07/10/2015

7 VIRTUDES FUNDAMENTAIS PARA UM GESTOR DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

7 VIRTUDES FUNDAMENTAIS PARA UM GESTOR DE INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR

Nessas minhas andanças pelo Brasil e pelo mundo afora conheci muitos gestores de universidades. Todos chamaram a minha atenção por conta de um ou outro aspecto específico e até conheci um ou outro gestor que combinasse em bom nível sete virtudes que relaciono aqui por ter entendido, pela observação do desempenho e dos resultados dessas IES que conheci, como absolutamente fundamentais para a gestão de uma IES no Brasil:

  1. Liderança: O líder mobiliza as pessoas para que elas se realizem dentro do projeto da IES. O que pode mobilizar as pessoas que trabalham na IES? Como criar um sonho ou indicar um rumo para que todos possam perceber para onde e IES está indo? Como estabelecer uma causa institucional, algo envolvente e que represente essencialmente tudo aquilo que a IES deseja? Como torna-la absolutamente relevante para a sociedade e economicamente? Estas questões são fundamentais para pensar a liderança em instituições de ensino superior e mais, deve-se pensar também na melhor maneira de organizá-los no processo de mobilização. Logo o gestor de IES virtuoso deve, ouvir mais para saber mais e se inspirar mais, pois só assim conceberá uma estratégia, um rumo, uma causa institucional. Contudo, deve saber se expressar de maneira clara e objetiva. Afinal, todos precisam compreender qual é a causa, para onde ir, e o que deve ser feito.
  2. Sabe para que serve e como utilizar a gestão financeira: Se observarmos as IES apenas pelo lado acadêmico não teremos sustentabilidade financeira. Por outro lado, se observarmos apenas pelo lado financeiro não teremos sustentabilidade acadêmica. Logo, o que empobrece a análise é a falta de uma percepção mais ampla sobre tudo o que envolve a gestão de organizações educacionais. É preciso enxergar a IES sob diversas perspectivas e estabelecer sínteses a partir de olhares diversos, multidisciplinares. As finanças são fundamentais para dizer se estamos no caminho certo, utilizando um modelo de gestão sustentável para todos os que estão envolvidos no empreendimento educacional. As finanças indicam que estamos fazendo bem feito quando os números da captação e da retenção de alunos crescem, quando sobra mais dinheiro para remunerar os investidores ou aplicar em outras ações institucionais. Por outro lado e, como qualquer ferramenta, pode atrapalhar o crescimento da IES – e não é difícil perceber quando isso está ocorrendo. Quando as finanças são a única forma de ver a IES (uma forma de ver é uma forma de não ver), quando o corte de custos apresenta-se como opção estratégia (falta de criatividade...) ou quando o gestor financeiro não olha para as possibilidades de aumento da arrecadação, mas apenas para os custos(gestão da arrecadação também finanças). O gestor de IES virtuoso sabe que as finanças servem para nos indicar se estamos fazendo as coisas da maneira correta, sustentável e como podemos fazer mais com o que temos. Eventualmente participam da estratégia quando inovam, mas essa já é uma outra história.
  3. Utiliza diversos instrumentos de avaliação das expectativas e da qualidade percebida pelos acadêmicos: A ação mais desafiadora para um gestor de IES é avaliar. Avalia-se o quê? A qualidade dos serviços, o entusiasmo de alunos e professores, a satisfação de funcionários, as expectativas dos investidores, a aplicação dos processos. Veja como tudo isso é muito subjetivo. Não funciona como em uma indústria de produtos. Em uma IES as relações de produção são bem mais complexas.Logo, avalia-la é algo mais complexo também. Não adianta aplicar apenas um questionário anual para colher informações de como os alunos percebem os professores ou como os professores percebem os alunos, a direção, a coordenação de curso, a infraestrutura, dentre outas questões. Isso é importante, mas não é mais suficiente para formar conceito sobre a complexidade de uma IES. O gestor de IES virtuoso sabe circular pelo campus, conversar com as pessoas, colher informações de maneira formal e informal. Ele vivencia o campus, entrega-se por inteiro. A sua vida passa a ser o campus e o relacionamento com professores, alunos e funcionários, pois assim pode ter uma visão mais ampla sobre quase todas as questões. Não é à toa que vi muitos presidentes de universidades americanas morando dentro da universidade.
  4. Está sempre atento para tendências e mudanças na regulação: Sabe-se que o mercado da educação no Brasil é extremamente regulado. O Ministério da Educação solta todos os dias novas normas e procedimentos para regular e avaliar a atuação das instituições de ensino superior. O gestor de IES virtuoso sabe que acompanhar essas normas e compreender onde estamos no que os especialistas chamam de “cipoal legal do MEC” é algo fundamental para tomar decisões estratégicas. Vale lembrar que a regulação não surge apenas para cortar direitos ou prerrogativas, mas também para abrir espaços e conceder autonomias. Muitas oportunidades não foram aproveitadas por muitas IES porque elas não acompanhavam as mudanças na legislação. Outro erro: Achar que o Google é uma boa fonte de consulta e atualização do que acontece na legislação educacional brasileira. Adoro o Google, mas ele não é um oráculo! Nem o site do MEC é seguro para saber o que está valendo e o que está regulado! Não é nada fácil. O gestor virtuoso utiliza sites mais confiáveis e uma rede de relacionamento com pessoas especializadas para manter-se informado sobre todas as mudanças. Outra prática indicada é participar das reuniões abertas à IES e que ocorrem no próprio Ministério da Educação ou, pelo menos, ter acesso aos pareceres sobre as questões discutidas no Conselho Nacional de Educação.
  5. Recria métodos de gestão para aplicação na gestão de IES: Esse é um segredo dos grandes gestores de IES. É fundamental investir em metodologias de gestão, absorver técnicas e ferramentas para planejar, organizar, executar melhor e controlar o andamento das ações, bem como os resultados alcançados em cada ação. Pode-se utilizar ferramentas diversas para diferentes momentos da gestão de uma IES. Para construir visão de longo prazo temos, o framework Canvas, o design thinking, o BSC, oceano azul, cinco forças de Porter ou cauda longa. Para o tomar decisões temos a matriz BCG, curva ABC, crossing thechasm, matriz swot ou pirâmide de Maslow. Para execução temos, 5w2h, matriz de gerenciamento do tempo, A3 thinking, diagrama de Ishikawa, ciclo PDCA ou matriz Ansoff... Enfim, temos incontáveis modelos aplicáveis na gestão de uma IES. Só que todos devem ser reconstruídos para a realidade do mercado educacional brasileiro. Em alguns casos, essa reconstrução não é simples. Em outros é melhor procurar outro modelo e não forçar a barra. O gestor virtuoso de IES sabe quando e como reconstruir não apenas esses modelos, mas como analisar e readaptar o pensamento gerencial de outros segmentos para o segmento educacional.
  6. Cuida bem da estratégia: Não adianta levar toda a gestão para o lado operacional e se descuidar da estratégia, não ter um plano, não ter nem mesmo um tempo para pensar no que está fazendo, para onde deseja ir e como fazer. Quando focamos nossas ações em urgências do dia a dia, sem pensar no tempo para planejar, organizar, controlar ações e avaliar resultados simplesmente não giramos o ciclo do PDCA (Plan, Do, Check e Act). Aprendemos menos e, no médio prazo, criamos a cultura da urgência. Pode ser pior? Sim! Quando criamos a cultura de que tudo é urgente e, portanto, essa palavra perde todo o seu significado. É claro que temos que solucionar problemas, resolver situações no cotidiano, mas isso é apenas uma parte do nosso trabalho como gestor. O gestor virtuoso de IES não abre mão de um tempo semanal para o planejamento e para a avaliação geral de suas ações e sobre o que está ocorrendo na IES.
  7. Respeita a cultura organizacional: Respeitar não é deixar de agir sobre a cultura diante de uma necessidade de mudança. Respeitar é conhecer, reconhecer, vivenciar e saber liderar mudanças num processo que envolve, sensibilização das pessoas, a construção de pactos administrativos e políticos, a boa comunicação dos porquês para a mudança, comemorações das primeiras mudanças, empoderamentoou envolvimento das pessoas. Tudo requer um olhar técnico, analítico, pragmático e realista sobre a própria IES, o que, definitivamente, não é fácil. A intervenção do gestor virtuoso considera as crenças, os valores, as conquistas, o jeito de ser e de fazer na IES e, partindo de uma síntese, ele indica um caminho para implantar suas ações, interagindo com a cultura organizacional de maneira responsável. O grande gestor é, incisivo e ao mesmo tempo suave, ou seja, uma competência rara desenvolvida por meio da disciplina na conquista de habilidades de comunicação, de percepção do meio, da própria capacidade de analisar e estabelecer sínteses. Respeitar a cultura é saber exatamente onde se está pisando.

Simples? Claro que não. O desenvolvimento de virtudes nunca é fácil, pois impõe em nós uma autorreflexão às vezes desconfortável, mas que promove a competência na medida em que aumenta o autoconhecimento e o conhecimento sobre o meio, as técnicas, as pessoas, os referenciais ou sobre as políticas públicas. Promove a competência também pelo desenvolvimento de habilidades de comunicação, de percepção e de síntese. O gestor virtuoso de IES normalmente é uma pessoa de atitude, mas com forte capacidade de agregar pessoas e de se colocar no lugar delas.

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