16/03/2015

Os Saberes Necessários ao Bom Professor de Educação Física Escolar na Percepção dos Acadêmicos Ingressantes da Graduação

THE KNOWLEDGE NEEDED THE GOOD TEACHER OF SCHOOL PHYSICAL EDUCATION IN PERCEPTION OF THE ACADEMIC FRESHMEN GRADUATION

 

Cassiano Telles [1]

Rodrigo de Rosso Krug [2]

Victor Julierme Santos da Conceição [3]

Hugo Norberto Krug [4]

 

RESUMO

Essa investigação objetivou analisar os principais saberes docentes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar na percepção de acadêmicos ingressantes de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil. A metodologia caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. O instrumento utilizado para a coleta de informações foi um questionário. A interpretação das informações foi à análise de conteúdo. Os participantes foram vinte e dois (22) acadêmicos ingressantes no referido curso. Concluímos que foi possível identificar uma enorme quantidade e diversidade de saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar. Cabe ressaltar que em sua maioria a ênfase foi na questão do ‘saber fazer’, devido às ‘marcas’ deixadas por seus professores de Educação Física na educação básica.

Palavras-chave: Educação Física. Formação de Professores. Formação Inicial. Saberes Docente. Bom Professor.

 

ABSTRACT 
This investigation aimed to analyze the main knowledge teaching necessary the good teacher of School Physical Education in the perception of the academic freshman of a course of Degree in Physical Education from a public university in southern Brazil. The methodology characterized by the phenomenological approach in the form of a case study with a qualitative approach. The instrument used for data collection was a questionnaire. The interpretation of the information was the content analysis. The participants was twenty-two (22) academic freshman in referred course. Concluded that it was possible to identify a large quantity and diversity of knowledge needed the good teacher of School Physical Education. Can be highlight that in mostly the emphasis was in the question of 'know-do', due the 'marks' left by their teachers Physical Education in basic education.

Keywords: Physical Education. Formation Teacher. Initial Formation. Teaching Knowledge. Good Teacher.

 

INTRODUÇÃO

De acordo com Nóvoa (2009), a partir do início do século XXI, a profissão docente reaparece como um elemento insubstituível na promoção da aprendizagem. Ressalta que devido aos desafios da diversidade dos tempos atuais, os professores precisam transcender ao ato de ensinar, ampliando suas prática aos processos de inclusão e de desenvolvimento de novos métodos de ensino.

Neste sentido, alguns autores (TARDIF, 2002; NÓVOA, 2002; 2009) destacam que os fenômenos atuais atrelados à profissão docente impulsionam à necessidade do regresso dos professores ao centro das preocupações investigativas e das políticas educacionais.

Cabe frisar que Martins e Rausch (2012) falando sobre os professores, colocam que, já há algum tempo, os “pesquisadores procuram os atributos ou as características que definem a profissão docente” (p.247). Dentre estes pesquisadores brasileiros destacam-se especialmente os estudos de Cunha (1992) e Pimenta (2005). Em consequência disso, Martins e Rausch (2012, p.247-248), “contribuem no entendimento de que o sucesso da profissão perpassa pela constituição de uma trilogia de saberes que envolvem: saber (conhecimentos), saber-fazer (habilidades), saber-ser (atitudes)”.

Tardif (2002) afirma que a docência é constituída por diferentes saberes. O autor descreve o professor como “alguém que deve conhecer sua matéria, sua disciplina e seu programa, além de possuir certos conhecimentos relativos às ciências da educação e à pedagogia e desenvolver um saber prático baseado em sua experiência cotidiana com os alunos” (p.39).

Desta forma, para Tardif (2002), a formalização dos saberes necessários à execução das tarefas que lhe são próprias é uma das condições essenciais a toda profissão. Afirma que o ensino é a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de repertório no qual o professor se abastece para responder às exigências específicas da situação concreta de ensino.

Ainda Tardif (2002, p.36) diz que o saber docente é um saber plural, pois o define como: “[...] formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares e curriculares e experienciais”. Então, partindo desta conceituação, o autor, classifica os saberes docentes como: a) Os saberes da formação profissional - são o conjunto de saberes transmitidos pelas universidades. Esses saberes parecem ser transmitidos pelas Ciências da Educação, contudo as relações desse saber com o conhecimento oriundo da prática educacional, constituem o saber pedagógico, através da reflexão sobre as práticas educativas; b) Os saberes disciplinares – são adquiridos na formação inicial e continuada, produzidos nas universidades. Emergem da tradição cultural e dos grupos sociais produtores de saberes; c) Os saberes curriculares – são os discursos, objetivos, conteúdos e métodos a partir dos quais a instituição escolar categoriza e apresenta os saberes sociais por ela definidos e selecionados como modelos da cultura erudita e de formação para a cultura erudita; e, d) Os saberes experenciais ou práticos – são os saberes próprios do professor e de sua vida educacional, incorporando a experiência individual e coletiva.

Montalvão e Mizukami (2002) afirmam que os saberes docentes são construídos ao longo da vida, começando, portanto, antes mesmo da formação inicial, passando por ela e acompanhando toda a formação continuada.

Com relação a isto, citamos Silva e Krug (2010) que dizem que as significações sobre o professor e a docência são construídas muito antes de entrar numa sala de aula, pois temos uma representação do que seja um professor com base nos saberes construídos ao longo de nossas histórias de vida, onde nossas experiências refletem comportamentos, valores, posturas profissionais e pessoais, que são nossos primeiros saberes construídos sobre a docência.

Desta forma, concentramos a nossa atenção para o professor de educação Física, isto é, praticamente para os ‘saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar, e, mais exatamente, na percepção do aluno ingressante no ensino superior.

Assim, considerando as premissas descritas anteriormente, defrontamo-nos com a seguinte questão problemática orientadora desta investigação: quais são os principais saberes docentes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar na percepção de acadêmicos ingressantes de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil? Consequentemente, o objetivo geral foi analisar os principais saberes docentes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar na percepção de acadêmicos ingressantes de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil.

A justificativa da importância da realização desta investigação está permeada pela necessidade de se conhecer os saberes docentes necessários ao bom professor para o desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem na educação básica e, particularmente, na disciplina de Educação Física.

 

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A metodologia empregada nessa investigação caracterizou-se pelo enfoque fenomenológico sob a forma de estudo de caso com abordagem qualitativa. Conforme Triviños (1987, p.125) “a pesquisa qualitativa de natureza fenomenológica surge como forte reação contrária ao enfoque positivista, privilegiando a consciência do sujeito e entendendo a relatividade social como uma construção humana”. Explica que nessa concepção de pesquisa, a preocupação fundamental é com a caracterização do fenômeno, com as formas que se apresenta e com as variações, já que o seu principal objetivo é a descrição. Segundo Godoy (1995) o estudo de caso tem se tornado na estratégia preferida quando os pesquisadores procuram responder às questões ‘como’ e ‘por que’ certos fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de um contexto de vida real.

Utilizamos um questionário para coletar as informações. Sobre o questionário Triviños (1987) diz que, mesmo sendo de emprego usual no trabalho positivista, também o podemos utilizar na pesquisa qualitativa.

A interpretação das informações coletadas foi realizada por meio da análise de conteúdo, que, para Bardin (1977), tem três etapas: 1ª) A pré-análise; 2ª) A exploração do material; e, 3ª) O tratamento dos resultados.

Participaram da investigação vinte e dois (22) acadêmicos ingressantes de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil. Consideramos ingressantes os acadêmicos que estavam matriculados no 1º semestre do referido curso. A escolha deu-se de forma intencional sendo a disponibilidade dos mesmos o fator determinante para ser colaborador da pesquisa. Molina Neto (2004) coloca que esse tipo de participação influencia positivamente no volume e credibilidade de informações disponibilizadas pelos colaboradores.

Quanto aos aspectos éticos vinculados às pesquisas científicas, destacamos que todos os envolvidos assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e suas identidades foram preservadas (numerados de 1 a 22).

 

RESULTADOS

            A partir da interpretação das informações obtidas, por meio da análise de conteúdo, identificamos e analisamos os seguintes ‘saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar’ na percepção de acadêmicos ingressantes de um curso de Licenciatura em Educação Física de uma universidade pública da região sul do Brasil:

1) Saber elaborar um planejamento (Dezessete acadêmicos: 1; 3; 4; 6; 7; 8; 10; 11; 12; 13; 14; 15; 16; 17; 19; 21 e 22) - Identificamos esse saber com o que Canfield (1996) destaca sobre planejamento, ao colocar que ele é a pedra fundamental, a razão de ser de todo o trabalho pedagógico consciente. É o que orienta o professor na sua caminhada pedagógica em busca da aprendizagem de seus alunos;

2) Saber compreender a realidade dos alunos (Dezessete acadêmicos: 1; 3; 4; 5; 6; 7; 8; 9; 10; 14; 15; 16; 17; 19; 20; 21 e 22)  Em relação a esse saber mencionamos Freire (1996) salienta que “ensinar exige apreensão da realidade” (p.76);

3) Saber se relacionar bem com os alunos (Onze acadêmicos: 1; 2; 3; 4; 5; 6; 11; 14; 16; 19 e 20) - Sobre esse saber Darido e Rangel (2005) dizem que o sucesso e o insucesso do processo ensino-aprendizagem depende da interação professor-aluno na aula. Assim, a boa relação está ligada ao sucesso e a má relação ao insucesso;

4) Saber que precisa se atualizar (Dez acadêmicos: 7; 8; 9; 11; 12; 14; 15; 16; 19 e 22) – Relativamente a esse saber citamos Silveira (1988) que diz que a atualização é um dos requisitos necessários para o exercício da profissão docente. Barros (1993) coloca que a sociedade exige serviços específicos e de alto nível na área de Educação Física com acesso a conhecimentos recentes, pois essa desperta novas necessidades e exige serviços de qualidade, sendo necessário que os profissionais de Educação Física dominem esses conhecimentos, portanto à uma necessidade permanente de atualização;

5) Saber lidar com as dificuldades/imprevistos surgidos (Nove acadêmicos: 1; 2; 4; 5; 7; 10; 12; 19 e 22) - A respeito desse saber citamos Perrenoud (1997) que afirma que ser professor significa saber exercer a profissão em condições muito adversas;

6) Saber o conteúdo da Educação Física (Oito acadêmicos: 3; 7; 8; 11; 15; 16; 17 e 21) – Quanto a esse saber nos reportamos a Cunha (1992) que coloca que para se trabalhar bem a matéria de ensino, o professor tem que ter profundo conhecimento do que se propõe a ensinar. Isso não significa uma postura prepotente que pressuponha uma forma estanque de conhecer. Ao contrário, o professor que tem domínio do conteúdo é aquele que trabalha com a dúvida, que analisa a estrutura de sua matéria de ensino e é profundamente estudioso naquilo que lhe diz respeito. Já Matos (1994) destaca que, entre outros conhecimentos, o professor para ter um trabalho eficiente deve ter conhecimento do conteúdo da disciplina;

7) Saber manter uma postura de professor (Sete acadêmicos: 5; 9; 10; 13; 16; 17 e 22)  Sobre esse saber citamos Torres et al. (2007) que diz que a postura do professor perante a turma serve de ‘espelho’ para a formação do caráter dos alunos, pois esses tentam se espelhar nas pessoas que estão a sua volta, e, principalmente, nas pessoas com quem eles se sintam bem. E, por isso o exemplo tem de ser ‘bom’;

8) Saber se comunicar (Seis acadêmicos: 4; 5; 8; 9; 14 e 19) – Identificamos esse saber em Marcellos (2009) que coloca que a comunicação é, sem dúvida, um dos elementos de maior importância na participação coletiva;

9) Saber gestão de aula (Seis acadêmicos: 1; 2; 4; 9; 12 e 19) – Fundamentamos esse saber em Claro Jr e Figueras (2009) que colocam que a gestão de aula caracteriza-se como a capacidade do professor de manter um ambiente favorável às aprendizagens. Já Perrenoud (2000) conceitua gestão de aula como a organização e a direção de situações de aprendizagens pelo professor;

10) Saber refletir (Cinco acadêmicos: 6; 10; 11; 19 e 21)  Esse saber pode ser embasado em Furter (1985) que destaca que a reflexão é uma qualidade muito necessária ao professor, sobretudo, quando adota uma atitude de busca, sempre mais rigorosa, de pesquisa e de avaliação, de aperfeiçoamento permanente, pois a reflexão é, ao mesmo tempo, crítica, dialética e renovadora;

11) Saber se preocupar com a aprendizagem dos alunos (Cinco acadêmicos: 2; 11;12; 15 e 17)  Referente a esse saber apontamos Siedentop (1983) que diz que o ensino deve ser concebido com direção ao processo de aprendizagem e para isso o ensino deve encontrar maneiras de ajudar os alunos a aprenderem a se desenvolverem através de experiências que os levem a crescer em destreza, entendimento e atitudes;

12) Saber ter o controle/domínio dos alunos (Cinco acadêmicos: 4; 5;10; 12 e 13) - Esse saber pode ser justificado por Piéron (1988) que afirma que o professor deve definir as expectativas e traçar os limites da turma, e o mais importante é conseguir que eles sejam aceitos, sendo essa a principal fonte de tensões na relação pedagógica;

13) Saber abordagens pedagógicas (Cinco acadêmicos: 3; 6; 8; 15 e 17) – Sobre esse saber citamos Ilha; Maschio e Krug (2008) que afirmam que as abordagens pedagógicas de ensino representam uma possibilidade de embasar a prática docente, tendo em vista que cada uma delas enfoca alguns princípios indicando formas e estratégias de como desenvolvê-la;

14) Saber ter paciência (Cinco acadêmicos: 5; 8; 9; 13 e 22)  Em relação a esse saber mencionamos Luft (2000) que coloca que paciência é uma virtude que consiste em suportar os males ou incômodos com resignação, tolerância. Já Cristino et al. (2008) dizem que saber ter paciência é um dos saberes necessários à prática docente;

15) Saber ensinar (Quatro acadêmicos: 1; 3; 19 e 22) – Esse saber pode ser fundamentado em Gauthier et al. (1998) que destaca o ensino como a mobilização de vários saberes que formam uma espécie de reservatório no qual o professor se abastece para responder às exigências específicas de sua situação concreta de ensino. Já Nóvoa (1995) coloca que a tarefa básica do professor é ensinar;

16) Saber relacionar teoria e prática (Três acadêmicos: 6; 10 e 17) - A respeito desse saber citamos Luckesi (1994) que afirma que não é possível uma ação pedagógica sem condução e explicações teóricas, sem pensamentos, sem idéias. Shigunov; Dorneles e Nascimento (2002) destacam que a relação entre teoria e prática constitui-se em um problema básico no campo educacional. Entretanto, Infante; Silva e Alarcão (1996) dizem que a ação prática do professor não é desligada de conhecimentos teóricos;

17) Saber lidar com a falta de espaço físico e materiais (Três acadêmicos: 3; 10 e 14) – A respeito desse saber mencionamos Rangel et al. (2005) que o professor tem que saber que a aula de Educação Física na escola pode ser desenvolvida nos mais diversos espaços, como o pátio escolar, quadras, campos, salas e outros que houverem na escola e que for conveniente para o objetivo que pretende atingir com a aula;

18) Saber ser criativo (Três acadêmicos: 4; 21 e 22) – Referente a esse saber mencionamos Ferreira e Krug (2001) que constataram em seu estudo que ser criativo é uma das características pessoais dos bons professores formadores de profissionais de Educação Física. Para Pereira (1988) a capacidade de criar, com a atual realidade da Educação Física, é uma característica que o professor deve possuir em alto grau para suprir a existência de condições adversas;

19) Saber trabalhar com a inclusão (Dois acadêmicos: 11 e 22) – Esse saber nos remete a Flores e Krug (2010) que afirmam que o professor saber trabalhar com a inclusão é parte principal na busca por um ensino de qualidade para a pessoa com e sem deficiência no ensino regular;

20) Saber realizar transposição didática (Dois acadêmicos: 6 e 10) – Quanto a esse saber nos fundamentamos em Chevallard (1991) que define transposição didática como a passagem do saber científico para o saber ensinado;

21) Saber explicar as atividades de aula aos alunos (Dois acadêmicos: 5 e 17)  Esse saber pode ser embasado em Piéron (1988) que define como instrução as intervenções verbais e/ou não verbais do professor comunicando os objetivos e/ou matéria de ensino aos alunos. Destaca que o professor deve informar aos alunos sobre não só o para que e o por que da atividade de aprendizagem, mas, também, o que fazer, e ainda os resultados a alcançar;

22) Saber ter controle emocional (Dois acadêmicos: 5 e 19) – Em relação a esse saber destacamos Weisinger (1997) que afirma que a aprendizagem do controle das emoções por parte das pessoas dentro das organizações é importante, pois melhora o processo de comunicação, reduzindo, portanto, de maneira mais eficaz os conflitos repetidos e mal-resolvidos, assim como pode reduzir em muito a falta de entusiasmo e consequentemente o decréscimo da produtividade;

23) Saber os desafios da profissão docente (Dois acadêmicos: 12 e 14) – Sobre esse saber mencionamos Pimenta (2005) que diz que o professor é responsável direto pelo processo ensino-aprendizagem que ocorre na sala de aula, ele representa e necessita de uma autonomia didática que se expressa no cotidiano de seu trabalho, assim ele é capaz de enfrentar os desafios do processo ensino-aprendizagem e da educação;

24) Saber trabalhar coletivamente (Dois acadêmicos: 2 e 9) – Relativamente a esse saber nos reportamos a Moraes (1996) que diz que o professor sozinho não pode avançar significativamente, pois quanto mais o professor avança na sua profissão, mais ele necessita interagir com seus colegas, mais ele percebe o diálogo com os outros professores como uma forma de melhoria profissional. Complementa ainda que o professor somente é capaz de avançar de forma significativa se sua progressão estiver associada ao esforço de progressão de um grupo como um todo e, ainda mais, da sociedade da qual ele é parte;

25) Saber fazer a mediação do conhecimento (Um acadêmico: 8) – A respeito desse saber citamos Bulgraen (2010) que destaca que a atuação do professor deve ser como mediador do conhecimento, de forma que os alunos aprendam os saberes escolares em interação com o outro, e não apenas recebam-no passivamente. É dessa forma, que o docente contribuirá para que o aluno desenvolva o senso crítico e possa cada vez mais participar ativamente de sua prática social como sujeito em meio a sociedade. Desse modo, cabe ao professor colocar-se como ponte entre o aluno e o conhecimento e cabe ao aluno participar ativamente desse processo;

26) Saber como funciona a escola (Um acadêmico: 11) – Quanto a esse saber citamos Santos (2000), que analisa os saberes como uma cultura do professor, o qual não pode esquecer de suas experiências pessoais e profissionais assim como a cultura da escola, suas práticas e formas de funcionamento são questões que não podem ser ignoradas por aqueles que pesquisam, estudam ou por lá um dia passaram, pois é fundamental entender este processo educativo por lá realizado;

27) Saber ter boa didática (Um acadêmico: 11) – Esse saber nos remete a Ferreira e Krug (2001) que dizem que o professor deve possuir conhecimento pedagógico do conteúdo, ou seja, além dele saber o conteúdo a ser desenvolvido, torna-se necessário também saber como transmitir o conhecimento aos alunos;

28) Saber ser crítico (Um acadêmico: 15) – Identificamos esse saber em Moraes (1996) que considera que o permanente questionamento e a crítica da prática são características de professores preocupados em avançar profissionalmente. O contínuo questionamento de seu trabalho habilita o professor avançar em sua educação através de constantes inovações e através do aprofundamento da compreensão de sua prática. A capacidade crítica é um catalisador poderoso para tornar-se um professor cada vez melhor. O professor que desenvolve uma habilidade crítica é capaz de perceber aspectos negativos num trabalho por mais bem sucedido que ele seja;

29) Saber ter respeito (Um acadêmico: 18) – A esse respeito citamos Ferreira e Krug (2001) que ser respeitador é uma característica do bom professor. Já Cristino et al. (2008) colocam que saber respeitar o aluno é um dos saberes necessários à prática docente. Freire (1996) diz que ensinar exige respeito, mas respeito aos saberes dos educandos. Porque não discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos;

30) Saber ter domínio do conteúdo (Um acadêmico: 5) – Esse saber pode ser justificado pela seguinte colocação de Cunha (1992, p.69-70): “[...] dificilmente um aluno apontaria um professor como BOM ou MELHOR [...], sem que este tenha as condições básicas de conhecimento de sua matéria de ensino [...]”. Ainda Cunha (1992) diz que para se trabalhar bem a matéria de ensino, o professor tem que ter profundo conhecimento do que se propõe a ensinar. Isso não significa uma postura prepotente que pressupunha uma forma estanque do conhecer. Ao contrário, o professor que tem domínio do conteúdo é aquele que trabalha com a dúvida, que analisa a estrutura de sua matéria de ensino e é profundamente estudioso naquilo que lhe diz respeito;

31) Saber ser seguro (Um acadêmico: 12) – Esse saber pode ser fundamentado por Luft (2000) que diz que ser seguro significa ter certeza, confiança, firmeza;

32) Saber se comprometer (Um acadêmico: 1)  Relativamente a esse saber nos reportamos a Krug (2001) que colocam que é no compromisso que reside uma das grandes razões para o bom desempenho do professor, pois o comprometimento pelo que faz inquieta e leva ao aprimoramento, provoca a busca de novas alternativas de ensino;

33) Saber ser responsável (Um acadêmico: 2)  Em relação a esse saber mencionamos Luft (2000) que diz que responsável é aquela pessoa que responde pelos seus atos ou pelos de outrem;

34) Saber respeitar as diferenças dos alunos (Um acadêmico: 14) - Quanto a esse saber apontamos Faria et al. (2011) que diz que o bom professor de Educação Física respeita as diferenças sabendo adaptar a sua prática a fim de atender as necessidades de todos os alunos. Isso vem ao encontro de Cunha (1992) que lembra que nem todo aluno aprende da mesma maneira, fato que exige que o docente esteja atento às diferenças individuais de cada um;

35) Saber ser atento (Um acadêmico: 14) – Sobre esse saber mencionamos Luft (2000) que diz que ser atento significa prestar atenção, revelar interesse;

36) Saber ter iniciativa (Um acadêmico: 18) – Esse saber pode ser justificado por Luft (2000) que coloca que ter iniciativa significa a qualidade de quem é levado a agir espontaneamente;

37) Saber mediar os conflitos (Um acadêmico: 13) – Referente a esse saber apontamos Chrispino (2007) que menciona que a escola é um universo que reúne alunos diferentes e certamente é palco onde ocorrem conflitos. Destaca que conflito é o resultado da diferença de opinião de pelo menos duas pessoas ou conjunto de pessoas. O autor ainda afirma que se o conflito é inevitável, o professor deve aprender o ofício da mediação do conflito para que esta técnica se aprimore facultando a cultura da mediação do conflito. A mediação do conflito é o procedimento nos quais os participantes, com a assistência de uma pessoa imparcial – o mediador – colocam questões em disputa com o objetivo de desenvolver opções, considerar alternativas e chegar a um acordo que seja mutuamente aceitável;

38) Saber escutar os alunos (Um acadêmico: 9) – Esse saber pode ser embasado em Cristino et al. (2008) que afirmam que saber escutar os alunos é um dos saberes necessários à prática docente:

39) Saber gostar da profissão escolhida (Um acadêmico: 9)  Sobre esse saber citamos Luckesi (1994) que destaca que o professor precisa gostar do que faz, pois antes de tudo é preciso querer. Esse gostar de ensinar nada mais é do que um desejo permanente de trabalhar para a elevação cultural dos educandos. Já Feil (1995) coloca que gostar do que faz é fator determinante para a existência da eficiência no trabalho. Cunha (1992) diz que é comum professores afirmarem que gostam muito do que fazem e que certamente repetiriam a opção profissional se lhes fosse dado um novo optar. Os fatores de influência sobre a origem desta opção são variados. Entretanto, parece ser possível inferir que a experiência positiva com a docência realimenta o gosto pelo ensino; e,

40) Saber o conhecimento didático-pedagógico da matéria (Um acadêmico: 22) - Em relação a esse saber nos referimos a Matos (1994) que salienta que o professor deve possuir conhecimento pedagógico do conteúdo para poder realizar um trabalho docente eficaz;

            Assim, estes foram os saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar na percepção dos acadêmicos ingressantes da graduação.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Pela análise das informações obtidas foi possível identificar ‘coletivamente’ uma ‘enorme quantidade e diversidade’ (quarenta) de saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar percebidos ou apontados pelos acadêmicos ingressantes da graduação estudados. Esse fato ressalta o que colocam Montalvão e Mizukami (2002) de que são muitos os saberes inerentes à profissão docente. Também destaca o que dizem Gauthier et al. (1998) de que mesmo que o ensino já venha sendo realizado há séculos, é muito difícil definir os saberes envolvidos no exercício do ofício do professor.

            Ainda foi possível identificar que os acadêmicos ingressantes da graduação estudados já ‘possuem uma noção bem ampla dos saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar’ em uma visão coletiva, mesmo que ainda não sejam profissionais da área (formados). Esse acontecimento pode ser corroborado por Pimenta (2005) que afirma que os acadêmicos de Licenciatura quando chegam ao curso de formação inicial “já tem saberes sobre o que é ser professor” (p.20).

            Também podemos concluir que o rol de saberes apontados pelos acadêmicos ingressantes da graduação estudados são semelhantes, ou pouco diferentes daqueles enunciados por acadêmicos formandos (CRISTINO et al., 2008; KRUG; KRUG, 2010) ou mesmo por professores formados (KRUG, 2007).

            Ao considerarmos Martins e Rausch (2012) que dizem que o sucesso da profissão docente passa pela constituição de uma trilogia de saberes, isto é, o saber (conhecimento), o saber-fazer (habilidades) e o saber-ser (atitudes) constatamos que a maioria (vinte e seis) dos saberes apontados pelos acadêmicos estudados estão ligados ao saber-fazer (itens: 12358910111215161718192021222425272831343537 e 38), sete ao saber-ser (itens: 4714293236 e 39) e seis ao saber (itens: 613232630 e 40). Nesse sentido, podemos inferir que os acadêmicos ingressantes da graduação estudados, possivelmente, durante a sua participação na educação básica, tiveram ‘olhos’ para as questões do saber-fazer de seus ex-professores, que deixaram ‘marcas’ em suas compreensões de docência.

            Consequentemente, a partir desta última constatação, podemos também inferir que o curso de formação inicial, particularmente esse estudado, precisa trabalhar mais a respeito dos saberes necessários ao bom professor de Educação Física Escolar, pois os acadêmicos ingressantes na graduação estudados valorizam muito mais o saber-fazer em detrimento do saber e do saber-ser, o que, sem dúvida, é uma compreensão equivocada dos saberes docentes.

            Entretanto, o que mais chamou à atenção foi a ‘quantidade’ de saberes necessários ao bom professor de Educação Física percebidos ‘individualmente’ pelos acadêmicos estudados, que foi a seguinte: a) Dez saberes (acadêmicos: 10; 19 e 22); b) Nove saberes (acadêmicos: 5 e 14); c) Oito saberes (acadêmicos: 4; 8; 9; 11; 12 e 17); d) Sete saberes (acadêmicos: 1; 3; 6 e 15); e) Seis saberes (acadêmicos: 2 e 16); f) Cinco saberes (acadêmicos: 7; 13 e 21); e, g) Dois saberes (acadêmicos: 18 e 20). A partir dessa listagem inferimos que a ‘maioria’ dos acadêmicos estudados perceberam uma ‘razoável quantidade de saberes necessários ao bom professor de Educação Física’.

            Para finalizar podemos inferir que os resultados encontrados por esta investigação vão ao encontro do destacado por Catani et al. (1997), onde o mesmo diz que os saberes docentes não se formam obrigatoriamente a partir do momento em que os alunos e professores entram em contato com as teorias pedagógicas, mas podem ser encontradas enraizadas em contextos e histórias individuais que antecedem até mesmo a entrada destes na escola, estendendo-se a partir daí por todo o percurso de vida escolar e profissional. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[1] Mestrando em Educação Física (UFSM); Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM). E-mail: telleshz@yahoo.com.br .

[2] Doutorando em Ciências Médicas (UFSC); Pesquisador Associado do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM); E-mail: rodkrug@bol.com.br.

[3] Doutor em Ciências do Movimento Humano (UFRGS); Professor da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC); Pesquisador Associado do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM). E-mail: victorjulierme@yahoo.com.br.

[4] Doutor em Educação (UNICAMP/UFSM); Doutor em Ciência do Movimento Humano (UFSM); Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação (UFSM); Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação Física (UFSM); Pesquisador Líder do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física (UFSM); E-mail: hnkrug@bol.com.br.

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Volume/Edição

Autores

  • TELLES, Cassiano; KRUG, Rodrigo de Rosso; CONCEIÇÃO, Victor Julierme Santos da; KRUG, Hugo Norberto;

Páginas

  • a

Áreas do conhecimento

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Palavras chave

  • Educação Física. Formação de Professores. Formação Inicial. Saberes Docente. Bom Professor.

Dados da publicação

  • Data: 16/03/2015
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