SUSTENTABILIDADE: UMA REFLEXÃO NECESSÁRIA
Sustentabilidade é um conceito muito em voga na atualidade, mas pouco aplicado em sua essência. Eco-design, eco friendly, design sustentável, e tantas outras nomenclaturas para um estilo dito “ideal” mas extremamente contraditório, pois nem todo produto que contenha o “selo verde” significa que ele é ecologicamente correto (PAPANEK, 1995).
De acordo com o pensamento de Kazazian, um desenvolvimento sustentável é formado por um conjunto de idéias, ações e posicionamentos ecologicamente corretos, socialmente justos e economicamente viáveis. Ser sustentável, na própria etimologia da palavra, com origem no latim sustentare, consiste em se “sustentar”, “apoiar” e “conservar”, uma idéia ou posicionamento.
Um produto sustentável tem em sua concepção a preocupação primordial em preservar e manter a biodiversidade. São produtos que possuem um planejamento na sua cadeia produtiva com o princípio de não gerar danos ou desequilíbrios no eco-sistema: “agora, torna-se necessário apenas convencer o consumidor de que, na verdade, ele é dono de muito pouco até o momento”. (PAPANEK, 1970, p. 94).
No campo do design de moda, os conceitos de moda sustentável ainda estão longe do ideal. Isso se deve ao posicionamento das grandes empresas e marcas, sobretudo as fast-fashions, que detêm o título de maiores responsáveis por degradação de poluição do do meio ambiente e que, visando somente o lucro, não querem investir em projetos mais sustentáveis.(BERLIM, 2016).
Os problemas acerca da sustentabilidade na moda e suas formas de minimizar os impactos ambientais, bem como as alternativas de solução aos processos produtivos, têm sido investigados de maneira contínua e urgente. No entanto, há, ainda um grande leque de possibilidades a ser investigado no outro extremo da cadeia produtiva, que envolve o pós-consumo e o uso consciente de roupas, levando em consideração o descarte adequado dos resíduos têxteis.
Na contramão do consumo, em resposta às degradações ambientais provocadas pelas fast fashions, surgiu na Inglaterra o movimento mundial Slow Fashion, que em rápida tradução significa “baixo consumo”. Em sua essência, é a diminuição drástica da compra por impulso, priorizando roupas com qualidade, durabilidade e responsabilidade social.
Criado em 2008 pela pesquisadora inglesa Kate Fletcher, o termo foi inspirado no movimento Slow Food e, assim como em relação à alimentação, o movimento incentiva que os consumidores ajam de modo consciente e estejam cientes de cada etapa da cadeia produtiva – do design de produto até a sua produção, uso e descarte e reaproveitamento correto de cada peça. O Slow Fashion promove um novo modo de pensar, agir e consumir moda. Nele, o ato de compra existe, mas de maneira consciente e madura. Compra-se menos, adquire-se produtos com qualidade e sustentáveis, consome-se menos, utiliza-se somente o essencial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser sustentável está mais relacionado a uma mudança de comportamento que a consumir menos ou melhor. É separar o próprio lixo e colocá-lo corretamente nas ruas. É comprar uma roupa com a consciência tranqüila de que não poluiu os rios ou foi feita através de trabalho escravo. Ser sustentável é preferir produtos mais naturais a industrializados. È desperdiçar menos, gastar menos, consumir menos e viver mais coerente com a realidade. Logo, uma atitude sustentável está mais relacionada com pequenas ações, que, a longo prazo, poderá fazer toda a diferença no planeta.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERLIM, Lilyan; Moda e Sustentabilidade: uma reflexão necessária. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2016.
BEZERRA,G.M.F; MATOS,C.K; PESSOA, J.B.G. “O consumo no futuro”. Anais do 7º Colóquio de Moda, Paraná, 2011, p.7.
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CARNEIRO,R.M.S.;FLORES,A.R.B.;QUEVEDO,S.;ULBRITCH, V; VANZIN,T. “O novo consumidor na sociedade do conhecimento”. Anais do 2º Simpósio Brasileiro de Design Sustentável, São Paulo, 2009, p.7.
FLETCHER, Kate. GROSE, Lynda.Moda e Sustentabilidade: design para mudança. São Paulo: Editora Senac, 2011.
KAZAZIAN, Tierry; Haverá a idade das coisas leves: design e desenvolvimento sustentável. São Paulo: Senac, 2005.
LIPOVETSKY, Gilles; O Império do Efêmero: a moda e seu destino nas sociedades modernas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
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