Essa nova forma pedagógica de agir exige que se privilegiem a contradição, a dúvida, o questionamentos; que se valorizem a diversidade e a divergência; que se interrogem as certezas e as incertezas, despojando os conteúdos de forma naturalizada, pronta, imutável. Se cada conteúdo deve ser analisado, compreendido e apreendido dentro de uma totalidade dinâmica, faz-se necessário instituir uma nova forma de trabalho pedagógico que dê conta deste novo desafio para a escola.

 

          Evidentemente para que esta nova forma de trabalho se efetive é necessário que o professor busque conhecimentos nas ciências humanas, sociais e econômicas, para subsidiá-lo no entendimento das complexas relações na formação do homem inserido nas relações sociais. Além disso, exigirá constante reflexão sobre o tipo de homem que se pretende formar, bem como, organizar sua ação de forma intencional e sistematizada, estabelecendo a mediação entre o conhecimento e o aluno.

         Hoje, fica evidente que os indivíduos necessitam de uma formação crítica para conseguir lidar e compreender a realidade social. O acesso às informações não se configura mais como um problema, pois estas estão disponíveis sob as mais variadas formas. No entanto, saber lidar, interpretar todas essas informações é difícil e exige capacidades que a escola pode desenvolver nos indivíduos, verificando se o trabalho realizado propiciou a compreensão, análise, estabelecimento de relação entre diferentes situações.

        Ou seja, escola deve fazer a relação do conteúdo trabalhado com a vida real dos alunos. Portanto, o desenvolvimento de uma postura crítica do aluno depende tanto da apropriação do conhecimento quanto do processo de produção desse conhecimento. Reconhecendo assim que o conhecimento não é uma verdade absoluta e acabada.

        O desafio posto neste momento aos envolvidos em educar é a necessidade de repensar o que ensinar, como se ensinar e para que se ensinar. É importante destacar diante de tal desafio que o processo de apropriação e produção do conhecimento se efetivará mediante a relação ativa e crítica do aluno com o conhecimento, mediada pelo professor. O aluno necessita refletir, aprofundar o objeto de estudo compreender a realidade e não simplesmente memorizar informações. Segundo Basso (1994, p. 34), nesta situação:

 

O professor dá a palavra para o aluno que discute com base nos textos lidos, nas observações, nas entrevistas, na reflexão de textos coletivos produzidos pela turma, na experiência de vida, etc. Embora o professor conduza o processo de apropriação, o aluno é ativo, há a participação, o esforço e ação do aluno para aprofundar e apropriar-se de conhecimentos novos, permitindo o desvendamento do real, a percussão da sua própria situação histórica.

 

             Diante desta prática, o professor é desafiado e precisa buscar meios que motivem, estimulem e levem os alunos à aprendizagem. Pensamos ser interessante resgatar a pesquisa de Cunha (1989, p.56) sobre o que seria o “bom professor”. Na qual apresenta algumas habilidades da prática pedagógica dos considerados “bons professores” no seu cotidiano escolar: Segundo a autora, o professor é a principal fonte de conhecimento sistematizado. A ênfase na exposição oral demonstra esta afirmativa. Os alunos manifestam exatamente esta expectativa, desejando que o professor seja hábil no falar e que permita intervenções quando necessárias. Os “bons professores” manifestaram inúmeras habilidades de ensino.

 

A IMPORTÂNCIA DA MEDIAÇÃO PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM

           Desde o início da história humana o homem se utilizou da relação com seus semelhantes para apropriar-se da cultura e dos conhecimentos já produzidos. Nesta relação, também criou novos conhecimentos conforme as suas necessidades. Este processo dinâmico e singular só é possível mediante uma interação partilhada que inicia com o nascimento do indivíduo e continua por toda vida. Segundo Oliveira (1997, p.61), Vygotsky considera que:

 

As relações entre o desenvolvimento e aprendizagem, e particularmente sobre a zona de desenvolvimento proximal, estabelece forte ligação entre o processo de desenvolvimento e a relação do indivíduo com seu ambiente sócio-cultural e com sua situação de organismo que não se desenvolve plenamente sem o suporte de outros indivíduos de sua espécie.

 

           A expressão zona de desenvolvimento real, segundo o autor citado, refere-se à capacidade de a criança realizar uma atividade sozinha, um desenvolvimento já alcançado. Enquanto que a zona de desenvolvimento proximal se refere à capacidade de a criança realizar atividade com a ajuda de outros. Assim, a zona de desenvolvimento proximal refere-se às funções que estão em processo de desenvolvimento e que se tornarão funções consolidadas nas relações com o outro e nas experiências de aprendizagem.

          Diante disso, o professor ao planejar sua prática pedagógica deve considerar que a criança ao chegar à escola traz conceitos espontâneos, adquiridos na convivência com seus familiares e amigos. Para Oliveira (1997,

p.62):

 

Como na escola o aprendizado é um resultado desejável, é o próprio objetivo do processo escolar, a intervenção é um processo pedagógico privilegiado. O professor tem o papel explícito de interferir na zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não ocorreriam espontaneamente. O único bom ensino, é aquele que se adianta ao desenvolvimento.

 

           Ao ingressar na escola, a criança deve receber orientação para analisar e generalizar os elementos da realidade rumo à formação de conceitos, imprescindíveis ao desenvolvimento de suas funções psíquicas. Ultrapassando, assim, suas impressões imediatas rumo à apropriação dos conceitos científicos, pela mediação pedagógica.

          Ao interagir com esses conhecimentos, o ser humano se transforma: aprende a ler e a escrever, obter o domínio de formas complexas de cálculos, construir significados a partir das informações descontextualizadas, ampliar seus conhecimentos, lidar com conceitos científicos hierarquicamente relacionados.

          Enfim, adquire atividades extremamente importantes e complexas, que possibilitam novas formas de pensamento, de inserção e atuação em seu meio. Isto quer dizer que as atividades desenvolvidas e os conceitos aprendidos na educação escolar (que Vygotsky chama de científico) introduzem novos modos de operação intelectual: abstração e generalizações mais amplas acerca da realidade que por sua vez transformam os modos de utilização da linguagem.

         Como consequência, na medida em que o sujeito expande seus conhecimentos, modifica sua relação cognitiva com o mundo.

No entanto, para que a mediação pedagógica ocorra, o professor necessita partir do conhecimento sincrético, aquele que o aluno possui de forma desorganizada, para chegar ao conhecimento sintético, aquele que o aluno se apropriará com a intervenção do professor. Desta forma, Vasconcellos, (1993, p. 48), esclarece que:

 

Conhecer a realidade dos educandos implica em fazer um mapeamento, um levantamento das representações do conhecimento dos alunos sobre o tema de estudo. A mobilização é o momento de solicitar a visão/concepção que os alunos têm a respeito do objeto (senso comum, “síncrese”).

 

         Neste sentido, para que a aprendizagem ocorra, as atividades planejadas pelo professor devem ser participativas e terem sentido sobre a realidade do aluno. Uma prática pedagógica pautada em passar conceitos prontos e realizar exercícios repetitivos não terá sentido e nem modificará a realidade interna e externa da consciência dos alunos, portanto seria uma prática vazia de significado, um simples adestramento.

         Dessa forma, a mediação deve considerar alguns elementos, como: a ação do professor, a forma de tratar o currículo, o relacionamento entre professor e alunos e entre os próprios alunos, a contextualização do conteúdo com a vida dos alunos, a relação dialógica e o contexto social maior. Para Gasparin (2002, p.119):

 

Os conceitos científicos não passam diretamente aos alunos, nem os conceitos cotidianos são subsumidos, automaticamente, pelos científicos. É na caminhada dialógico-pedagógica que se dá o encontro das duas ordens de conceitos: os conceitos cotidianos são incorporados e superados pelos científicos. Realizam-se, através do trabalho coletivo e individual, a inter aprendizagem e a

Intra -aprendizagem.

 

             Nesse processo, o diálogo, o saber escutar e a promoção de diferentes formas de expressão são fundamentais. Pois é escutando e dialogando que o professor situará o nível de conhecimento em que o aluno se encontra e de qual ajuda necessita. Vygotsky (1984, p.32) enfatiza que: “o aprendizado é uma construção individual, mas também um processo social que necessita do diálogo, sendo o professor o mediador entre aluno e conhecimento”.

            Na perspectiva de Vygotsky, o desenvolvimento da linguagem e as suas relações com o pensamento é um processo, um movimento contínuo de vaivém do pensamento para a palavra e vice-versa. Podemos considerar o diálogo como meio para tal desenvolvimento. Portanto, no processo de aprendizagem e desenvolvimento do aluno, o diálogo se impõe como uma necessidade para que o ensino se vincule às experiências e interesses dos sujeitos reais. Tacca (2000, p. 20) alerta para um ambiente social e participativo na sala de aula, caso contrário:

 

Um ambiente não comunicativo ou não participativo pouco estimula a elaboração de conceitos e habilidades e pouco promove os vários aspectos do desenvolvimento do aluno. Ao contrário pode conduzir ao conformismo, à reprodução e à insegurança. A criação de uma atmosfera participativa solicita a ocorrência e estimula os processos de comunicação, que têm no diálogo sua principal expressão.

 

            Nesta perspectiva para que haja um ambiente dialógico, o professor necessita, além de cuidar do conhecimento, implantar um clima favorável ao diálogo. A mediação pedagógica, além do compromisso político, histórico e social, remete também ao seu fazer técnico-pedagógico, entendida como domínio do saber escolar, dos métodos de ensino, da organização curricular.

           Segundo Gasparin (2002, p. 111 -112), a mediação pedagógica pode ser desenvolvida tanto utilizando técnicas convencionais quanto as novas tecnologias. Resume assim, as técnicas convencionais em três grupos:

 

- No primeiro grupo estão reunidas as técnicas de apresentação simples, apresentação cruzada em duplas, tempestade cerebral e outras. Geralmente são usadas para que seus membros se conheçam e começem a estabelecer um clima agradável de trabalho, de aprendizagem individual ou de grupo.

- O segundo grupo é constituído por técnicas de simulação: dramatização, desempenho de papéis, jogos de empresas, estudos de caso, etc. Tais técnicas desafiam o educando a buscar soluções para problemas, analisar variáveis que afetam uma situação, preparando-o para enfrentar situações reais.

- O terceiro grupo de técnicas é representado por aquelas que põem o aluno em contato direto com situações reais: estágios, excursões, aulas práticas, visitas a locais como indústrias, escolas, empresas, consultórios, escritórios, fórum, etc. Estas técnicas são um excelente meio para verificar a concordância ou a divergência entre teoria e prática. A própria realidade torna-se mediadora da aprendizagem.

 

          Em relação às novas tecnologias, segundo o mesmo autor, estas têm como característica principal serem instrumentos de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, requerendo que sejam escolhidas, planejadas e usadas de forma integrada para que a aprendizagem significativa aconteça. Sendo elas: informática, computador, multimídia, internet, CD-ROM, hipermídia, ferramentas para educação à distância, como: chats ou bate-papo, listas de discussão, correio eletrônico, teleconferência, etc.

          Portanto, cabe aos professores se preocuparem com os conteúdos, as atividades propostas aos alunos, porque o desempenho destes depende muito de como ocorreu o processo de mediação. Para Vygotsky (1984, p.67), “o ensino se bem planejado e conduzido, ativa várias funções mentais”.

          Assim, podemos concluir que a responsabilidade do professor em proporcionar um processo intencional de mediação do conhecimento é muito grande, pois a educação interfere diretamente no desenvolvimento do aluno que, mediante a qualidade de ensino e aprendizagem que a escola proporcionou e através da apropriação dos conhecimentos científicos, terá condições de compreender as condições sociais de sua vida, transformar sua consciência e agir no sentido de transformá-la.

 

CONCLUSÃO

           Diante da pesquisa apresentada, conhecemos um pouco mais sobre o conhecimento na perspectiva histórica, e uma breve reflexão em relação a importância da mediação pedagógica no processo de ensino e aprendizagem. Podemos concluir que a prática pedagógica deve ser organizada coletivamente e que cada profissional deve adquirir a consciência da importância que exerce nas atividades que envolvem direta ou indiretamente o processo ensino e aprendizagem.

          Neste trabalho procurou-se reforçar o valor do professor enquanto responsável pela formação de sujeitos críticos e conscientes, com condições de usar os conhecimentos adquiridos na escola em favor do seu desenvolvimento na sociedade.

         O professor, enquanto responsável por uma ação sistematizada e crítica na apropriação dos conteúdos científicos e formação dos sujeitos conscientes, precisa adquirir maior compreensão, aprofundamento da função mediadora no processo de ensino, aprendizagem e desenvolvimento dos alunos, buscando superar a fragmentação e o esvaziamento do conteúdo, assim como também enfatizar o compromisso com a socialização dos conhecimentos. Dessa maneira, o professor deverá ter maior bagagem filosófica, histórica, social e política bem como, maior aprofundamento da sua área de conhecimento e das questões teórico-metodológicas.

          Sendo assim, a escola precisa organizar momentos de estudo para que numa postura interativa os professores discutam, estudem e planejem seu trabalho visando desenvolver com eficiência o ensino, a aprendizagem e o desenvolvimento de pessoas capazes de encarar a vida real com competência e justiça.

 

REFERÊNCIAS

ARCE, A. Educação & Sociedade. Nº. 74, 2001.

 

BASSO, I. S. Tese de doutorado. As Condições Subjetivas e Objetivas do

Trabalho Docente: um estudo apartir do ensino de história. Unicamp, 1994.

 

CUNHA, M. I. da. O Bom Professor e sua Prática. Campinas: Papirus, 1899.

 

GASPARIN, J. L. Uma Didática para a Pedagogia Histórico Crítica. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.

 

OLIVEIRA, Marta Kohl de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo sócio-histórico. 4. ed. São Paulo: Scipione, 1997.

 

SAVIANI, D. Filosofia de Educação: Crise da Modernidade e o Futuro da

Filosofia da Práxis. In: Freitas, M. A reinvenção do Futuro: Trabalho, Educação, Política na Globalização do Capitalismo. São Paulo: Cortez & UNIFRAN, 1996.

                                                     

SAVIANI, D. Pedagogia HIstórico-Crítica: Primeiras Aproximações. São Paulo:Autores Associados, 2005.

 

TACCA, M. C. V. R. Ensinar e Aprender: Análise de Processos de Significação na Relação Professor X Aluno em Contextos Estruturados. Tese de Doutorado (Instituto de Psicologia) – Universidade de Brasília, Brasília, 2000.

 

VASCONCELLOS, C. dos S. Construção do Conhecimento em Sala de Aula. Cadernos Pedagógicos da Libertad, São Paulo: 1993.

 

VASCONCELLOS, C. dos S. Para Onde Vai o Professor? : Resgate do

Professor e como sujeito de transformação. São Paulo: Libertad, 1996.

 

VYGOTSKY, L. S. A Formação Social da Mente. São Paulo: Martins Fontes,

1984.

 

[1] Professora de Educação Infantil – Prefeitura Municipal de Santa Rosa/RS. Curso Normal – VISCONDE DE CAIRU. Licenciatura em Pedagogia – UNIJUI; Pós-Graduada em Psicopedagogia Institucional – UNOPAR. Pós – Graduada em Educação Especial e Inclusiva, Coordenação e Gestão Pedagógica – FATEC. E-mail: arcelitak30@gmail.com

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