19/10/2017

A Atuação do Profissional de Educação Física Nas Estratégias de Saúde da Família

A Atuação do Profissional de Educação Física Nas Estratégias de Saúde da Família

 

Bianca Grilo[1]; Marília de Rosso Krug[2]

RESUMO

O estudo caracterizou-se como uma pesquisa quantitativa do tipo descritiva diagnóstica que teve como objetivo mostrar como é a atuação do profissional de educação física nas ESFs da cidade de Cruz Alta – RS. Neste estudo, através de uma entrevista, foram analisados o tipo de vínculo e a dinâmica de atuação, na sequência analisou-se a satisfação dos profissionais em relação a remuneração, ao local de trabalho e a equipe multidisciplinar, finalizando com uma descrição dos programas de atividades física desenvolvidas por esses profissionais das ESFs. Participaram deste estudo dois profissionais de educação física, dos três atuantes nas estratégias de saúde da família da cidade de Cruz Alta – RS. Como resultados observou-se que as condições de local de trabalho são inadequadas para a prática de atividade física, causando a insatisfação do profissional com esses locais que lhes são disponibilizados. Sendo essas atividades voltadas a todo e qualquer público da ESF. Também, foi observada a falta de material ofertado para esses profissionais, que, na maioria das vezes precisam ter seus próprios materiais para trabalhar com o público. Cabendo aos órgãos públicos maior investimento e aperfeiçoamento para o trabalho com a população em geral, bem como o desenvolvimento de estrutura física, equipamentos e aumentar a contratação de profissionais de educação física capacitados para melhor desenvolver estes trabalhos.

Palavras-Chave: Atividade física, Estratégia de Saúde da Família, Saúde.

INTRODUÇÃO

O Programa Saúde da Família (PSF) foi uma estratégia criada pelo Governo Federal em 1994, para implementar a atenção básica e contribuir para a qualidade de vida da população, considerando que a atenção primária é fundamental para que os cuidados em saúde alcancem grande parte da população. Pensar em saúde de forma ampliada, com vistas a prestar atendimento integral ao núcleo familiar, faz parte da formação do profissional da área da saúde, salienta o Ministério da Saúde (BRASIL, 2008).

O PSF surge no Brasil como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial a partir da atenção básica, em conformidade com os princípios do Sistema Único de Saúde. Acredita-se que a busca de novos modelos de assistência decorre de um momento histórico social, onde o modelo tecnicista/hospitalocêntrico não atende mais à emergência das mudanças do mundo moderno e, consequentemente, às necessidades de saúde das pessoas. Assim, o PSF se apresenta como uma nova maneira de trabalhar a saúde, tendo a família como centro de atenção e não somente o indivíduo doente, introduzindo nova visão no processo de intervenção em saúde na medida em que não espera a população chegar para ser atendida, pois age preventivamente sobre ela a partir de um novo modelo de atenção (VASCONCELOS, 1999).

O surgimento do PSF na década de 90, apoiado pelo Ministério da Saúde, reflete a tendência de valorização da família na agenda das políticas sociais brasileiras. Não é um atendimento simplificado, pelo contrário, é uma expansão da atenção primária à saúde em direção à incorporação de práticas preventivas, educativas e curativas mais próximas da vida cotidiana da população e, principalmente, dos grupos mais vulneráveis. A atenção primária à saúde (APS) tem sido associada a uma assistência de baixo custo, pois parece tratar-se de serviço simples e quase sempre com poucos equipamentos, embora seja uma abordagem tecnológica específica de organizar a prática e, como tal, dotada de particular complexidade (CAMPOS, 1997).

Atualmente, o PSF é definido como Estratégia Saúde da Família (ESF), ao invés de programa, visto que o termo programa aponta para uma atividade com início, desenvolvimento e finalização. O PSF é uma estratégia de reorganização da atenção primária e não prevê um tempo para finalizar esta reorganização. 

O Ministério da Saúde criou, em Janeiro de 2008, o Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF, visando apoiar a inserção da Estratégia Saúde da Família na rede de serviços e ampliar a abrangência, metas das ações e a resolutividade da Atenção Primária. O NASF deve ser constituído por equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento que atuem em parceria com os profissionais das Equipes Saúde da Família - ESF, compartilhando as práticas em saúde nos territórios sob responsabilidade das ESF, e atuando no apoio às equipes e na unidade em que o NASF está cadastrado. Possui como enfoque a promoção da saúde e o cuidado à população, procurando responder aos novos e antigos desafios da morbidade dos brasileiros, ampliando a oferta das práticas integrativas e ofertando a melhor tecnologia disponível para algumas das doenças crônicas (SCABAR, 2012).

O reconhecimento da importância da inserção do profissional de Educação Física na operacionalização de políticas públicas voltadas a promoção e prevenção em saúde vem crescendo nas últimas décadas. Estudos comprovam que a prática regular de atividades físicas e a adoção de um estilo de vida ativo são fundamentais para a prevenção primária e tratamento de inúmeras doenças crônicas não transmissíveis, principalmente as relacionadas às doenças cardiovasculares e o câncer. Está associada também a prevenção ou a redução da osteoporose, melhora da capacidade funcional e bem-estar psicossocial, além de reduzir o estresse, a ansiedade e a depressão (ANDERSSON, 2010).

A inserção do Profissional de Educação Física no NASF é de fundamental importância pelos aspectos físicos, cognitivos e sociais desenvolvidos por ele, promovendo melhora da qualidade de vida da população. Atuando junto à equipe multiprofissional do Núcleo de Apoio à Saúde da Família, o profissional de Educação Física amplia a abrangência da atenção básica como responsável pelas ações de atividades físicas e práticas corporais (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 2002).

As intervenções do profissional de Educação Física do NASF devem ser dirigidas a grupos-alvo, de diversas faixas etárias, portadores de diferentes condições corporais e/ou com necessidades de atendimentos especiais, junto à equipe multiprofissional do NASF (CONSELHO FEDERAL DE EDUCAÇÃO FÍSICA, 2002). Além disso, de acordo com o Ministério da Saúde o profissional deve conhecer as características do local e da população que lhe é referenciada, para atuar de acordo com suas necessidades. (BRASIL, 2008).

Portanto, o presente trabalho traz como objetivo mostrar como é a atuação do profissional de educação física nas ESFs da cidade de Cruz Alta – RS.                                                            

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 

O estudo caracterizou-se como uma pesquisa quantitativa do tipo descritiva diagnóstica. Este tipo de pesquisa tem como objetivo primordial, segundo Gil (2002, p. 42) “[...]a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”, e também que “[...] uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas de coleta de dados, tais como questionários e a observação sistemática.”

Foram sujeitos da pesquisa todos os profissionais de Educação Física que estavam atuando em 2017 nas ESF da cidade de Cruz Alta – RS. Como instrumento para a coleta de dados foi utilizado uma entrevista semi estruturada versando sobre a sua inserção na ESF, a satisfação com relação à: remuneração, local de trabalho e equipe multidisciplinar bem como a dinâmica de desenvolvimento dos programas de atividade física. O contato com os profissionais foi realizado diretamente nas estratégias de saúde da família em que atuavam.

Os dados foram interpretados a partir da análise de conteúdo, considerando suas três etapas: a pré análise, onde se realizou a organização e seleção do material, para a construção dos indicadores; a exploração do material, onde foi realizada a leitura do material, codificação e escolha das categorias; e, a análise, onde ocorreu a descrição e a análise dos dados. O tipo de análise de conteúdo utilizada foi de exploração quantitativa, onde foi realizada a exploração das temáticas, buscando informação emergente sendo essas interpretadas baseada em quantidades de referências e na frequência das ocorrências (BARDIN, 2011).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Participaram deste estudo dois profissionais de educação física, dos três atuantes nas estratégias de saúde da família da cidade de Cruz Alta - RS, sendo os resultados organizados em três objetivos distintos. Inicialmente analisou-se o tipo de vínculo e a dinâmica de atuação, na sequência analisou-se a satisfação dos profissionais em relação a remuneração, ao local de trabalho e a equipe multidisciplinar, finalizou-se com uma descrição dos programas de atividades física desenvolvidas por esses profissionais das ESFs. Para preservar a identificação dos profissionais, os mesmos serão denominados por A e B.

O profissional A é do sexo feminino, concursada, com carga horária de 20 horas semanais. A qual desenvolve programas como dança, step, alongamento, relaxamento, recreação, caminhadas orientadas, exercícios de membros superiores e inferiores, dependendo dos materiais disponibilizados pelo ESF e do clima, que determina se serão atividades ao ar livre ou internas. A mesma atende três ESFs, sendo o programa oferecido duas vezes na semana, tendo como público alvo alguns moradores do bairro onde fica localizado o ESF, atendendo todas as idades interessadas na prática de atividade física, sendo de crianças até idosos. Objetivando proporcionar qualidade de vida através da prevenção de doenças. Esta apresenta-se insatisfeita com a remuneração, pois não é valorizado de acordo com o grau de conhecimento, independente dos cursos de graduação ou aperfeiçoamento, não há nenhum aumento de salário. Quando ao local de trabalho também não está satisfeita por não haver material adequando e o local é em condições precárias, normalmente uma quadra ou peça, sem especificidade nenhuma para a prática de atividade física, o que dificulta o desenvolvimento das aulas. Tratando-se da esquipe multidisciplinar há satisfação, embora não seja trabalhado muito em grupo, cada um desenvolve seu papel separadamente com boa convivência.

O profissional B, é do sexo masculino, com carga horária de 40 horas semanais, sendo 20 horas por concurso e 20 horas por convocação. O mesmo desenvolve três programas distintos, um destinado a todos os usuários interessados, composto por treinamento aeróbico, o treinamento funcional destinado a pessoas com limitações funcionais, e o terceiro programa destinado ao grupo de idosos. Os usuários participantes dos programas são os moradores dos bairros onde se localizam as três ESFs que são atendidas por este profissional. O objetivo principal dos programas de atividades física é promover saúde, qualidade de vida e reabilitação. Apresenta-se satisfeito com sua remuneração. Quanto ao local de trabalho mostra-se parcialmente satisfeito. Com relação à equipe multidisciplinar a boa convivência varia de acordo com o local de trabalho (ESF).

As Diretrizes do NASF, propostas pelo MS, nos termos da PNPS, propõem a ressignificação das práticas corporais/atividade física, a partir do entendimento de saúde como resultante dos determinantes e condicionantes sociais da vida, destacando como essencial para o profissional de saúde o reconhecimento da promoção da saúde como resultado da dinâmica de produção de vida. Assumindo uma definição múltipla, apresenta-se como política transversal ou articuladora, dentro de uma matriz de princípios norteadores das práticas de saúde local.

No NASF, cada profissional deve comprometer-se com o trabalho por meio da sua especialidade e todos devem se comprometer com as propostas de promoção da saúde integral uma vez que é insuficiente pensar o indivíduo de forma fragmentada, por áreas de estudo no campo da saúde ou mesmo considerar que sua saúde está restrita ao adequado funcionamento dos sistemas fisiológicos.

Os grupos e atividades coletivas podem ocorrer em qualquer espaço do território e possuem um grupo de participantes. No caso dos profissionais de Educação Física, podem envolver grupos de convivência; grupos focais (temático em doenças crônicas, por exemplo); grupos de promoção de saúde (para usuários que não necessariamente possuem algum diagnóstico, estando envolvido no grupo puramente pela intenção de manter e melhorar seus níveis de saúde); grupos voltados para saúde laboral, dentre outros. (SILVA, 2016)

Cabe ressaltar que, no âmbito do SUS, as possibilidades de atuação do Profissional de Educação Física não se resumem aos NASF. Embora existam cadastrados no sistema do Ministério da Saúde aproximadamente 3.000 profissionais nos NASF em todo o território nacional, sua atuação pode se dar em serviços como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em suas diferentes modalidades.

As Diretrizes do NASF orientam critérios para definição do público alvo das atividades que não devem prescindir da análise do território; da localização de espaços comunitários onde já ocorram atividades ou que possam ser utilizados para esse fim; da identificação e compreensão das manifestações da cultura corporal presentes no grupo social característico do território. Além disso, é necessário superar práticas conservadoras que não garantem a participação dos sujeitos na construção, planejamento e avaliação das propostas, como salientam vários autores com contribuições importantes no campo da saúde pública (VASCONCELOS, 2007; STOTZ, 2007).

 

CONCLUSÃO

 

Programas de atividades físicas são de fundamental importância para qualquer pessoa, independentemente da idade, por isso as Estratégias de Saúde da Família juntamente com o NASF, trabalham para atender maior parte possível da população.

 Neste estudo, o qual buscou mostrar como é a atuação do profissional de educação física nos ESFs da cidade de Cruz Alta-RS, observou-se que há uma grande diferença de opiniões entre os profissionais entrevistados, relacionadas à remuneração, local de trabalho e quanto à equipe multidisciplinar atuante nas estratégias.

Portanto, respondendo a questão inicial do trabalho quanto a atuação do profissional de educação física nos ESFs da cidade de Cruz Alta-RS constatou-se que as condições de local de trabalho são inadequadas para a prática de atividade física, causando a insatisfação do profissional com esses locais que lhes são disponibilizados. Sendo essas atividades voltadas a todo e qualquer público da ESF. Também, foi observada a falta de material ofertado para esses profissionais, que, na maioria das vezes precisam ter seus próprios materiais para trabalhar com o público. O município de Cruz Alta possui em torno de 23 ESFs e com a pesquisa podemos concluir que nem a metade deles possui um profissional de educação física, ocasionando uma sobrecarga dos três profissionais atuantes.

Cabe aos órgãos públicos maior investimento e aperfeiçoamento para o trabalho com a população em geral, bem como o desenvolvimento de estrutura física, equipamentos e aumentar a contratação de profissionais de educação física capacitados para melhor desenvolver estes trabalhos.

REFERÊNCIAS

ANDERSSON J. et al. Effects of heavy endurance physical exercise on inflammatory markers in non-athletes. Atheroscler, n. 209, p. 601-605, 2010.

BARDIN L. Análise de conteúdo. 2ed. São Paulo: Edições 70, 2011.

BRASIL, Cria os Núcleos de Apoio à Saúde da Família – NASF. Portaria n. 154, de 24 de janeiro de 2008. Brasília (DF); 2008.

CAMPOS, G.W.S. Subjetividade e administração de pessoal: considerações sobre modos de gerenciar o trabalho em equipes de saúde. In: MERHY EE, Onoko R. Agir em saúde: um desfio para o público. São Paulo: Hucitec; p. 229-66, 1997.

CONFEF, Conselho Federal de Educação Física. Intervenção do Profissional de Educação Física e respectivas competências e define os seus campos de atuação profissional. Resolução nº046/2002, Rio de Janeiro;2002.

SCABAR, TG; PELICONI, AF; MCF. Atuação do profissional de Educação Física no Sistema Único de Saúde: uma análise a partir da Política Nacional de Promoção da Saúde e das Diretrizes do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). J. Health Sci Inst, v. 30, n. 4. P. 411-8, 2012.

SILVA, P.S.C. Núcleo de Apoio à Saúde da Família: aspectos legais, conceitos e possibilidades para a atuação dos Profissionais de Educação Física. Palhoça: Unisul, 2016.

STOTZ, E. Enfoques sobre educação popular e saúde. In: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Caderno de Educação Popular e Saúde. Brasília: Ministério da Saúde, p.46-57, 2007.

VASCONCELOS, E.M. Educação popular e a atenção à saúde da família. São Paulo: Hucitec; 1999.

 

 

[1] Acadêmica do Curso de Educação Física – Bacharelado da Universidade de Cruz Alta – bianca.grilo@hotmail.com

[2] Professora do Curso de Educação Física da Universidade de Cruz Alta UNICRUZ – mkrug@unicruz.edu.br

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